• Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Cadastro
  • Publicar história
Logo
Login
Cadastrar
  • Home
  • Histórias
    • Recentes
    • Finalizadas
    • Top Listas - Rankings
    • Desafios
    • Degustações
  • Comunidade
    • Autores
    • Membros
  • Promoções
  • Sobre o Lettera
    • Regras do site
    • Ajuda
    • Quem Somos
    • Revista Léssica
    • Wallpapers
    • Notícias
  • Como doar
  • Loja
  • Livros
  • Finalizadas
  • Contato
  • Home
  • Histórias
  • E se...
  • Capitulo 11

Info

Membros ativos: 9525
Membros inativos: 1634
Histórias: 1969
Capítulos: 20,492
Palavras: 51,967,639
Autores: 780
Comentários: 106,291
Comentaristas: 2559
Membro recente: Azra

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Notícias

  • 10 anos de Lettera
    Em 15/09/2025
  • Livro 2121 já à venda
    Em 30/07/2025

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

Recentes

  • Legado de Metal e Sangue
    Legado de Metal e Sangue
    Por mtttm
  • Entre nos - Sussurros de magia
    Entre nos - Sussurros de magia
    Por anifahell

Redes Sociais

  • Página do Lettera

  • Grupo do Lettera

  • Site Schwinden

Finalizadas

  • Segredos no Mar
    Segredos no Mar
    Por Raquel Santiago
  • Despedida
    Despedida
    Por Lily Porto

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

E se... por Nadine Helgenberger

Ver comentários: 6

Ver lista de capítulos

Palavras: 9061
Acessos: 4756   |  Postado em: 05/07/2020

Capitulo 11

 

Capitulo 11 - E se...

 

Joy abriu os olhos devagar e tateou para o lado à procura do telefone. Não o encontrou e estranhou. O aparelho ficava sempre ao lado da sua cama baixa. Esfregou os olhos e percebeu que tinha um dos braços sob um corpo. Abriu os olhos em definitivo e com o olhar fez um giro de 180 graus ao espaço onde estava. Não era o seu quarto. Apertou os olhos e de repente tudo ficou claro, ou quase. Lembrou que estava em casa de Elena, que tinha dormido por ali, mas a forma como estava naquela cama pareceu-lhe um pouco estranha. Estava demasiadamente à vontade. Tinha o braço direito por baixo do pescoço dela e ela por sua vez, segurava-lhe a mão entre as suas. Obedeceu a um desejo súbito e inusitado e abraçou-a pelas costas. Elena não se mexeu, mas gem*u baixinho. Joy suspirou na nuca dela e aspirou o cheiro delicioso da vasta cabeleira que se estendia pelo lençol.

Tinha dormido ali. Sorriu e aconchegou-se mais ainda ao corpo quente de Elena. O bom senso mandava sair daquela cama e ir embora para casa, afinal tinha uma viagem até Rhode Island em poucas horas. O bom senso não tinha forças diante do perfume natural daquela grega. Puxou a coberta para cima, colou-se a Elena e em instantes adormeceu com uma sensação que beirava a algo que não sabia muito bem definir, mas era muito boa.

 

*****

Joy andava às voltas do apartamento de Elena à procura de um bloco de notas e nada. Queria deixar-lhe um bilhete antes de ir embora, já que a grega parecia ter tomado sonífero. Ela nem se mexia naquela cama.

Sorriu e continuou a busca, evitando fazer qualquer barulho. O gato parecia um guarda, com o olhar fixo nela, mas sem mexer um pelo para ajudar.

            --Ajudar? Eu devo estar doida.

Riu de si mesma, enquanto procurava sobre a mesa de trabalho.

            --Essa mulher é editora, escritora e sei lá mais o quê e não tem papel. Mykonos, não tem papel por aqui?

Obviamente que o gato permaneceu impávido e no mais absoluto silêncio.

Joy foi até à cozinha e pegou um guardanapo.

            --Sempre é papel. Agora vamos atrás de uma caneta.

Mais uma risada controlada.

Encontrar uma caneta foi mais fácil, do que uma folha de papel. Escreveu algumas palavras no pedaço de papel improvisado, e deixou ao lado da cama dela.

Sorriu ao vê-la dormir languidamente. Parecia que nada poderia acordá-la.

            --Se não fosse o trabalho em Lincoln...

Suspirou ao lembrar que era uma mulher responsável e que jamais cedia a tentações.

            --Trabalho em primeiro lugar, Joy! E tens objetivos claros...e amo o que faço.

Riu de si mesma.

Ajoelhou-se ao pé da cama de Elena e beijou-lhe as costas. Teve mais um desejo insano de voltar para a cama, mas conseguiu erguer-se e sair ás pressas daquele apartamento.

 

*****

 

Elena bebericava uma chávena de café, enquanto olhava pela janela. Ainda estava enrolada no lençol e sem a menor pressa para sair de casa. Sorriu quando percebeu Mykonos enrolado nas suas pernas.

            --Não me olhes com essa cara de repreensão.

Riu e o gato miou.

            --Não estou atrasada Myk. Hoje posso chegar tarde ou nem ir. Esqueceste que cheguei muito tarde ontem?

O gato ronronou e deitou nas pernas dela. Elena acariciou-o, enquanto olhava para a rua sem pensar em nada. Quando tinha tempo, adorava sentar-se pela manhã no parapeito da janela e observar a vida passar. Nos dias normais, quase nunca o fazia, mas aos finais de semana era quase um ritual.

Sentia-se estranha, mas não era uma sensação ruim. Pelo contrário. Mas também não sabia muito bem definir o que era. Bebeu o café e sorriu. O gosto era bom e remetia a coisas melhores ainda.

Riu alto ao lembrar-se da sua ousadia. De repente, sentiu um rubor na face e com certeza, estava vermelha. Riu e passou a mão pelo rosto.

Olhou as horas, quase 11. Precisava de um banho e de uma roupa bonita. A alma estava tão leve, que teve vontade de sentar no seu ambiente de trabalho e escrever até esquecer. Claro que não se referia a coisas do trabalho na editora...

            --Preciso de música para agilizar os meus movimentos dentro dessa casa. Concordas Myk?

O gato nem se mexeu.

Elena riu e dirigiu-se ao quarto.

 

*****

Elena olhava para o pedaço de guardanapo em suas mãos e sentia o coração bater nos ouvidos. Demorou a perceber o que aquele pedaço de papel fazia no chão do quarto. A princípio pensou que tivesse sido obra do gato e brigou com ele. Não era coisa do gato, era algo bem melhor que a deixou com os sentidos em alerta.

"Teria sido um pecado acordar-te tão cedo. Grega, tens a noção de como ficas absurdamente linda quando dormes profundamente? Tive que resgatar valores lá no fundo da minha sanidade para prosseguir com os planos iniciais. Ufa, brava Joy!

Por mais jantares como o de ontem...por mais tudo o que quisermos...juntas.

Darei noticias. Fique bem.

Beijo. Joy."

Elena relia e ria. De repente tremia. Sentou-se na cama e respirou profundamente.

            --Ela não foi embora sem dizer nada...

Levantou-se e andou de um lado para o outro.

            --Calma, Elena. Se ela tivesse ido embora sem dizer nada, não significaria nada. Somos amigas...quantas vezes eu já saí da casa da Milanka sem dizer nada e vice-versa...

Olhou mais uma vez para o guardanapo. Namorou as palavras. Sorriu e dobrou o pedaço de papel.

Voltou para a sala com a sensação que os pés não tocavam o chão.

Na sala tocava Somebody special de Nina Nesbitt e Elena dançava de olhos fechados e sempre sorrindo.

            --Sim, estou doida! Completamente sem noção! Graças aos céus que essa mulher viajou...

Voltou ao quarto e olhou-se ao espelho, depois para a cama. Mordeu o lábio e pensou mil coisas sem nexo.

            --Elena, estás doida! Porr*, mulher! Um pouco de juízo cai bem.

Rindo seguiu dançando e cantarolando o refrão da música.

 

*****

Milanka olhava para a irmã, tentando entender em que momento ela tinha se transformado naquele ser. Já não conseguia definir quem era Gennelle. Ela vivia de oscilações e não havia condições de acompanhar e muito menos entender. A admiração esvanecera, restava o amor de irmã. Era esse sentimento, que ainda a levava a conviver com aqueles momentos tão desgastantes. Precisava fazer alguma coisa, mas não fazia a menor ideia do quê.

