O sol batia forte na cortina. Sófia abriu os olhos tentando entender o que havia acontecido nos últimos dias. No começo de toda aquela história, ela se via perdida por não amar Ricardo, agora, estava amando a irmã de Ricardo. Que ironia do destino.

No meio disso, houve separações, revelações... tragédias...

Pensar em tragédias não tinha como não se lembrar da mãe de sua amada. Rita havia se acidentado, isso era difícil de acreditar e sabia que Raquel estava sofrendo muito com isso.

Virou o corpo na cama e se deparou com a imagem de Raquel dormindo tranquilamente, sorriu. Finalmente a sua amada estava tendo o descanso que tanto merecia.

— Meu amor — Tocou os cabelos da engenheira tentando arrumá-los. Raquel era uma mulher linda, suspirou. Amava-a, mas desejava que as coisas não tivessem ocorrido como ocorreu, com tantas brigas.

Como tinha que preparar o café e cuidar das crianças que poderiam acordar Raquel, Sófia encostou os seus lábios na testa da engenheira para um beijo e depois se levantou.

Querendo fazer o mínimo de barulho possível, começou a andar até a porta do quarto na ponta dos pés, mas antes de sair, foi até a cômoda e silenciou o celular de Raquel, sabia que a engenheira ficaria chateada, mas precisava fazer isso.

Ao sair do quarto sentiu sua cintura sendo envolvida pelos braços dos dois cachorros. Sófia quase caiu ao chão.

Os dois cachorros começaram a fazer barulho, isso deixou a loira temorosa.

— Silêncio, vocês dois — Disse séria.

Nino e Nina deitaram no chão, constrangidos.

Sófia respirou fundo.

— Também não quero que fiquem assim, mas é que a outra mamãe de vocês precisa dormir. Venham comer, vocês precisam se alimentar — disse e os dois cachorros voltaram a ficar animados — O que eu falei para vocês? — Olhou séria para os peludos que passaram a lhe acompanhar mais contidos.

Ao chegar à área onde ficava a ração de Nina, Sófia encheu duas vasilhas para o casal e começou a olhar para o nada, precisava ter notícias da mãe de Raquel.

Caminhou até seu celular que estava na sala e mandou uma mensagem Norma pedindo para que lhe ligasse quando estivesse disponível.

Quando voltou para a cozinha, Sófia passou a preparar o café da manhã.

Após tudo ficar pronto, recebeu a ligação de quem tanto ansiava.

— Oi, Norma, tudo bem?  — Perguntou já pensando no estado da mãe de Raquel.

— Oi, querida, está tudo bem sim e aí? Raquel conseguiu descansar?

— Ainda está dormindo. Silenciei o celular dela para que ninguém a acordasse. Mesmo ela não percebendo, notei que ela demorou um pouco para dormir.

— Imagino que isso tenha acontecido, ela está muito preocupada com o estado da mãe.

— Falando nela. Já acordou? — Sófia começou a falar mais baixo, temendo que a engenheira acordasse e escutasse aquela conversa.

— Ainda não — Norma deu uma pausa — O doutor Hernandes disse que vai levar dias para ela acordar.

— Isso tudo — Disse surpresa — Raquel vai ficar arrasada com isso.

— Imagino que sim, por isso tente acalmá-la, pois da forma que ela está, vai querer morar aqui.

— E Rogério, como ele está? — Preocupou-se com o senhor, já que ele já devia estar muito cansado com a espera.

— Pedi para ele ir para casa. Precisava tomar um banho, comer, descansar também... falei que eu ficaria aqui e daria notícias.

— Você é realmente um anjo, Norma — Sófia comentou ao se dar conta de que Norma sempre esteve presente ajudando.

— Só estou cumprindo meu dever como ser humano. E também, sou muito amiga de Raquel, precisava ficar para ela aceitar ir com você. Estou com Laura, ela está me tratando como se fosse uma paciente.

— Vocês estão bem juntas, né? — perguntou um pouco envergonhada, pois se lembrou da crise de ciúmes que havia tido na clínica.                                                        Norma sorriu.

— Sim e ela me falou que você se sente insegura com ela e Raquel.

— Perdão, Norma, mas fico insegura. Raquel queria ficar com ela para me esquecer — Confessou qual era seu receio.

— Sófia, deixa eu falar contigo... Se houvesse a possibilidade das duas ficarem juntas, eu não teria aceitado namorar Laura... Eu gosto dela, mas eu não me sujeitaria a determinadas situações para ter alguém. Fiquei muito tempo solteira, temia relações complicadas, não iria me meter em um caso logo de minha melhor amiga.

