drama, drama, drama...
Capitulo 38 - A calmaria antes da tempestade
Capítulo 38 – A calmaria antes da tempestade
Pov Lia
Lia passou um bom tempo muda ao telefone, processando a bomba que a amiga havia acabado de soltar. Era muito azar mesmo que uma greve fosse acontecer logo agora.
— Lia, are you there? — Cris perguntou em inglês, chamando sua atenção.
— Oi, estou sim. É só que ainda não ‘tô acreditando nisso. Puta que pariu! — exclamou enraivecida.
— Calma, miga. Vamos ter férias prolongadas. Por que está com tanta raiva?
A irritadinha suspirou e se pôs a contar tudo o que estava acontecendo. Ainda não tinha falado com ela sobre o resultado do intercâmbio também e desabafou sobre isso até a impaciência de Liz.
— Eu não sabia que as coisas estavam assim. Pensei que tudo estava se acertando entre vocês.
— Aparentemente as regras dos meus pais estão incomodando Liz. Nem posso reclamar, ela me deu tanta força, já foi tão paciente e compreensiva. Eu só queria que eles ficassem mais tranquilos com a nossa relação, sabe? Tenho medo deles ficarem falando besteiras sobre nós duas.
— É, Lia. Complicado mesmo, mas eu te entendendo. Já foi um avanço eles terem aceitado depois de tudo, mas é foda eles quererem ficar te controlando assim. Aliás, falando nisso, você lembra que domingo é meu niver, não é?
Fechou os olhos, não estava mesmo lembrando do niver da amiga. Ultimamente tantos probleminhas vinham surgindo que havia esquecido desse detalhe, mas mentiu para que ela não ficasse chateada.
— Claro que lembro. Inclusive eu já ia voltar na sexta para gente poder combinar alguma coisa. O que vai fazer agora?
— Bem, eu estava pensando em voltar na cidade só para resolver a questão do aluguel. Minha mãe disse que não vai ficar com esse gasto já que nem sabe por quanto tempo vai rolar essa greve.
— É, com certeza meus pais também não vão querer pagar.
Lia deitou-se sobre a cama e ficou apenas conversando com a amiga. Aparentemente, Cris iria passar o niver com eles na cidade e depois de esvaziar o apê, voltaria para casa. Ao menos poderia usar esse pretexto para passar uma semana na cidade com Liz e longe da supervisão dos pais.
Ao sair da ligação, Lia suspirou e esfregou as mãos na face extremamente irritada. Xingou a universidade na solidão de seu quarto por algum tempo e colocou rock alto para tocar em seu rádio. Não queria aceitar aquela situação ainda. Logo teria que conversar com Liz sobre isso e também com os pais. Estava farta com tanta má notícia rolando ultimamente.
***
Pov Liz
Liz dirigia calmamente pela estrada ao som de um pop romântico qualquer que a namorada havia escolhido. As duas estavam em completo silêncio durante todo o caminho, a tensão entre elas era palpável. Pedro ia no banco de trás e também não se atreveu a puxar assunto. Ainda estava tentando digerir como iria lidar com essa distância forçada entre as duas. Pensava que a greve não poderia ter vindo em pior hora.
Lia ligou na quarta-feira lhe dando péssimas notícias. Primeiro sobre a greve e depois sobre o corte do aluguel do apartamento que dividia com Cris. Obviamente que seus sogros não iriam ficar pagando algo que não teria previsão de retorno, mas o pior é que elas continuariam com a relação regulada por eles mais esse período. Não poderia nem descrever o quão frustrada estava com aquilo.
Sentia o quanto sua irritadinha também estava farta e estressada com a situação e mesmo Liz estando frustrada, controlou-se em não parecer tão pessimista e tacar mais lenha na fogueira. Ao menos elas estavam indo rumo à cidade e passariam uma semana juntas para que Lia pudesse resolver algumas coisas sobre a mudança de seus pertences.
Quando os três chegaram, Cris já estava no apartamento e empacotava suas coisas junto de Alberto. Os cinco se cumprimentaram e logo Lia a chamou para o quarto dela. Estava tudo um pouco empoeirado e ainda em silêncio, Liz começou a ajudá-la a guardar as coisas em caixas. Tudo deveria estar devidamente pronto para que o frete de mudança levasse tudo na segunda. Eles praticamente passaram o dia inteiro apenas nisso. Teve a ideia que deixar alguns poucos móveis e a geladeira guardados em seu próprio apartamento para que elas não tivessem o trabalho de vender tudo e ter que comprar depois quando as coisas voltassem ao normal e de bom grado, Lia e Cris aceitaram sua proposta.