A irmã acendeu mais um cigarro, que pelo aroma, Milanka logo percebeu que havia mais coisa ali. Abstraiu do cheiro e do desconforto. O amor era maior do que qualquer coisa...

            --Fiquei à tua espera no show do Gilliano. - Disse qualquer coisa.

            --Ah, me perdi nas horas...- Ela tragou o fumo e pareceu estar muito longe dali.

            --Gostavas tanto dele...

            --Pois...

            --Poderias ter avisado. Cancelei um compromisso para estar contigo...

            --Problema teu. Eu não pedi nada. - Gennelle agora parecia aflita e olhava insistentemente para o relógio que carregava no pulso magro.

Milanka respirou fundo e percebeu que a paciência já não estava nos mesmo níveis de quando lá tinha chegado.

            --G, ainda lembras que amavas a moda? Que teu mundo era esse? Ainda lembras que eras uma modelo muito famosa, e que todos os criadores e produtores de moda adoravam que fizesses parte dos castings?

Ela bufou parecendo não ter escutado uma única palavra.

            --Gennelle, a tia Audrey...

            --Não fales da tia...ela já morreu há seculos.

Foi a vez de Milanka bufar, mas de raiva.

Milanka andou de um lado para o outro tentando encontrar uma fresta para a mente perturbada da irmã.

            --Milanka, preciso que vás embora! - Ela tinha um olhar perdido e uma urgência na fala.

            --Porquê? Eu ainda não preparei a omelete de espinafres que adoras. - Milanka tentava ganhar tempo.

            --Não quero porr* de omelete nenhuma. Preciso que vás embora. Agora!

            --Gennelle, estás a ser mal-educada. Eu deixei coisas pendentes no trabalho para te ver, tinha muitas coisas para fazer...

            --Eu não pedi nada. Aliás é melhor que não voltes mais aqui... - Ela tremia os lábios.

            --Gennelle, eu sou a tua única família nessa cidade...

            --Não, não és. Eu já desisti de ti...teu mundo é outro, não temos nada em comum...

            --O quê? Estás doida?

            --Sai daqui. - Ela mais uma vez olhou as horas.

            --Porquê?

            --Sai!

            --Não até me dares uma razão plausível.

Gennelle saiu do torpor em que se encontrava e agarrou o braço da irmã com força.

            --Estás doida?

            --Sai daqui e não precisas voltar mais. Nunca mais.

            --Gennelle! - Milanka desvencilhou-se e percebeu que tinha o braço arranhado.

            --O meu homem não gosta que apareças aqui. Ele diz e está certo, que só me fazes mal com as tuas ilusões. Eu não quero mais esse mundo ridículo em que vives. Não quero nada que venha dele. O Trent me basta, tudo o que ele me dá é o suficiente para ter uma vida maravilhosa...

            --Olha para ti. - Milanka gritou e carregou a irmã para junto de um espelho.

Gennelle não abriu os olhos.

            --Abra os olhos e me diga o que vês. Agora!

            --Sai da minha casa!

            --Gennelle, tu és linda, tu podes...

            --Eu posso o que eu quiser, não o que tu desejas.

            --Eu desejo o teu melhor...

            --Sai daqui Milanka. Se o Trent chega e estás aqui, a coisa não vai ficar bonita...

            --Para quem?

            --Vá embora!

            --Ele vai bater-me como faz contigo?

            --Cala a boca!

            --Tu estás toda cheia de marcas, um farrapo. Ele desconta as frustrações no teu corpo?

Gennelle bateu com violência na face de Milanka.

Ela assustou-se e começou a tremer violentamente.

Milanka chorou. Temia pelo elo lindo que mantinha com a irmã. Temia pela resistência do amor. Temia pela vida de Gennelle. Sua única família. Seu alicerce.

            --Vá embora! - Gritou entre soluços.

Milanka olhou para ela. Não era Gennelle ali. Sua irmã era linda, cheia de vida. A figura à sua frente era pálida, esquálida, quase sem vida.

            --Se precisares de mim...

            --Não vou precisar. Sai daqui!

Milanka olhou para tudo com desalento, e saiu com os ombros caídos.

A sensação era de derrota.

Dentro do apartamento, Gennelle chorava em desespero ao mesmo tempo que procurava mais um cigarro.

 

*****

 

Mais uma tentativa falhada de falar com Milanka, e Elena já começava a ficar preocupada. A amiga não tinha aparecido na editora durante a tarde e não tinha avisado que faria alguma coisa fora do escritório. Milanka sempre avisava todos os seus passos, ainda mais que dissera mais cedo que queria conversar com ela.

Elena olhou para a tela do computador e para a pilha de papéis em cima da sua mesa e franziu a testa. Não conseguira a menor concentração para adiantar o trabalho, que se acumulava devido à viagem a Seattle. Brigitte aparecera de supetão e fora embora na mesma velocidade. Graças aos céus que cancelara uma reunião com um fenómeno qualquer da internet que queria lançar um livro. Estava sem a menor paciência para devaneios.

Olhou para o telefone na sua mão e suspirou. Não cansara de olhar para a tela à espera de algum sinal de Joy. Claramente uma atitude atípica e condenável. Estava á espera de quê? Não sabia, mas olhava para aquele bendito aparelho a cada 2 minutos.

Resolveu ler alguma coisa antes de ir embora, afinal era paga para aquilo. Responsabilidade era sua marca registrada. Suspirou sem muito ânimo.

            --Milanka, por onde andas? Preciso conversar...estou perdendo o juízo...

Começou a cantarolar, enquanto lia algumas frases do manuscrito.

Alguns minutos depois, o telefone vibrou. O coração seguiu na mesma toada. Levou a mão ao peito e revirou os olhos em sinal de reprovação.

Era Joy.

Sorriu. Depois riu escancaradamente e olhou para os lados. Estava sozinha, graças a Deus.

"Hey, tudo bem por aí? Meu dia está uma loucura, mas muito produtivo. Conseguiste sair daquela cama? Vou fotografar-te na cama...posso? Tive tanta pena de não ter levado a máquina ontem. Estou num spot lindo, acho que adorarias. Beijo."

O coração de Elena estava disparado.

Minutos depois, mais calma, considerou aquela reação um disparate sem precedentes.

            --Eu não sou uma adolescente. Nunca fui dada a essas coisas...coração disparado? Ah, Elena, juízo.

Considerando aquilo uma estupidez e não tendo nada para comparar as suas reações, decidiu responder de forma evasiva. Dentro dela, crescia uma sensação esquisita.

"Tudo bem. Estou no trabalho. Reunião, depois falo contigo."

Sim, era esse o caminho para a sobrevivência.

 

*****

Em casa, Elena sentia-se mais calma, mas ainda tinha momentos de devaneio nada comuns. Depois do banho, que demorou mais tempo que o habitual, decidira trabalhar no projeto pessoal. Contrariamente ao que poderia esperar, conseguiu avançar bastante no capítulo que escrevia. Parecia que era inundada por um oceano de ideias e as mãos obedeciam bravamente. Leu e releu o que tinha escrito e tudo pareceu-lhe bastante interessante. Segundo a mãe, ela era excessivamente crítica e por isso não dava outros rumos ao que mais gostava de fazer.

            --É preciso ter talento e muito mais...

Suspirou e levantou para esticar as costas. Serviu-se de mais uma chávena de chá e foi para o parapeito da janela, seu melhor lugar.

            --Myk! - Chamou o gato que não era visto.

            --Por onde andas gato?

Desistiu dele e resolveu ouvir música, enquanto esperava algum sinal de Milanka.

Ouvia Youth dos Glass Animals e a mente insistia em seguir para direções que ela não queria. Não queria?

Só conseguia lembrar do sorriso de Joy, dos trejeitos, da forma sexy como ela falava. De olhos fechados, lembrava a forma intensa como ela beijava e sempre suspirava. Queria que ela entrasse pela porta...

            --Ah, Elena...

Desceu da janela e foi atrás de Mykonos. Dentro do quarto, foi agraciada com o perfume de Joy que mais parecia uma brisa. Olhou para a cama que agora estava arrumada e foi invadida por lembranças, que lhe causaram um calor pelo corpo todo.

