Capitulo 7
Capitulo 7 - E se...
Elena olhou as horas mais uma vez, mas dessa vez, com a apatia que tão bem conhecia. A ansiedade ou tristeza pela ausência de Joy, de repente dera lugar ao tanto faz que já era habitual. Com certeza aquele tanto faz era um escape, uma forma de justificar a inércia que tinha perante a vida. Tinha medo de frustração, decepção, então vestia-se de tanto faz. Sabia que precisava mudar algumas coisas na sua vida, se quisesse chegar em algum lugar. E a força para encarar mudanças?
Mordeu o canto da boca e sentiu gosto de sangue na língua. Respirou fundo e pediu um cosmopolitan. Precisava anestesiar aquela sensação estranha, que a apatia não conseguia camuflar.
Não queria se desesperar, mas daquela vez tinha ido longe demais na loucura. Jurava que Joy existia, sentia alguma coisa vibrar dentro do peito quando pensava naquela inglesa. A voz dela com aquele sotaque sexy, ecoava nos seus ouvidos. Fechava os olhos e via todos os tiques dela, a forma como mexia no cabelo, como mordia os lábios, o brilho intenso nos olhos grandes...ah, tinha verdadeira loucura pelos olhos grandes dela. E nada disso existia...nada.
Precisava mudar de médico e com certeza o próximo prescreveria alguma medicação forte.
Pensou na mãe e em todos os sonhos que tinha. Sentiu vontade de chorar, mas substituiu as lágrimas por mais um trago de vodca.
Alguns minutos depois, levantou os olhos e encontrou os de Milanka. Não conseguiu mais segurar as lágrimas.
A presença da amiga naquele momento era o corroborar da sua loucura.
Milanka sentou sem dizer nada. Algum tempo depois, segurou as mãos de Elena entre as suas.
--É, estavas certa e eu louca.
Elena sorriu sem forças.
--Foi apenas um episódio mais forte, Troia.
--Foi diferente. O primeiro episódio, aconteceu apenas uma vez e no dia seguinte já estava convencida que era delírio. A Joy é recorrente...ahhhh...
Suspirou e pendeu a cabeça para trás.
--Tens frequentado as consultas?
--A cada 15 dias, rigorosamente.
--E a médica diz alguma coisa?
--Segundo a Dra. Erin, não tenho nada grave. Sonambulismo eu tive quando criança, mas na adolescência parei com os surtos. De acordo com a teoria dela, eu tenho medo de me lançar na vida e uso meus sonhos como subterfúgio para muita coisa. Ela diz que vai passar. Acho que até ela vai se surpreender, quando eu relatar essa loucura da inglesa.
As duas riram e Elena experimentou alguma calma.
--Lembras da vez que te peguei na porta do prédio em pijama e que no outro dia não lembravas de nada?
Risos.
--Claro que sim. Foi depois desse episódio que comprei o sistema de vigilância...
-- E eu vigio os teus passos do corredor da tua casa até à entrada do prédio.
Risos.
--Isso quando estás em casa.
Gargalhadas.
--Pois, se eu estivesse cá, com certeza há muito teríamos percebido que tudo não se tratava de um sonho.
--Foste viver, enquanto isso...
--Não te martirizes, Elena. Se a médica disse que não é grave...
--Mas não percebeste que enlouqueci? Milanka, na minha cabeça a Joy existe...
Milanka apertou a mão da amiga com força.
--Tenho episódios de sonambulismo desde criança, mas criar enredos mirabolantes só aconteceu agora.
--Troia, vá para casa. Tome um banho e descanse. Eu queria muito poder voltar contigo, mas tenho um compromisso.
--Obrigada pelo carinho, Milla. Estou bem...ou vou ficar.
Sorriu e Milanka afagou-lhe o braço.
-- Eu só estaria em problemas se ela fosse de verdade. Minha vida pacata e sem graça apenas mudaria se a Joy fosse de verdade, porque ela me faz sentir coisas que nunca senti. Sinto vontade de viver, tudo parece natural, ela me faz rir, perco a noção de tempo.
Desabafou.
-- Logo tu que tens tudo sempre muito bem cronometrado.
--Tu me conheces bem...
--Troia, essa Joy que criaste, não seria o teu cérebro querendo te dizer alguma coisa?
-- Provavelmente é ele gritando que tenho uma vida de merd* e o mais engraçado é que sonhei com essa vida. - Disse derrotada.
--Sonhaste com uma vida em Nova York e todas as possibilidades que esse lugar oferece.
--Sim, não sonhei em ser uma mulher de 30 anos sem rumo na vida.
--Sem exageros, Elena. Tu és das pessoas mais brilhantes que eu conheço. És uma excelente editora, tens uma paciência incrível para lidar com a Brigitte e isso deveria entrar no teu currículo como uma mais valia.
