As duas mulheres se encararam, Sófia não fazia ideia do que poderia estar acontecendo. Nunca tinha visto Rita daquela forma, a face da senhora estava vermelha, demonstrando irritação. Sófia queria achar uma justificativa plausível para aquela agressão que acabara de receber, no entanto, nada passava por sua cabeça. Até chegou a pensar que pudesse saber sobre ela e Raquel, contudo, não era disso que Rita parecia querer tratar com ela.

— Depois de tudo que meu filho fez por você e seu pai... Como você teve coragem? — A mulher gritou, furiosa.

— Dona Rita, eu não sei do que a senhora está falando — massageava a sua face tentando em vão amenizar a dor. Rita tinha uma mão muito pesada e havia lhe acertado em cheio.

— Será que eu preciso refrescar a sua memória? — Rita começou a dar alguns passos em direção a Sófia, mas uma você conhecida a interrompeu.

— Mãe? — Raquel surgiu na porta, surpresa com a cena que acabara de presenciar. Estava passando pela sala do meu irmão, e como havia escutado gritos, resolveu ver o que estava acontecendo — Sófia? — Viu sua amada com a face avermelhada e sentiu o seu sangue ferver — O que está acontecendo aqui? Por que Sófia está dessa forma? — Foi até a sua amada, ficando ao seu lado.

— Dei a ela o que estava merecendo, por fazer meu filho sofrer — Rita cuspia a palavra com raiva. O seu filho não merecia ser enganado novamente, não merecia.

— Você tá louca, mãe, como você teve coragem? — Raquel levou a sua mão até a face de Sófia e pela primeira vez sentiu coragem de enfrentar aquela senhora.

— Raquel, por favor, melhor não se meter nisso — Sófia encarou a senhora. Se ela queria discutir, ela iria.

— Vou me meter sim, ela não tinha esse direito — A engenheira havia se esquecido completamente com quem estava falando. Não estava mais importando com nada. Não iria deixar que sua mãe fizesse algum mal a mulher que amava.

Rita ficou em silêncio. Queria entender aquela situação. Para ela, Raquel e Sófia não eram próximas. Por que a morena estava se metendo naquela discussão?

— Será que você não entendeu o que está acontecendo, Raquel? Essa moça enganou o seu irmão... terminou com ele quando achou conveniente para ela. O pai melhorou... a situação na empresa está do seu agrado e agora está dispensando a pessoa que estava sempre do seu lado por conta de um qualquer que não deve ser a metade do homem que meu filho é.

— Mãe, que eu saiba, ela terminou porque não dava mais... porque não sentia nada mais pelo meu irmão.

— Largue de besteira, Raquel, ela é como as várias aproveitadoras que existem por aí... precisam de alguém para subir na vida, pois não conseguem subir por méritos próprios.

— Mãe, não quero que você fale dessa forma da Sófia — Raquel após ouvir todos aqueles absurdos vindos de sua mãe, começou a sentir todo o seu corpo tremer demonstrando nervosismo. Não iria admitir que sua mãe tratasse Sófia daquela forma.

— Raquel, por favor, deixe-me conversar com sua mãe... eu resolvo isso — Sófia disse ao notar o corpo de sua amada todo tenso. Sentia vontade de segurar na mão de sua amada naquele momento, contudo, não podia demonstrar nenhum tipo de afeto pela a engenheira na frente daquela senhora.

— Raquel, eu não estou entendendo. Por que você está se doendo tanto? — Rita cruzou os seus braços queria entender aquela situação. Raquel não era para estar ali. Era para ignorar tudo o que estava acontecendo naquela sala, já que, não fazia parte dos assuntos da família.

Raquel não conseguiu dizer mais nada. Apertou seus punhos com força. Sentia os seus lábios tremerem. Estava muito nervosa. Não estava conseguindo fingir que não ligava para o que estava acontecendo naquela sala.

