Capitulo 37 - Contratempos
Capítulo 37 – Contratempos
A irritadinha estava deitada e olhava para o teto do próprio quarto, ainda contemplando e pesando o rumo de sua vida. O resultado do intercâmbio era mais importante para si do que pensara. Colocou algumas músicas de rock bem pesado para escutar – algo que havia aprendido com a namorada – pois, queria tentar distrair sua mente “pessimista”.
Não havia nem mesmo ligado para Liz a fim de desabafar aquele resultado patético, sentia que precisava digerir tudo por si só primeiro. Já passava do meio dia e não sentia fome. Pedro bateu na porta do seu quarto, chamando-a para se juntar a ele, mas apenas gritou de volta, comunicando que não iria descer naquele momento.
Ouviu o toque do seu celular, anunciando que alguém ligava. Fechou os olhos e soltou um suspiro pesado. Quando olhou no visor, viu o nome de Vanessa, com certeza a amiga queria compartilhar o próprio êxito e tentar consolá-la pelo resultado. Ainda pensou em recusar a ligação, mas não poderia fazer isso. Baixou o volume do rádio e atendeu:
— Oi — falou em um tom neutro, não queria demonstrar o quanto estava arrasada.
— Oi, Lia. Você viu que já saiu o resultado do intercâmbio? — Vanessa perguntou de forma cuidadosa.
— Acabei de ver nesse exato momento. Inclusive vi que o seu nome ficou em quarto lugar na lista. Parabéns! — comemorou alegremente. Não fingiu, estava triste por si mesma, mas jamais iria estragar a felicidade alheia. Vanessa havia estudado muito e merecia. — Estou feliz que tenha conseguido, de verdade, você se esforçou tanto. Temos que sair para comemorar!
— Obrigada, Lia. Só pensei em te ligar assim que vi o resultado — A consciência da irritadinha pesou um pouco. A tristeza havia lhe impedido de pensar racionalmente. — Apesar de eu estar muito feliz não quero comemorar não.
— Mas por quê?
— Eu não estou acreditando que você não passou também! — exclamou triste do outro lado da linha.
Seu coração deu mais uma pontada de tristeza ao ouvir a miga dizer aquilo. Apenas tornou a situação ainda mais real, mas tratou de disfarçar.
— Own, Vanessa! Obrigada por pensar nisso, mas não se preocupe...
— Lia, eu não entendo. Nós estudamos todo o conteúdo juntas. Você até sabia mais coisas do que eu sobre as matérias. Eu acho que deveríamos ligar para a coordenação. Tem algo de errado aí.
A irritadinha não queria se encher de esperança e, pensando racionalmente, achava difícil que eles pudessem ter errado daquela forma.
— Não acho que tenha sido o caso. Eu não me senti tão confiante quando terminei a prova, fiquei com dúvidas em várias questões. Acho que o resultado está correto.
— Mas como? Você é mais inteligente do que eu...
— Vocês me superestimam demais. Olha, você também é inteligente e esforçada e passou com mérito, não acha?
— Eu sei, Lia. É só que eu não entendendo mesmo — Lia ouviu-a suspirou do outro lado da linha e exclamar chateada. — Como você está?
— Um pouco desapontada comigo mesma, mas tudo bem. Vai passar.
— Eu imagino que isso deve estar sendo frustrante.
— É sim, mas pelo menos você passou e isso já me deixa mais feliz.
— Obrigada por todo o apoio e por ter estudado comigo, fez toda a diferença.
— Não precisa agradecer, Vanessa. Fico mesmo muito feliz pela sua conquista.
— Obrigada mais uma vez — Lia conseguia sentir gratidão na voz dela.
— Por nada! — Uma leve aflição se apoderou de seu peito novamente. — Olha, eu preciso desligar agora, meu irmão está me chamando para almoçar, então...
— Ah, tudo bem. Desculpe! Nos falamos depois, então.