Risos.
--Eu só diria que és um pouco lenta nas relações...
Risos.
--Um pouco lenta não, eu não sei me relacionar. Perco o interesse rápido demais, sex* é bom no início e depois vira uma chatice sem fim.
--Não sabes separar sex* de outras coisas...
--Não sei, é um fato. Sexo só é bom se eu tiver tesão mental.
--É um ser especial, essa mulher.
Risos.
--Especial não, sou uma idiota que ainda não aprendeu a viver.
--Ou então, um ser que está acima de meros mortais como eu.
--O que eu queria mesmo, era ser uma mera mortal como tu e explodir de felicidade.
Milanka sorriu e apertou a mão de Elena. A grega suspirou denotando algum cansaço mental.
--Quando parece que estou a entrar nos eixos, tudo não passa de ilusão de uma mente atormentada.
Ela riu e parecia estar realmente a divertir-se com aquela situação.
--De todas as tuas características positivas, a que mais gosto é essa capacidade de rir das tuas próprias mazelas.
--Que mais posso fazer? Me matar? Não! Vou ficar aqui e tomar um ou dois cosmos e mais tarde volto para a minha pacatez no Queens.
Risos.
--E não há razões para preocupações. Ainda acordada, tranco a porta e escondo a chave onde não poderei alcançar estando a dormir.
As duas riram muito e a admiração de Milanka pela amiga aumentava ainda mais.
--Preciso ir Troia, de certeza que ficas bem?
--Fico. Podes ir sem receios. Já agora, esquecendo minha veia discreta, onde a senhorita vai?
Risos e Milanka batendo a cabeça.
--Milanka, pensei que estivesses apaixonada pelo Ethan...
--E estou. Qual o motivo da dúvida?
--Porque compromisso teu, nós já sabemos o que é.
As duas riram com muito gosto.
--Troia...
--Não me lances esse olhar.
Risos.
--Tu me conheces tão bem, mas dessa vez não é nada disso. A vida dupla parou no momento que me livrei daquela mulher desequilibrada.
--Ainda bem. Era muita loucura para gerir, até para mim que não tenho por habito julgar as atitudes de quem quer que seja.
Risos.
--Eu sei que às vezes extrapolo...
--Somos diferentes, é apenas isso...
--E eu te adoro exatamente como és, uma chata linda e maravilhosa.
--Ah, afago ao ego a essa hora...ela é boa nisso.
Gargalhadas.
--É compromisso familiar, vou me irritar na Jamaica.
--Gennelle?
Longo suspiro de Milanka.
--Sim, mas não perca teu sossego com essa informação.
--Fico preocupada...
--Eu sei, Troia. Mas não vale a pena. Eu ainda me abalo, porque não tenho alternativa...
Elena olhou para a amiga com muito carinho no olhar.
--Ficas bem?
--Fico. Só vou afogar um pouco as mágoas. Ethan?
--Está em Maryland. Volta amanhã.
--Sorriso lindo. Esse homem tem seus méritos...
Risos.
--Muitos. Acreditas que estou com saudades?
--Acredito! Está estampado nos teus olhos.
--Preciso ir, mas vou ajudar-te no que for preciso. Tranque a porta, por favor.
Risos.
--Prometo, meu bem.
--Eu sei que bêbada não vais ficar, porque és bastante resistente...
Gargalhadas.
--Forma educada de insinuar exatamente o quê? Que sou fã de álcool?
Gargalhadas.
--Antes fosses, Troia. Pelo menos me acompanhavas nos meus momentos de alienação etílica.
Risos.
Milanka beijou a amiga e seguiu em direção à porta de saída. Não queria deixá-la ali sozinha, ainda mais que sabia que a situação era de certa forma preocupante. Não conseguia conceber Elena com algum problema mental. Mas aquele enredo todo e a forma como ela acreditara, até ser confrontada com a realidade, era no mínimo dramático. Elena não aparentava ser portadora de qualquer distúrbio. Diferente sim, pelo menos diferente de si, mas normal. Olhou mais uma vez para o canto onde a amiga estava sentada e teve vontade de desistir do compromisso e passar o resto da noite conversando amenidades e rindo à toa. Com certeza, no momento de voltarem para casa, Elena estaria muito melhor. Mas, infelizmente, tinha problemas que mais ninguém poderia resolver.
Suspirou profundamente, endireitou os ombros e seguia o seu percurso para fora do bar quando alguém esbarrou nela. A pessoa parecia apressada, porque pediu desculpas e continuou o passo firme sem ao menos olhar para trás. Milanka não pôde ver-lhe o rosto, mas teve curiosidade de lhe seguir o trajeto.
*****
Elena olhava para a bebida no copo, ao mesmo tempo que brincava com o dedo pela borda. Estava alheia do mundo ao seu redor. Já não era apatia, frustração. Era nada. Um poderoso nada.