— Tem certeza que não vai ser um incômodo? — Cris perguntou preocupada.
— Imagina. Lá em casa tem dois cômodos praticamente vazios que nem uso. Não vai ser incômodo algum. — Obrigada mesmo, Liz — agradeceu a amiga feliz. — Espero que logo as coisas possam voltar ao normal.
— Diz aí se a minha cunhada não é a melhor? — Pedro se gabou, tirando uma risada de todo mundo e quebrando o gelo.
Lia ria ao seu lado e depois aproximou-se de si, abraçando-a pela cintura.
— Obrigada por tudo, amor.
A rockeira apenas sorriu e deu um selinho nela. Mesmo com as chatices, sabia que tudo valia à pena para poder estarem juntas. Pela tarde eles se ajeitaram e partiram para a praia a fim de comemorar o niver de Cris.
Liz havia cedido sua casa de praia e juntaram uma galera. Ela e Lia convidaram os meninos da banda para tocarem e animarem o final de semana. Também levaram Vivi e Pedro e Alberto convidou alguns amigos da universidade.
Se sentia ansiosa para tocar com os meninos novamente, estava com saudades de fazer aquilo e nada melhor do que fazer isso de novo pela primeira vez do que para amigos.
Assim que chegaram na casa, tudo estava como sempre lembrava. Podia ver o sorriso no rosto de Lia, era o mesmo que carregava ao lembrar da primeira vez das duas ali. Assim que estavam à sós, a namorada lhe abraçou pela cintura.
— Tenho tantas lembranças incríveis nessa casa.
— Eu também, minha irritadinha. A melhor noite da minha vida.
Lia sempre se emocionava quando ela lhe dizia aquelas coisinhas fofas.
Em resumo, o final de semana foi de muito excesso, literalmente. Tanto de diversão e música quanto de bebidas. Eles viraram a noite de sexta para sábado e amanheceram o dia na praia. Pela tarde todo mundo dormiu e descansou. Por sorte a casa era espaçosa o bastante para abrigar a todos.
No sábado à noite, fizeram uma fogueira na praia e um luau. Meia-noite cantaram parabéns para Cris, que estava adorando tudo e Liz ficou feliz em ver que todos se divertiam. Tinha saudades de cair na zorra daquele jeito depois de meses andando na linha.
Pela madrugada todo mundo tomou banho na piscina e assaram carne até tarde, também com muita bebida. Lia tomou um porre daqueles e passou a noite toda vomitando no banheiro. Pacientemente, Liz segurava seu cabelo todas as vezes e lhe deu remédio. Ela estava mesmo precisando extravasar toda a irritação que sentia.
O domingo foi bem mais calmo e praticamente passaram a manhã toda, dormindo e descansando. Decidiram ir embora logo depois do almoço e descansarem para o começo da semana.
Segunda-feira cedo o carro da mudança chegou e levou os pertences das duas para o apartamento de Liz, onde ficariam guardados até o fim da greve. Cris voltou na terça para a casa dos pais.
Pedro permaneceu com elas e Vivi em seu apartamento. Ao que parecia, ele havia conseguido a vaga de engenharia que tanto queria na mesma universidade das duas e começaria no próximo semestre. Ele estava para lá de feliz e Lia o exibia orgulhosa. Liz o parabenizou pela conquista e logo ofereceu um estágio em sua empresa. Bom mesmo foi a cara de surpresa e felicidade que ele fez ao ouvir aquilo.
— Caramba, Liz! Seria um sonho realizado, nem posso acreditar que vou ter uma oportunidade dessas.
— Você merece — encheu a bola dele e o abraçou. Gostava verdadeiramente de Pedro, ele parecia uma versão masculina da namorada, tirando a parte da irritação, os dois eram muito parecidos.
Depois do almoço, as duas foram para o quarto de Liz e deitaram na cama.
— Obrigada por tudo, Liz — agradeceu Lia toda manhosa.
— Está agradecendo pelo quê? — Abraçou-a pela cintura e a beijou.
— Por tudo. Eu já disse o quanto te acho incrível?
Liz sorriu abertamente, era sempre bom receber elogios dela, seu coração se enchia de ternura.
— Não precisa me agradecer por nada, linda. Faço tudo por você.