            --Eu estou doida, não conheço nada dessa mulher e não paro de pensar nela. Quem manda a diaba ter um sotaque britânico delicioso, aquela boca que é um pecado e um olhar que parece me despir sem esforço? Aaaaaah...

Riu de si mesma. Ainda bem que conseguia rir das suas angustias. Pensava.

Algures na sala, ouviu o telefone tocar. O coração galopou, mas dessa vez, não correu para atender. Precisava recuperar a sua objetividade e nada a faria sair daquela linha.

Não era uma chamada e sim uma mensagem de Milanka.

Sorriu feliz.

"Em casa e com uma garrafa de vinho excelente. Alinhas?"

"Já estou na porta."

 

*****

 

Milanka falava sobre assuntos aleatórios e Elena a observava sem fazer muitos comentários. Já a conhecia e sabia que ela estava transtornada. Quando ficava assim, falava sem parar e ao final desfalecia e pedia ajuda. Normalmente tinha a ver com problemas familiares, ou melhor, problemas com a única irmã. Milanka não era uma pessoa de muita entrega emocional, mas quando o assunto era a irmã, tudo mudava e de forma acentuada.

Elena percebeu muitos arranhões num dos braços da amiga e ficou preocupada. As coisas pareciam ter evoluído para um nível mais preocupante. Precisava que a amiga abrisse a sessão desabafo. Sem rodeios, perguntou:

            --Estiveste com a Gennelle?

Era tudo que Milanka precisava para relatar o episódio triste com a irmã.

Elena ouviu sem emitir qualquer opinião. Estava muito preocupada, mas não deixaria a amiga mais destroçada do que já estava.

            --Ela está perdida...

            --Só não perca o teu rumo, Milla.

            --É difícil, Troia. Aquele filho da mãe está a acabar com a vida da minha irmã. Eu acho que ela é espancada, agredida...

            --Não podes denunciar?

            --Sem provas? E ela está tão cega que vai me deixar com cara de idiota junto à policia. Ela gritou mil vezes que não me quer lá.

Milanka suspirou e Elena apertou-lhe a perna.

            --Talvez ela precise descobrir sozinha que a relação é doentia...

            --E se for tarde demais?

            --Milanka, sabes que tudo precisa partir dela...

            --Eu sei! Mas ela está entorpecida e tem as drogas...

            --Confirmaste?

            --Sim, ela fumou à minha frente e sem qualquer pudor. Quando a G era modelo famosa, ela fumava erva por lazer como sempre dizia. Não via grandes mudanças comportamentais, até porque ela era uma estrela e tudo parecia menor diante da sua magnitude. Agora, ela está destruída, magra e pálida.

            --Migrou para outras coisas...

            --Claramente. Trent abusa de drogas, ele é um frustrado, maníaco e está a levar a minha irmã para o mesmo abismo. Ela não consegue dizer uma frase sem mencionar esse idiota.

            --Ela está sem objetivos, sem sonhos...

            --Completamente. Isso acaba comigo. Ela sempre foi o meu norte, tirou-me da vida sem perspectiva que tinha em Pretória. Não posso deixá-la à própria sorte. Não posso.

            --Não vais. Mas precisas ter uma baliza, saber até onde podes e deves ir. Esse braço...

            --Ela me arranhou, mas foi sem querer...

            --Cuidado, Milla.

            --Eu sei. Acreditas que o Ethan já me ligou muitas vezes e eu não atendi. Tínhamos combinado uma viagem para as montanhas, um fim de semana romântico e eu não fui. Não tenho cabeça...

            --Ao menos explicaste as tuas razões?

            --Claro que não. Achas que vou dizer que tenho uma irmã drogada, que vive uma relação doentia com uma antiga estrela do basquete e que além de não querer saber da minha presença, ainda me agride fisicamente?

            --Não com essa riqueza de detalhes, até porque acho que vossa relação ainda não tem bagagem para tanto. Mas não dar nenhuma explicação não me parece a atitude mais acertada. Afinal, pelo que entendi, ele está disposto a construir alguma coisa...

            --Ele não me conhece...

            --Como assim? Milanka, os problemas são da tua irmã. Tu não tens problemas com drogas, a tua única droga é o vinho.

Gargalhadas.

Era isso que Elena queria, que a amiga passasse a ver as coisas sob uma perspectiva mais leve.

            --Quando é que pensas me apresentar esse Ethan? Ele sabe que todos precisam passar pelo crivo da grega?

Gargalhadas.

            --Ai Elena, o que seria da minha vida sem a tua presença?

            --Um barco à deriva em dia de tempestade.

Gargalhadas felizes.

            --Vais conhecer o Ethan...só preciso organizar a minha cabeça. Ele não desiste de mim...

            --Ainda bem. Deve ter bom senso.

            --Só isso?

Risos altos.

            --E algum bom gosto também.

Risos.

            --Ok, o vinho já vai a meio e já falamos muito dos meus problemas, agora quero saber da senhora.

            --O que é?

            --Ah, está mais do que claro que existe alguma coisa povoando essa mente. Perdi a conta das vezes que te vi com o pensamento longe. Até sei o motivo, uma inglesa que além de muito sexy, ainda é fotografa.

Gargalhadas.

            --E como é que sabes que ela é sexy?

            --Ah, aquele rompante no restaurante, o cheiro bom, a impetuosidade, a certeza de que queria estar contigo e o sotaque, aiii socorro...

Elena olhou atravessado para a amiga, que quase morreu de tanto rir.

            --Grega, és ciumenta?

            --Ah, cala a boca.

Risos.

            --Eu sei o que é bom, mas no momento só tenho olhos para o meu homem lindo. Ah, e a Joy é tua, se quiseres, claro.

            --Sei lá o que eu quero.

            --Como assim?

Elena relatou tudo que tinha acontecido desde a sua viagem, ao regresso em que ousara e elas acabaram dormindo juntas.

            --E tu ainda não sabes o que queres? Está mais claro do que água que tu queres essa mulher. Troia, eu te conheço há algum tempo, já tiveste dois homens e jamais te vi assim.

            --Como?

            --Pareces ter um fogo por dentro, uma coisa forte que te impulsiona.

            --Eu não paro de pensar nessa mulher. Milanka, não é exagero.

Milanka sorriu e apertou a ponta do nariz de Elena.

            --E estás com essa cara de desespero?

            --Claro que sim. Essa Elena faz algum sentido?

            --Como? Apaixonada?

            --Porr*!

            --Claro que faz. Sinceramente eu não tinha esperanças, até porque pareces dessas pessoas focadas demais no percurso profissional e...

            --Eu sou! Claro que sou.

            --Mas uma coisa não invalida a outra.

            --Eu não sei nada dela. Nada. Como posso estar assim?

            --Talvez seja por isso, pelo mistério.

            --Não sei se gosto dessa sensação...

            --Elena, para de racionalizar. Pode ser apenas uma experiência diferente.

            --Muito diferente! Não sei lidar com essas emoções...

            --Queres que eu seja bem franca?

            --E desde quando precisas perguntar o óbvio?

Risos.

            --Elena, mereces mais. Mereces algo que te deixe à flor da pele, algo que te tire dessa zona de conforto chata que inventaste para as tuas relações. Aproveita que não tens nenhuma irmã doida, e mergulha de cabeça nessa inglesa maravilhosa.

            --Idiota!

Gargalhadas altas.

            --Estou confusa...     

            --Entendo.

            --Quase fiz sex* com ela...

            --E?

            --Ah, Milanka. A mulher estava na minha cama, na primeira vez que colocou os pés na minha casa e a meu convite.

            --Isso realmente é um fato relevante. Se nem eu deito com facilidade naquela cama.

Risos.

            --Eu a convidei. Fiz joguinhos sem maldade, mas fiz...

            --E ela cedeu, porque provavelmente queria a mesma coisa.

            --Parece que quando estamos juntas, é só isso que importa. Parece que qualquer loucura que uma de nós propõe, é imediatamente validada pela outra...

            --Caso para dizer, que encontraste a tua alma gémea na pessoa de uma inglesa de Manchester.

            --Ah vá à merd*, Milanka.

Risos.

            --A possibilidade de fazer sex* com ela, causou-te repulsa?

            --O quê? Estás doida? Só não fui além por puro medo e por estar muito cansada. Queria que fosse...

            --Hmmm...

            --O quê?

            --Troia, acho que estás apaixonada pela inglesa do parque.

            --Porquê?

            --Se visses a tua cara...e mais, não querias apenas uma noite de sex*...