— Sim, eu espero por sua ligação. Tchau!
— Até mais.
Finalmente desligou o telefone e colocou-o de lado. Estava mesmo triste. Ficara mesmo feliz com o resultado que Vanessa havia conseguido, ela merecia mesmo essa vaga. Ainda não sabia bem o que fazer com a notícia, mas precisava falar com Liz e desabafar com ela. Queria mesmo um abraço bem caloroso e afago, mas a namorada só viria no final de semana.
Depois de remoer os sentimentos um pouco mais, acabou ligando para ela.
— Oi, linda — Liz a atendeu com aquele alto astral de hábito.
— Oi, amor — respondeu tristinha.
— O que foi? — Com certeza ela percebeu o desânimo em sua voz.
— Saiu o resultado do intercâmbio.
— Você não passou? — A namorada perguntou em tom sério.
— Não — Seus olhos se encheram de lágrimas. Sempre ficava mais sensível quando falava sobre coisas sérias com ela. — Infelizmente.
— Own, minha linda! — Liz a consolou com carinho. — Sinto muito por isso. Imagino que você deve estar arrasada. Viu o resultado agora?
— Sim, a alguns minutinhos atrás. Passou até minha fome.
— Poxa, irritadinha. Olha, não fica triste. Tudo aconteceu em um período um pouco difícil e também foi pouco tempo para estudar tanta coisa. Só dois meses praticamente. Sei que também estava preocupada em se assumir para os seus pais e tal...
Liz sempre a entendia. Na voz dela não encontrou nem surpresa ou decepção, muito pelo contrário, ela tentava lhe entender e consolar da melhor forma possível.
— Obrigada — agradeceu pela compreensão. — Eu só queria uma coisa agora.
— O quê?
— Te abraçar e não soltar nunca mais.
— Não faz assim! Posso ir me encontrar com você hoje?
O coração de Lia ficou leve de repente ao ouvir aquelas palavras. Era tudo o que queria agora, ser afagada e mimada por ela.
— Tem certeza que não vai atrapalhar você vir?
— Lia... para ir até você nada me atrapalha.
A irritadinha se emocionou. Seu coração transbordava de amor por Liz cada vez mais.
— Já disse que você é a namorada perfeita?
— Na verdade, não. Você nunca disse isso — respondeu risonha. Era incrível como ela conseguia melhorar o seu humor. — Mas eu adorei escutar isso. Você sabe que faço tudo por você, não sabe?
— Eu também faço tudo por você, minha rockeira.
— Logo eu chego por aí, ok?
— Ok, te espero!
Lia desligou o telefone já se sentindo bem melhor. Somente Liz para lhe deixar mais tranquila. Precisava se acalmar mais para falar com o pais. Por algum motivo estava aflita ao pensar nesse momento, tinha medo que os dois culpassem Liz por sua falha. Não iria suportar se algo viesse abalar a relação deles com a namorada logo agora que tudo parecia estar bem.
Depois de mais algum tempo deitada, resolveu descer para tentar comer algo, mesmo com o estômago embrulhado, ainda assim, sentia fome. Encontrou com o irmão, que assistia TV na sala.
— Você está bem, mana? — O irmão perguntou assim que viu sua expressão abatida.
— Não muito.
Lia sentou-se ao lado dele no sofá e o abraçou.
— Saiu o resultado do intercâmbio.
— Já? Eu não sabia que era hoje.
— Já sim e eu não consegui a vaga.
Pedro não disse nada, apenas a abraçou e afagou de volta.
— Sinto muito, mana! Sei o quanto você queria essa oportunidade. É o seu sonho ir estudar em Londres.
Lia nada falou, apenas se deixou afagar por ele.
— Quer falar sobre isso?
— Ainda não.
— Ok.
