Capitulo 23
I Am The Fire - Halestorm
https://www.youtube.com/watch?v=8hkmuTvkp_s
Eu inseri meu cartão na máquina, digitei a senha, guardei o cartão e terminei de guardar as compras. Estava no supermercado. O local estava muito cheio, ainda bem que estava sozinha. As pessoas estavam saindo com carrinhos lotados, como se estivéssemos em uma guerra, um apocalipse, só não tinha entendido ainda o porquê de tanto papel higiênico. Seria um fetiche que eu ainda não tinha descoberto?
Entrei no carro, limpei as mãos com álcool gel. Ao dar partida a música que estava ouvindo anteriormente começou a tocar. I Am The Fire de uma banda chamada Halestorm. Eu cantava em voz alta, batendo no volante no ritmo da bateria.
- ...screaming like a siren, alive and burning brighter, I am the fire.
Acabei passando pela farmácia a qual tinha sido a briga com Carla. Eu sentia falta dela, mas preferia não pensar nela. Eu ainda estava bloqueada nas redes sociais e no Whatsapp.
Voltei pra casa e estacionei o carro na vaga, pensativa. Fiquei alguns segundos dentro do carro com o celular na mão. Tinha desligado a música e o silêncio era reconfortante. Em um impulso, digitei o nome de Ana, minha irmã, e liguei.
Ela atendeu.
- Oi Leah! - Percebi que ela sorria, pelo seu tom de voz. - Que bom falar com você.
- Oi Ana.
- Quer ver a Mari?
Fiquei surpresa.
- Claro.
Ela então mudou a chamada de voz para chamada de vídeo e vi primeiramente minha irmã. Fazia muito tempo que não a via, apenas por foto. Sempre foi muito parecida comigo, mas agora estava muito mais parecida com minha mãe.
- Quem é, mamãe? - Vi uma menininha se pendurar no seu ombro. Ela tinha os cabelos cacheados e estava com um arquinho vermelho. Tinha as bochechas rosadas.
- É a sua tia. - Ana disse, olhando para a filha.
- Tia? - A menina me olhou desconfiada.
- Irmã da mamãe.
- Não conheço, mamãe.
- Ela te pegou no colo quando você era um bebezinho.
E ao me lembrar disso, senti vontade de chorar. Eu não sei porque estava tão emotiva nesses últimos tempos. Seria por causa da pandemia? Seria por ver tantas pessoas morrendo? Seria por pensar em quanto a vida passava rápido e o quanto eu devia aproveitar mais os momentos sem ser tão orgulhosa e rancorosa?
- Um bebezinho? - A menina perguntou fazendo o movimento de ninar com seus bracinhos.
- É, um bebezinho, meu amor.
Realmente fazia muito tempo que eu não via a todos eles.
- Quando tudo isso passar eu vou ir aí ver vocês. - Eu disse, com um nó na garganta.
- Aniversário, mamãe. - A filha disse, segurando na blusa da mãe, olhando pra mim ainda meio envergonhada. Ana olhou pra cara da filha, insegura pelo que a menina tinha falado. Ela cutucou a mãe. - Chama.
- Nós vamos fazer uma festinha virtual pra ela.
- Peppa Pig. - A menina completou e ela imitou o barulho de um porco como a personagem fazia no desenho e depois riu, colocando a mãozinha em frente a boca. Ela realmente tinha imitado um porco? Isso era realmente irônico, pensando que vinhamos de uma família judaica e para os judeus mais tradicionais o porco era um animal imundo, além de ser um alimento proibido. Naquele momento já adorei minha sobrinha, quebrando os paradigmas da família com quase dois anos de idade.
- Vai ser no dia 13/04, pelo skype. Vamos só cantar parabéns pra ela. Se você quiser participar, ia ser legal poder contar com sua presença. Se não ti…
Eu a cortei.
- Sim, eu ia adorar. - Respondi.