De repente, sentiu um trepidar no coração acompanhado de um arrepio na nuca. Olhou para cima devagar e o coração, por breves segundos pareceu entrar em compasso de espera.
Joy...
Já não se tratava de um mero distúrbio, era doença mental. Fato.
Ela estava toda molhada e nos olhos carregava muitas emoções.
--Desculpa!
O sotaque...
Elena suspirou e olhou de um lado para o outro. Buscava salvação. Buscava Milanka e a realidade. Nada. Ninguém. Não, a inglesa à sua frente e tudo o que ela significava.
--Desculpa pelo atraso de mais de uma hora...eu já não acreditava que seria possível...
Ela falava depressa e parecia realmente desolada.
--Calma. Senta e respira.
Elena sorriu e Joy arremessou as coisas que carregava nas mãos, tirou o casaco molhado e sentou-se.
--Estás toda molhada...- Elena falava tão baixo com medo de acordar.
--Quase nadei para chegar aqui...
--Respira. Ok?
--Hum-hum...
Sorrisos.
--Mais calma?
--Agora sim...
--Conta-me o que aconteceu? Acompanhas-me no cosmo?
--Quero uma cerveja gelada para começar.
Risos.
--Ok. - Elena pediu a bebida de Joy.
--Estou queimando por dentro. Quase morro de ansiedade...
A bebida chegou e Joy bebeu o conteúdo num único gole.
Elena sorriu admirada. Ela aparentava algum nervosismo.
--Muito quente...
--Lume ardente! Pura ansiedade.
--Então?
Joy suspirou e passou a mão pelos cabelos molhados.
--Aceitei vir tomar uma bebida contigo, sem pensar no dia intenso que teria hoje.
--Poderíamos ter marcado para outro dia... - Elena continuava a falar muito baixo. Medo de acordar e medo da loucura.
--Seria o mais sensato se eu pensasse com a cabeça.
--Não pensaste?
Joy pareceu recuar um pouco na cadeira e logo depois soltou uma bomba na cabeça de Elena. Uma bomba quando ela já se sentia devastada...
--Eu sou a única que parece entrar num universo paralelo quando estamos juntas? - A pergunta inusitada quebrou qualquer resistência de Elena que desatou a rir sem parar.
Se fosse loucura, era conjunta.
--Quando cheguei em casa, é que me dei conta que só com um milagre, conseguiria chegar em Manhattan por volta das sete da noite. Já era tarde. Tive que contar com a sorte e com a minha força de vontade. E já agora, com a tua paciência.
Risos.
--Ainda bem que és bem mais paciente do que eu...
--Tu não esperarias?
--Já nem sei dizer...mas, normalmente sou mais intempestiva.
--E quem disse que eu não sou?
Risos.
--Eu sei esperar pelas coisas. Sei planear e esperar sem muita ansiedade, mas não sei esperar pelas pessoas. Aliás, acho que esse é um dos meus maiores defeitos.
Risos.
--Devo concluir que sou uma afortunada.
Risos.
--Hoje estou paciente e...
Elena calou-se. Não tinha condição de dizer, que acreditava que aquele encontro só existia na sua cabeça.
Joy, mais uma vez, pareceu entender que era o momento de mudar de assunto. A Joy da cabeça de Elena tinha essa qualidade inestimável...
--Fui a Boston logo cedo...
--Boston?
--Pois. Tinha uma reunião agendada e tudo correria bem, não fosse um festival de eventos inesperados.
Risos.
--Terminei a reunião ainda num horário tranquilo e fui comer alguma coisa, porque percebi que não tinha comido nada. A reunião era perto da South Station e me dirigi para lá, com o intuito de pegar um trem para cá. A estação estava um caos e não me perguntes porquê.
Risos.
--Ainda esperei um pouco, mas...
--A paciência não é o teu forte.
Gargalhadas.
--Não! E queria muito chegar em Nova York. Fui para Back Bay e por dois minutos, perdi a primeira opção de trem para cá. Respirei fundo e não desisti.
Elena sorriu feliz. Já nem se lembrava que tinha receios de estar a perder o juízo.
--Cheguei na Penn Station e quando alcancei a rua, deparei com uma chuva bastante furiosa.
Risos.
--O taxista advertiu-me que encontraríamos engarrafamento, mas decidi correr o risco...
--Ainda bem...
Foi a vez de Joy sorrir. Já estava mais relaxada e acabara de pedir um cosmopolitan para acompanhar Elena.
--Já não acreditava que virias e aceitei a minha desilusão com cosmos. - Risos. - Acho que já é o terceiro...
Risos.
--Desculpa. Fico em dívida contigo...
Risos cada vez mais íntimos.