O irmão respeitou o seu silêncio e os dois passaram um bom tempo apenas assistindo juntos. Gru, o gato, apareceu na sala e pulou em suas pernas. Lia abraçou o bichano carinhosamente e ficou fazendo carinho nele durante boa parte da tarde. Ela não quis almoçar, mas Pedro lhe fez um sanduíche o qual conseguiu comer boa parte e forrar o estômago.
O celular tocou, despertando-a, já passava das três da tarde. Era Liz. O aperto em seu peito aliviou um pouco e seu coração disparou de leve. Quando a atendeu, a namorada apenas disse que estava lá fora à sua espera.
— Para onde vai? — Pedro perguntou ao vê-la levantar-se do sofá.
— Liz veio me ver. Vou sair um pouco com ela. Quando o pai e a mãe chegarem do trabalho você me avisa, ok?
— Tudo bem, mas eu pensei que ela só viria no fim de semana.
— Pois é, mas como eu não estou me sentindo muito bem, ela decidiu vir.
— Ah sim. Fico feliz que minha cunhada tenha vindo. Você está mesmo tristinha. Vai lá se distrair um pouco.
— Obrigada, maninho.
Lia saiu apressada de casa e finalmente foi se encontrar com ela. Como sempre, Liz a esperava no portão. As duas se abraçaram em silêncio, graças a Deus a namora a conhecia o suficiente para saber que não gostava de muito falatório quando estava triste.
— Para onde quer ir?
— Vamos para a pousada. Você vai pegar um quarto?
— Pego sim. Vamos!
Logo as duas chegaram até lá e Liz pagou por uma diária. Elas pegaram o quarto de sempre e deitaram na cama. O tempo estava começando a ficar nublado assim como o seu humor. Talvez estivesse exagerando, mas estava mal mesmo.
Liz puxou seu queixo gentilmente e as duas se encararam por alguns segundos. Queria esconder a cara de choro, mas foi impossível se manter forte ao encarar aqueles lindos olhos negros. A namorada lhe deu um sorrisinho e a beijou em seguida. Sentir seus lábios era tudo o que faltava naquele momento. Ela era tudo o que precisava e mais nada...
As duas ficaram até cedo na noite trancadas no quarto, apenas matando as saudades. Logo Lia se sentia melhor da grande decepção do dia. Às sete e meia da noite, Pedro lhe mandou uma mensagem, avisando que os pais já haviam chegado e perguntavam por ela.
— É melhor eu ir logo — apressou-se, levantando da cama e vestindo a roupa.
— Não vai nem jantar comigo, primeiro? — Liz fez uma carinha de decepção e não pode resistir a isso. — Eu juro que a gente não demora.
Lia ficou ali em pé, apenas olhando-a. Liz estava nua e deitada sobre os lençóis brancos. Era sempre uma linda visão. Não iria resistir ao seu pedido.
— Ok. Eu janto com você, mas tem que ser rápido.
— Tudo bem.
Em dez minutos as duas já estavam saindo da pousada e foram até a pizzaria mais frequentada da cidade. Sentaram ao lado uma da outra e logo Liz abraçou-a, aconchegando o corpo ao seu. Assim fizeram o pedido.
— Então eu fico logo até o final de semana? — A rockeira puxou assunto enquanto esperavam a pizza.
— Não sei. Talvez seja melhor você ir amanhã ou sexta já que veio hoje — Lia tinha medo do que os pais falariam, mas dependendo da reação deles, pediria para que ela ficasse.
A namorada apenas ficou calada e bufou, parecendo impaciente. Lia entendia a frustração dela, pois se sentia da mesma forma. Sabia que seria difícil namorar com toda a supervisão dos pais já que estavam acostumadas à liberdade que tinham na cidade.
— Liz, por favor...
— Isso está chato. Qual a diferença de eu ficar ou não? Você já passa a semana toda em casa sem fazer nada. Poxa...
— Calma, minha rockeira, por favor! — Lia tocou em sua face delicadamente e lhe deu um selinho. — Vamos ter mais um pouquinho de calma. Logo as férias acabam e vamos voltar para a cidade. Daí vamos dormir juntas todas as noites como sempre.