- Eba! - A menina disse. - Oinc. - E ela imitou um porco de novo. E saiu do sofá aonde a mãe estava, deixando-nos a sós.
Ana levantou-se e saiu do cômodo, parecia que tinha entrado em uma espécie de escritório com muitos livros. Sentou-se em uma poltrona vermelha.
- Pronto, aqui podemos conversar. - Ela sorriu. - Você viu isso? É só Peppa Pig, 24 horas por dia, ela fica vidrada nesse desenho. Eu já tentei oferecer outros desenhos, ela até gosta da Galinha Pintadinha, mas a Peppa é a preferida. Eu não sei o que fazer.
- Ela é linda, Ana. Eu não sei como pude perder tudo isso.
- Tá tudo bem. O mundo não acabou... Ainda.
- Vai acabar quando nossa mãe descobrir que a neta dela é fã da Peppa Pig.
E nós rimos.
- Vai nada. Ela tá super noveleira agora, acredita? Ela não tá mais igual antes, sabe. A cabeça dela tá mais aberta. A do papai também. Eles mudaram bastante. Continuam indo na sinagoga igual sempre, só não estão bitolados.
- Parece mentira você falando.
- Parece mentira eu fazendo decoração pra uma festa virtual da Mariana, nunca me imaginei fazendo isso antes.
- Eu queria te contar uma coisa, Ana, mas não sei como você vai reagir.
- Se for me contar que você é lésbica eu já sei.
Eu ri. Eu nunca tinha contado isso diretamente pra ela, na verdade, só foi uma informação que foi sendo passada de boca a boca.
- É sobre a Elisheva.
Ela abriu a boca.
- Não vai me dizer que vocês…?
- Sim.
- Ela não é tipo nossa prima?
- Sim.
Ela continuava de boca aberta.
- Ela não tava noiva?
- Sim.
- Mas vocês estão juntas?
- Sim, só não oficialmente ainda.
- Mas e a Carla? Vocês não eram namoradas?
- Nunca fomos namoradas, pra falar a verdade. Mas deu um rolo enorme essa história, ela não tá nem mais falando comigo por causa da Elis.
Ela continuava boquiaberta.
- Eu to passada, Leah.
Ficamos em silêncio.
- Ela te faz feliz?
- Muito.
- É isso. Isso que importa. Seja feliz.
Sai do carro, subi com as compras todas penduradas nos braços. As sacolas faziam vincos na minha pele e estava torcendo pra nenhuma arrebentar. Quando cheguei, bati na porta com o pé e logo Elis abriu, já devia estar me esperando. Ela estava com uma cara péssima, de quem tinha chorado. Ela ensaiou um sorriso pra mim.
- Demorei, meu bem? - Perguntei. Não via a hora de contar pra ela sobre a conversa que tinha tido com Ana.
- Não muito. - Ela me olhou e apontou com o rosto para o banheiro - Já pro banho. Coloca a roupa na máquina, to lavando tudo.
- Aconteceu alguma coisa?
- Não, linda. Deixa as compras aqui pra eu higienizar.
Tomei um banho rápido, lavando o cabelo, o corpo inteiro. Depois vesti uma cueca boxer branca da Cavalera super-confortável que gostava de usar pra dormir. Todas as minhas calcinhas estavam na máquina. Vesti um moletom cinza, sem sutiã e voltei pra cozinha. Eu me aproximei dela por trás e beijei seu rosto, passando as mãos pela sua cintura.
- Oi. - Disse baixinho. Ela roçou seu rosto no meu e sorriu.
- Estou quase acabando.
- No que posso te ajudar?
- Só precisa terminar de guardar as coisas no armário, as que estão na bancada só.
- Ta.
Dei mais um beijo em seu rosto e ajudei a guardar as compras. Quando terminamos, nos sentamos no sofá da sala, passei as pernas em cima de seu colo, me enroscando nela.
- Você tá uma graça. - Ela disse, passando a mão em minhas coxas. Beijei seus lábios, passando a mão em seu rosto.
