— Então, quer dizer que você vai pedir a mão de Sófia em casamento hoje? — Norma perguntou após Raquel contar as novidades.

As duas estavam no carro da engenheira com Nino. Iriam para o shopping mais próximo, comprar um anel.

— Bom... eu já pedi quando fui para o jantar em sua casa, mas não foi um pedido formal com anel de compromisso. Não teve um momento especial entre nós duas — Raquel disse calmamente enquanto dirigia.

— Nem acredito que aquela moça que chegou não querendo se envolver com ninguém agora está pretendendo se casar.

— É, muita coisa mudou... só sinto pela situação. A minha mãe é capaz de fazer um inferno com nossas vidas. Acho que ela é pior do que Ricardo — Lembrou-se do que havia acontecido entre sua mãe e Sófia. Aquilo ainda a deixava inconformada.

— Raquel, você sabe, sua mãe trata Ricardo como um menino indefeso. Ela vai tentar protegê-lo, ela assume as dores dele.

— É... você está certa — Ficou pensativa. Já estava se acostumando com a última novidade, por mais que tentasse, ela nunca seria uma querida por sua mãe. Não existia mais espaço em sua família para ela.

— Ei, não fique assim. Você sabe que não está sozinha... você tem a Sófia, eu, Nino, Nina, o pai de Sófia...

— Eu sei, Norma, mas e minha família? Eu tenho uma família... eu tenho um pai... uma mãe... um irmão... e é a mesma coisa que não ter ninguém — Disse com os olhos marejados.

— Minha querida, uma coisa que aprendi nessa vida é que família é onde nos trata bem... Família não é só ter um laço sanguíneo.

— É.... bom, melhor mudarmos de assunto — Ficava incomodada com aquele assunto.

— Está bem — Norma sabia que Raquel mesmo tentando ser indiferente, ainda se via ligada a sua família — Fale-me, o que preparou para hoje com Sófia?

— Vamos a praia, fazer como na nossa primeira vez, mas hoje desejo que seja mais especial... porque vou pedi-la em casamento e tenho certeza que ela vai aceitar — Suspirou ao terminar de falar.

— Imagino que ela aceite, ela te ama, Raquel.

— E eu a ela, Norma, Sófia é uma mulher incrível. Parece que em tudo combinamos — Deu uma breve olhada para Nino que observava o movimento fora do carro.

Após essa conversa com sua amiga, Raquel voltou a prestar toda a atenção no trânsito. No entanto, mesmo assim, se via pensando em Sófia. A verdade é que não tirava mais a loira do pensamento. Tudo parecia lembrar a sua amada.

Não demorou muito e chegaram ao shopping. Como Raquel compraria o anel antes de levar Norma a sua casa, ela entrou no grande prédio, deixando a ruiva e Nino no carro à sua espera.

Como não queria demorar, Raquel foi direto ao seu destino, uma joalheria. Queria comprar um anel para Sófia, algo bonito e ao mesmo tempo discreto para não chamar muito a atenção das pessoas.

Quando chegou a loja, ela começou a procurar com o olhar algo que pudesse combinar com sua amada e tivesse as características que havia pensado anteriormente.

Começou a ficar nervosa por perceber que não seria fácil como pensará.

— Bom dia, posso ajudar? — Uma atendente surgiu chamando sua atenção.

— Eu estou querendo um anel de noivado para minha noiva — Disse um pouco sem jeito, pois tinha receio da mulher ter algum tipo de preconceito, mas não foi diferente do que havia imaginado.

A mulher sorriu, gentilmente.

— Como é o anel que você deseja?

— Eu quero algo bonito, discreto... — Raquel foi falando as características e a mulher começou a ficar pensativa.

— Venha, aqui tem algo que acho você irá gostar — a mulher seguiu na frente e Raquel a acompanhou.

Ao chegar em um dos balcões de vidro, a mulher pegou um anel que fez os olhos de Raquel brilharem. Era exatamente o que queria e tinha certeza que Sófia iria amar.