— Hum! — exclamou ainda séria. Liz não a olhava e parecia pensar em algo. — Tenho certeza que eles vão fazer você vir todo final de semana para cá de agora em diante.
Lia já havia pensado naquilo. Com certeza os pais iriam “encrencar” mais com a sua liberdade. Só esperava que o assunto do intercâmbio não se tornasse um agravante nisso tudo.
— Liz, não vamos pensar nisso. Eles estão se acostumando mais a você. Sei que não vão implicar tanto assim. Você mesma que vivia me pedindo paciência.
— Ok, desculpe! — A namorada pediu e parecia confusa. — É que eu sinto saudades, sei lá. Mesmo com a notícia ruim de hoje, mas fiquei feliz que tenha me chamado para vir. Só queria te ver e ficar com você.
— Eu sei e eu também queria ficar com você. Sou péssima em lidar com a distância — Lia abraçou-a ainda mais em compreensão. — Não é fácil, mas logo as coisas vão mudar, ok?
— Ok.
As duas ficaram de chamego por algum tempo, até que perceberam olhares desaprovadores de uma família que estava sentada em uma mesa próxima. De forma deliberada, eles saíram e se mudaram para a parte de trás da pizzaria a fim de ficar longe das duas. Lia se sentiu mal e estranha com a situação, já Liz parecia estar com raiva.
— Que idiotice! — A rockeira vociferou brava. — Essas pessoas são retrógradas demais.
— Fica calma, amor — Tentou apaziguar a situação, a namorada estava mais estressada que o normal naquele momento. — A gente também deu bandeira demais...
— Deixa de falar besteira, Lia — Liz explodiu, o que a pegou de surpresa e deixou chateada já que se sentia frágil naquele dia. Queria entender por que ela estava agindo que nem idiota. — Nós não fizemos nada demais.
— Vai me engolir? — Lia devolveu no mesmo tom. Não ia ficar aguentando as grosserias dela, ainda mais naquele dia tão decepcionante. — Te chamei aqui hoje para me ajudar a distrair e não para me deixar pior.
— Eu sei muito bem porque você está assim. Acha que eles vão me culpar por não ter passado na prova, não é? Me diz!
O coração de Lia acelerou. Era exatamente disso que tinha medo, mas não queria criar uma má situação entre ela e os pais.
— Não tem nada a ver com isso! — mentiu descaradamente. — Eu só estou triste. Não sei porque você está pirando assim, do nada.
Liz sorriu sarcasticamente e afastou-se dela.
— É melhor eu ficar calada.
— Eu acho melhor você ficar mesmo.
Depois daquilo elas permaneceram em um silêncio incômodo. Fizeram a refeição caladas e sem olharem uma para a outra. Aquela não era bem a situação que Lia tinha em mente quando a chamou para vir. Por sorte haviam passado a tarde bem, mas algo saiu errado. Liz estava ficando sem paciência com as regras dos seus pais, podia sentir isso a cada vez que se encontravam.
A rockeira pagou a conta sozinha e levou-a para a casa. Já era quase nove da noite. Elas se despediram friamente e Lia entrou em casa desolada e sentindo um aperto no peito. Brigar com ela era a última coisa que precisava naquele momento e já fazia um bom tempo que não discutiam.
— Estava com a Liz? — Sua mãe especulou assim que apareceu na cozinha. — Ela não vai poder vir no fim de semana?
— Eu que pedi para ela vir, hoje — Lia não quis dar muitos detalhes. Não ia permitir que ela se metesse em seu namoro. Precisava logo dar a notícia aos dois e tirar suas conclusões. — Onde está o papai? Preciso conversar com vocês dois.
— O que aconteceu? — A mãe preocupou-se.
— Calma, não foi nada grave.
— Bem... seu pai está na garagem. Quer ir até lá?
— Vamos!