- Aconteceu alguma coisa?
Ela respirou fundo.
- Sim. Eu só tava esperando pra conversar direito com você. - Ela fez uma pausa - Eu conversei com o Andres.
Eu fiquei paralisada olhando para ela. O que? Ela realmente tinha falado com ele?
- Eu contei pra ele a verdade. Toda a verdade.
- Toda?
- Sim, que eu estou apaixonada por uma mulher e que a mulher é você.
- Meu Deus. - Eu levei a mão a cabeça.
- Nós terminamos.
Eu a olhava, atônita.
- Você tá falando sério mesmo? Jura?
- Sim.
Eu me aproximei ainda mais dela e a abracei. Ela passou a mão ao redor de meus ombros e me abraçou, forte. Eu a segurei junto a mim, passando a mão em seu cabelo, suas costas.
- Ele foi rude com você? Ele te ameaçou? - Perguntei fazendo carinho em suas costas.
- Não, pelo contrário. - Ela me olhou, limpando algumas lágrimas. - Ele foi super-compreensivo. Ele nem gritou comigo, eu pensei que ele ia surtar. Ele chorou pra caramba, disse que me amava, se eu tinha certeza do que estava fazendo, essas coisas. - Ela fungou. - Mas que ele só queria me ver feliz. Só isso. Você acredita nisso? - As lágrimas ainda caíam. - Eu nunca imaginei que ele teria essa reação. Eu tava morrendo de medo, pensando que ele ia causar o maior estrago na minha vida.
- Eu ainda não to acreditando.
As mãos dela tremiam.
- Você tinha medo dele?
- Sim.
- Ele era agressivo com você?
- Não, nunca foi.
- Então porque tinha medo?
- Dele tentar me prejudicar de alguma forma, mas ele disse que não vai fazer nada. Eu to tão aliviada. Eu tava me sentindo tão culpada por tudo, agora parece que saiu um peso enorme de cima de mim. Eu não via a hora de te contar. - Ela me abraçou forte. - Acabou, meu amor, acabou. Somos só nós duas agora.
Beijei sua boca com meus olhos marejados. Ela realmente tinha terminado com o noivo. Ela tinha dito que ia fazer isso e realmente tinha feito. Eu não estava acreditando.
- Também tenho algo pra te contar. - Eu disse.
- O que?
- Eu contei pra Ana da gente.
- Sério?!
- Sim.
- Como foi?
- Super tranquilo.
- Você a viu?
- Por videochamada. Aliás, estamos convidadas para o aniversário da minha sobrinha.
- Como assim?
- Vai ser pelo Skype. Prepare-se pra conhecer minha família. Quer dizer, você já os conhece por motivos óbvios. Eu quis dizer que… - Ela me interrompeu, beijando minha boca.
- Eu entendi o que quis dizer.
Fim do capítulo
Oi meninas,
Tenho andado meio sumida por aqui, estou com muitas coisas na cabeça e ando enfiada em alguns estudos novos. O capítulo saiu pequenininho, mas não queria deixar aqui muito tempo sem atualizar. Agradeço a cada uma de vocês pelo apoio e incentivo para que eu continue escrevendo. Beijão.
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rodriguesnath07
Em: 23/06/2020
Ansiosa pelo próximo, beijos!
Resposta do autor:
ai está um novo capítulo! beijão!
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Vanderly
Em: 12/06/2020
Olá thays_, parece que as coisas estão dando certo para a Leah e a Elisheva, espero que ninguém atrapalhe a relação das duas.
Amei o capítulo.
É, quando essas duas se juntam não dá pra segurar o t...!
Sucesso aí nos estudos novos.
Beijos â¤ï¸!
Resposta do autor:
Oi Vanderly!
Ninguém vai atrapalhar não, vai ser só amor daqui por diante hahah
Essas duas são fogo, literalmente ;P
Gratidão!
Beijão!
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thays_ Em: 19/04/2023 Autora da história
Acho que vai ser de boa!