— Ah... Norma, eu sou uma idiota... Preciso me desculpar com Laura — Disse sincera.

— Imagino que sim, mas não vamos pensar nisso, Laura não está incomodada com essa história e agora precisamos pensar em nossa Raquel.

— Claro, já até preparei um café — Deu uma pausa e olhou para a tela do celular. Já estava um pouco tarde era estranho Raquel ainda não ter despertado — Só que acho estranho ela ainda não ter acordado.

— Ela está muito cansada. Tá precisando descansar. Bom, agora preciso ir. Qualquer novidade, eu te aviso.

— Muito obrigada, Norma — Sófia disse sincera.

— Você sabe que não precisa me agradecer por isso. É um prazer poder ajudar uma amiga — Despediram-se e enceram a ligação.

_*_

Raquel despertou e ficou um tempo olhando para a cortina do quarto. Sentia-se totalmente perdida em seus pensamentos.

Estava onde ela sempre havia desejado, na casa de Sófia.

Abraçou o travesseiro que estava do outro lado da cama. Inspirou aquele cheiro que tanto amava e fechou os olhos. Era tão bom estar ali, sentia-se bem por saber que iria compartilhar os seus dias com a mulher que amava.

Começou a ouvir latidos e a voz de Sófia tentando acalmar os ânimos dos cachorros.

Sorriu ao perceber que seus dias seriam assim.

Sentou-se na cama e lembrou do que havia acontecido no dia anterior.

Respirou fundo. O melhor a se fazer era não se abalar muito. Pegou o celular e não havia nenhuma ligação, mas...

— Sófia silenciou o celular – Raquel colocou o aparelho de volta sobre o móvel e foi ao banheiro.

Ao se deparar com a sua imagem refletida no espelho, não ficou muito animada. Havia olheiras e os cabelos estavam desalinhados.

Abriu a torneira e recolheu um pouco de água para jogar no rosto. Queria despertar.

— Ouvi o som da torneira sendo ligada – Sófia surgiu na porta do banheiro e começou a analisar a sua amada – Você está bem?

Raquel ao ouvir aquela voz começou a sentir os seus batimentos sendo mais fortes. Sófia parecia que tinha um poder sobre ela.

— Eu estou bem – respirou fundo e apoiou as mãos na pia – Você silenciou o meu celular para se caso ligasse, eu não acordasse.

— Eu achei que você precisava descansar. Não fiz por mal – A loira justificou já temendo o início de uma discussão.

— Amor, você sabe o quanto era importante para eu receber notícias de minha mãe.

— Eu sei, mas você não ia ficar sem. Eu pedi a Norma para me ligar a qualquer novidade.

— Ela ligou? – olhou para sua amada, esperando uma notícia boa.

— Sim, mas está na mesma.

— Eu preciso ir para a clínica— Caminhou de forma apressada até a porta, mas antes de chegar no meio do quarto, sentiu a mão de Sófia segurando o seu pulso.

— Vamos tomar nosso café primeiro. Você precisa se alimentar. Eu sei que está preocupada com o estado de sua mãe, contudo, você precisa se cuidar – Disse olhando diretamente nos olhos da engenheira.

Sentindo-se rendida, Raquel apenas assentiu com a cabeça.

_*_

Norma estava perto do bebedouro quando sentiu uma mão macia tocando a sua cintura. Assustou-se.

— Acho que está se tornando muito comum eu te encontrar aqui – Laura comentou toda sorridente ao receber o olhar assustado de Norma sobre si.

A ruiva relaxou os seus músculos e sorriu.

— Talvez seja nosso novo local de encontro – Disse e a médica sorriu ainda mais. Norma era uma mulher maravilhosa e a voz era muito gostosa de se ouvir.

— Estou indo pra casa.

— Ah... – Norma não gostou de saber disso. Estava sendo muito bom ver a médica pelos corredores.

— Não fique triste – Segurou a mão de Norma e entrelaçou os seus dedos – Depois , se caso quiser, você pode ir a minha casa.

— Acho que farei isso... tem como me passar o endereço – Norma ficou feliz por saber que iria conhecer onde sua amada morava.

— Tem sim, anota aí.

Norma pegou o seu celular e digitou o endereço que era falado pela médica.

— Agora preciso ir, amor – Laura deu um selinho nos lábios da advogada ao perceber que não havia ninguém no corredor – Vou te aguardar em casa.