— Conseguiu? — Norma perguntou após Raquel chegar no carro com algumas sacolas — Acho que esse anel tá um pouco grande, não?

As duas riram.

— Ah... eu comprei umas coisinhas — Ofereceu para Norma segurar enquanto ela dirigisse.

— Hum... — Norma começou a vasculhar as sacolas — Uma caixa de chocolate... uns brinquedinhos... acho que Sófia não gosta de patos que apitam — Apertou um bichinho e Nino latiu no fundo causando uma crise de risos nas duas.

— Não, isso daí não é para Sófia é para as crianças.

— Acho que os dois vão brincar bastante nesse final de semana— Norma pegou uma das bolas e reparou que Nino já estava no fundo atento — Você sossegue, ainda não é a hora da diversão, seu Nino, e você tome cuidado... logo vira pai e quero ver onde sua mãe vai colocar tanto cachorro.

— Já pensou, Nino pai — Raquel comentou pensativa e Nino ficou quieto, parecendo desconhecer o assunto.

— Não duvido não. Esses dois estão juntos demais. Já perguntou a Sófia se Nina é castrada, pois Nino não é.

— Nunca perguntei, vou fazer isso hoje — Raquel começou a dar ré no carro — Vamos, pois todos nós aqui temos compromissos para hoje.

            Após deixar Norma em sua casa, Raquel seguiu para o prédio onde Sófia morava.

            Trinta minutos depois já estava na porta do apartamento da loira sendo recebida com um abraço caloroso.

            — Você demorou — Sófia se afastou da loira e abaixou-se para cumprimentar Nino que já estava todo animado por ver a sua amada do outro lado da sala — Estava com saudade de você, garotão — Fez algumas carícias no cachorro e o soltou da guia, já que sua amada no momento estava com várias sacolas e uma mochila nas costas.

            Nino vendo-se livre da guia correu em direção a Nina. Os dois cachorros passaram a trocar lambidas.

            Enquanto observavam a movimentação de seus filhotes de quatro patas, as duas mulheres compartilharam o mesmo sorriso em seus lábios.

            — Bom... acho que agora todo mundo está feliz — Raquel comentou ao envolver a mão de Sófia com a sua. Trocaram um olhar intenso... apaixonado.

            — Posso saber o que você trouxe nessas sacolas — Sófia tentou dar uma espiada, todavia, Raquel não a deixou ver o que havia dentro.

            — Uns brinquedos para as crianças e uma surpresa — Escondeu as sacolas atrás de si e Sófia ficou tentando ver o que era, mas desistiu ao perceber que era melhor Raquel lhe mostrar o que era.

            — Hum... tá certo! — Sófia foi para o sofá e se sentou cruzando as pernas tentando de alguma forma provocar Raquel. Estava de vestido, então, facilitaria ela alcançar o seu objetivo.

            Como esperado por Sófia, Raquel ficou observando toda aquela sua movimentação com as pernas. Sentiu algo começando a tomar conta de seu corpo, contudo, tinha que se conter.

            — Fique aqui na sala que eu vou guardar as coisas no quarto.

            — Ok — Após Raquel sair, Sófia ficou na sala inquieta. O que a morena havia trazido que ela não podia ver?

            Quando chegou no quarto de Sófia, Raquel espiou pela porta para ver se a loira continuava no mesmo lugar.

            — Uffa... essa mulher é uma tentação — Pensou ao se lembrar de como Sófia estava irresistível usando um vestido curto, vermelho, com um decote em V que revelava uma das partes que Raquel mais gostava do corpo da loira.

            Vendo que não tinha risco de sua amada aparecer, Raquel pegou a caixinha com o anel que estava em uma das sacolas e colocou dentro do bolso do short que usaria à noite.

            — Prontinho! Agora sou toda sua — Raquel se sentou ao lado de Sófia e a envolveu com um de seus braços, fazendo com que a loira aproximasse o seu corpo do seu.