--E como pretendes saldá-la?
O despertar da Elena que só a Joy conhecia.
Joy pensou por alguns segundos e com um sorriso que a Elena pareceu demasiadamente sexy, respondeu:
--Passando o resto das horas desse dia, na tua companhia. Compensa?
Elena bebeu um gole generoso de vodka para não verbalizar o que lhe ia na cabeça.
Aquela mulher...
--Vamos ver se aguentas...
--É um desafio?
--Nem me atrevo a desafiar alguém que já foi em alguma vida, uma implacável advogada.
Gargalhadas felizes.
--Não fui advogada, mas isso não interessa.
--Não interessa. Mas, foste implacável!
Riram juntas.
--Não sou mais?
--Pareces ser tanta coisa...- Elena mordeu a boca e suspirou. Sentiu a face arder.
Joy encarou-a de uma forma diferente. Muito mais intensa.
--Culpa dos Cosmos...já perdi a conta...
A timidez atingiu-a com força.
Joy sorriu e bateu a cabeça. Sentia-se perdida...
--O que foi? - Perguntou Elena com o olhar cravado nela.
--Além de maravilhosamente espontânea, ainda és extremamente sexy.
Elena riu até não aguentar mais.
--Eu não sou tão espontânea, até porque, a timidez não permite muita ousadia...sexy, é coisa da tua cabeça...
Joy bateu com a cabeça e mordeu o lábio.
--Eu já disse que estás linda?
Aquele tom de voz ainda faria Elena cometer muitas insanidades.
--Diferente e muito linda...
--Sim, tu só me viste até hoje com roupa de treino ou pijama.
Risos.
--Encontros inusitados na madrugada.
Risos.
--Hum-hum...e tu estás...
--Molhada!
Gargalhadas.
--Sim, mas também diferente e muito linda.
A troca de olhares parecia querer eternizar-se.
Joy olhou para o lado e Elena sorriu. Já se entendiam...de certa forma, já conheciam os limites...
--Esse é o nosso primeiro encontro vestidas com alguma dignidade. - Disse Elena sorrindo.
Joy riu às gargalhadas.
--Tu ficas linda sem dignidade...
--Aham, com um casaco de porquinhos tomando sorvete.
Gargalhadas altas.
--Linda e intrigante...
--A fotografa amadora de capa de chuva amarela...
As duas pareceram viajar para aquele momento. O sorriso compartilhado era a certeza que sonhavam o mesmo sonho.
Silêncio cúmplice. Um silêncio que escondia nuances que teimavam em querer emergir...
--Quando me deste o endereço daqui eu nem liguei as coisas...
--Como assim?
--Eu conheço esse bar e adorei a escolha. Admita que o escolheste por causa da cabine telefónica inglesa.
Elena sorriu. Perdia-se nos detalhes daquela mulher e tinha medo de acordar.
--É um spot bastante disputado. Todos querem conhecer o PDT. Hoje tive sorte na reserva. E sim, o layout da entrada do bar remete à inglesa do parque...
Joy sorriu. E Elena sentiu-se flutuar.
--A reunião foi boa? Ai, desculpa...não queria ser invasiva...
Elena quase mordeu a própria língua. Mas queria alguma prova de que não estava doida. E além disso, não queria que a noite acabasse.
--A reunião foi muito boa e não estás a ser invasiva.
O tom de voz dela era amigável. Parecia que as palavras sorriam.
Elena sorriu aliviada.
--E tu?
--O quê?
--Teu dia na editora...
Elena riu. Sentia-se fora de órbita.
--Tenso, mas não foi culpa do trabalho. Hoje não foi meu dia...
--Acontece...Elena...
--Hmmm...essa cara...
Risos.
--Estou morrendo de fome.
--Ah, desculpa! Nem te perguntei se querias comer alguma coisa...desculpa.
Risos.
--Sabes o que eu queria?
--Hmmm?
--O cachorro quente do Crif Dogs.
Gargalhadas altas.
--Já cá estamos...
--Queres?
--Estou com fome e já bebi demais...
Risos.
--Vamos?
--Agora!
*****
O bar estava apinhado como quase sempre e elas tiveram que se contorcer num canto para poderem deliciar da iguaria. O evidente desconforto não parecia incomodá-las. As risadas eram constantes, bem com as descobertas que sedimentavam o encanto mútuo.
--Eu estava com uma fome de leão.
Risos.
--Nota-se!
Risos.
--Olha para isso, eu completamente suja de molho e tu com esse ar clean. Nem uma gota de mostarda.
--Nem os dedos cheios de molho e a boca suja, conseguem arranhar a beleza da inglesa.
Risos.
--Estás bêbada!
--Um pouco...
Risos e sorrisos carregados de significados.
--Ainda bem que me esperaste...
