Sophie estava apaixonada por Claire, Quinn conseguia reparar com certeza. O olhar que Sophie direcionava à Claire era especial. O olhar de infinitas declarações de amor. Através dele, Sophie parecia dizer que a queria independente de tudo, que era capaz de fazer qualquer coisa, possível e impossível, para fazê-la sorrir.

Percebendo tudo isso, a irritação de Quinn sobre a situação se foi. Ver Sophie olhar daquela forma para uma menina feia, gorda e esquisita, fazia com que Quinn se encantasse mais ainda por ela. Ainda assim doía e muito. Quinn nunca teve em sua vida alguém que a olhasse daquela forma, como se a amasse independente de qualquer coisa. Muitos direcionavam a ela olhar de desejo, medo, admiração, mas nunca o olhar de infinitas declarações de amor. Ninguém nunca a amou incondicionalmente, nem mesmo sua mãe. Todas as suas relações dependiam de alguma coisa: dela ser bonita, popular, líder de torcida... E enquanto ela tinha tudo isso, continuava vazia e a Claire que nunca teve nenhuma dessas coisas, tinha o amor dos pais, de amigos e agora de Sophie.

Na semana que se seguiu, Quinn não conseguiu mais fugir da constatação: estava completamente apaixonada por Sophie. Ela se derretia com o seu jeito rebelde e irreverente que não se importava em nada com o que os outros pensavam. Ela amava o fato de Sophie estar sempre pronta para defender não apenas os amigos, mas quem quer que fosse. Ela achava uma graça o fato de Sophie não conseguir focar sua atenção nas aulas e estar sempre perdida na hora dos testes e trabalhos. Ela amava observar como ela era incrivelmente boa em tudo que envolvessem esportes. Ela adorava ver o jeito que ela se movia, falava, corria, pulava, sorria... Quinn definitivamente estava completamente apaixonada e não queria apenas ser notada e desejada por Sophie. Ela queria que Sophie direcionasse a ela o olhar de infinitas declarações de amor.

Isso parecia ser uma realidade incrivelmente distante e Quinn acabava tentando se contentar com as provocações e implicâncias diárias.

Com tudo isso, seu relacionamento com Matt que sempre fora muito enfadonho, passara e ser muito desconfortável. Eles nunca haviam sido um modelo de casal, estavam juntos mais por conveniência do que por qualquer outra coisa.

Ser o quarterback dos Yellow Jackets tinha suas vantagens, mas Matt sabia que isso era algo instável. Quando ele cometia erros que custavam algum jogo, a grande maioria olhava torto para ele. As pessoas da cidade de Greatdale eram torcedores muito intensos. Quando o time estava ganhando, eram amados. Quando perdiam, eram vaiados. E quando a temporada do esporte acabava, às vezes parecia que eles nem existiam. Apenas com Quinn ele poderia estar realmente no topo da pirâmide.

Ela não tinha muita paciência com ele e vivia ignorando-o por diversos motivos, em sua maioria, bobos. Ele, que não era diferente do restante da cidade, temia Quinn e fazia tudo que ela queria, mas por vezes se cansava e se perguntava se valia mesmo à pena todo aquele trabalho com ela, enquanto percebia o olhar interessado de tantas outras meninas.

Quinn sabia de tudo isso e não se importava, Matt precisava dela para ser popular, mas ela não precisava de Matt. Era simples. Mesmo assim, sabia que era mais fácil manter o poder daquela forma e utilizava o sex* para mantê-lo controlado. A primeira vez do casal havia sido no ano anterior, quando os Yellow Jackets foram para a final. Quinn não havia gostado do acontecimento, mas também havia sido tão rápido que mal tivera tempo de aproveitar. Desde então eles tinham repetido o fato apenas três vezes. Quinn mantinha Matt distante por muito tempo e quando percebia que ele estava a ponto de desistir de tudo, faziam sex* e podia novamente recomeçar o processo de afastá-lo e ignorá-lo.

Quinn sabia que o momento do sex* estava chegando. A chegada de Sophie na cidade deixou-o muito inseguro no time e ele estava irritado e sem paciência fora dele também. O problema é que depois de Quinn ter admitido para si mesma que estava apaixonada por Sophie, a última coisa que ela queria era estar com o namorado. Ainda não tinha decidido o que faria e continuava empurrando a situação com a barriga.