            --Eu quero sex*!

            --Claro que queres. Mas não queres só isso, tu queres a inglesa, de corpo e alma.

            --E como é possível uma loucura dessa?

            --Meu amor, eu não faço a mínima ideia. Mas tu queres algo diferente com essa mulher. Parece que ela é especial...

            --Ela é linda e me confunde...

            --Como assim?

            --Não a conheço.

            --Mas isso é fácil. Conviva com ela, parece que ela quer a mesma coisa. É ela que está a enviar mensagens?

            --Como sabes disso?

            --Pela tua cara, Troia. Há bocado abriste um sorriso que iluminaria o planeta.

            --Exagerada dos infernos!

            --É, ou não é?

            --É ela sim, mas eu não respondi.

            --Elena...

            --Milanka, eu não sei como agir. Tenho medo de estar a inventar coisas na minha cabeça. Ela nunca me disse nada demais...

            --Calma, sem atropelos.

            --Eu não sei lidar com isso e não vou alimentar essa loucura.

            --Ela é gostosa?

            --Ah, porr*! Eu aqui com problemas sérios e essa idiota vem com palhaçada.

Gargalhadas altas.

            --Ela é gostosa. Ficaste vermelha.

Risos altos.

            --Ela é muito gostosa, mas não quero falar sobre isso.

            --Engraçado, tu me mandas investir na relação com Ethan, e, no entanto, corres da inglesa.

            --Vais comparar? Tu sabes exatamente em que terreno estás a pisar. O Ethan é claro em tudo, sabes o que ele faz, o que pele pensa, do que ele gosta...

            --Elena, tens tempo para descobrir tudo isso e muito mais. Eu já entendi o teu problema.

            --E qual é o meu problema?

            --Preferes romances nem tão românticos assim, com pessoas que desvendas na terceira conversa e com as quais sabes lidar até de olhos fechados. Isso chama-se excesso de prudência, para não dizer comodismo. A Joy é diferente e não é pelo fato de ser mulher...ela parece ser intensa e se queres saber, é disso que precisas.

Elena suspirou.

            --Ela traz uma Elena plena de vida à tona. Troia, tu estás feliz, irradiando luz por todos os lados. Já não falas apenas de livros, editora, Brigitte e de Mykonos.

            --Sou tão chata assim?

Risos.

            --Não! Tu és muito interessante, mas tens um prazer mórbido em camuflar tudo.

            --Não sei o que fazer...

            --Não pense. Tens a mania de racionalizar tudo, esqueça essa loucura. Deixa fluir...

            --Como assim?

            --Troia, tu não és burra.

Risos.

            --Nesse caso...

            --Então, tens receios, medos...deixe a coisa ir sem muitos atropelos. Quem sabe daqui a pouco, não descobres que não é nada de especial. Quem sabe a Joy não é apenas uma mulher que vais beijar na boca e dar umas voltas por aí e só...

            --Porque és tão madura quando o assunto sou eu?

            --Conclua.

Risos.

            --Sou madura contigo e péssima quando sou eu sob as luzes. Meu amor, muito simples.

            --Eu sei, é mais fácil ver para o telhado alheio.

            --Hum-hum.

            --E porque nunca me disseste que achavas a minha vida sem graça?

            --Mas isso não cabe a mim, meu bem. Até porque parecia que tudo estava bem, que apenas eras uma mulher muito focada no trabalho e isso te bastava. E tem mais, como uma doida que vive na superfície como eu, vai dar conselhos a uma mulher sensata como tu?

            --Vê-se claramente quem é a sensata aqui. Tu tens muita vivência, Milanka.

            --Sim, e talvez por isso seja um bocado cínica com a vida. Estou feliz que existe uma outra Elena aí escondida. Uma Elena que explode em vida, ah como estou feliz.

            --Doida!

Risos.

            --Convide-a para alguma coisa amanhã. Aproveita que é sábado e não precisas e nem deves trabalhar. O outono é lindo em Nova York e convida a romances de uma estação.

Gargalhadas.

            --Tu és tão idiota e o pior é que te adoro. A Joy viajou...

            --Ainda tem isso.

            --O quê?

            --Ela viaja sempre, nem vais ter como cair na rotina. Essa inglesa é simplesmente o romance perfeito para uma mulher pragmática como tu, grega.

            --Eu sou pragmática?

            --Para não dizer chata.

Gargalhadas com arremesso de almofadas.

            --Se eu te disser...-Elena pareceu arrepender-se do que ia dizer e calou-se.

            --O quê?

            --Ah deixa para lá. Eu devo estar doida...

            --Estás com saudades dela...

            --Estou! Muito, Milanka.

            --Bom, começa a ficar interessante. Tu só manifestas saudades do Mykonos e da tua mãe e olhe lá.

            --A sério que depois dessa conversa vou ali cortar os pulsos. Sou tão sem sal assim?

Gargalhadas.

            --Olha para ti, mas olhe bem. Alguém assim consegue ser sem sal? Tomara que essa inglesa seja bem fogosa e te dê o que mereces.

            --Porr*, tu és muito sem noção.

Gargalhadas altas.

            --Troia, tu és linda, sexy num grau que desafia a sanidade.

            --Mas...

            --Mas não fazes nada. Vives naquela editora a aturar gente deslumbrada que acha que pode escrever.

Risos.

            --Não fales assim, há muita gente brilhante.

            --Sem dúvida, mas aturas muito lixo também que eu sei. Aturas aquela mulher que é absurdamente megalómana, e aturas tudo com essa cara de profissional perfeita. Ah, pelo amor de Deus! Quase nunca sais para ver gente, tens essa mania de ir sozinha a concertos, de passear em parques a meio da madrugada...bom, pelo menos das últimas vezes, rendeu a inglesa.

Gargalhadas.

            --Eu nunca te vi com problemas. Nunca percebi qualquer resquício de preocupação em ti. Não me venhas com a história do sonambulismo, que não é disso que estou a falar.

            --Entendi...

            --Nunca te vi com questionamentos emocionais. Resumindo, eu nunca te vi apaixonada e tendo que lidar com os altos e baixos de uma relação.

Elena parou para pensar e concluiu que Milanka estava certa. Sua vida era monótona.

            --A Joy já causou um pequeno terramoto aí nesse corpo fechado, ou seria no coração?

            --Pelo amor de Deus, ainda ontem fui atropelada por essa mulher...

            --Isso mesmo, ela te atropelou e perdeste o rumo. Graças a Deus!

            --Doida!

            --Eu não a conheço, mas a urgência dela em alcançar-te aquele dia no bar, deixou-me intrigada. Deu-me a impressão de querer muito te encontrar...

            --Não sei de onde tiras essas coisas...

            --O encontro nesse dia foi maravilhoso, não foi?

Elena lembrou do beijo e suspirou.

            --Nem precisa responder.

            --Parva!

            --Aproveita meu bem. Não cries expectativas, aliás essa é uma lição que não precisas aprender. Sei que não és dada a ilusões, mas dê uma chance a essa história. Quem sabe não vais passar uns dias em Londres.

Gargalhadas altas.

            --Melhor ainda, sendo ela fotografa, quem sabe não és alçada a musa de um ensaio. Ah, quero ver. Tu és linda Troia. Lindíssima! E nas lentes dela...aahhhh.

            --Meu Deus, socorro! Tu consegues varrer qualquer inquietação da minha alma. Já me sinto a modelo fotográfica.

            --Besta!

Gargalhadas com abraços.

            --Somos uma bela dupla!

            --Ah somos, a profunda que teima em ser rasa e a rasa que se acha a profunda.

Gargalhadas altíssimas.

            --Quem é o quê nessa descrição?

            --Claro que tu és a profunda. Tem muita sabedoria aí nessa cabecinha que parece ser de vento. Já eu, sou muito esperta para algumas coisas e para outras importantíssimas, sou essa idiota que acabaste de ver.

Risos.

            --Sem julgamentos, grega. Estamos aqui para aprender, ou achas que já nasci sabendo essas coisas todas?

Risos.

            --Acho que vais ficar desiludida comigo...

            --Porquê? Vais recuar com a inglesa?

            --Não sei o que fazer...

            --Tu nunca vais desiludir-me meu bem. Leve o teu tempo, cada um tem o seu próprio processo e se não estás preparada para essa aventura, respeite os teus limites. Já viste a razão de eu ser tão superficial? Dói menos...