            — O que você está aprontando, hein? — Perguntou baixo ao entrelaçar a sua mão com a de Raquel.

            — Nada, amor — levou a mão da loira até os seus lábios e deu um beijo demorado — Eu te amo!

            — Também te amo, mas não gosto de ficar ansiosa — Riu fazendo o coração da engenheira se aquecer. 

            Para Raquel o sorriso de Sófia era perfeito e se pudesse, congelaria o tempo só para apreciá-lo mais.

            — Mas ficar ansiosa, às vezes, pode valer a pensa — soltou a mão de Sófia para poder acariciar as coxas nuas da loira.

            Enquanto sentia os dedos de Raquel se movimentando, fazendo uma leve caricia. Sófia conectou o seu olhar no da morena.

            Como Raquel se sentiu à vontade para prosseguir, começou a levar a sua mão para dentro da saia do vestido. Em seguida, aproximou o seu rosto no pescoço de Sófia.

            Sentindo esse toque mais ousado e a respiração de Raquel tocando sua pele, Sófia começou a notar os seus batimentos acelerando.

            — Melhor nos contermos, vamos ter todo o tempo do mundo agora — Afastou a mão de Raquel mesmo querendo continuar — Eu preparei um almoço pra a gente e acho que vai esfriar se demorarmos.

            — Ahhh... tudo bem — Raquel se acomodou melhor no sofá sentindo como se tivessem lhe negado o seu doce preferido.

            — Depois do almoço, eu posso te dar o que deseja — Sófia aproximou dando um beijo rápido nos lábios da morena e depois seguiu para a cozinha sendo acompanhada pelos olhares atentos de Raquel.

            — Vou cobrar — Gritou e ouviu a gargalhada de Sófia vindo da cozinha.

_*_

            Passava das duas horas da tarde e Laura ainda não havia chegado a casa de Norma.

            — Será que isso foi mesmo uma boa ideia? — Perguntou-se, pois a médica havia dito que logo chegaria, mas ainda não havia dado sinal de vida.

            Sem conter sua ansiedade, Norma pegou o celular e olhou a conversa que havia tido com Laura no Whatsapp para certificar-se de que não havia deixado passar alguma mensagem.

            Ainda preferia não criar muitas expectativas com relação da médica, contudo isso estava mexendo muito com ela. A ansiedade tomava conta de seu ser, não sabia o que isso significava, mas tinha receio de já estar colocando o carro na frente dos bois.

A campainha tocou e junto ao seu som, surgiu em Norma a sensação de que seus batimentos estavam acelerando.

Deixou o celular sobre a mesinha de centro e levantou-se. Como queria saber se estava apresentável, foi para a frente do espelho posicionado na parede da sala e se olhou brevemente.

— Não pode mais voltar atrás, Norma – Passou a mão sobre o tecido do vestido que usava e em seguida abriu a porta – Demorou! – disse e se derreteu por completo com a visão que teve.

Laura em uma de suas mãos estava carregando um buquê de rosas vermelhas

— Imagino que sim, mas trouxe algo para compensar o meu atraso. Você me perdoa?– Laura entregou as rosas a Norma e manteve o seu olhar sobre a ruiva.

— Bom... – Segurou as rosas e não teve como não sorrir com o presente. As rosas exalavam um perfume gostoso. Norma fechou os seus olhos por alguns segundos para sentir o aroma invadindo suas narinas – Se você me explicar os motivos para seu atraso, eu posso pensar se perdoo – Fixou o seu olhar na bela mulher – Muito obrigada, eu gostei muito do presente.

Laura sorriu. Depois de muito tempo, estava se vendo novamente se apaixonando por alguém e isso era uma sensação maravilhosa.

— Humm... imaginei que iria gostar. Agora posso entrar para me explicar? – As duas riram.

— Claro – Deu passagem.

Enquanto Laura passava, Norma não se cansou de admirar aquela mulher. A médica estava usando um short curto azul e uma camiseta branca, e como esperado, estava com uma mochila nas costas.

