Capitulo 2
Encostei o carro em frente do prédio uma hora depois.
- Matou a vontade de me beijar? – acariciei o rosto dela com a mão, mordendo os lábios.
- Sim. – ela sorriu. Você beija muito bem, já te falaram?
- Já sim. – sorri.
- Convencida! – e me socou o braço.
- Vai ficar para o final de semana, estava pensando em sair hoje, vou ver ainda com as meninas.
- Não vai dar, só estou aqui para... ah você sabe. – disse corando.
- Sim, meu corpo. – e beijei a sua boca.
- Vamos, senão vai dar na cara. – disse se apressando.
- Você pega as pizzas ai atrás?
- Não vai entrar na garagem?
- Preguiça. – olhei para ela.
- Ah vá, anda.
E me socou de novo.
- Ta bom, ta bom, não precisa bater.
E desci a rampa do estacionamento parando na minha vaga perto do elevador.
Puxei o freio de mão e retirei o cinto saindo do carro. Paige abriu a porta de trás retirando as pizzas.
Voltei a beijá-la quando entramos no elevador, mas quando saímos dele para o corredor, era como se nada tivesse acontecido entre nós. Ela queria assim, o mais discreto possível, mas ali ninguém nasceu ontem. Elas sacavam que estava rolando algo entre nós duas, mas nos respeitavam.
Sou lésbica desde o dia que nasci. Sempre gostei de mulheres, não teve como mudar a minha opção, porque nunca houve outra para mim. Meus pais fizeram de tudo para me convencer que não era o caminho correto. Que eu deveria ser normal daí me levaram para a terapia, porque eles dariam um jeito e me convenceriam que o melhor era me casar com um homem e ter filhos. Estou com quase vinte e dois anos. Sai de casa com dezoito, arrumei trabalho e estou na batalha. Sou feliz assim, e assim me realizo em todos os sentidos.
- Oi meninas! – coloquei a chave na estante.
- Vamos comer que estou morta de fome! – sorriu Sofie.
- Oi gente, vamos para a cozinha!
E todas fomos atrás da Paige.
- Vocês topam sair hoje? – disse ao morder um pedaço de pizza de peperoni.
- Não vai dar para mim. Tenho que fazer esse maldito trabalho. – resmungou Sofie.
- Paige? – olhei para ela piscando.
- Não posso, tenho um compromisso mais à noite com meus pais.
- Vou com você - disse Margot. Estou de boa.
- Te arrumo algo para vestir. – disse rindo.
- Está brincando né? – e abriu a geladeira procurando refrigerante.
Margot era de estatura mediana e eu era alta, minhas roupas dificilmente ficariam bem nela.
- Passamos lá na sua casa e você se arruma. – sorri para ela.
- Toca ai! Fechou.
E batemos uma mão na outra.
- O que vai fazer final de semana? – Paige me perguntou.
- Talvez vá para o rio. Preciso me exercitar no remo. – e mordi outro pedaço de pizza.
- Nossa, nem lembrava que você mexia com isso.
- Pois é há muito tempo não remo.
- Meninas se me dão licença, preciso entregar esse trabalho na próxima semana e eu ainda nem comecei. - e Sofie foi para a sala com um copo de soda.
- Vou te ajudar! – gritei.
- Podemos passar o final de semana com você? – perguntou Paige.
- Podemos? – continuou Margot.
- Claro, a Sofie vai ficar o final de semana todo, se vocês também quiserem. Vocês até podem dar uma mãozinha com o trabalho dela enquanto estiver remando. – sorri.
- Vamos embora Margot, ela está nos usando. – resmungou Paige sorrindo.
- Vai brincando! – joguei uma azeitona nela.
- Fiquem à vontade meninas. Preciso de um banho e me arrumar para logo mais.
- Você me dá uma carona Mel?
- Claro Paige. Amanhã te busco se quiser vir para cá.
- Vamos nos apressar né Margot?
E fui para o corredor entrando no banheiro.
Abri a ducha e fiquei debaixo dela pensando na Paige. Se a família dela não fosse tão problemática com certeza já a teria pedido em namoro. Era uma garota excepcional, inteligente, cuidadosa e romântica. Adorava isso nas mulheres. Ensaboei os cabelos e os enxagüei em seguida, desliguei o registro e me enrolei na toalha indo direto para meu quarto. Escolhi um macacão mostarda e uma camisa branca. Só estava em duvida do que iria calçar.
- Margot! – gritei.
- Oi.
- O que eu calço? – e levantei a roupa no corpo.
- O tênis branco combina legal, o que você acha?
- Adorei!
Ela piscou para mim.
- Já estou pronta, vamos?
- Claro, vou me despedir das meninas.