Risos.

            --É, pode ser...

            --Mas uns beijos na boca daquela mulher maravilhosa, não vai roubar nenhum pedaço da tua alma.

Gargalhadas altas.

 

*****

O sábado de Elena foi passado fazendo o que ela mais gostava. Perdeu a noção do tempo que ficou imersa nas palavras que ganhavam vida na tela do seu computador. A mente estava fervilhando e sua história ganhava cada vez mais vida. A personagem principal passou a questionar várias coisas, claro que ela bebia da sede da sua criadora. Uma sede de vida que até há bem pouco tempo não existia. Trabalhou até sentir costas e mãos doendo. O dia já se despedia, quando decidiu tomar um banho longo e inventar alguma coisa para comer. Mais uma novidade em sua vida, vontade de aprender a cozinhar. De onde viera essa loucura? Não fazia a mais remota ideia, mas queria aprender e mais, queria fazer coisas deliciosas para comer e queria convidar amigos. Bom, amigos que pudesse convidar para a sua casa, não tinha tantos assim, mas Milanka com certeza seria uma cobaia e quem sabe algumas poucas pessoas do trabalho.

Não via a hora de receber visita da mãe, mais uma cobaia perfeita. Estava com saudades dela, mas a mãe, ao contrário dela, não tinha medo de viver.

            --Por onde andará Melina, Myk?

O gato miou e caminhou lentamente para o parapeito da janela da cozinha.

            --Tu já não me dás ouvidos, não é gato? Para quem vou contar minhas inquietações, se a doida do lado sumiu e tu não me ligas nenhuma?

Ela riu das próprias loucuras.

Suspirou ao segurar o telefone nas mãos. Joy tinha enviado algumas mensagens que respondera de forma quase evasiva. Depois da conversa com Milanka, foi assolada por um medo maior ainda. Durante a conversa, foi percebendo coisas que não faziam sentido. O que não fazia sentido era a saudade daquela inglesa que roubava-lhe a sensatez. Queria vê-la, ainda que à distância. Queria encontrá-la ao acaso no parque e passar horas conversando assuntos muitas vezes sem muito sentido e, que no entanto, captavam toda a sua atenção. Queria tanta coisa...

Suspirou profundamente e deixou o telefone longe do alcance das suas mãos.

Caminhando em direção ao quarto riu da própria atitude. Não precisava do telefone para lembrar da inglesa. Na realidade ela não lhe saía da cabeça...

Depois de mais um banho e já na cama a ouvir música, enquanto tentava ler alguma coisa, perdeu a conta das vezes que deixou a mente viajar. A viagem nem era tão longa, já que os pensamentos caiam invariavelmente na sua cama. Olhava para o lado onde Joy tinha dormido e pensava como seria bom...

            --Elena, pelo amor de Deus.

Repreendia-se e caía na mesma situação.

Não parava de pensar nela, mas não conseguia enviar uma mensagem condizente ao seu estado de alma. Confuso? Sim, claro. Mas era a primeira vez que lidava com coisas que não entendia, e que a tomavam por inteira.

            --É claro que isso não faz sentido. Não conheço nada dela, como posso estar assim? Será que o pouco que ela me mostrou é suficiente para me deixar assim? Serei uma idiota deslumbrada? Ahhhh, desisto.

Colocou a almofada sobre a cabeça e bateu as pernas na cama.

            --Pronto, só me faltava essa. Agora sou uma menina mimada. Vou dormir que ganho mais. Amanhã acordo com o meu bom senso recuperado.

 

*****

Domingo, dia de solidão. Era assim que Elena definia o último dia da semana. Mas não se tratava de um dia triste, muito pelo contrário. Era o dia que sempre cuidava de si e dos seus animais de estimação, mas que não tinha por hábito manter qualquer outro tipo de interação.

A meio da tarde saiu para passear com Myk, rotina dos domingos. Ambos adoravam aquele momento.

Apesar das loucuras que povoavam a sua mente, sentia-se calma. Sabia que Joy estaria de volta e embora não soubesse o horário certo do voo, a certeza de que ela voltaria à cidade, já lhe deixava com a alma mais leve.

Ainda não tinha definido uma estratégia para abordar aquela situação, mas sabia que, ao contrário do que sugerira Milanka, precisava usar a razão.

O lema era fazer bom uso da sensatez.

 

*****

Joy estava com alguma dificuldade em se movimentar dentro de casa e Zayco não lhe largava os passos incertos.

            --Zayco, eu estou com dores e não sei andar com isso...

O cão ladrou e parecia aflito.

Joy tinha escorregado durante o trabalho em Lincoln o que lhe tinha rendido uma ida às urgências de um hospital, uma perna imobilizada e um par de muletas. O médico garantira que não era nada grave, mas que ela precisava de repouso e ficar com a perna para cima. O analgésico que tomara antes da viagem tinha ajudado bastante a amenizar as dores, mas agora, o efeito já não era o mesmo.

Estava com dores, fome e não sabia muito bem o que fazer. Sua mania de independência quase causara outro acidente, mas ainda bem que sabia entender os limites e aceitá-los.

Zayco a olhava com pesar nos olhos e ela mesma já começava a sentir pena de si mesma.

Só podia contar com Elena...

Ela estava estranha, mas só podia, ou só queria contar com ela...

 

*****

Elena e Mykonos voltaram do passeio e ele logo correu para o seu pote de comida. Elena sorriu, o gato não perdia tempo. Também sentia uma leve fome, mas estava com preguiça de preparar uma refeição decente. Agora era assim, refeições decentes preparadas por ela, sempre que possível. Ainda não dava para participar do Master Chef, mas já não passava fome.

Certificou-se de que Myk estava bem e deixou-se cair no sofá.  Não queria pensar em nada, apenas ouvir música e deixar a mente livre.

As músicas sucediam-se sem que ela prestasse muita atenção. Até que, de repente viu-se presa a devaneios. A música era Who (Bridge) e via-se naquela confusão. Não demorou muito para estar saltando no meio da sala. A dança sempre a deixava leve. Precisava aliviar...

Algum tempo depois ouviu o telefone tocar no quarto. O coração saltou no peito e ela soube no segundo seguinte que era Joy.

 

*****

Elena não se lembrava de correr tanto. Joy estava machucada e sozinha em casa. Não havia medo ou qualquer outro sentimento com força superior para aplacar a necessidade de saber como ela estava, cuidar dela. Foi instantâneo. Pareceu-lhe a coisa mais natural do mundo. Mal ouvira a palavra dor, não cogitara outra possibilidade. Agora corria pelas ruas do seu bairro agoniada querendo chegar logo ao edifício de Joy. Elas nem moravam tão longe uma da outra, mas naquele instante parecia que atravessava Nova York de uma ponta à outra.

Finalmente viu o prédio dela. Respirou fundo e tentou encontrar algum equilíbrio, já que sentia-se fora de órbita.

Joy morava no último andar de um prédio de 3 pisos. Elena riu ao lembrar-se da loucura que Milanka tinha por morar no último andar. O prédio de Joy era parecido com o delas, logo, o último andar deveria ter a varanda com vista perfeita.

Subiu as escadas pulando os degraus e agradeceu pelas corridas no parque. A resistência estava boa.

Ao chegar à porta de Joy, parou alguns segundos. O coração parecia ter sete vidas além da habitual. Batia loucamente fazendo com que Elena sentisse as mãos suadas. De repente, como era habitual, bateu a cabeça e achou tudo um exagero sem tamanho. Recompôs-se o máximo que pôde e tocou a campainha. Imediatamente lembrou que Joy dissera que deixaria a porta aberta para não esforçar muito a perna.

            --Concentra, Elena.

Riu de si mesma, respirou fundo e abriu a porta devagar.

 

*****

Elena olhava para Joy encostada no sofá e se perguntava o porquê de sentir aquele calor no coração. Ela estava mais linda do que normalmente já era. Tinha os cabelos molhados e vestia um camisão que ia até ao meio das coxas. Parecia menos poderosa no sentido de inabalável, e incrivelmente mais irresistível na vulnerabilidade. Ela era atraente e definitivamente deixava-a à flor da pele.

            --A comida está a demorar. Estou com fome. - Joy fez uma careta e Elena aproximou-se do sofá.

            --Sabes que eu também estou com fome, mas não tinha me dado conta.

Risos.