Na penúltima semana de agosto chegou o tão esperado início da temporada de futebol. Desde segunda-feira que a cidade inteira já estava decorada com as cores amarelo e preto da escola e com bandeiras. Adesivos do mascote do time estavam em quase todas as casas, lojas, restaurantes, mercados, etc. Quando a sexta-feira finalmente chegou, grande parte da cidade foi ocupar as arquibancadas.

Sophie estava animada, tudo que mais amava era época de temporada de futebol. Ela e seu pai tinham várias tradições que ficaram de lado no ano anterior por conta da distância. A primeira era waffle de café toda manhã em dias de jogo e como era o primeiro, eles passavam a tarde inteira depois do treino tentando prever a temporada do time. Anotavam seus palpites, tais como número de vitórias, derrotas, touchdowns, jardas... Eles guardavam em um envelope e sempre abriam depois da final e faziam uma contagem de quem acertou mais categorias. O vencedor tinha direito a um pedido e o perdedor precisava realizar.

Quando chegou a hora do jogo, Sophie preferiu assistir das arquibancadas daquela vez, ao invés de acompanhar o pai na lateral do campo como geralmente fazia. O motivo era pela companhia de Kevin. Ela ficou a semana inteira convencendo-o de ir ao jogo com ela e isso só aconteceria se ele pudesse ao menos ficar sentado.

– Não acredito que você mora nessa cidade e nunca assistiu um jogo! – Sophie falou surpresa quando sentaram na cheia arquibancada.

– Eu não acredito que vou ter que assistir esse! – ele disse enfadonho.

– Vai te ajudar com os treinos de flag! Preparar você melhor para o jogo contra eles.

– Eu ainda prefiro ser café com leite. Participar dos treinos e no dia do jogo ficar só na torcida.

Sophie sabia que seria realmente o melhor, mas ela não tinha muita opção com uma equipe de número limitada.

De repente as líderes de torcida começaram a dançar e pouco depois a torcida toda vibrou com a chegada dos Yellow Jackets.

Claire também estava na partida, mas sentada com outros amigos do jornal da escola. Sophie olhou de longe e acenou, recebendo de volta um sorriso que a derreteu.

– Seu sorriso para ela está ficando cada vez mais bobo – comentou Kevin.

Sophie sabia disso. Como sempre estava entregando-se demais em um sentimento que não seria correspondido. Claire viva falando de Fred e Kevin comentava que tinha certeza absoluta que o rapaz correspondia, mas também não tinha muita coragem para fazer alguma coisa.

O jogo começou devagar, como se os dois times ainda estivessem pegando o ritmo. Para a felicidade da torcida os Yellow Jackets pontuaram primeiro com uma recepção de Spencer.

– Caramba! Esse garoto é sensacional – comentou Sophie para Kevin que mal prestava atenção – Eu nunca vi um wide receiver tão talentoso quanto o Spencer!

Ao longo do jogo, sua admiração apenas aumentava quando via ele pegando passes que pareciam impossíveis.

– Eu não vou conseguir marcar esse cara! – ela disse em dado momento – Ninguém consegue!

– Você tem certeza que quer continuar com esse lance de flag? E se você perder a aposta? – falou Kevin ressabiado.

Ele não queria que Sophie fosse embora. A sua vida estava realmente muito melhor desde que ela chegara à cidade.

– Eu não vou perder! Eu não perco! – ela disse confiante, mas Kevin não tinha tanta certeza.

Ao final da primeira metade do jogo os Yellow Jackets estavam vencendo de 14 a 10, mas logo na primeira posse de bola do ataque na segunda metade, Matt lançou uma interceptação que resultou em um touchdown adversário duas jogadas depois. Isso desestabilizou o time e Matt passou a cometer decisões ruins não conseguindo mais levar o time a pontuar. A sorte foi que a defesa conseguiu segurar o máximo que podia e faltando menos de um minuto para o jogo terminar a pontuação estava 14 a 17 para o time adversário.