Fui atrás dela, prendendo meu cabelo num rabo de cavalo.
- Até a volta meninas! Durmam cedo! – disse pegando a chave do carro.
- Não está esquecendo nada não?
Paige fez uma careta.
- Puts, meu cigarro, valeu! – abri um sorriso.
- Chata! – disse me socando.
- Até amanhã Sofie! – e a beijou na face.
- Vamos Margot – e a puxei pelo braço. – depois você come!
Paige só tirou a mão da minha coxa quando estacionei de frente da casa dela. Será que ela tinha sentimentos mais profundos por mim? Se sim, por que nunca demonstrou?
- Até amanhã meninas e me beijou no rosto.
- Ligo quando eu chegar para combinarmos amanhã, ou te envio uma mensagem.
- Está bem.
E saiu do carro.
Esperei até que ela entrasse para poder ir embora.
- Senta aqui comigo. – virei a cabeça para trás falando com Margot.
- Ah é verdade.
E ela sentou-se ao meu lado, no carona.
- Vocês estão juntas, não estão?
E a olhei pelo retrovisor antes de responder.
- Não posso dizer que sim, nem que não. É bem complicado. – disse ligando os faróis.
- Os pais dela não aceitam né?
- Não, principalmente o pai. Desde o começo nunca foram com a minha cara.
- Puts e você tão linda assim.
Voltei a olhar para ela pelo retrovisor e sorri.
- Você é uma grande amiga, obrigada!
- Não tem de que.
Estacionei e esperei Margot no carro pedindo que não se demorasse muito para se arrumar porque ainda precisava reabastecer o carro e comprar mais cigarro. Voltei a fumar depois que comecei a me envolver mais com a Paige, mas ela não sabia disso. Penso que ela ficaria triste em saber, já que foi uma das primeiras a pedir que eu parasse.
Dei partida no carro quando vi Margot saindo.
- Pronta?
- Sim.
- Você está linda!
- Obrigada!
Margot tinha olhos amendoados e a cor de sua pele era jambo. Ela era linda. Disse que se ela fosse lésbica já teria ficado com ela há muito tempo. Sorri e ela me olhou como se perguntasse o porquê da risada.
- Quer namorar comigo? – olhei sorrindo pelo retrovisor.
- Ah... lá vem você - ela riu.
Reabasteci o carro a duas quadras dali e fomos para um dos bares LGBT mais badalado da região.
- Puts me esqueci de comprar cigarro.
- Larga isso.
- Fumo quando estou ansiosa.
- Tome. - e estendeu uma bala na palma da mão.
- Obrigada. Abre?
- Quer que coloque na boca?
- Por favor. – disse muito séria.
- Não ta querendo nada...
E abri a boca sorrindo.
Coloquei o carro em uma vaga e fomos na direção do bar. Nunca vi tanta gente para uma sexta feira à noite, o que era bom porque seria ainda mais divertido. As luzes estavam apagadas e eu tropecei no pé de alguém abraçando a Margot por trás.
- Me desculpa tropecei em alguém.
- Devo acreditar? – sorriu.
- Acredite. – e voltei a pegar na mão dela.
- O que vai beber?
- Guaraná? – ri alto. Não posso, estou de carro.
- Ah é mesmo. Vou pegar um gim tonica, já volto, não sai daqui.
Era difícil ficar parada com aquele agito todo. Estava louca para pegar alguém, então resolvi ir para a pista de dança. Margot ainda estava na fila para pegar o drink, tinha que ficar de olho nela. Havia lugares vazios em alguns cantos e apontei um para ela. Foi para lá minutos depois com a bebida na mão.
Fiquei mais tranqüila quando ela se sentou. Dancei muito e resolvi sentar um pouco. Estava morrendo de sede.
- Que lugar mais incrível. – sentei me abanando.
- Incrível é aquela moça ali. – Margot sorriu. – Agora mesmo que você vai sentir calor!
- Onde...?
- Senta desse lado de cá que você vai ver.
E eu mudei de lugar.
- Não vejo nada de... uau!
- Eu te falei. – e soltou uma gargalhada.
- Deus existe...
- Quer um guardanapo?
- Para que? – olhei para ela.
- Você está babando.
- Que mulher linda! Preciso saber o nome dela!
- Ela não me parece ser... lésbica, parece?
- Mas ela está com uma mulher, será namorada?
- Talvez uma amiga. Vai lá falar com ela, daí você descobre.
- Não tenho coragem.
- Que? Cadê a Mel? Ficou em casa? – soltou outra gargalhada.
- Ha – ha – ha – torci o nariz soltando uma risada. – Vai me tirando!
- Eu vou e descubro, quer? – disse levantando e ajeitando a roupa.