Nervosa, ela e a mãe foram até onde ele estava. Os dois apenas a escutavam atentos.
— Então, saiu hoje o resultado do intercâmbio.
Assim que disse isso, os pais arregalaram os olhos em expectativa e se aproximaram dela.
— E? — O pai a incentivou a contar o resto.
— Infelizmente eu não consegui a vaga — declarou tristonha e olhou para o chão. Não queria ver as suas faces de decepção. Doía ainda admitir aquilo em voz alta.
— Ah, minha menina. Sinto muito! — A mãe abraçou-a com carinho. — Sei o quanto você sonha com isso.
— Obrigada, mãe.
Lia suspirou aliviada. Tinha medo de tudo voltar a ficar estranho novamente por conta disso. Ao menos sua mão estava lhe dando apoio. Voltou a olhar para o pai, que parecia triste, mas ele também nada disse, apenas juntou-se as duas e abraçou-a.
— Sinto muito, filha. Sei que outras oportunidades vão surgir.
— Espero que sim, pai — Lia se sentia frágil e teve que se esforçar para não chorar. Juntou a decepção de si mesma com o medo deles colocarem culpa em Liz e de quebra a briga que teve com a namorada. O dia não estava mesmo ao seu favor. — Sinto muito por eu ter perdido essa vaga.
— Tudo bem, vamos seguir planejando para o fim do curso como sempre —Horácio acalmou-a. — Vamos realizar esse sonho.
A irritadinha ficou com o coração bem mais leve e tranquilo, se bem que ainda desconfiava daquela calma toda. Depois deles conversarem mais um pouco, retirou-se para o seu quarto, tomou um banho e deitou-se.
Pegou o seu celular e não havia nenhuma mensagem de Liz. Resolveu ligar para ela, que não a atendeu. Seu coração doeu com a recusa. Queria entender porque ela estava agindo daquela forma. Geralmente ela que sempre a acalentava e só Deus sabia como estava precisando dela naquele momento.
Colocou o telefone de lado e encolheu-se na cama, derrubando algumas lágrimas. Seu gato, Gru, apareceu pelo quarto miando e pulou em sua cama. Lia o acolheu em seus braços e ficou sentindo a quentura macia dele e de uma forma engraçada, o seu ronronado acalmou-a até adormecer.
Quando acordou-se no outro dia, a primeira coisa que fez foi checar seu celular. Sua cabeça doía um pouco devido ao choro da noite passada. Liz havia lhe mandado uma mensagem. Apesar de ter ficado com raiva, abriu a conversa com expectativa:
Liz: “Desculpe não ter atendido sua ligação, fiquei com medo de falar mais besteiras e te chatear mais ainda. ”
Ainda estava chateada, mas ao menos ela havia lhe dado uma satisfação. Era melhor não falar nada, não queria voltar a brigar com ela, por isso resolveu evitar e apenas digitou:
Lia: “Ok”
Já passava das nove quando desceu para tomar o café-da-manhã. Encontrou Pedro mexendo em seu notebook. Ele estava sentado no sofá do deck e parecia extremamente concentrado.
— Lia, vem aqui! — chamou-a com urgência assim que a viu.
— O que foi, mano?
— Foram abertas as inscrições para usar a nota do ENEM. Me ajuda!
Imediatamente Lia sentou-se ao lado dele e os dois começaram a ver o curso de engenharia e as notas de corte. Pedro não teria muito com o que se preocupar, a nota dele tinha sido ótima, ainda maior do que a dela, com certeza ele conseguiria passar para a federal como tanto queria. Eles passaram a manhã toda nisso, o que foi bom, pois ajudou-a a distrair-se dos próprios pensamentos.
Pela noite os pais se alegraram quando Pedro contou que já havia se inscrito na mesma federal que Lia e que agora era só esperar os resultados saírem na outra semana. Ela e Liz não se falaram naquela noite e sentia aflição com isso, mas daria tempo para que a chateação dela amenizasse, não sabia se ela ainda estava ali na cidade, talvez tivesse ido embora chateada.
