Ice Quinn por Carol Barra
Capitulo 40 - A culpa
Depois de ter dividido um momento tão íntimo com a namorada no vestiário, Quinn simplesmente não teve forças para dizer sim para nenhum dos garotos. Continuou enrolando-os facilmente, mas sabia que com sua mãe não seria tão simples. A fim de fugir mais uma vez do confronto, pediu para dormir na casa do melhor amigo e os dois ficaram até tarde assistindo televisão e se distraindo.
Sábado depois do almoço ela precisou ir para casa, visto que Kevin e sua mãe tinham um compromisso de família. Planejava pegar algumas roupas e fugir para a casa da namorada, mas não contava com Eleanor esperando por ela.
– Estou ansiosa para saber! Quem vai ser o sortudo que vai te levar para o Winter Formal?– perguntou assim que ela chegou.
Quinn respirou fundo e tentou mais uma vez convencê-la de que ainda não era hora.
– Escolhi três finalistas e estou deixando eles suarem um pouco! – falou com uma falsa confiança.
Eleanor irritou-se, mas tentou se segurar.
– Eu te falei que era até sexta! É uma coisa simples e mesmo assim você consegue estragar!
– Mas ainda temos uma semana... – tentou argumentar, mas foi rapidamente interrompida.
– E a campanha de rei e rainha em conjunto? Essa é uma parte importante! Essa história de ficar indecisa funciona até certo ponto. Homens gostam de correr atrás, mas por pouco tempo! Depois cansam e partem para outra garota! E além do mais você está perdendo seu status com esses quilos a mais que ganhou! Daqui a pouco ninguém vai te querer!
Quinn abaixou a cabeça esperando que tudo aquilo terminasse logo, mas Eleanor estava longe de acabar.
– Existem muitas garotas naquela escola mais interessantes que você! Não é à toa que aquele garoto te traiu! A única coisa a seu favor é a sua beleza! Se você não cuidar dela vai acabar mesmo ficando sozinha!
– Eu prefiro ir sozinha – Quinn ainda tentou dizer e Eleanor sorriu de forma debochada.
– Só falta você me dizer agora que não precisa de homem nenhum, que não vai mais se depilar e virar uma daquelas feministas burras! Esse papo de não querer ir com ninguém não funciona no High School! Você usou essa carta uma vez e chega! O objetivo era ser mais desejada para ter um par melhor agora!
– Esse era o seu objetivo, mãe! Eu nunca quis ir com ninguém!
Eleanor riu debochada mais uma vez.
– Já sei o que está acontecendo! Você está mentindo para mim! Nenhum garoto quer ir com você e você está me enrolando!
– E se for isso? – Quinn perguntou sem paciência.
– Eu não ficaria nada surpresa! – Eleanor falou irritada – Quem em sã consciência quer você? Eu me esforço para te fazer ficar atrativa, para te dar uma boa vida, mas você não ouve! Você já teve a sorte de nascer com meus traços. Sabe quantas meninas sonham em serem loiras, magras e com olhos verdes iguais aos seus? E mesmo com todos esses privilégios você consegue estragar tudo!
Quinn não conseguiu impedir algumas lágrimas de caírem e abaixou a cabeça. Isso deixou a mãe ainda mais irritada e ela continuou.
– Meu Deus! Como você é patética! – exclamou – Não consegue ouvir nenhuma crítica e já começa a chorar! Você é fraca, nem parece a minha filha! É por isso que nenhum garoto te quer! Você é fraca e patética! – já estava gritando – Você precisa tomar um jeito e começar a me ouvir se quiser arranjar um namorado em algum momento da sua vida!
Quinn sentiu o sangue subir em suas veias com um misto de sensações: medo, raiva, culpa...
– Essa não é a vida que eu quero! – começou a falar enfática – Eu não quero namorados! Só quero me dedicar aos estudos e ir para uma boa universidade. Não quero a sua vida!
– E você acha que essa era a vida que eu queria? – a irritação de Eleanor só aumentava – Eu ia para a faculdade também! Mas aí você veio e arruinou todos os meus planos! Enquanto seu pai conseguia aproveitar a vida universitária eu ficava presa nessa porcaria de casa cuidando de você e dele! Eu também não queria essa merd* de vida, mas você não me deixou escolha! Você arruinou tudo! – gritou.
– Eu nunca pedi para você abrir mão de nada – falou em um tom baixo, com mais algumas lágrimas voltando a cair.
– Mas eu abri! E ainda me sacrifico todo dia para te dar o melhor! Você é uma ingrata! Mesmo com tudo que eu faço por você, você nem se dá ao trabalho de me ouvir! Só reclama o tempo todo! – gritou novamente e mais uma vez as lágrimas de Quinn aumentaram.
– Sinto muito se você não conseguiu a vida que queria, mas eu ainda tenho chance de conseguir! – falou em um tom de voz baixo, olhando para o chão, sem coragem de encarar a mãe, que bufava de raiva.
– E como vai fazer isso se não consegue nem um par para essa merd* de dança? Se você não consegue nem conquistar nenhum caipira dessa porcaria de cidade porque acha que vai conseguir fazer alguma coisa decente na vida? Eu estou te dando a oportunidade de ter uma vida boa naquela escola! Ser uma líder! Ser rainha!
Nesse momento Quinn, que ainda chorava, sentiu o sangue ferver e o sentimento de raiva prevaleceu sobre os outros. Então olhando bem do fundo dos olhos da mãe, com evidente desprezo, falou:
– E de que adianta tudo isso? Que bem isso te trouxe? Você nem consegue manter um emprego e vai acabar envelhecendo sozinha nessa casa sem ninguém que te ame!
A raiva de Eleanor ficou incontrolável e ela pegou bem forte o cabelo de Quinn e o puxou até o chão, enquanto ouvia a filha gem*r de dor.
– Me solta! – Quinn gritou tentando se desvencilhar da mãe.
– Você é uma ingrata que não dá valor a tudo que eu faço por você! – falou Eleanor finalmente largando o cabelo de Quinn e empurrando-a no chão.
– Não basta ter estragado a minha vida e agora vai me fazer passar vergonha! – falou chutando-a forte na barriga.
– Mãe, para! – ela pediu chorando deitada ao chão, tentando se proteger.
– Olha o que você me fez fazer! Eu tento ser legal, mas você só me ouve quando eu faço isso! - falou parando de chutá-la finalmente – Você tem até segunda-feira para arranjar um par, você me ouviu?
Ela fez que sim com a cabeça, ainda no chão, sentindo-se vulnerável.
– Agora sai da minha frente! Eu não quero olhar para sua cara até você ter arrumado um garoto decente para ir ao Winter Formal!
Quinn não mais discutiu, levantou rapidamente do chão ignorando as dores que sentia e praticamente correu para seu carro. Sentada no banco do motorista ela gritou, chorou e bateu no volante algumas vezes para tentar descontar toda a raiva que sentia. Quando conseguiu acalmar a respiração ligou o carro para sair dali. Naquele momento só havia uma pessoa com quem gostaria de falar.
Assim que chegou na casa da namorada, Sophie abriu a porta e se deparou com uma Quinn completamente vulnerável. Algumas lágrimas ainda desciam e o inchado do seu rosto indicavam que o choro havia sido muito pior momentos antes. Ela estava com um casaco leve demais para o vento que fazia do lado de fora e abraçava o próprio corpo como uma pequena criança indefesa.
– O que aconteceu? – perguntou preocupada praticamente puxando Quinn para dentro de casa.
– Seu pai está em casa? – perguntou tentando controlar o choro.
– Sim – Sophie falou ainda um pouco perdida com a situação – Pai! – gritou sem tirar os olhos da namorada – O que aconteceu? – repetiu a pergunta, mas Quinn não queria ter que lhe explicar nada naquele momento.
– Eu só preciso muito falar com o seu pai – falou ainda vulnerável, agarrada ao próprio corpo, mesmo com Sophie lhe fazendo carinho tentando lhe esquentar.
Nesse momento Brian apareceu e nem conseguiu fazer nenhuma pergunta antes que Quinn praticamente corresse para os seus braços chorando copiosamente. Ele a abraçou forte, sabendo o que aquilo significava.
– O que aconteceu? – Sophie perguntou uma terceira vez tamanha a sua preocupação com a namorada.
Quinn não tinha forças para responder e Brian tentou acalmar a situação.
– Vai pegar um copo d’água para ela – pediu e Sophie praticamente correu até a cozinha e voltou.
Apenas nesse momento que Quinn separou-se do abraço de Brian e aceitou o copo já mais calma.
– Eu estou bem – tentou reconfortar Sophie, pois via em seu olhar o tamanho do desespero dela – Eu tive um incidente com a minha mãe.
– O que ela fez? – Sophie perguntou com o olhar ardendo de raiva.
Aproximou-se de Quinn para abraçá-la, mas sem querer acabou encostando em sua barriga bem onde Eleanor a havia chutado. Ao ouvir o gemido da namorada, Sophie não teve dúvidas.
– O que ela fez com você? – perguntou ainda mais raivosa, levantando levemente a blusa de Quinn, que não teve forças para impedir.
Ao ver a barriga roxa da namorada, Sophie sentiu um sentimento inédito de ódio tomar conta de si. Sua vontade era realmente correr até a casa de Quinn e bater em sua mãe. Seu pai realmente a conhecia muito bem e já imaginava isso quando a fez prometer não fazer nenhuma loucura.
– Eu vou pegar gelo para você! – falou Sophie tentando controlar o ódio.
Quando ela voltou para a sala, Quinn e seu pai já estavam sentados no sofá um ao lado do outro. Ela entregou o gelo e sentou-se ao lado da namorada.
– Amor, não fica chateada, mas eu queria conversar um pouco com o seu pai sozinha – Quinn pediu com os olhos cheios de lágrimas – Sinto muito...
– Ei, não tem com o que se desculpar! – Sophie falou enfática – Está tudo bem! – levantou-se agitada sem saber muito bem o que fazer.
– Por que você não vai ao Great Cook comprar um milkshake de morango para a Quinn se sentir melhor? – sugeriu Brian tentando acalmar a situação.
– Tudo bem – falou Sophie dando um beijo na bochecha da namorada antes de sair pela porta.
Uma vez que os dois ficaram sozinhos, Quinn tornou a chorar e Brian a abraçou carinhoso. Eles ficaram em silêncio até que ela conseguisse se controlar e então afastar-se para começar a conversa.
– Como você aguentou? – ela perguntou enquanto tornava a colocar o gelo na barriga.
– Um dia de cada vez – ele respondeu calmo – Não existe uma fórmula mágica, bem que eu queria.
– A pior parte nem é a agressão, sabe? É ela gritando comigo e me falando um monte de coisa horrível!
– Quinn, agressão não é só bater! Ela também te agride ao te desrespeitar!
– O pior de tudo é como eu me sinto... – ela falou olhando para o chão.
– E como é que você se sente? Não pense, diga a primeira coisa que vem a sua cabeça! O que você está sentindo agora?
– Culpa – ela falou sem pestanejar e de repente as lágrimas voltaram.
– Culpa de que?
– Sei lá... de tudo! – falou confusa.
– Vou te falar algo muito importante agora, que me levou alguns anos na terapia para descobrir – e olhando bem fundo nos olhos de Quinn, falou bem devagar: - Não é culpa sua! Nada, absolutamente nada disso, é culpa sua!
– Então por que eu me sinto tão mal? Como se eu não valesse nada!
– Porque é assim que ela quer que você se sinta! – tentou explicar.
– Eu sinto como se eu não merecesse nada de bom! Como se eu não o fosse suficiente para ninguém! Eu fico pensando que tem que haver algo de muito errado comigo. Eu devo ser uma pessoa muito horrível se a minha própria mãe não consegue me amar... – falou abaixando o olhar.
– Não fale isso! – disse enfático – Tem muitas pessoas que te amam e te admiram!
– As pessoas têm medo de mim! – argumentou – Elas não se importam comigo de verdade!
– Sophie se importa! Kevin se importa! Eu me importo! – falou com um olhar carinhoso – Você é uma menina corajosa, inteligente, forte e não se dá crédito suficiente! E a sua mãe também te ama! Mas ela não consegue fazer isso de forma saudável. Ela é uma agressora e precisa te colocar para baixo para se sentir bem com ela mesma. Mas isso não tem nada a ver com o que você é ou faz. Ela faria isso com qualquer um que estivesse no seu lugar!
– Ela faz eu me sentir um lixo! – falou deixando algumas lágrimas correrem novamente.
– Eu sei exatamente como você está se sentindo! Meu pai me falava todo dia que eu era um lixo, que não merecia o esforço dele, que ninguém ia gostar de mim, que ninguém se importava comigo além dele, que eu não merecia as oportunidades que eu tinha... Eu ouvia isso diariamente, Quinn! E os discursos dos nossos pais são parecidos porque esse é o mesmo discurso utilizado por todos os agressores! Mas nada disso é verdade! Eles colocam as pessoas para baixo para poderem ter um sentimento ilusório de poder! Não acredita em nada disso que ela fala!
– Mas como não acreditar em uma coisa que eu ouvi a minha vida inteira? Eu tento, eu juro! Eu tento acreditar que eu mereço ser feliz, mas eu não consigo! Eu ouvi a minha vida inteira que eu sou a culpada de tudo dar errado na vida dela. E é verdade! É culpa minha! A vida dela estaria bem melhor sem mim! – falou com uma mágoa evidente.
– Não é verdade! Ela que destrói a própria vida porque não consegue enxergar a filha maravilhosa que tem! Só tem uma pessoa culpada nessa história toda e é ela! Vou repetir: não é culpa sua, Quinn! A vida da sua mãe é resultado de uma sequencia de escolhas que ela fez na vida dela. Você é a vítima!
Quinn ficou alguns segundos em silêncio, tentando absorver as palavras de Brian. Racionalmente ela sabia que ele estava certo, mas emocionalmente era muito difícil de enraizar aquilo tudo dentro de si.
– E como você fez para não acreditar nas coisas que seu pai falava? – perguntou querendo uma luz para diminuir o aperto em seu peito.
– Eu acreditei também! E por muito tempo! Eu também ouvi por grande parte da minha vida as mesmas coisas que você. Só depois de muitos anos de terapia que comecei a acreditar diferente.
– Anos? – Quinn perguntou desolada – Eu não quero esperar anos! Eu não aguento mais me sentir assim!
– Vou te falar o que eu faço e que me ajuda muito. Todos os dias eu repito para mim mesmo uma lista de verdades que eu sempre tive dificuldades em acreditar. Por exemplo: “Eu me amo”, “Eu mereço ser feliz”, “Eu sou uma vítima de abuso”. Um dia você vai se repetir tanto que vai acabar acreditando! Ate porque essa é a verdade e a verdade não se esconde por muito tempo.
Quinn ficou pensativa e tentou falar para si mesma o que tinha acabado de ouvir “Eu não tenho culpa! Eu mereço ser feliz! Eu posso ser amada”.
– Então praticamente eu preciso repetir essas coisas para mim mesma até que eu ouça a mim mesma mais do que a minha mãe.
– Exatamente! Isso não vai te tirar daquela casa, nem impedir o que a sua mãe faz, mas ao menos, vai te dar força e sanidade para entender que tudo que ela fala são mentiras para te controlar! Para te colocar para baixo! Isso é o que os valentões fazem, Quinn! E uma vez que eles percebem que não conseguem te dominar, eles perdem todo o poder!
– Obrigada! – ela finalmente sorriu com um leve alívio – É muito bom ouvir essas coisas de vez em quando!
– Eu sempre estarei aqui para te ouvir e falar as verdades que você precisa escutar! – ele falou carinhoso – Quer falar melhor sobre o que aconteceu hoje? – perguntou com cautela.
Então Quinn começou a narrar o episódio e Brian ouviu com muita atenção, tentando não interromper.
– Então ela falou para eu sair até arrumar um par – finalizou a narração já conseguindo controlar melhor as emoções.
– Quinn, lembra sobre o que conversamos? Eu sei que é difícil para você e para Sophie essa situação, mas você faz o que for preciso para sobreviver.
– Mas não é apenas sobre a Sophie – ela argumentou falando de forma enfática – Eu estou cansada! Eu não aguento mais isso de fingir o tempo todo! É exaustivo! Eu tenho que fingir que gosto de garotos. Tenho que fingir que não sou amiga do Kevin. Tenho que fingir que não amo a sua filha. Tenho que fingir que sou uma Rainha de Gelo horrível que é praticamente uma cópia da minha mãe na adolescência! Eu não aguento mais! Eu não quero mais fingir! – então em um tom de preocupação completou – Tenho medo de que se eu continuar fingindo eu vou acabar perdendo quem eu sou! E eu ainda nem sei direito quem eu sou, mas as poucas certezas que eu tenho, eu não quero ter que continuar escondendo! Eu só quero ser livre!
– Eu sinto muito, Quinn. Infelizmente eu não consigo te ajudar com essa parte – ele falou gentil – Nesse ponto você tem uma vivência diferente porque a única coisa que eu precisava fingir era que meu pai não me agredia. Fora isso eu sempre pude ser eu mesmo... – ele ficou um pouco pensativo e respondeu – Eu quero que você sobreviva, mas também não quero que isso te custe viver. E eu não sei o que te dizer além de que você ainda tem uma vida inteira pela frente para se encontrar e viver de forma livre. Você tem menos de dois anos de fingimento pela frente, acha que consegue aguentar mais um pouquinho? – perguntou.
– Eu não sei – ela falou sinceramente – Não sei se consigo e não sei se quero – então depois de pensar mais um pouco completou – Mas eu preciso!
Os dois ficaram em silêncio por um tempo até Brian voltar a falar.
– Eu sinto muito, Quinn! Não é justo que você tenha que passar por tudo isso! Mas lembre-se de que você não está mais sozinha! Estarei aqui sempre que você precisar! – ele falou.
– Isso faz toda a diferença! – ela sorriu e então um pouco sem graça perguntou – Eu posso dormir aqui hoje? Eu não quero abusar nem nada, mas...
– Ei – ele interrompeu – Você pode dormir aqui sempre que quiser! Nem precisa mais me perguntar, combinado? – falou e ela sorriu abertamente.
– Eu nem sei como agradecer por tudo! Poder conversar com alguém que entende é muito bom! – falou muito agradecida.
– Eu sei! Não há nada como conversar com pessoas que já passaram pelas mesmas coisas! Nos sentimos compreendidos e também evita que cometamos os mesmos erros. Eu espero que minhas vivências dolorosas possam te ajudar a ter uma caminhada mais tranquila.
– Eu espero que um dia eu consiga realmente ser uma adulta bem resolvida igual você!
– Eu não sou tão bem resolvido quanto você pensa – ele riu – Tudo que eu te falo eu demorei anos para descobrir na terapia e ainda tenho muito que aprender. É muito difícil conviver com um agressor, deixa consequências para o resto da nossa vida! Por isso que eu fiz tanta questão de ensinar para a Sophie como se encara valentões – explicou – Eu não queria que ela nunca passasse por nada semelhante.
– Ah, ela sabe muito bem lidar com valentões – Quinn riu – É a especialidade dela!
– E não é à toa! A grande verdade é que a maioria dos agressores são covardes! Eles fazem isso com pessoas que acreditam que não vão se levantar contra eles. No caso dos nossos pais, eles foram covardes em outro nível, pois fizeram conosco ainda crianças! Hoje em dia eu duvido que meu pai ainda tentaria alguma coisa comigo... Covardia pura! E ensinei bem para a Sophie como explorar isso!
– Se tem uma coisa que você não precisa se preocupar com ela é de sofrer bullying, eu nunca conheci alguém tão corajosa quanto ela! – então com um pensamento divertido deu um sorriso – Fico imaginando como ela era na escola particular!
– Ela colocava aquela escola de cabeça para baixo! – riu – Tinha uma grande fama de rebelde! Eu recebia ligações semanais daquela escola! Começou desde o primeiro dia de aula quando ela se recusava a usar o uniforme!
– Meu Deus, eu não consigo imaginar ela de uniforme todo dia! Era brega? – riu Quinn.
– Muito brega e ela ainda tinha que usar saia todo dia! Ela odiava! – ele falou – Acho que tenho fotos no meu celular, vou te mostrar!
Então ele começou a narrar alguns episódios engraçados fazendo com que Quinn se sentisse mais leve.
– E o James e Kat também eram péssimas influências! – falou referindo-se aos seus melhores amigos de Philly – A sorte é que como Sophie também sempre teve disciplina por conta dos esportes, acabava nem sempre caindo nas furadas deles!
Nesse momento Sophie chegou em casa com várias sacolas de comida. Colocou-as na mesa da sala e sentiu-se mais tranquila ao ouvir a namorada rindo no sofá.
– O que estão fazendo aí? – perguntou desconfiada.
– Seu pai está me mostrando fotos de você com o uniforme da antiga escola – falou rindo enquanto mexia no celular de Brian.
– E estou contanto histórias embaraçosas também! – ele completou.
– Eu saio por meia hora e vocês já aprontam? – Sophie brincou indo se sentar ao lado da namorada.
Quinn encostou-se nela enquanto continuava vendo fotos antigas. Naquele momento, ela sentiu-se em paz.
Ela tentou não pensar mais na mãe, nem no Winter Formal, nem em nada mais de sua vida. Apenas quis aproveitar o tempo com a namorada e Brian. Os dois estavam claramente tentando agradá-la. Sophie havia trazido dois copos gigantes de milkshake de morango, além de muita batata frita e hambúrguer. Depois de jantarem juntos, passaram horas jogando ludo, uno e jenga e Quinn divertiu-se com aquela programação simples.
À noite agarrou-se nos braços da namorada para relaxar e pensou que não havia melhor lugar no mundo do que aquele.
– Amor, por que você quis conversar com meu pai e não comigo? – Sophie não resistiu em perguntar enquanto fazia um cafuné na namorada.
– Desculpe, eu não queria te magoar... – começou Quinn, mas foi logo interrompida.
– Eu não estou chateada! Eu só quero que você fique bem! É que... eu queria entender porque você precisou falar com ele e não comigo.
– É que ele entende o que eu estou passando – tentou explicar sem contar o segredo de Brian – E às vezes é melhor falar com adultos, entende?
– Tudo bem – falou dando um beijo carinhoso em sua cabeça – Mas saiba que eu estou aqui para o que você precisar, tudo bem? Eu odeio não poder tirar toda essa dor de você!
Quinn ficou bem de frente para Sophie e olhou-a nos olhos antes de falar.
– Você já faz mais por mim do que imagina! Eu te amo! – e a beijou.
– Eu também te amo! – falou dando-lhe mais um beijo.
Depois de alguns segundos de silêncio, Sophie tornou a falar.
– Ela fez isso com você porque você ainda não escolheu ninguém para ir ao Winter Formal? – perguntou.
– É... Tenho até segunda – falou triste.
Sophie ficou em silêncio por um tempo até completar.
– Você devia escolher o John. Ela vai gostar dele.
Quinn não respondeu. Apenas ficou pensativa recebendo o carinho da namorada. Antes de dormir, ficou repetindo-se algumas verdades: “Eu mereço ser feliz”, “Não é minha culpa”, “Eu posso ser amada”.
Fim do capítulo
Tadinha da nossa Quinn!
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Anny Grazielly
Em: 12/08/2020
Que sofrimento... sofri junto com Quinn... que mae mais malvada... que bom que Quinn tem Soph e Brian...
Espero que no fim, Quinn va com a propria Soph para o baile...
Resposta do autor:
Eleanor não tem coração.... infelizmente existem várias pessoas como ela no mundo, mas também, felizmente, existem vários Brians por aí!
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Vanderly
Em: 20/07/2020
Olá, tudo bem?
Menina, comecei a lê essa história ontem, e só parei quando terminei, parabéns! Muito gostosa de ler.
Beijos â¤ï¸!
Resposta do autor:
Oi, Vanderly! Fico muito feliz que esteja gostando! Leu bem rápido rsrs
Espero que continue gostando das vivências da Quinn e da Sophie!
beijos
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lay colombo
Em: 20/07/2020
Eu nunca sofri abuso físico, mas minha tia (ela me criou desde os 5 anos e hj estou com 23) faz muito abuso psicólogico comigo e o fato dela ter me adotado só faz com q a culpa q eu sinto seja mil vezes pior, demorei muito tempo pra perceber q a nossa relação é abusiva, hj em dia eu moro com uns amigos na cidade vizinha e nosso relacionamento melhorou bastante com a distância, na maior parte do tempo pelo menos. Durante essa quarentena eu voltei pra casa dela pq todos os meus primos já casaram e a gente não queria q ela ficasse sozinha e como o restaurante q eu trabalho de free tá fechado eu tbm tava sem dinheiro pra me manter. Bom esse fds foi a gota d'água pra mim, pq tudo voltou a acontecer e eu odeio como ela me faz sentir um lixo, como se eu não fosse capaz de fazer absolutamente nada e as coisas q eu faço nunca são boas o suficiente, então voltei pra casa. Mas ela tá com câncer e tá fazendo quimio, então não posso deixar ela sozinha, embora ela não esteja tendo efeitos colaterais, pode acontecer algo e alguém tem q tá lá. Então provavelmente volto pra lá quarta feira e eu odeio o qnt me sinto culpada de não querer voltar, qnd é ela q faz com q eu não me sinta bem vinda lá. Enfim espero q a Quin consiga sair dessa situação, ela merece muito mais, merece toda felicidade do mundo.
Resposta do autor:
Abuso psicologico muitas vezes é tão ruim quanto o físico. Deixa marcas tão grandes como, só não são visíveis. Da mesma forma que o Brian falou para a Quinn, vou te falar: não é culpa sua! Nada é culpa sua e também não é sua responsabilidade ser o saco de pancada (mesmo que figurativo) de ninguém. E ninguém tem o direito de te desrespeitar e te tratar mal por mais doente que esteja. Não se sinta culpada por não querer estar na presença de uma pessoa que te maltrata! Ninguém merece passar por isso e você não tem nenhuma obrigação de sentir algo que não sente. Seja fiel aos seus sentimentos, sem culpa. Se ame primeiramente e aceite que não podemos ajudar quem não quer ser ajudado.
Espero que a caminhada da Quinn possa te ajudar de alguma forma. Repertir-se verdades, ajuda! Eu faço isso há anos!
Obrigada por compartilhar sua vivência!
Beijos
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Suzana
Em: 19/07/2020
Chorei litros com esse capítulo, o pior é saber que muitos passam por isso e não tem alguém para apoiar, Quinn pelo menos agora tem Brian e Sophie.
Que Quinn consiga se livrar desse pesadelo logo.
Bjs
Resposta do autor:
Pois é... é muito triste pensar nisso. E muitas vezes acontece com pessoas que conehcemos, que vemos todo dia e não reparamos. É importante estarmos atentos aos sinais para ajudarmos sempre que possível!
Beijos
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Marta Andrade dos Santos
Em: 19/07/2020
Mísera ninguém merece.
Resposta do autor:
Realmente ninguém merece essa mãe...
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HelOliveira
Em: 19/07/2020
Não é fácil nem imaginar o que a Quinn passa, e pensar na quantidade de pessoas que sofrem abusos da até um aperto no peito.
E que bom ela poder contar com o apoio do sograo e com todo amor da Sophie
Resposta do autor:
Pois é... é muito triste pensar que essa é a realidade de muita gente e nesse momento de quarentena isso ainda consegue piorar. Vamos rezar para que essas pessoas tenham em suas vidas uma rede de apoio como a Quinn!
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sonhadora
Em: 19/07/2020
Entendo muito bem como ela está se sentindo. Fui vítima na minha infância...a violência foi constante durante toda minha infância e Boa parte da minha adolescência até que um dia dei um basta e fui embora...até hoje ainda tenho pesadelos daquele tempo. Mas não tive a sorte da Quinn de ter um Brian na minha vida! Ela é forte e vai superar!!! Fiquei com um sentimento tão bom aquecendo meu peito depois desse papo com da Quinn com o Brian!!! Emoções a flor da pele e que venha os próximos....
Beijos!
Resposta do autor:
Sinto muito que você teve que passar por isso! Espero que apesar de não ter tido um Brian na sua vida, você tenha uma rede de apoio. É muito importante termos pessoas que nos fazem bem para nos ajudarmos a superar traumas passados. Espero que de alguma forma a história da Quinn possa aquecer um pouco seu coração e acabar com esses pesadelos!
Obrigada por compartilhar sua vivência comigo!
Beijos
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