Mesmo Laura estando simples, não teve como Norma não suspirar com a visão daquela mulher. O corpo da médica era muito bonito. A pele negra bronzeada fez Norma se perguntar se havia deixado de ser hétero após conhecer Laura.

— Eu vou colocar as flores em um vaso. Depois quero suas explicações – Norma se dirigiu para a cozinha tendo certeza de que a médica não precisava se explicar, mas como queria saber como a mulher se defenderia.

— Está bem – Estando naquele espaço, Laura começou a reparar tudo ao redor – Ela é muito organizada – Comentou ao notar que tudo estava metricamente organizado. Parecia que a advogada era até virginiana. Riu ao pensar nisso.

Depois de um tempo, a ruiva surgiu na sala.

— Bom... pode começar a se explicar – Norma chegou toda contente com as suas flores em um vaso. Passou pela médica sentada no sofá, e agachou-se posicionando o objeto na mesinha de centro.

Ao ver Norma fazendo este movimento, Laura não teve como não direcionar o seu olhar para a parte de trás do corpo da ruiva.

— Eu... – Ficou toda sem jeito sem saber como começaria a falar.

— Aconteceu alguma coisa? – perguntou mantendo o seu olhar no vaso para ver se havia colocado no centro. Nem havia notado o olhar de Laura sobre sua bunda e pernas.

— Nada – Respirou fundo – Perdão pelo atraso, eu tive que atender a uma emergência na clínica quando estava prestes a sair.

— Bom... eu fiquei ansiosa esperando você aparecer — sentou ao lado da médica.

— Sério?! – inconscientemente, levou uma de suas mãos até a coxa de Norma.

Com o toque, as duas direcionaram o olhar para onde estava a mão da médica.

— Sim, fiquei te esperando – fingiu não ligar para este toque mais íntimo.

— Bom... isso quer dizer que estou conseguindo mexer um pouquinho com você – Começou a fazer uma leve carícia na coxa de Norma levando a sua mão para a barra do vestido azul soltinho que Norma usava.

A advogada sem saber como agir e ao mesmo tempo gostando daquele toque, apoiou as costas no encosto do sofá e fez seu corpo ficar virado para a médica.

— Tenho que confessar que você mexe um pouquinho – resolveu entrar no clima.

— Como não vou trabalhar nesse final de semana, eu trouxe as roupas que você pediu. Agora só preciso convencer você de que posso ser uma ótima companhia – levou sua mão para a cintura de Norma e aproximou os seus corpos.

Sentindo o corpo de Laura se aproximando, os batimentos de Norma se aceleraram e uma vontade começou a tomar conta de seu íntimo.

— Laura, eu nunca fiz isso— alertou, pois poderia não ser como a médica esperava.

— Você disse, mas vou com calma— Laura aproximou os seus lábios no pescoço de Norma que suspirou com o toque – Serei paciente – disse quando a cabeça da advogada foi jogada para trás – e carinhosa – as suas mãos passaram a deslizar pelas curvas do corpo da ruiva.

— Você é muito danada – Olhou para a médica que sorriu de lado.

— Um pouco — pressionou uma das coxas da advogada a fazendo dar um logo suspiro.

— Mas é melhor não irmos tão rápido... preciso de um tempo para lidar com tudo isso.

— Eu entendo – Deslizou os seus dedos pelos fios ruivos e sedosos – Tudo ao seu tempo – disse carinhosa e ao mesmo tempo encantada. Norma era o que ela estava procurando para sua vida.

— Mas quero saber como é te beijar – mordeu levemente seus lábios provocando a médica.

Laura voltou a posicionar a sua mão na cintura de Norma, e aproximou os seus lábios. Enquanto sentia a sua boca de encontro a da ruiva, Laura deslizou a sua língua devagar e sentiu o outro corpo estremecer em seus braços.

O beijo surgiu lento, suas bocas estavam se conhecendo e quanto mais sentiam a outra, mais percebiam que aquele caminho que estavam traçando não teria volta.

Fim do capítulo