Lia só não estava mais preocupada, pois as férias já estavam praticamente no final e já voltaria para a cidade na próxima semana, não via a hora desse momento chegar. Precisava de mais tempo com a namorada.
No sábado depois do almoço, Lia se sentia super entediada, não tinha mesmo nada para fazer ali. Estava em sua escrivaninha escrevendo coisas aleatórias no caderno. Nunca mais havia feito aquele tipo de coisa, mas sempre havia gostado de escrever seus próprios pensamentos para organizar a mente e naqueles dias estava precisando mesmo fazer aquilo.
Seu telefone tocou, despertando-a. Agitou-se em expectativa quando viu o nome de Liz no visor. Suspirou antes de aceitar a chamada e atendeu em tom de voz ameno:
— Oi.
— Oi. Você está em casa agora? — A namorada parecia sem jeito.
— Estou sim, por quê?
— Eu estou aqui fora. Será que a gente pode conversar um pouco?
Seu coração disparou de felicidade. A coisa que mais queria era se acertar com ela.
— Claro! Estou descendo para abrir o portão.
Liz estava à sua espera no portão e pela primeira vez não atirou-se nos braços dela. Precisavam conversar primeiro antes de qualquer coisa. As duas se cumprimentaram sem jeito e a namorada a seguiu para dentro de casa. Liz falou com Horácio e Nádia assim que se encontrou com os dois na sala, aparentemente estava tudo normal entre os três, o que a deixou aliviada.
Assim que entraram no quarto, Lia trancou a porta sem se importar se os pais iriam falar ou não. Precisava de espaço e privacidade.
— Você estava aqui na cidade desde aquele dia? — resolveu ir direto ao ponto.
— Não, eu fui embora na quinta, mas decidi voltar hoje. Acabei de chegar — Liz estava tímida e sem jeito. Lia tinha vontade de rir, era incomum vê-la assim. — Desculpe por ter agido daquela forma com você.
— Tudo bem! — viu que a namorada admirou-se com sua calma, mas é que apesar de tudo, conseguia entender a frustração que ela sentia. Tinha que admitir que sua rockeira estava sendo paciente demais com tudo e merecia um prêmio, também só queria ficar bem com ela.
— Tudo bem, mesmo? — perguntou desconfiada e semicerrou os olhos.
Lia não pôde evitar sorrir.
— Está sim. Eu só quero ficar bem com você.
Dessa vez foi Liz quem abriu um largo sorriso. As duas se abraçaram com carinho e se beijaram em seguida. Era tão bom ficar assim com ela, simplesmente perfeito. A rockeira parecia aliviada e feliz. Deitaram em sua cama e apenas ficaram matando as saudades e deram um belo amasso.
De noite elas jantaram com seus pais, que pareciam cada vez mais curiosos em saber mais sobre a namorada. Lia tinha que contar logo tudo sobre Liz, não era certo ficar ocultando aquela parte da vida dela. Se bem que seus pais estavam a surpreendendo bastante e de forma positiva.
No domingo elas foram para o quarto na pousada de Liz e passaram o dia quase todo fazendo amor. Não tinha um jeito mais perfeito de passar tempo na sua opinião. Era bom demais trans*r com ela, nem queria mais pensar na sua vida sem aqueles toques dela. Adorava sentir a boca dela em todo o seu corpo e em seu sex*, levando-a à loucura. Sem falar no corpo dela no seu. Eram sensações perfeitas demais para ficar sem.
Liz foi embora cedo da tarde com a promessa de vir busca-la na sexta para, finalmente, voltarem para a cidade, mal podia esperar para voltar àquela rotina de estudos, namoro e as saídas no fim de semana. Seria um grito de liberdade depois de quase dois meses de tédio profundo em casa.