— Está bem. Quando eu sair aqui, eu irei – Norma não conseguia mais parar de sorrir. Estava sendo maravilhoso namorar a médica.

— Aguardar-te-ei – jogou um beijo no ar e saiu dali sentindo o seu coração muito aquecido. Era amor.

_*_

Um táxi estacionou em frente a uma grande casa. No banco do passageiro estava Ricardo que passou a lembrar de tudo que havia ocorrido na noite anterior.

Um nó se formou em sua garganta.

Estava muito arrependido.

E como seu pai dissera, ele teria que viver com a culpa. Isso era um martírio.

— Senhor, chegamos – O taxista disse ao notar que o passageiro estava demorando para descer.

— Ahhh... obrigado – Pagou a corrida e desceu.

Ao chegar em casa, deu de cara com seu pai no sofá da sala.

— Espero que não tenha feito mais nenhuma besteira – Rogério disse sério ao notar a presença do filho.

— Pai...

— Ricardo, eu estou cansado. Vejo-me em uma situação que nunca imaginei estar e isso tudo é porque deixei a sua mãe tomar conta das situações.

— Eu sei que tenho culpa da situação, mas não precisa falar assim comigo – Deu uma pausa – Eu estou sofrendo, pai... tudo em minha vida está dando errado... e isso é culpa...

— Você quer que eu vá aí e te bata, Ricardo? Você é um mimado... irresponsável e não sabe assumir as consequências de seus atos. Ninguém é culpado pelo que você fez, a não ser você – Rogério alterou seu tom de voz.

— Pai...

— Cale-se – Direcionou o seu olhar para o filho – Onde você estava que não deu sinal de vida?

Com a pergunta de seu pai, Ricardo levou a mão até a nunca. Como iria dizer que estava com Paola?

— Diga-me, liguei para seu prédio e disseram que você não estava.

— Eu estava com Paola – Disse e o olhar de Rogério passou a ser supresso.

— Paola? Sua ex? O que está aprontando? – Rogério indagou, pois não esperava algo bom de seu filho. Havia se decepcionado demais nos últimos dias.

— Eu não estou aprontando, pai. Droga! Agora o senhor vai achar que vou agir como um garoto por aí?

— Bom... Não imagino outra coisa – Rogério foi sincero e Ricardo balançou sua cabeça algumas vezes. Não queria discutir, mas estava sendo quase impossível.

 – Ela quer uma segunda chance... – sentou-se ao lado do pai no sofá – Mas ainda quero Sófia... só que falei que deixaria ela com suas escolhas e que não vou me meter. Contudo eu quero sentir o gosto da vingança... quero fazer Raquel sofrer por tudo que ela me fez.

Rogério surpreendeu-se com as palavras do filho. Realmente havia errado muito na criação de Ricardo.

— O que aconteceu ontem com sua mãe já não te basta? Sua mãe poderia ter morrido e tudo isso, é porque você não aceita um termino. Isso que você diz sentir por Sófia não é amor... esse seu sentimento sufoca... faz mal... e o amor, meu filho, deixa livre e faz bem.

— O que sinto por ela faz bem – Ricardo começou a ficar nervoso.

— Pra quem? Pois pra você não faz e muito menos pra ela. Está na hora de você seguir em frente. E Paola?

— O que tem ela? – olhou para seu pai que estava lhe observando.

— Bom... ela te enganou. Você acha que ela não quer fazer isso de novo?

— Ahhh... ela está muito diferente – Ricardo pensou em Paola. A mulher havia mudado muito nos últimos anos. Estava até mais interessante, sorriu.

— Acho que estou entendendo – Rogério se levantou do sofá e olhou para o relógio em seu pulso, estava na hora de ver a sua esposa.

— Entendendo o quê? – Ricardo ficou confuso.

— Nada, meu filho, acho que isso, você tem que se dar conta sozinho – Voltou a olhar para o relógio— Preciso ir ver como sua mãe está. Me acompanha? A amiga de Raquel precisa descansar.

— Cadê Raquel? – Perguntou, pois sabia que seria uma situação desconfortável encontrar com Raquel e Sófia juntas.

— Deve estar com Sófia, mas acho que isso você não quer saber.

— Não— Ajeitou sua roupa e tentou relaxar o corpo.

— Sabe, filho, não vou falar isso para defendê-la, mas acho que ela não fez isso querendo te atingir – Rogério falou e Ricardo se manteve em silêncio.

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Fim do capítulo