            --Não comi nada que prestasse ao longo do dia e vale salientar que passei grande parte dele nas urgências.

            --Onde foste inventar essa queda?

Risos.

            --Teimosia típica da Joy. Quis alcançar um ângulo perfeito para uma foto e esqueceram de me avisar que o piso estava escorregadio.

            --Doida!

            --Sou mesmo. Tomara qua a foto tenha valido a pena...

            --Vai valer!

Risos e sorrisos.

            --A que horas chegaste da viagem?

            --Há mais ou menos duas horas...

            --Demoraste a pedir socorro...

            --Teimosia da Joy.

Risos altos.

            --Ele não sai do teu lado, isso que é fidelidade. - Elena referia-se a Zayco que estava sempre ao lado de Joy.

Risos.

            --Esse cachorro é assim. Se estou triste, ele sabe. Se estou feliz, ele sabe. Mas, se estou doente, parece que ele sente a mesma dor e não sai do meu lado. Por isso que amo tanto essa coisa.

Joy encheu o cão de afagos.

            --Myk, é assim?

            --Hmmm, gato é diferente, mas não posso me queixar de abandono.

Gargalhadas.

            --Juízo senhora, estás machucada.

            --E com fome!

Risos.

O telefone de Elena deu sinal, a comida tinha chegado.

 

*****

            --Estávamos com fome. Não sobrou uma migalha.

Gargalhadas.

            --E eu precisava comer para poder tomar o remédio.

            --Ah, ok. Só por isso encheste o prato duas vezes...

Risos.

            --Estava muito boa a comida e com companhia qualquer refeição fica mais saborosa.

Elena sorriu e teve vontade de fazer uma provocação, mas preferiu ficar calada.

            --Vou lavar a louça.

            --Ah não. Não te chamei aqui para isso... - Joy fez cara de indignação e Elena explodiu na gargalhada.

            --Sabe a teimosia que te rendeu uma perna luxada? É a mesma que mora aqui no que toca a deixar louça por lavar. Nunca!

Gargalhadas felizes.

            --Ok senhorita. Fui vencida e nem tenho como argumentar. Ajudas-me a caminhar até à varanda?

            --Mas é claro que sim e com muito gosto. Ah, eu já disse que a tua casa é linda?

            --Não...mas nem viste tudo.

            --Reformulo a minha frase, essa área da tua casa é linda.

Gargalhadas altas.

Joy fez menção de se levantar com ajuda das muletas e foi imediatamente interrompida por Elena.

            --Não! Eu ajudo-te a levantar.

            --Ok! Ai que medo dessa mulher.

Risos.

            --Tu és muito teimosa.

            --Somos, não é mesmo?

Risos.

Elena ajudou Joy a dirigir-se à varanda com muito cuidado.

A grega perdeu a fala quando lá chegaram. Era o seu ideal de varanda. Tinha tudo que sonhava para um espaço idêntico, quando pudesse ter um apartamento com essa divisão. Perfeito!

            --Meu Deus...

            --O que foi?

            --É um sonho essa tua varanda...- E olhava cada detalhe com brilho nos olhos.

            --Eu sou apaixonada por varandas. Sempre fui. Além do meu quarto, é sempre a parte da casa que mais prende a minha atenção. Escolhi essa casa exatamente por ter essa varanda. Na realidade deveria ser prudente e sensata e alugar algo mais barato, porque não sei o que esperar dessa minha aventura com a camera, mas de vez em quando sou bem....

            --Doida e intensa!

Gargalhadas altas.

            --Até agora tenho conseguido manter minha varanda, afinal não sou dada a outros luxos.

Ela sorriu e Elena perdeu-se em devaneios.

            --Quero ficar neste sofá maior, assim podes ficar comigo.

Elena riu alto.

            --Não me digas que ainda não te convenci a deixar aquela louça para lá?

Gargalhadas felizes.

            --Varanda linda, palavras tuas. Sofá maravilhoso, eu garanto. E eu, uma inglesa cujo sotaque te agrada e mais, uma inglesa que te faz rir e te deixa mais linda do que já és...

Elena riu e ficou vermelha.

            --E uma inglesa que te deixa vermelha e muito sexy.

            --Ah para, Joy.

Elena não parava de rir. Estar com aquela mulher era garantia de um festival de emoções. E até aquele instante, as emoções eram boas. Diria mais, viciantes.

            --Estás com algumas limitações, imagina acordar amanhã e encontrar a cozinha desarrumada, pratos sujos. Pense, para quê passar por isso, se estou disposta a facilitar a tua vida.

Gargalhadas.

            --Contra-argumentação perfeita. Rendo-me, desde que me garantas que voltas em 5 minutos.

            --Eu nunca vi uma rendição condicional, mas tudo bem.

Gargalhadas altas.

            --Já volto!

            --Meu sofá é uma delicia, não é Zayco?

O cão latiu e Elena riu.

 

*****

            --Não é possível que tenhas adormecido. Demorei exatos 14 minutos.

Elena sabia que Joy estava apenas de olhos fechados, mas preferiu brincar para amenizar uma vontade doida de aconchegar-se nela sem dizer uma única palavra.

            --17 pelas minhas contas. Será que agora podes experimentar esse sofá?

Risos.

            --Há espaço suficiente para nós duas e não te esqueças que estou doente...

            --Exagerada! Não estás doente, foi apenas um pequeno acidente, causado pela teimosia.

Risos.

            --E nessa questão nos entendemos muito bem.

Gargalhadas altas.

            --Hum-hum...

Elena deitou-se. Ainda tentou manter algum controle da situação, mas Joy parecia determinada a acabar com qualquer resquício de bom senso que pudesse existir na sua cabeça. A inglesa, fazendo um autêntico malabarismo, aconchegou-se nela.

            --Cuidado com essa perna...

            --Está tudo bem...está tudo bem.

Joy suspirou como alguém que tivesse alcançado uma meta muito almejada.

Alguns minutos se passaram em que o silêncio que se fez estava longe de ser constrangedor. Parecia mais um complemento daquele momento, em que duas almas convergiam a um entendimento, que talvez os corpos ainda não estivessem aptos a perceber.

Sem se dar conta, Elena fazia carinho na cabeça de Joy. Alisava-lhe o cabelo, de vez em quando cheirava e estreitava o contato dos corpos.

Joy simplesmente se deliciava com um sorriso pleno na face.

Ambas tinham pensamentos vagos pela mente, mas o que sobressaía, era um vazio confortável. Mente leve, alma pronta para voar.

            --Elena...

            --Hmmm

Ambas tinham os olhos fechados.

            --Porque ficaste distante?

Elena abriu os olhos, devagar.

            --Não estou!

            --Não agora, mas ficaste, enquanto eu estive a viajar.

Silêncio.

Elena engoliu em seco. Não estava habituada a ser confrontada e muito menos com aquela leveza no tom.

Joy ergueu o tronco e encarou-a. Elena temeu pela perna dela, mas Joy parecia disposta a aguentar qualquer dor física.

            --Estás com medo, ou é outra coisa qualquer? -  A limpidez dos olhos dela, deixou Elena de armas ao chão.

Elena respirou fundo e mexeu o corpo para que Joy não ficasse tão desconfortável.

            --A tua perna...

            --Como posso ficar brava com uma mulher assim?

            --Estás brava?

Risos.

            --Não consigo! E não te preocupes, minha perna está em boas mãos.

Risos.

Aquela conversa aleatória, amenizou o nervosismo que teimava em se formar acima do estômago de Elena.

            --Medo? - Joy insistiu num momento que Elena pensava que mudaria de assunto.

            --Medo e tantas outras coisas. - Admitiu sincera e olhando dentro dos olhos de Joy.

            --Vejo pelos teus olhos que estás amedrontada. Isso causa-te algum desconforto?

            --Não! - Quase gritou. - Não é nada disso.

            --Tens medo de mim?

            --Não! Eu tenho medo de sentir coisas que não entendo. Normalmente sou muito racional e agora...

            --Tive tantas saudades tuas...

Ela voltou a deitar-se no peito de Elena, que sentiu-se baralhada e ao mesmo tempo tão bem. Apertou-a nos seus braços, aquela sensação dava-lhe um prazer inenarrável.

            --Eu não parei de pensar em ti e não sou assim. Garanto-te que não sou assim. Dizem que só sinto saudades da minha mãe e do meu gato...