O time precisava percorrer 40 jardas para conseguir um touchdown e Sophie observou tensa o desenrolar das últimas jogadas. Os defensores do time adversário pressionaram Matt e ele não viu o Spencer aberto. Escolheu correr com a bola e recebeu um ótimo bloqueio conseguindo avançar 35 jardas antes de sair do campo e ser derrubado tarde por um dos jogadores adversários. A falta aproximou a equipe da endzone ainda mais e eles teriam tempo para apenas mais uma jogada.

– Caramba! Que burro! – comentou Sophie.

– Como assim? Ele correu e agora estão quase conseguindo pontuar! – disse Kevin.

– Ele não viu que o Spencer estava aberto e tinha um caminho livre para a endzone! Se ele tivesse jogado para ele o jogo já estava ganho! – ela explicou e logo depois calou-se.

A última jogada iria começar e eles precisavam do TD para vencer. Estavam há menos de três jardas da vitória e Sophie já imaginava a jogada que o pai usaria. Quando viu a formação teve a confirmação e sabia que funcionaria. Segundos depois, Matt entrava na endzone carregando a bola, depois de alguns bloqueios chave. Touchdown e vitória dos Yellow Jackets. A multidão nas arquibancadas comemorou e Sophie conseguiu ver de longe Matt feliz indo beijar a namorada.

Depois de parabenizar o pai pela vitória, Sophie seguiu com Kevin para a Great Cook. O dono da lanchonete era um enorme fã dos Yellow Jackets e havia prometido hambúrgueres de graça para todos os jogadores se vencessem o primeiro jogo, por isso todos se encontrariam lá para comemorar.

Os grupinhos estavam espalhados tanto do lado de dentro quanto do lado de fora da lanchonete. Kevin e Sophie ficaram com Claire e os amigos por um tempo do lado de fora e de lá mesmo pediram algumas porções de batata frita e anéis de cebola que demoraram uma eternidade para chegar.

Sophie entrou em dado momento para pegar mais refrigerante para ela e para Claire e encontrou com Spencer esperando ao lado do balcão.

– Ótimo jogo, Spencer!

– Obrigado – ele agradeceu e quase que instintivamente olhou para Matt um pouco decepcionado.

O QB estava rodeado de pessoas, incluindo sua namorada, recontando os eventos da noite de forma convencida. Sophie seguiu o olhar de Spencer antes de falar:

– Ele teve muita sorte – comentou apontando Matt com o olhar – Se não tivesse conseguido aquele bloqueio ninguém estaria comemorando agora.

– Ele sempre tem sorte – Spencer comentou mais para si mesmo do que para Sophie.

– Mas é você que tem o talento.

– Tentando causar mais discórdia? – ele perguntou na defensiva.

– Eu não estou querendo confusão – ela falou levantando as mãos como que se rendendo – Só estou tentando fazer um elogio. Eu já acompanhei muitos times do meu pai ao longo dos anos e eu nunca vi um recebedor tão talentoso quanto você – disse sincera.

– Sério? – ele perguntou interessado.

– Sério! Nós dois sabemos que você estava aberto naquela jogada e teria feito um TD fácil se ele tivesse te visto.

– Eu estou sempre aberto! – ele brincou convencido.

Nesse momento os refrigerantes chegaram, mas eles continuaram o diálogo.

– Você é a estrela do time! – ela disse e então apontando para Matt continuou – O melhor ano da vida dele é esse e depois que ele se formar na escola, acabou. Mas você vai longe!

– Você realmente acha isso? – perguntou sincero.

– Eu tenho certeza! Eu não estou exagerando! Você é muito bom! Pode ter certeza que as Universidades vão disputar você!

– Obrigada, Sophie – ele falou sinceramente – Você não é tão ruim quanto parece – riu.

– Está mudando de time, Sophie? – ouviu a voz de Leslie – Melhor escolher outro homem!

– Leslie... – Spencer ia tentar defende-la, mas foi interrompido.

– Não precisa se preocupar, gata. Se algum dia eu for me interessar por um de vocês dois, com certeza vai ser você – e piscou para os dois antes de finalmente pegar seus refrigerantes e voltar até onde seus amigos estavam.

Fim do capítulo