— Fale, Raquel, por que você está se importando? — Rita perguntou enquanto dividia o seu olhar para as duas mulheres. Começou a pressentir o que poderia estar acontecendo e algo lhe veio à mente — Não! Isso não! — Pensou e prolongou o seu olhar para Raquel.

Sem dizer mais nenhuma palavra, Rita se voltou para a porta da sala e começou a andar a passos apressados. Não queria olhar para trás, não queria pensar que ela pudesse ter sido uma das causadoras da infelicidade de seu filho.

Se fosse realmente isso que estava acontecendo, ela nunca mais iria perdoar.

— Sófia e Raquel juntas? Não... isso não pode estar acontecendo... eu preciso resolver isso... eu que a trouxe de volta — A mulher levou a suas mãos até a face. Estava sentindo falta de ar. Os seus batimentos estavam acelerados. Pensar que Raquel e Sófia estavam juntas não lhe fazia bem. Precisava ir para longe daquele lugar... precisava conversar com Rogério... precisava pedir para Rogério tirar Raquel de suas vidas — Ela quer tudo que é de Ricardo. Ela quer destruir as nossas vidas — A mulher começou a andar em direção a entrada da construtora sem olhar para trás, deixando todos por onde passava assustados.

_*_

— Amor, acho que você não devia ter se envolvido nisso — Sófia disse enquanto sentia o gelo tocando sua face — Ai... — Tocou uma das mãos de Raquel — Fale comigo! — Pediu ao encarar a morena.

Raquel afastou o gelo da face de Sófia enquanto soltava sua respiração. Não estava bem por ver a mulher que amava daquela forma.

Após Rita sair, Raquel chamou Sófia para sua sala, já que havia notado a face da loira inchada no local onde sua mãe havia batido.

Estavam sentadas em um pequeno sofá.

Desde que haviam saído da sala de Ricardo é que as duas trocara poucas palavras.

— Raquel...

A morena colocou o gelo em uma vasilha que estava ao lado e se levantou em um rompante, levando as mãos te seu cabelo. Estava nervosa, Sófia notara isso.

— Eu não quero que isso se repita — Olhou para Sófia e balançou sua cabeça negativamente.

— O que você quer dizer com isso?

— Sófia, ela te bateu só por saber que você terminou com Ricardo. E quando descobrir que está comigo? Ela é capaz de fazer bem pior... e se ela te demitir?

— Não ligo... eu quero ficar com você e não me importo com o que sua mãe possa fazer.

— Precisamos resolver isso — Raquel voltou a se sentar no sofá e começou a ficar pensativa.

— O que pretende fazer? — Sófia segurou uma das mãos de Raquel. Não queria pensar na possibilidade de voltar a perder a mulher que amava.

Raquel se manteve distante por alguns minutos.

Começou a se perguntar se realmente valia a pena estar naquele lugar de segunda a sexta... se valia a pena fingir ser o que não era... fingir não sentir nada pela mulher que amava.

Sem Sófia esperar, Raquel se aproximou os seus corpos e olhou-a em seus olhos.

Sófia sentindo a respiração de Raquel se juntando com a sua, cerrou os seus olhos e sem demora, os lábios macios da engenheira tocou os seus. Não sabia o que estava se passando na cabeça da morena, mas Sófia se entregou ao momento.

A língua de Raquel invadia a sua boca com calma, não tinha pressa.

— Eu te amo — Raquel juntou as suas testas e segurou as mãos de Sófia com as suas — Você foi a melhor coisa que aconteceu em minha vida. Não quero mais viver sem você, Sófia, quero partilhar o restante de meus dias com você — Deu uma pausa e respirou fundo — Por isso que tenho algo para te propor.

— O quê? — Neste momento, o seu coração batia totalmente fora do ritmo. Não sabia o que a morena iria propor e isso a angustiava.