Às vezes, ela parecia tão estranhamente sincera. Esse era o pensamento de Elena, quando decidiu quebrar mais uma regra.
Joy tinha esse efeito...
--Vou contar-te um segredo...
Elas estavam muito próximas. Já não cabia mais uma alma naquele bar.
Joy suspirou e Elena teve a impressão que os seus lábios tremeram. Mas claro que não passava de impressão. A inglesa nunca perdia o controle.
--Ai...porr*.
Risos.
--Mais molho nas mãos...nos dedos...é preciso prática.
Risos.
Elena percebeu que Joy estava mais atrapalhada com o cachorro quente, e resolveu ajudar.
--Isso não se faz, mas...
Sem que Joy conseguisse reagir, ela lambeu um de seus dedos cheio de molho.
Elena riu alto da cara de espanto da inglesa.
--Eu disse que não se faz, mas não consegui evitar.
Joy ainda parecia perdida em outra galáxia.
--Ah, desculpa. Ultrapassei a linha? Desculpa.
--Não...claro que não. Acho que numa situação normal, terias levado um estalo na cara. Mas eu não sei o que se passa...não entendo...
--Não vou levar um estalo?
Gargalhadas.
--Não! Não vais levar estalo algum, até porque acho que estás bêbada.
Elena riu alto. Estava longe de ultrapassar seus limites com álcool, mas Joy não precisava saber...
--Devo estar...mas lembras que hoje, não me podes negar nada. Fiquei mais de uma hora...
--Eu cumpro o que prometo. - Interrompeu rindo.
--Adoro essa tua convicção.
--E mais?
Elena sorriu entendendo claramente a brincadeira de Joy.
--Acho que és atrevida, mas também gosto disso...
Risos.
--Atrevida?
--Abusada! Muito confiante...
--Mas é bom ter confiança...
--O que me falta...
--Confiança?
--Sim...
--Não parece...e o segredo?
Elena percebeu, que ela se movia como num jogo de gato e rato. Às vezes, parecia que ela não queria muita aproximação, mas acabava sempre por enredar-se. Que loucura. Que deliciosa loucura.
Olhou-a dentro dos olhos. Profundamente. Sentiu que podia muitas coisas e uma delas era confiar. Mas como? Não costumava confiar com facilidade. Quem sabe ela não passava de um sonho...quem sabe tudo não era uma ilusão e na realidade estava dormindo na sua cama solitária.
--O segredo...
--Sim!
--Eu tenho episódios de sonambulismo.
--E isso é um segredo grave?
Risos.
--Depende...
--Conta-me mais sobre isso.
--Estás com paciência para ouvir uma história doida?
--Temos a noite toda e costumo cumprir minhas promessas. Só preciso lavar as mãos. Prometa-me que não vais fugir.
Risos.
--Sem chance. Estou bêbada, preciso de amparo.
Gargalhadas altas.
Joy demorou apenas 4 minutos. Grande façanha pela quantidade de gente que tinha naquele bar.
--De volta e com as mãos limpas.
Risos.
--Sim senhora! E pode me explicar como conseguiu voltar tão depressa?
--Segredos da Joy...
--Hmmm, então ela também tem os seus segredos.
Risos.
--Mas estamos aqui para falar dos teus...sonambulismo.
--Sim! Desde criança, mas ao que parece as coisas estão ganhando contornos mais sérios...
--Como assim?
--Eu tenho cameras de segurança em minha casa...
--Não entendi...
--As cameras me vigiam...
Sorriu, mas não por estar feliz.
Joy encarou-a com o olhar mais doce que Elena já vira na vida.
De repente, tudo pareceu-lhe tão secundário...
Relatou os episódios de que tinha memória e o fato de partilhar o dispositivo de vigilância com Milanka.
--Hmmm...
--O que foi, Sra. Inglesa?
Risos.
--Então a tua vida secreta é um livro aberto para Milanka.
Gargalhadas altas.
--Eu não sou tão doida assim. A camera instalada no apartamento dela, só tem acesso do corredor da entrada do meu apartamento, até à entrada do prédio.
--Para ela poder ver se sais a meio da noite...
--Exatamente. E ela já me salvou algumas vezes...
Trocaram sorrisos carregados de afeto.
--Elena, não me entenda mal...por favor...
--O que é?
--Não quero parecer rude...
--Diga!
--Porque estás a partilhar algo tão íntimo comigo?
A voz de Joy soou mais baixa.
Elena teve vontade de dizer que partilhava, porque parecia-lhe natural. Mas, usou a razão.
--A Milanka...
Elena suspirou. Não sabia muito bem como dizer o que pretendia partilhar.
--Sim, aquela que assim como eu, acha que essa tua boca vermelha e sexy, é um pecado....
Gargalhadas altas e Elena mais certa que podia partilhar qualquer coisa com aquela mulher.