Na terça-feira à noite, ela, os pais e Pedro estavam todos reunidos na sala e assistindo ao noticiário na TV, quando, de repente, começaram a falar sobre a empresa Vargas e Moraes. Eles relataram um fato revoltante sobre a companhia ter desapropriado várias famílias de suas casas com o propósito de construir um condomínio de luxo.
Primeiro eles fizeram entrevistas com os moradores revoltados e desabrigados, mostrando o total descaso com o qual foram tratados. Ela e Pedro se olharam cúmplices. Liz havia mesmo lhe contado sobre aquela situação toda e que Luísa estava lutando contra Flávio nesse empreendimento inescrupuloso.
Os pais assistiam atentamente a notícia e Lia ficou apreensiva com o que eles iriam falar. Ao menos no final da reportagem, foi dito que a empresa finalmente havia tomado medidas apropriadas e estavam liberando uma quantia justa de indenização para todas as famílias prejudicadas, mas que mesmo assim, eles ainda estavam com problemas na justiça por conta disso.
— Essas pessoas ricas estão pouco se importando com os outros. Esse tipo de coisa me deixa revoltado — Horácio exclamou aborrecido.
— De fato é realmente muito desumano o que fizeram, mas ao menos indenizaram a todos — A mãe declarou pensativa. — Mas é mesmo péssimo para imagem deles isso.
— Eu tenho o sonho de estagiar lá um dia — Pedro falou, chamando a atenção dos dois. — Apesar de tudo é uma das maiores construtoras do país.
— Sim, é verdade, mas a que preço? — O pai retrucou. — Pelo menos eu nunca vi eles metidos em esquemas sujos políticos, ao menos que eu saiba. Também não duvido. Isso só me faz pensar no desastre que aconteceu há algum tempo atrás em que um dos diretores se matou. Essa família é doida, isso sim.
— Ah, é verdade. Eu também lembro disso.
Lia apenas ouvia a tudo apreensiva. Estava surpresa que eles soubessem tanto assim sobre a história da empresa, mas é claro que aquilo devia ter sido super noticiado na época, afinal, a mídia jamais perderia a oportunidade de dissecar o ocorrido o quanto fosse possível.
Sabia que aquele era o momento de falar alguma coisa e sentia o olhar do irmão em si. Por fim, decidiu tomar coragem de dizer algo.
— Não acho que Luísa seja capaz de se envolver com tramoia. Ela é uma mulher justa e direita — arriscou com o coração batendo forte.
Os pais a olharam com estranheza.
— Quem é Luísa? — Horácio perguntou.
— É a atual diretora do grupo.
— Não sabia que você se interessava por essas notícias, filha — Nádia disse inocentemente. — Mas como pode afirmar que ela é uma boa pessoa?
— Porque eu a conheço.
Mais uma vez os dois olharam para ela sem entender nada.
— Eu preciso contar uma coisa a vocês — Ela trocou olhares com o irmão e ele a incentivou a dizer tudo.
— O que é dessa vez? — Horácio parecia sério.
— Na verdade a Liz é a herdeira da empresa. Desculpem por eu não ter contado isso antes.
Os pais pareciam não acreditar no que ouviam, tanto que os dois passaram um bom tempo sem saber o que dizer, a mãe foi a primeira a quebrar o silêncio.
— Mas faz todo o sentido. Liz é órfã e disse que a família é dona de uma construtora. Por que vocês esconderam isso? — Dona Nádia parecia incomodada.
— Eu só não queria que criassem uma imagem errada da Liz.
— Imagem errada? — Horácio parecia confuso. — Por que está dizendo isso? Acha que iríamos nos impressionar com o fato da nossa filha namorar uma multimilionária?
— Não é isso, pai. Apenas não queria que a julgassem. Liz é uma pessoa simples, ela não liga para esse tipo de coisa.
— Não somos pessoas mesquinhas, Liana — Nádia parecia magoada. — Não precisavam ter omitido isso.
— Eu sei, desculpe. É que vocês não aceitaram bem a nossa relação de primeira e não queria que pensassem besteiras...