— Vamos deixar tudo isso e começar do zero? — Se fosse há algum tempo, Raquel nunca que estaria falando isso. Havia voltado com o intuito de recomeçar sua vida ao lado de sua família e agora, o que mais queria era ficar longe disso tudo — O começo talvez seja difícil... Bom... a gente pode passar por algumas dificuldades financeiras, pois não terei mais o dinheiro de minha família, mas acho que pode valer a pena, pois ficar aqui não está fazendo bem para nós duas — encarou a bochecha avermelhada de Sófia.

Sófia sorriu e deu um abraço forte em Raquel.

— Eu aceito... Acho que estou precisando. Minha relação com Ricardo está insustentável... Mas... — Sófia encarou Raquel.

— O quê?

— Isso tudo aqui também é seu, amor.

Raquel sorriu com a preocupação de sua amada.

— Eu não sou dona de nada aqui, amor, nada... exatamente nada... eu não pertenço a esse lugar. Vim para cá na ilusão de que pudesse voltar a pertencer a esse lugar — Deu uma pausa e acariciou as mãos de Sófia com as suas — O único lugar que quero ficar agora é do seu lado. Não importa onde seja, mas acredito que aqui não é mais o nosso lugar, amor.

— O que você decidir, eu aceito — Sófia não queria mais ficar na construtora. Ricardo queria controlá-la. Isso não era algo que desejava, ficar a mercê de um ex. Havia algumas economias, dava para se manter com Raquel por um tempo. O que não podia mais era se privar com medo do que pudesse acontecer se caso a família de Raquel descobrisse toda a verdade.

— Então, vamos aproveitar o nosso final de semana juntas para conversarmos sobre isso — Raquel falou e Sófia pareceu se lembrar de algo — Havia se esquecido de eu havíamos combinado de passarmos o final de semana em sua casa?

As duas passaram a se sentar abraçadas.

— Não é isso, claro que me lembro do que combinamos — Sófia colocou sua mão sobre a coxa de Raquel e começou a fazer uma leve carícia — Meu pai viaja hoje... e bom... quero que você vá comigo até a rodoviária se despedir dele.

Raquel sorriu encantada com o convite.

— Nem acredito que ele nos aceitou.

— Meu pai quer a minha felicidade, amor, e ele sabe que eu sou feliz ao seu lado — Pousou a sua mão sobre a de Raquel e olhou a mulher que amava nos olhos... naqueles olhos que ela tinha certeza que sempre iluminaria os seus dias.

_*_

Rita chegou em sua casa o mais rápido que pode. Precisava falar com Rogério sobre suas suspeitas, precisava afastar Raquel de suas vidas novamente.

Passou pela porta e a bateu com força para fechá-la. A sua mente estava inquieta... precisava pensar em uma forma de resolver a situação.

Rogério começou a descer as escadas de sua casa preocupado. Havia se assustado com o barulho forte. Após chegar na sala, avistou sua esposa que andava de um lado para o outro com as mãos sobre a cabeça.

— Rita, o que deu em você? — Seus passos passaram a ser apressados.

— Rogério, comentemos um erro... cometemos um erro... acabamos com a felicidade de nosso filho — A mulher parecia estar transtornada.

— Sente-se, e me conte que aconteceu — Levou sua mulher para o sofá e a notou com um olhar distante.

— A Raquel quer acabar com nossas vidas... ela tem inveja do Ricardo... quer tomar tudo que é dele. Ela não se conforma por termos deixado ela distante por esses anos.

Rogério balançou sua cabeça negativamente várias vezes. Como sua esposa podia falar daquela forma sobre a filha? Raquel havia errado no passado, mas nem por isso havia se tornado um monstro. Ele sentia que sua filha era uma boa pessoa.

— Rita...

— Ela quer nos destruir.

— Rita...

— Ela quer fazer mal ao nosso filho.

— Rita, ela também é nossa filha! — O homem se exaltou.

— Mas ela voltou a sujar a nossa família com suas sem-vergonhices.

Fim do capítulo