Ela tinha o dom de deixar tudo leve...
--Estás bêbada? - Elena fez cara de desconfiada.
--Não...ainda não...Porquê?
--Só para saber com quem estou a lidar.
Risos altos.
--A bêbada aqui és tu. Continua...estavas na Milanka.
Gargalhadas.
--Tu me fazes bem...- Elena falou sem pensar.
Joy sorriu e abriu a boca para dizer alguma coisa, mas apenas mordeu o lábio.
Mais um momento de silêncio, que já gritava coisas que elas não entendiam, mas das quais não pareciam ter medo.
Elena pediu mais um cosmo. Joy preferiu água com gás.
--Pelo que relatei à Milanka...
Elena suspirou profundamente.
--Ela...nós achamos que tu és apenas um sonho meu...
Joy sorriu. Aquele sorriso que deixava Elena flutuando nas nuvens.
--Eu sou um sonho...essa é a melhor coisa que já ouvi na vida.
Elas riram juntas.
--Não entendeste...
--Claro que entendi. Pelo inusitado da nossa vida na madrugada, ela acha que tu me inventaste, ou melhor, que sonhaste com tudo isso.
--Isso. E para agravar a minha situação, nós combinámos que ela passaria aqui para ver se existias...
--E eu demorei mais de uma hora para chegar...
--Ou seja, ela acha que inventei a inglesa.
Joy sorriu e pegou nas mãos de Elena.
A sensação era indescritível. Para ambas.
Mais um momento de silêncio, com os olhos gritando coisas lindas.
A dança dos olhos era intensa. Que sintonia perfeita.
--Eu sou de verdade!
Ela disse devagar aproximando-se ainda mais de Elena.
O cheiro da inglesa era inesquecível.
Elena fechou os olhos. Precisava gravar aquele cheiro...
--Eu também já pensei que tinha sonhado contigo. No meu caso, bem acordada.
Risos.
--Eu não costumo ser muito simpática com estranhos. Ainda mais uma estranha, que quase me derruba na madrugada, e que usa roupas diferenciadas.
Gargalhadas.
--Meu casaco de porquinhos será sempre lembrado!
--Sempre! Foi ele que me fez ficar...
--Vou emoldurá-lo.
Gargalhadas.
--Há bocado disseste que eu te faço bem...
--Hum-hum...
--Tu não tens noção do bem que me fazes. Eu não ria espontaneamente há algum tempo...muito tempo.
--Mas eu sou tão séria. Faço-te rir?
--Tu me fazes bem! Muito bem!
O tom baixo, a luz fraca do bar, o olhar doce, o cheiro de alguma coisa muito boa, os olhos grandes e penetrantes, o sotaque que era quase afrodisíaco...
Elena sorveu a bebida num trago.
--Vais ficar bêbada.
Risos.
--Eu já estou bêbada! - Sim, estava bêbada, mas não de álcool.
--Sabes que horas são?
--Não faço a menor ideia...
--Uma da manhã!
--Wow!
Risos.
--Por mim ficaria até...
--Prometeste...
--Sim, mas precisamos ter juízo. Tenho coisas para fazer durante a manhã e provavelmente viajo à noite...
--Misteriosa...
Risos.
--E tu, precisas trabalhar.
--Às nove em ponto e sem direito a atraso. O meu algoz está por aqui e ela, às vezes, parece um cão raivoso.
--Ui! Vamos?
--Vamos! Partilhamos um táxi? A senhora mora no Queens?
Gargalhadas.
--Não te parece óbvio?
--Nada nessa história é óbvio, meu bem!
--Devo concordar contigo...
--A propósito, o teu casaco é lindo. Adoro esse tom de azul e fica muito bem na minha amiga inglesa.
Elena riu e pendeu a cabeça no ombro de Joy.
Joy parecia ter alguma dificuldade em respirar. Mas o sorriso era o mesmo.
--Minha amiga que nem sei se é mesmo real...
--Eu sou real! Sou de verdade! Nesse momento, eu sou apenas verdade.
Joy segurou Elena pelos braços e falou com veemência.
Elena sorriu. Joy retribuiu.
Saíram do bar.
*****
--Eu não acredito nisso grega! A sério que paramos numa rua que não é a tua?
Risos na madrugada.
--Ah, eu errei no número. Minha casa é logo ali...vem.
Risos.
--Eu só não te dou umas boas palmadas, porque estás embriagada.
Elena riu com vontade. Mais uma característica sua que até então desconhecia, sabia fingir muito bem.
Caminharam lado a lado e Elena entrelaçou o seu braço no braço de Joy. Naturalmente.
Poucos minutos depois...
--Chegamos!
Ela parou em frente aos degraus que davam acesso ao seu prédio.
--Eu não disse que era perto?
Risos.
--Eu precisava ter a certeza que ficavas em casa e em segurança.
--Aquela é a minha janela. - Ela apontou para a janela da sua sala.
--Moras no térreo...
--Sim. Nesse prédio muito lindo de dois andares.
Elena não queria que aquele momento terminasse.
--Tranque a porta. Por favor!
--Ah, daqui a pouco vais querer me colocar na cama e seres tu a trancar a porta.
Joy riu muito a ponto de ficar vermelha.
--Não foi com essa intenção...- Tentou amenizar, lembrando por segundos que era tímida e nada ousada.
--Maluca! Tu és maravilhosamente doida.
Joy riu e ficou muito próxima de Elena.
--Preciso de uma última prova...
--De quê? - Joy sorria e Elena parou de raciocinar.
--Porr*, és sexy demais...
Elena segurou-lhe a face com as mãos e beijou-lhe a boca com uma vontade que queimava. Joy correspondeu tão pronta e intensamente que ambas sentiram as pernas bambas.
O beijo era perfeito. Elena gem*u. Joy a apertou mais contra o corpo. As pernas não aguentariam por muito mais tempo...
Elena afastou-se um pouco. Estava vermelha, mas não era apenas pela vergonha da ousadia. Queimava por dentro, a cabeça estava leve...
Joy sorriu. Linda.
Olhou para a boca de Elena, parecia ter fome.
Beijou-a devagar. Saboreava e ela gemia. Gemiam juntas e se fundiam...
Um cão ladrou em algum beco.
Saíram do transe. Longo suspiro. A duas.
--Preciso ir embora... - Joy mal conseguia falar.
Elena sorriu. Estava ofegante. Linda.
--Preciso mesmo ir embora. Entra.
Elena bateu com a cabeça concordando. Mas, continuou parada à entrada.
Joy sorriu, bateu a cabeça e saiu andando com as mãos nos bolsos.
--Eiii, como vais chegar em casa a essa hora? - Gritou Elena ainda com a cabeça nas nuvens.
--Moro logo ali...- Disse Joy sem olhar para trás.
Antes que Elena pudesse dizer alguma coisa, ela virou numa esquina.
*****
Dentro de casa, Elena trancou a porta e correu para a cozinha. Bebeu muita água. O corpo parecia em brasa. Ria sozinha e depois se repreendia. Buscou Mykonos com os olhos, mas nada do bicho.
Despiu o casaco, tirou os sapatos e sentou no sofá. As pernas tremiam. O coração parecia uma orquestra. Não parava de sorrir.
Poderia ser uma loucura, mas jamais sentira-se tão viva.
Precisava de música. Sentou no parapeito da sua janela no exato momento em que Sia cantava Saved my life.
Sorriu.
--Joy...
*****
Não muito longe do apartamento de Elena...
Joy permanecia encostada na parede do seu apartamento, sem condições de agir. Sorria, às vezes ria, e depois ficava nervosa. Estava em transe.
Zayco apareceu arrancando-a do devaneio. Ele latiu feliz e ela abraçou seu bicho com amor.
--Zayco, nada disso estava nos meus planos...nada.
Caminhou com o animal para o lounge.
--E agora Zayco? O que eu faço?
Riu e Zayco ladrou.
--Shhh, já é tarde. Juízo, ao menos tu...
Ela riu. Caminhou até a janela e observou o silêncio da rua.
--Eu queria voltar para lá...
Zayco ladrou mais uma vez.
--Zayco, já sei onde ela mora. Ela é nossa vizinha. Tu acreditas nisso?
A voz explodia alegria. Zayco ladrou mais uma vez e ela o levou para o seu reduto.
Voltou para o lounge e decidiu ouvir música para se acalmar. Queria muito voltar para onde deixara Elena. Não podia e nem deveria ter embarcado naquele sonho...
--E ela acha que eu sou um sonho...
Sorriu deixando-se cair no sofá.
Abi Ocia cantava 16mm, e ela sonhava acordada com seus últimos dias em Nova York.
--Elena...
Fim do capítulo
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AquinoKa
Em: 27/05/2020
Mulher do céu!
Descobri suas histórias nesse intervalo de tempo pandêmico e devorei todas em sequência. É um sentimento quase sublime acompanhar a evolução da sua escrita!!!
Uma única coisa me incomodava, a dinâmica "mulher mais velha, 'fria' e bem sucedida tem sua vida posta de ponta cabeça ao conhecer uma jovem que lhe desperta infinitas possibilidades". Mas me parece que seu novo enredo quebrará essa samsara e você merece mil reverências por isso.
Ao contrário do que vi nos demais comentários, eu imaginava que manteria o mistério da tangibilidade da Joy por mais alguns capítulos, afinal você sabe muito bem conduzir e sustentar os clímaces, deixando as leitoras roendo as unhas e clamando por mais.