Elas apenas se beijaram carinhosamente e trocaram carícias por um tempo, até que Lia trouxe à tona o assunto que estavam evitando.
— O que vamos fazer agora?
— Como assim?
— Você sabe, Liz. Agora com essa greve tudo vai continuar como estava.
A rockeira suspirou um pouco incomodada. Queria mais a namorada para si. Sabia que estava sendo egoísta, mas tampouco queria causar qualquer tipo de atrito entre ela e os pais. Apenas queria que eles tentassem ser mais liberais.
— Eu não sei o que fazer. Sei lá...
— Também não sei.
— É que não entendo que diferença faz. Se eu posso ir para lá todo final de semana então por que não posso te trazer para ficar comigo? Eles pensam mesmo que isso nos impede de trans*r ou seja lá o que for?
Lia riu sem humor e balançou a cabeça negativamente.
— É um pouco complicado, Liz. Eles têm medo de que eu possa me perder ficando com você. Que eu deixe de priorizar alguma coisa por causa do nosso relacionamento...
— Eles me culparam por você ter reprovado no intercâmbio, não foi? Me diz a verdade!
— Não, eles foram carinhosos e compreensivos. Nem tocaram no seu nome.
Ela parecia falar a verdade. Liz fazia de tudo para ter uma boa convivência com os sogros, mas podia sentir que eles ainda pareciam distantes e relutantes em confiar nela. Principalmente agora que sabiam sobre a sua família.
— Lia, você não é mais nenhuma garotinha indefesa. Já é maior de idade e responsável. Será que eles não podem desencanar um pouco? Te liberar mais?
A namorada apenas a encarou pensativa e nada disse. Aquilo era o que mais lhe frustrava, Lia parecia ter medo deles, como se precisasse da aprovação deles para tudo e ainda tivesse vergonha da relação delas.
— Deixa para lá...
— Desculpe por tudo isso. Eu sei que você merece mais é só que...
— O quê?
Lia a olhou aflita e suspirou.
— Só quero que eles saibam que nada mudou. Eu ainda sou a mesma filha de sempre.
— Mas você mudou, Lia — Liz sentou-se na cama e segurou bem as mãos delas. — Você tem medo de quê? Deles acharem que não é mais uma garotinha inocente que adorava ficar em casa lendo? Você não é mais essa garotinha e não significa que seja ruim ter mudado...
— Eu sei disso, Liz. Claro que não sou mais a mesma. Como você mesma disse, mudar não é ruim, eu só quero que eles saibam que foi uma mudança boa. Que eles te vejam da mesma forma que eu vejo, entende?
Liz entendia sim o que ela queria. A aprovação deles em tudo. No fundo a namorada ainda queria continuar sendo uma garota certinha para agradá-los. A maior preocupação que a rockeira tinha era de não afastar a namorada dos pais, isso era coisa certa, porém, as coisas vinham lhe incomodando nos últimos tempos.
— Eu entendo, mas nem sempre os pais entendem. Você já é responsável pelas suas decisões, não acha? — disse firme e seriamente.
— Sim, eu sou, mas ainda sou dependente, infelizmente. Preciso respeitar as regras deles.
Uma ansiedade lhe tomou naquele momento. Teve vontade de fazer algo, mas refreou-se. Seria perfeito, mas não era momento para isso.
— Eu sei. Tudo bem. Tente ao menos negociar alguns finais de semana longe comigo e vamos encerrar o assunto.
A namorada aproximou-se toda manhosa e lhe deu um beijo apaixonado.
— Você tem razão. Eu vou conseguir mais tempo para nós, ok?
Foi impossível não sorrir. Adorava quando ela ficava toda carinhosa e compreensiva. Odiava quando brigavam por algum motivo.
Lia prometeu aos pais que voltaria na próxima segunda feira, o que foi perfeito. Liz já tinha saudades de dormir, sentindo o corpo dela no seu e de saírem para onde quisessem sem hora para voltar. Durante a semana elas aproveitaram bastante uma à outra entre quatro paredes e também a companhia de Pedro e Vivi, os quatro saiam sempre.
Na sexta à noite, Liz os levou até o seu bar. Pedro ficou encantando com o local, parecia Lia na primeira vez que a levara até lá. Eles se divertiram e beberam bastante, até dançaram no salão sob aplausos. Era tão bom se sentir livre assim. Quando saíam na cidade de Lia, sentia os olhares das pessoas e o incômodo dela, não ficavam totalmente à vontade.
Sábado eles foram para a praia cedo e lá passaram o dia. Liz sorria ao ver a namorada se lambuzar toda ao comer caranguejo. Sabia o quanto ela amava frutos do mar e não deixou que faltasse petiscos de camarão na mesa. Eles voltaram no fim da tarde para o seu apartamento e apenas ficaram jogando conversa fora na sala.
No domingo foram ao cinema e fizeram compras pela tarde. Liz sentia falta de fazer aqueles programas todos com Lia, era perfeito tê-la sempre ao seu lado e sabia que era aquilo que queria para o resto da sua vida.
Liz os levou de volta na segunda-feira e Lia a deixou partir com a promessa de que o próximo fim de semana seria diferente. Voltar sem ela foi mais suave daquela vez. Sentia que haviam aproveitado bem a semana toda e a saudade estava saciada ao menos um pouco.
A rockeira focou suas atenções para o seu bar e para a banda. Eles voltaram a ensaiar e começaram a agendar apresentações, aquela era outra coisa que estava sentindo falta, de tocar e se reunir com todos, principalmente com Jack, seu grande amigo.
Durante a semana, Luísa ligou a fim de saber como estavam as coisas e Liz informou sobre a greve.
— Ah, essas greves! — reprovou do outro lado da linha. — O ruim é isso, a demora em se graduar, mas você não quis uma particular.
— A pública é a melhor, tia.
— Eu sei, eu sei. Não sabe o orgulho que senti quando disse que havia passado com nota máxima para esse curso e ainda mais com tão poucas vagas. Isso só reforçou o que eu já sabia, o quanto é inteligente.
Liz sorriu da tia, ela sempre se exibia com esse resultado. Talvez porque fosse um dos poucos orgulhos que já dera a ela além de preocupações e desgostos.
— Obrigada, tia, mas não é para tanto. Agora me diz como estão as coisas com o Flávio?
— Ah! — Luísa soltou um longo suspiro, ela parecia cansada. — Nada bem. Ele foi contra a indenização até as últimas consequências e agora está me enchendo o saco para saber da proposta que te fez. Você bem que podia aproveitar essa greve e passar uns dias comigo na empresa.
Liz não soube o que dizer, a tia tentava lhe incluir nos negócios a todo custo. No fundo, se sentia feliz por saber que ela nunca havia desistido de si, devia tanto a ela. A ideia lhe pareceu tentadora, mas quando lembrava em ficar longe de Lia, a vontade que sentia em arriscar caía por terra. Com certeza se veriam bem menos caso fosse para junto da tia.
— Eu não sei, tia...
— Pode ficar à vontade para trazer a Lia. Sei que vão sentir saudades uma da outra. Ela sempre será muito bem-vinda aqui.
— Quem me dera fosse tão fácil! — exclamou pensativa. — Os pais dela iriam encrencar por ela ir comigo até outra cidade passar muito tempo longe de casa. Eles são meio reguladores.
— Não teve progresso nenhum com eles ainda?
— Tive sim. Finalmente eles concordaram em me conhecer e me tratam com respeito, mas sinto que não confiam em mim.
— Já é um começo, querida. Tenha um pouco mais de paciência, tudo bem?
— É só o que tenho feito ultimamente. Me munir de paciência. Para quem sempre viveu meio sem regras estou comportada até demais.
— Isso eu preciso concordar. A magia da Lia foi forte mesmo.
Liz gargalhou. Já era fato o quanto era trouxa pela namorada. Todos sabiam disso.
— Nem me fale!
— Fiquei tão feliz em ver o tipo de menina que ela é, bem diferente daqueles seus casos doidos. Lia é uma menina doce e se importa com você de verdade.
— Eu sei disso e não vou perdê-la. Eu não aguentaria.
— Bem, eu preciso ir agora. Vou entrar em uma reunião importante, mas desde já, pensa bem sobre passar uns dias aqui comigo. Sei que vai encontrar uma forma de fazer dar certo.
— Tudo bem, tia. Obrigada!
— Por nada, querida. Tchau!
A ligação deixou Liz pensativa por vários dias. Estava mesmo considerando a possibilidade de aceitar a proposta da tia, mas teria que falar com Lia sobre isso. Acima de qualquer coisa, seu maior temor era com as sensações que poderiam lhe tomar com a lembrança dos pais, não se sentia preparada ainda para aquilo. