Domingo Sophie acordou bem cedo como de costume. Geralmente seu corpo despertava sozinho mesmo no fim de semana, acostumado com a rotina de treinos e corridas. Quinn ainda dormia serenamente e ela levantou com cuidado para não a acordar. Arrumou-se para correr e desceu. Para a sua surpresa, Brian já estava de pé, fazendo café na cozinha.

– Tudo bem? – ele perguntou vendo a feição tensa da filha.

– Não – falou sentando-se à mesa da cozinha ao lado do pai – Eu estou me sentindo péssima pelo que aconteceu com a Quinn ontem!

– Eu sei que é ruim ver a pessoa que você ama passando por isso – falou tentando confortá-la com um carinho no braço.

– E eu não consigo parar de pensar que é minha culpa – admitiu.

– Por que pensa isso?

– Sexta-feira quando estávamos no vestiário... – se interrompeu, pois, iria dizer fazendo sex* - ...depois do banho... Ela percebeu o quanto eu estava tensa porque ela ia escolher alguém naquele dia! E aí ela acabou não escolhendo ninguém e a mãe dela ficou irritada! Se eu tivesse sido mais compreensiva com a situação isso não teria acontecido!

– Sophie, isso não é sua culpa! A Quinn não deixou de escolher alguém simplesmente por sua causa. Ela sabe muito bem tomar as próprias decisões. E nada disso também é culpa dela por não ter escolhido alguém. A única culpada dessa situação é a mãe dela! E coisas assim vão acontecer independente das decisões da Quinn.

Sophie ficou pensativa por um tempo.

– Pai, por que a Quinn quis conversar com você sobre isso e não comigo? – perguntou preocupada.

Brian respirou fundo. O momento do qual havia fugido a vida inteira havia chegado. Ele não podia enrolar mais. Estava na hora.

– Porque eu entendo o que ela está passando – vendo que a filha continuava olhando querendo mais informações, continuou – Meu pai também é alcóolatra e era abusivo comigo.

– O que? Ele está vivo? – Sophie perguntou surpresa, não acreditando naquilo.

– Sim – ele falou.

– Como eu não sabia disso?

– Eu nunca quis te contar sobre isso.

– Eu não acredito que você nunca me falou! – disse claramente chateada – E a Quinn sabe?

– Sim.

– Como você pôde falar para ela e não para mim? – perguntou magoada.

– Porque ela precisava saber que não estava sozinha, que outras pessoas passam pela mesma situação.

– E se não fosse isso algum dia você iria me contar?

– Provavelmente não – ele admitiu.

– Eu não acredito nisso! Que hipócrita! Você sempre vive falando sobre a importância da verdade e agora eu descubro que você mentiu para mim a minha vida inteira! – falou irritada.

– Eu nunca menti para você! – ele falou enfático.

– Como não? Você me falou que meu avô morreu!

– Eu nunca disse que ele morreu! – falou nervoso – Eu disse que você não tinha um avô paterno o que é a verdade! Ele nunca foi um pai para mim e muito menos um avô para você!

– Isso é uma mentira por omissão – ela argumentou – Quem mais sabe?

– Só sua mãe, Quinn e agora você.

– Eu não acredito que eu nunca soube! Não acredito que você tenha escondido isso de mim esse tempo todo! – falou magoada.

– Sophie, isso não é sobre você! – ele falou sério.

– Como não? Meu próprio pai escondeu de mim uma informação muito importante!

– É sobre a minha vida, Sophie! Minha vida! O mundo não gira entorno de você! Você já parou para pensar que eu não queria falar nada disso para você porque é difícil para mim? Porque eu odeio ter que reviver os piores momentos da minha vida? Eu só queria deixar tudo isso para trás!

Sophie ficou alguns segundos em silêncio.

– Eu preciso de um tempo. Vou sair para correr! – anunciou levantando-se de maneira brusca.

Quinn acordou quase duas horas depois e Sophie ainda não tinha voltado. Brian preparou uma mesa com café da manhã e estava esperando as duas para comer.

– Cadê a Sophie? – ela perguntou.

– Saiu para correr – ele falou claramente chateado.

– O que aconteceu?

– Eu falei para ela do meu pai e ela não reagiu bem – explicou.

Quinn percebeu que ele não queria muito papo e sentou-se no sofá para esperar a namorada. Ficou mexendo no celular por um tempo e mais ou menos 20 minutos depois Sophie finalmente chegou. Anunciou que tomaria um banho e subiu.

– Eu vou falar com ela – Quinn disse seguindo a namorada.

Esperou pacientemente que ela saísse do chuveiro para perguntar:

– Você está bem?

– Um pouco irritada com meu pai por ter escondido algo tão importante de mim por tanto tempo! – falou começando a se vestir.

– Não fique chateada com ele, amor – falou Quinn abraçando a namorada por trás e colocando o queixo em seu ombro.

Sophie segurou os braços dela em sua barriga, agradecendo o carinho.

– Eu só fico muito magoada que ele não tenha confiado em mim com isso – falou triste – E ele confiou em você! Mas não em mim! – então virando-se para a namorada e colocando seus braços em sua cintura completou – Não que eu esteja chateada com você ou que não ache que você mereça saber, mas eu sou a filha dele, entende? E eu não sabia de nada disso...

– Amor, isso não tem nada a ver com confiança! – falou Quinn puxando Sophie mais para perto pelo pescoço – Você sabe para quantas pessoas eu já contei sobre a minha mãe? Nenhuma!

– Mas e o Kevin? E eu? – lembrou.

– Kevin sabia porque ele vivenciou quando éramos crianças e foi ele quem te contou, não eu. E você que contou para o seu pai. Eu nunca contei para ninguém porque é muito difícil falar no assunto! Seu pai não te contou porque não confia em você, só é um assunto muito difícil de falar... E ele falou para mim porque temos essa vivência em comum. Não é por falta de confiança em você.

– E a confiança que eu tenho nele? – argumentou – Ele mentiu para mim por todos esses anos!

– Amor, seu pai não é perfeito, ninguém é! E sinceramente, ele não mentiu! Ele só não contou uma coisa do seu passado e isso é uma escolha dele e de mais ninguém!

– Acho que só estou decepcionada – tentou explicar.

– Não me leva a mal, mas essa sua reação está sendo de uma criança mimada – falou séria e Sophie afastou-se irritada.

– Eu não sou mimada! Eu só queria saber sobre o passado do meu pai! Acho que tenho o direito de ficar chateada por ele ter escondido isso de mim! – falou magoada.

– Não, você não tem esse direito! Não estou querendo te ofender, mas você não consegue entender isso por conta dos seus privilégios. Você nasceu em um lar amoroso e feliz. Você teve tudo que sempre precisou e não tem ideia da sorte que tem! – falou enfática – Seu pai não teve nada disso! Ele nasceu em um lar abusivo e precisava lutar para sobreviver todo dia! A pessoa que deveria amar ele incondicionalmente e cuidar dele, o agredia diariamente e o colocava para baixo! – então séria olhou bem nos olhos da namorada antes de completar – Você não tem ideia do que é isso e de como é difícil falar sobre!

Sophie abaixou a cabeça envergonhada e Quinn continuou.

– E mesmo com tudo isso ele conseguiu crescer e virar um pai maravilhoso! E mesmo que você considere isso um erro dele, é um detalhe comparado ao ótimo pai que ele é para você – então levantando o olhar da Sophie para que a encarasse, completou com algumas lágrimas nos olhos – Eu daria tudo na minha vida para ter um pai igual ao seu! Não seja ingrata!

– Eu sinto muito, amor – falou Sophie abraçando a namorada – Você está certa! Eu estou sendo muito insensível!

– Você devia pedir desculpas para o seu pai – falou e trocaram um beijo delicado.

– Obrigada por colocar um juízo na minha cabeça – sorriu.

– Sempre! – sorriu de volta antes de beijá-la mais uma vez.

Poucos minutos depois, Sophie desceu, desculpou-se com o pai e os três sentaram-se à mesa para um brunch.

Domingo à noite, Cathy e Leslie estavam no Great Cook juntas, sentadas de frente uma para outra em sua mesa preferida. Tentaram falar com Quinn o dia inteiro, mas não conseguiram. Estavam conversando sobre o Winter Formal quando Matt sentou-se ao lado de Cathy.

– O que fez você pensar que podia sentar com a gente? – Leslie perguntou malvada.

– Eu tenho informações úteis – ele falou misterioso.

– Melhor que seja mesmo porque eu não aguento a sua presença a não ser que seja por um motivo muito bom – Leslie falou novamente.

– Seja legal ou eu vou embora – ele falou na defensiva.

– Eu nunca sou legal – falou Leslie.

– Desembucha logo, Matt – falou Cathy sem paciência.

– Sua amiguinha lésbica está dando em cima da Quinn – ele anunciou.

– Primeiro, ela não é nossa amiga e segundo: você está louco? – Leslie disparou.

– Eu tenho prova! – falou retirando um bilhete do bolso do casaco e colocando na mesa – Eu vi aquela sapatão colocar isso no armário da Quinn.

Leslie pegou o bilhete que dizia “eu te amo, minha rainha” e fez uma careta antes de passar para Cathy também ler.

– E por que eu acreditaria em você? – Leslie perguntou.

– Por que eu mentiria? – ele ficou na defensiva – Eu estou aqui porque ainda me importo com a Quinn mesmo depois de termos terminado. Imagina como a imagem dela vai ficar se descobrirem que essa sapatão está dando em cima dela! Vocês sabem que os boatos correm soltos nessa cidade minúscula e podem começar a inventar coisa que não existe.

– E por que está mostrando isso para gente? – Cathy perguntou.

– Vocês são as amigas dela e ela não vai me ouvir! – explicou.

– E o que você acha que a gente vai fazer? – Leslie perguntou.

– Para começar, ensinar uma lição para a Sophie! Quem aquela garota pensa que é para achar que tem alguma chance com a Quinn? Se a gente deixar ela fazer esse tipo de coisa, daqui a pouco ela vai estar dando em cima de todas as mulheres! Essa cidade vai virar de cabeça para baixo! Vocês querem que daqui a pouco ela faça isso com vocês também? – perguntou e viu a careta de Cathy com a possibilidade.

Leslie e Cathy trocaram olhares significativos.

– Então, o que vão fazer? – ele perguntou.

– Vamos conversar sobre isso – Leslie anunciou.

– Eu quero participar – ele falou – Eu que descobri!

– A gente fala com você depois que conversarmos – Cathy falou.

Ele não gostou muito da resposta, mas não tinha escolha.

– O que você ainda está fazendo aqui? – Leslie perguntou – Vai embora! E deixe o bilhete!

Ele obedeceu à contragosto e assim que se afastou, Leslie e Cathy trocaram um olhar preocupado.

– Será que isso já está acontecendo há algum tempo e a Quinn não falou nada? – Cathy perguntou baixinho.

– Eu acho que sim e acho que a situação é pior do que pensamos – falou misteriosa e então abaixando mais ainda o tom – Acho que a Quinn pode estar gostando dela.

– Você está maluca? – Cathy perguntou chocada.

– Eu não iria dizer nada na frente do Matt, mas eu reparei em algumas coisas estranhas nas últimas semanas. Lembra na final, logo antes do intervalo, quando a Sophie levou uma pancada forte e demorou para levantar?

– Acho que sim – falou sem dar muita importância.

– Eu saí para encontrar com o Spencer e vi a Quinn falando com a Sophie – confidenciou Leslie ainda falando bem baixo para não correr o risco de ninguém ouvir.

– E daí? Isso não tem nada demais.

– Eu não ouvi o que elas falavam, mas a expressão no rosto da Quinn era de preocupação e eu consegui ver ela tocando nas costas da Sophie, como se estivesse tensa dela ter se lesionado. E o jeito que ela estava fazendo isso, parecia que tinham alguma intimidade, sei lá...

– Mas isso não é prova de nada... É estranho, com certeza, mas não quer dizer que elas têm um relacionamento secreto ou seja lá o que você está insinuando.

– Mas isso não é tudo, Cathy! – falou ainda certa de que tinha algo errado – A primeira coisa estranha que eu reparei foi naquela comemoração depois que vencemos o jogo de flag. As duas foram na cozinha pegar sorvete e a Sophie especificamente pegou um pote de chocolate com menta e entregou para a Quinn.

– Sim, é o preferido dela... – falou sem ver nada errado.

– Mas como a Sophie sabe disso? – argumentou – Elas não são amigas, não andam juntas... Como ela saberia? E por que ela se importaria de dar um sorvete que ela gostasse?

Cathy ficou pensativa por alguns segundos.

– Tudo bem, é estranho, mas não quer dizer que a Quinn goste dela nem nada. Se o Matt estiver certo e a Sophie realmente estiver apaixonada pela Quinn ela pode ter dado uma de stalker para descobrir o sabor preferido dela e queria agradar...

– Sim, mas isso me leva a última peça do quebra-cabeça – falou Leslie mais uma vez misteriosa – Sinceramente, eu achei que estava viajando no outro dia, mas agora, depois de ver esse bilhete, as coisas parecem fazer sentido.

– O que é? – Cathy perguntou ansiosa.

– Nessa última semana teve um recado no pronunciamento diário. Alguém falou alguma coisa de declaração secreta dizendo “te amo mais que sorvete de chocolate com menta”.

– E você acha que a Quinn que mandou esse recado? Para a Sophie? – Cathy perguntou ainda sem acreditar.

– Eu sei que parece loucura! Mas e se for? Quantas pessoas você conhece que gostam de chocolate com menta? É um sabor horrível! – argumentou enfática – E separadamente todos esses eventos não indicam nada, mas se você pensa neles juntos, não parece tanta loucura assim! Pensa só!

– Eu não sei – falou ainda incerta – Tudo parece muito exagerado para mim.

– Olha esse bilhete, Cathy! “eu te amo, minha rainha”, isso parece íntimo! Se ela quisesse simplesmente se declarar para a Quinn escreveria uma carta mais detalhada ou no mínimo assinaria! Como a Quinn poderia saber que esse bilhete era da Sophie? Só se ela já estivesse esperando que fosse dela! Pensa nisso, Cathy! Não acho que seja loucura pensar que elas possam estar se vendo ou algo assim – olhou em volta – Onde está Quinn?

– Ela tem estado diferente mesmo nos últimos meses – concordou depois de pensar um pouco.

– E está sempre sumindo! – argumentou novamente.

– E agora? – Cathy perguntou finalmente aceitando a possibilidade.

– Temos que fazer alguma coisa! Imagina se as pessoas descobrem isso! Imagina se a Quinn for realmente sapata. A gente anda grudada nela há anos! Vão começar a espalhar boatos sobre a gente também – falou nervosa.

– Nossa popularidade vai por água abaixo – falou desesperada.

– Nós temos que fazer algo!

– Mas o que?

Leslie pensou por um tempo.

– Temos que nos distanciar da Sophie – afirmou.

– Sair do time de flag? – Cathy perguntou.

– Com certeza! Mas isso não é suficiente! Temos que humilhar ela de forma bem pública para não correr o risco de ninguém achar que temos algo a ver com ela! – definiu.

– E a Quinn? A gente fala com ela?

– Não! Se ela estiver nesse relacionamento não podemos confiar nela!

– Eu não me sinto bem em trair ela assim...

– Não vamos trair ela! Vamos ajudá-la! – falou Leslie já com um plano começando a se desenvolver em sua mente.

Fim do capítulo