Enfim, aguardo ansiosamente o desenrolar dessa história, certa de que não há possibilidade de decepção.
Obrigada por me tirar do mórbido looping covidico.
E cuide bem de seus tendões. 😊
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Raf31a
Em: 19/05/2020
Que história intrigante! Confeso que no começo me perdi um pouco nos diálogos, mas fui tomada pela excêntrica Elena.
Espero que esses beijos tenham sido capturados pelas câmeras de segurança e Elena tenha a certeza de que Joy é real.
Espero que o próximo capítulo venha logo!
Resposta do autor:
A Elena nao tem mais dúvidas rsrsrs
Próximo capitulo a caminho.
Bj e obrigada.
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bicaf
Em: 19/05/2020
Oi oi oi. Que bom que voltou. Cuidado com essa tendinite.
Já estava com saudades de você e das suas maravilhosas palavras. Já estou super entusiasmada com essa história. Vamos ver o rumo. Claro que só pode ser maravilhosa. Beijão
Resposta do autor:
Cuidando bem do meu punho ;)
Bj e obrigada.
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Veka
Em: 18/05/2020
Tô de olho Naná!
Estava me sentindo em queda livre desde o final do cap 6. O início desse cap intensificou a queda, a conversa entre a Elena e a Milla desacelerou a queda, e o momento em que a Milla esbarrou em alguém, abriu o paraquedas.
Obrigada pelas reviravoltas emocionais! Você faz isso belamente!
É uma loucura essa impulsividade que toma conta da Elena, toda vez que ela está com a Joy. Que perigo e que deleite! Eu quero é mais! kkkkkkkkk....
E agora ficamos aqui querendo saber mais sobre a outra vida da Joy e sobre a atual vida da Joy.
Obrigada por mais um maravilhoso cap!
Se cuida!
Beijinhos...
Veka
Resposta do autor:
Rsrsrs está de olho em quê?
Essa história é bem emocional...há uma cena vindo por aí que...calei-me rsrsrs
Impulsividade da Elena...pois, a tal cena...deixa para lá rsrsrs
Bjs e obrigada.
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paula7
Em: 17/05/2020
Autora,
A Joy é real.....que alívio. .a Elena...merece, pena que infelizmente ela vai embora...
Nossa que dom é esse....viajei e como se eu estivesse vendo as cenas...amei....
Sabe Autora como gostaria de viver um amor assim....lindo. .
Bjo
Resposta do autor:
Ela nao vai embora rsrsrs
Bj e obrigada.
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Brescia
Em: 17/05/2020
Boa noite mocinha.
Seria maldade se a vida de Elena fosse só uma fantasia, mas é real e tem nome, Joy. Nome esse que a embriaga, que a desestrutura e a faz viajar por lugares impensáveis e maravilhosos.
Baci piccola.
Resposta do autor:
Bjs e obrigada :)
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Marta Andrade dos Santos
Em: 17/05/2020
Não sonho é paixão.
Resposta do autor:
Bjs e obrigada.
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NovaAqui
Em: 17/05/2020
Ela foi! Uhuuuuuu
Mas vai embora. Leva Elena junto.
O beijo foi quente 😊
Se Milanka acompanhou a mulher que esbarrou nela, ela viu para a mesa que a Inglesa foi....
Que capítulo delicioso....
LVY â¤ï¸
Abraços fraternos procês aí!
🌻🤩🥰😘ðŸ³ï¸ðŸŒˆ
Resposta do autor:
Muito obrigada :)
Bjs e mais uma vez, ela não vai embora...pelo menos nada que seja definitivo rssrs
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brunafinzicontini
Em: 17/05/2020
E o sonho era realidade...
Que encontro delicioso! As duas num jogo de sedução inebriante... Descobrindo-se com delicadeza, numa aventura cheia de emoção. Lindos momentos! Elena, mais uma vez, surpreendendo com uma ousadia que só a inglesa sabe despertar, selando o encontro com um beijo perfeito! Foi além do que poderíamos imaginar, vencendo toda sua timidez.
No final, Nadine - nada mais, nada menos que um knock down inesperado! A inglesa está viajando com Elena no mesmo encantamento, mas com os dias contados em Nova York! Mal acabamos de "curtir" o alívio de entender que Joy existe de verdade e já encaramos o fato de uma próxima partida... Meu Deus, autora! Você quer mesmo nos matar do coração, não é?
Mesmo sofrendo, temos que admitir: você é D+ e a história é ótima!
Beijos,
Bruna
Resposta do autor:
KKKKKKKKKKK, a Joy foi embora? Espera para ler o oitavo rsrsrs
Bjs e muito obrigada.
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Nadine Helgenberger Em: 18/01/2024 Autora da história
Obrigada. Bjs