- Não, tive uma idéia. Tem papel e caneta?
- Você tem tanta sorte que carrego um bloquinho e caneta comigo.
E beijei o rosto dela.
- Tome.
Anotei o meu telefone nele e pedi que me ligasse. Voltei para a pista me aproximando dela com todo cuidado. Pelo tumulto de gente dançando ela nem perceberia eu colocar o papel no seu bolso. E foi dito e feito. Coloquei e voltei para a mesa correndo.
- Consegui. Que mulher mais linda! Nunca tinha visto uma ruiva tão linda assim!
- Já está apaixonada, estou vendo daqui.
- Ela deve ser casada não pode ser... não tem cabimento. Que pecado.
- Ih... e se ela for casada, estaria aqui dando mole?
- Ela ilumina tudo, está vendo? Você acha que ela está dando mole?
Margot me ofereceu outro guardanapo e eu sorri.
Tentei tirar uma foto dela, mas estava tão escuro que a qualidade não saiu como eu esperava.
- Vai lá falar com ela! E se ela não ligar, achar loucura demais um numero de telefone escrito num pedaço de papel, você colocou seu nome né?
- Puts não. – dei um tapa na testa.
- Não acredito santo Deus. – ela disse soltando outra gargalhada. – Mel, o que se passa com você?
- Já foi, espero que ela me ligue. Que tapada que eu sou. – praguejei.
- Só se for doida.
- Vou lá de novo.
- Não vai tropeçar nela!
- Engraçadinha!
E bebi um gole de gin.
Eu parecia uma adolescente, daquelas com aparelho nos dentes e óculos com lentes de garrafa. Aproximei dela o mais perto que podia. Segurei uma mecha do seu cabelo entre os dedos, era como acariciar a seda... Imagina tocar a pele dessa mulher. Conseguia sentir o seu perfume. Tudo nela era delicado. Nossa, era muita mulher para mim. A garota que estava com ela não parava de me olhar, mas estava tão escuro, não sei se me reconheceria fora dali. Quase impossível. Ou também poderia ser impressão minha. Dancei muito embalada pelo ritmo dela e só voltei para a mesa quando elas saíram dali.
- Nossa...
- Falou com ela?
- Não, por quê?
- Porque acabei de vê-las saindo.
- Foram embora? Tão cedo!
- Parece que sim.
E corri para lá. Olhei para todos os lados e não as vi.
Voltamos por volta das 3 da manhã, exautas de tanto dançar. Tiramos as roupas e caímos na cama. Sofie dormia profundamente no quarto de hospedes e Margot não demorou muito para dormir também. Queria ter a mesma sorte, mas só fui dormir quando começava a clarear. Abri os olhos com Margot se vestindo de costas para mim.
- Por que você é tão tímida assim? – sorri.
- Nem sei viu. – ela sorriu. – Desculpa te acordar.
- Tranqüilo, já logo levanto também. – e espreguicei. – Preciso buscar a Paige.
- Onde está a chave, vou lá.
- Faria isso?
- Claro. Fique ai mais um pouco, vou só tomar um copo de leite.
- Obrigada!
E ela piscou.
Abri um sorriso só de pensar naquela garota ruiva. Queria muito voltar a vê-la e no fundo no fundo eu tinha a certeza que ela ligaria. Levantei e sentei-me no sofá comendo um pedaço de pizza.
Minutos depois Paige entrou pela porta da sala com um sorriso enorme na cara. Margot entrou depois colocando a chave do carro na estante.
- Viu um passarinho verde? – brinquei com ela e lhe dei um abraço.
- Vi vários! Você está linda... – sussurrou no meu ouvido ficando na ponta dos pés.
Paige dizia ser uma pessoa comum. Cabelos na altura dos ombros, ondulados. Estatura mediada. Olhos pretos e uma boca linda. Beijar essa boca era sonho de muitos garotos na faculdade, inclusive garotas, por que já me falaram isso.
Já Sofie era loira, olhos azuis e cabelos longos e lisos. Era uma doçura de menina, muito dengosa e muito inteligente. A nora que toda sogra adoraria ter.
Passamos o final de semana alternando entre trabalho, papo furado, muita pipoca, pizza, cerveja, vodka e muita azaração. Precisava comprar cigarros.
Fim do capítulo
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Brescia
Em: 09/05/2020
Boa tarde mocinha.
Está aí como e quem colocou o bilhete no bolso da Giu, onde nasceu essa paixão e a. Giu nem viu, mas a sua amiga sim.
Baci piccola.
Resposta do autor:
A Mel colocou o bilhete no bolso da Giulia, e nenhuma das duas perceberam.
Se você olhasse para a Giulia você se apaixonaria rs
Beijo!
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