— O que mais você vem escondendo de nós? — O pai perguntou aborrecido.
— Não estou escondendo nada, pai. Eu só não tinha dito esse detalhe ainda.
— Liz não tem nada a ver com isso. Eu que pedi para não contar nada. Queria que vocês a aceitassem mais para poder dizer.
— Eu entendo o lado da Lia — O irmão veio em seu socorro. — A Liz é uma pessoa simples, ela não gosta de se mostrar com essa informação à toa.
— Não é uma informação à toa, Pedro — Nádia ralhou. — Somos os pais da Lia e merecíamos a verdade já que ela quer fazer parte da nossa família.
Lia ficou sem saber o que dizer com as palavras da mãe. Eles estavam mesmo levando à sério o relacionamento das duas e agora estava mesmo arrependida por não ter dito nada antes.
— Pedro, tudo bem. Eles estão certos. Eu devia ter contado logo — assumiu arrependida. — Mas eu espero que isso não mude as coisas para vocês.
— É claro que não vai mudar. Não sei o que se passa na sua cabeça a respeito de nós, mas as duas continuam devendo obediência às nossas regras, não ligo se ela é rica ou não, a gente só se preocupa com você. Espero que o fato dela ser rica não mexa é com a sua cabeça, isso sim — O pai declarou seriamente.
Aquilo era o que Lia mais temia, que eles pensassem que ela estava se acomodando a tal situação. Ela também não ligava nada para o dinheiro de Liz, até porque apaixonou-se sem ter ideia de que ela era rica. Era totalmente irrelevante.
— Mas não precisam se preocupar com isso — disse de modo firme. — Eu me envolvi e me apaixonei por Liz sem saber que ela era rica. Isso não faz diferença nenhuma para mim.
— Eu espero mesmo que assim seja — A mãe falou daquela vez. — Liz tem o rumo dela e você tem que ter o seu independentemente de qualquer coisa.
— Com certeza — concordou veemente. — Meu relacionamento com ela não afeta em nada as minhas escolhas, nem precisam dizer nada sobre isso.
O silêncio reinou na sala e antes que as coisas ficassem mais esquisitas, declarou estar com sono e retirou-se para seu quarto. Lá, ligou para Liz, contando sobre a reportagem e que finalmente havia contado tudo para os pais, claro que omitiu certa parte, mas tirando aquilo, até que os dois tinham reagido bem de verdade. Haviam avançado mais uma etapa com eles, juntas.
***
Era quarta e Lia começou a arrumar a sua bolsa para voltar na sexta para a cidade, quando recebeu uma ligação de Cris.
— Oi Cris — atendeu-a toda feliz.
— Oi, miga. Está tudo bem por aí?
— Está sim, eu já estou arrumando minhas coisas para voltar na sexta e você está onde?
— Eu estou aqui com meus pais. Você não está sabendo ainda?
— Sabendo o quê?
— A universidade entrou em greve. Adiaram as aulas, está no site já. Estava demorando até, não acha?
Lia não conseguiu acreditar no que estava ouvindo. Era mesmo muito azar, logo agora que ela e Liz estavam na expectativa de finalmente tudo voltar ao normal...
***
Fim do capítulo
Pois é, greve mesmo!!! E agora o que será que nosso casal vai fazer?
Primeiro, desculpem pela demora nas postagens, mas estou fazendo todo o possível.
Esse capítulo ficou curtinho, mas espero que gostem.
Espero muitos cometários e, por favor, não esqueçam de classificar o capítulo.
Beijinhos 😘
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Aurelia
Em: 06/04/2020
Aí não, agora que as duas entrariam na rotina, tá em greve. A Liz como vai ficar com relação a empresa, o tio fez a proposta e ficou por isso mesmo. A tia dela deve está passando apuros com esse cara fazendo essas sacanagens e sujando o nome da empresa. Volta logo viu. Abraços
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