Joy riu às gargalhadas e beijou a bochecha de Elena.

            --Adoro a tua sinceridade meio doida.

Risos.

            --Eu sou um pouco doida, acostume-se.

Risos.

            --Fiquei tão feliz que tenhas vindo me acudir. Eu não sabia muito bem o que fazer e sou um bocado como tu, muito autossuficiente e racional e sei lá mais o quê. Resumindo, não gosto de me sentir vulnerável, ainda mais quando não estou muito à vontade na situação. Mas, eu sei quando preciso de ajuda e sozinha não conseguiria muita coisa.

Elena sorriu ao perceber que Joy se aconchegava cada vez mais nos seus braços.

            --Não sabia o que esperar. Um lado meu achava que te conhecia minimamente e que não me negarias ajuda, mas tinha um outro lado que dizia que não ligarias a mínima e darias uma desculpa qualquer...

            --Ainda bem que tens um lado sensato.

Risos.

            --Entendes o que eu quis dizer?

            --Claro que sim. Nós não nos conhecemos tão bem assim e hoje em dia o que prevalece é o egoísmo, o descaso...

            --Sim, mas é tão bom quando percebemos que não nos enganamos na primeira impressão. Mas precisamos de tempo para entender as coisas...uma das muitas coisas que minha mãe me ensinou, ainda que não de forma muito incisiva, é que conhecemos as pessoas, o caracter delas, observando como elas tratam as outras pessoas, principalmente quando o outro não tiver nada para oferecer em troca...

Fez-se um silêncio que mais uma vez era tranquilo. Ambas devaneavam e Elena tinha sua barriga acariciada com leves toques, enquanto fazia carinho na cabeça de Joy.

Elena dava-se conta que pela primeira vez, Joy falava da mãe com alguma profundidade. Ela era sempre muito reservada nesse assunto. Às vezes parecia que não era um assunto que lhe deixava à vontade, mas tudo não passava de conjecturas.

            --Não precisamos atropelar nada. - Elena disse mais para si, afinal tinha mania de falar sozinha.

Joy ouviu.

            -- Não, mas não me ignore...- Joy quase suplicou deixando Elena desconfortável. Era a última coisa que queria fazer.

            -- Eu não fiz isso de forma consciente...desculpa.

            --Agora eu entendo, mas confesso que achei estranho. Não condizia com a nossa dinâmica...

Elena sorriu e deu-se conta de algumas coisas que acenderam um alerta na sua mente.

            -- Não vamos atropelar, até porque acho que não estamos muito certas do que isso tudo significa...-Disse Joy com uma voz muito calma.

            --Hum-hum...

Joy era sensata, pensava Elena. Aquela constatação a tranquilizava.

            --E a senhora pode me dizer quando pensava em mim, o que lhe ia na mente? Eu sei que estás vermelha.

Elena fingiu bater na cabeça de Joy.

Sim, estava vermelha e estranhamente feliz por expor-se tanto.

            --Estás vermelha?

            --Estou! Porr*!

Risos com afagos.

            --E?

            --Não desistes?

            --Ah, ainda não conhecias essa minha característica?

Risos.

            --Se quero uma coisa, só sossego quando alcanço o meu desejo. Ah, e sei ser muito paciente quando o desejo é grande...

            --Hmmm...

            --E?

Risos.

            --Estou tramada com essa mulher.

            --Aham!

Risos. 

            --Queria saber se estavas bem, se teu trabalho corria bem, se achavas o cenário perfeito para as tuas fotos, se tinhas comido e...

            --E?

Suspiro.

            --E se também pensavas em mim...

            --Não é exagero algum dizer que pensava em ti a cada respiração. - Joy respondeu prontamente.

Sorrisos e intensa troca de olhar.

            --Houve momentos que me repreendi.

            --Eu também!

Risos altos.

Embalada por aquele momento, Elena perdeu o tom da sua aclamada discrição.

            --Vais ficar muito tempo em Nova York?

O silêncio de Joy era a prova que tinha excedido. Quase mordeu a língua, mas a asneira já estava feita.

Joy colocou o quadro da sua vida em perspectiva e não fazia a menor ideia do que responder.

A resposta veio, mas bem evasiva.

            --Nova York é um delírio para qualquer fotógrafo...

Risos.

Elena percebeu que Joy estava toda arrepiada.

            --Estás com frio?

            --Sim! E com um pouco de dor também...

            --Ah Joy, um pouco de juízo não te faria mal algum. Tu não sossegas.

Elena ficou brava e Joy não pensou em mais nada.

Beijou-lhe a boca. A princípio, como que a palpar o terreno. Beijo terno, mas sem muita intensidade. Mas, segundos depois, Elena mostrou que ansiava por aquele momento. O beijo já arrancava gemidos e os corpos acompanhavam a dança das bocas.

            --Joy...olha a perna...-Elena tentava ter algum juízo, mas era impossível diante daquela intensidade. Que saudade que tinha daquela boca, do toque, dos gemidos, do encontro dos corpos que pareciam um...tanta saudade.

Joy parecia ter esquecido da perna machucada. Deliciava-se e entregava-se ao beijo como se não existisse mais nada no mundo.

Elas já não estavam tão tímidas, as mãos já ganhavam algum atrevimento e exploravam...

Os gemidos e suspiros ecoavam aumentando ainda mais o desejo de ambas.

A intensidade aumentou e Joy, sem freio algum, acabou por magoar a perna.

            --JOY!

            --Não me olhes assim. Eu não estou morta e tu beijas bem demais...porr*!

Risos com palmadas.

            --Tu não tens juízo!

            --E alguém consegue ter ao teu lado? Quero conhecer o monge...porr*, és...

Joy mordeu a boca. A realidade era que estava confusa e por razões que com certeza debateria mentalmente quando estivesse sozinha. Aquela mulher a deixava doida por mais, mas precisava ter calma, para não atropelá-la e não atropelar-se.

            --Pega uma manta ali, por favor.

Elena levantou-se e pegou uma manta fofa e colorida dentro de uma espécie de baú.

Cobriu Joy com todo o cuidado.

            --Ficas aqui?

            --Sim!

Joy pegou um controle e fechou os vidros da varanda com um único toque. Ainda tinham a vista, mas agora sem o frio da noite.

            --Eu não fico, nós ficamos. - Ela parecia muito ciente do que dizia e Elena sentiu um redemoinho no estômago.

Elena permaneceu calada.

            --Fica pelo menos até eu adormecer. Isso não vai demorar, porque o remédio me deixa sonolenta. Por favor!

Elena sorriu e bateu a cabeça. Joy não precisava implorar nada. Fazia tudo com o maior prazer.

            --Tenho alguma condição de negar?

            --Não! Não tens. Podes escolher uma música, porque já sei que assim como eu, adoras dormir com música.

Elena riu e ficou vermelha. Sim, tinham mais esse gosto em comum.

Apenas ligou a caixa de música sem escolher nada em particular. Queria mesmo era voltar para junto de Joy e ficar quieta, enquanto esperava ela adormecer.

            --Vem logo!

            --Já estou aqui, exagerada.

            --Estou com dores, preciso de ti.

            --Dores?

            --Leves, mas o médico avisou que é normal. Posso abraçar-te?

Elena nem respondeu. Abraçou-a, mas antes ajeitou-lhe a perna para que não a incomodasse.

Joy pareceu respirar aliviada e fechou os olhos.

Não demorou muito até ela adormecer. Elena percebeu, porque de repente ela parou com as brincadeiras e o corpo ficou mais pesado.

Ficou aliviada. Queria que ela descansasse.

Olhou para a cena como se estivesse fora do próprio corpo e a sensação não foi a que esperava. Deveria ficar assustada, alerta, mas pelo contrário, estava calma. A inglesa do parque tinha esse dom...

Ouviu um barulho e viu Zayco aproximar-se de onde estavam. Ele olhou com calma e de orelha em pé e no momento seguinte, deitou-se por ali perto.

Elena sorriu e pensou que ele era fiel.

A música que tocava era Don´t you Worry de Oh Wonder e Elena perdeu-se em devaneios.

Por instantes, permitiu-se sonhar.

Gostava da sensação. Gostava daquela realidade. Gostava de como aos poucos os pontos iam se ajustando. Gostava da leveza de Joy. Gostava do que ela lhe provocava. Gostava do que se permitia sem medos e julgamentos. Gostava da liberdade. Gostava do impulso.

Gostava dela. Sim, gostava dela de uma forma simples e intensa.

Apertou-a nos braços e sentiu vontade de chorar, e, no entanto, sorriu experimentando uma sensação de coração a brilhar.

 

 

 

 

 

Fim do capítulo

Notas finais:

 

Olá Pessoas J

Sumi, sim. Crises físicas e emocionais. As físicas vocês já conhecem, mãos e costas. As emocionais foram causadas pelo covid 19. Que novidade, não é? A pandemia fez-me perder mais um trabalho e esse doeu no bolso e na alma rsrs, e mostrou-me o poder devastador dessa doença. Senti-me de mãos atadas. Uma das minhas melhores amigas perdeu a avó para o corona e não pude chegar nela, abraçá-la. Ela foi meu suporte quando perdi meu pai…

Conseguem dimensionar o impacto? Andei descrente e precisando me reinventar, precisando achar uma forma de ganhar algum dinheiro até essa coisa der trégua. Será que ela vai dar trégua? Por aqui, nem por isso…

Mas, vamos na fé que tão bem me caracteriza. Capitulo novo J

Não sei quando haverá outro, mas enquanto eu estiver viva sempre haverá esperança.

Um abraço a todas e semana feliz.

Nadine Helgenberger

 


Comentar este capítulo:
[Faça o login para poder comentar]
  • Capítulo anterior
  • Próximo capítulo

Comentários para 11 - Capitulo 11:
Raf31a
Raf31a

Em: 08/07/2020

Estava eu escrevendo toda empolgada meu comentário anterior e quando fui "enviar" apareceu a msg que eu não estava logada. Que ódio, detesto quando isso acontece, pq nunca consigo reescrever. Kkkkkkkkk

Bom, mas me atendo a este capítulo: vibrante! Terminei de ler ansiosa para ver como elas vão desenrolar o romance, quando irão se entregar de vez, quando farão amor. 

Elena tentando ser indiferente nas mensagens, mas pensando o tempo todo na Joy foi muito familiar. rs Continuo acompanhando e adorando a história. Obrigada por dividi-la conosco. 

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Raf31a
Raf31a

Em: 08/07/2020

Oi Nadine, infelizmente todos, cada um a sua maneira, tem enfrentado perdas e dificuldades por conta da pandemia. Nos resta tentar prevenir o avanço do vírus e ter fé que estaremos aqui para vivenciar o "novo" normal. Cuide-se, cuide dos seus. Ficarei torcendo para a continuidade da história e principalmente para que você fique bem. 

Abraços, 

Rafaela. 

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Carmen
Carmen

Em: 06/07/2020

Oi Nadine! 

Super compreensível os seus motivos! Essa panfemia realmente tem sido devastadora em vários níveis! Espero que você consiga logo arrumar novos e bons trabalhos! Que sua amiga fique bem e que as coisas possam melhorar e possamos sair dessa, pois, de fato, não está fácil pra ninguém e manter a mente sã tem sido um grande desafio! 

Aproveitando o gancho, e já que tú disse que posso tagarelar, eu não sei se usa Android ou IOS, mas testei o Speechnotes do android e me parece promissor. Embora tenha que colocar a pontuação, acredito que possa ajudar em 70% do trabalho e isso poderia poupar a sua saúde! E como saber se consegue escrever assim se não tentar? Vai que dá! 

Quanto ao capítulo, eu estou amando que você tem nos dado doses de romantismo e fofura e ainda no início! Tô até com medo das tempestades! 

E Elena querendo se sabotar? Affff, esse povo que tenta racionalizar tudo só parece funcionar mesmo quando são atropelados por um furacão. Felizmente existe essa inglesa que atropelou Elena e trouxe intensidade e vida pra vida da Grega! Viva  Joy! Porém eu consigo entender a Elena, ainda mais depois da resposta vaga sobre NY. Mas conto com a grega para a inglesa querer ficar e ficar! 

Se posso fazer uma pequena crítica, eu também estou sentindo falta de conhecer a Joy. Eu sei que já me disse uma vez que pra você não existe protagonistas, mas eu sempre costumo considerar o casal principal dessa forma e ainda não consegui saber quase nada sobre a Joy, e até sobre a Milanka tivemos mais informações. Porém, isso também pode ser parte do seu roteiro, manter a inglesa envolta em mistérios e se for o caso, desconside o que eu disse! 

E a Milanka hein? Coitada, que barra! Só espero que ela consiga não ser arrastada para o buraco da irmã. 

Espero que tenha uma ótima semana, que as coisas melhorem sob todas as perspectivas e que você possa ficar bem e não demorar tanto pra voltar! Bj!  

Responder

[Faça o login para poder comentar]

libriana
libriana

Em: 05/07/2020

Boa noite a todas!

Oh Nadine, entendo suas dores. Eu peguei a covid-19, apesar de tds os cuidados mas, infelizmente, este virus é terrível. Tive sintomas leves mas mt cansaço. Nunca senti este cansaço na vida. Gracas a Deus estou boa. Espero q sua amiga fique bem desta perda. Estou na torcida q melhores suas finanças tb. Vc merece so coisas boas.

 

Em relação a história,  apesar de comentar pouco, estou amando. As personagens principais tem uma leveza impressionante. Alem da química ser perfeita. Acho bacana o início de namoro, as msg trocadas, as saudades,  o pensamento constante... a vontade de ficar perto, de beijar e sentir vontades q so a pessoa amada desperta... é bom demais...

 

Milanka esta passando uma situação terrivel. Vê a unica irmã viver uma relação abusiva e toxica. Ela no início da história foi apresentada como uma pessoa superficial nas relações amorosas. Também viveu uma relação abusiva ( tudo indica isto ) com uma mulher... encontrou um cara legal e de uma certa forma, tem medo de aprofundar por insegurança. Fala de Troia por ficar na zona de conforto qdo pensa so no lado profissional e ela faz o mesmo com a vida amorosa com relações vazias. Será q vai colocar o problema da irmã pra nao ficar com o rapaz? 

 

Gosto mt das amizades das personagens( neste conto a de Elena e Milanka )... creio q vc é assim na vida real. Deve ser maravilhoso ter uma amiga como vc. Outro ponto q quero ressaltar é q vejo caracteristicas suas ( perdoe-me a ousadia mas sinto esta sensação ) na Elena. Parece q vc descreve sua rotina ao escrever a rotina da Grega. Principalmente ao escrever.rs

 

Espero q melhores suas dores físicas. Cuide-se!

 

Bjs, 

 

Libriana

Responder

[Faça o login para poder comentar]

patty-321
patty-321

Em: 05/07/2020

Olá querida,forças. Vai passar. Não tá fácil.mas precisamos elevar os pensamentos. Essa duas são lindas demais.

Responder

[Faça o login para poder comentar]

brunafinzicontini
brunafinzicontini

Em: 05/07/2020

Olá, querida Nadine!

Mais um capítulo maravilhoso! Só aquele bilhete de Joy no guardanapo de papel já valeria...

Pena que Elena tenha ficado tão reticente, não respondendo à altura e mantendo aquela frieza! A inglesa merecia maior carinho. Felizmente, ela resistiu e não se negou a chamar Elena no momento necessário.

As duas juntas têm uma química ardente que podemos sentir quase na pele! Ai, que calor... Esperemos que Elena consiga entregar-se ao momento especial que estão vivendo e deixe acontecer o "inevitável". Grande expectativa para o próximo capítulo!

Fiquei triste e preocupada com as notícias sobre seu trabalho e a situaçã no seu país com relação à pandemia. Peço a Deus que você consiga vencer essa prova uma vez mais e siga em frente com a força que a caracteriza. Você é uma super-heroína, meu bem.

Grande abraço,

Bruna

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Informar violação das regras

Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:

Logo

Lettera é um projeto de Cristiane Schwinden

E-mail: contato@projetolettera.com.br

Todas as histórias deste site e os comentários dos leitores sao de inteira responsabilidade de seus autores.

Sua conta

  • Login
  • Esqueci a senha
  • Cadastre-se
  • Logout

Navegue

  • Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Ranking
  • Autores
  • Membros
  • Promoções
  • Regras
  • Ajuda
  • Quem Somos
  • Como doar
  • Loja / Livros
  • Notícias
  • Fale Conosco
© Desenvolvido por Cristiane Schwinden - Porttal Web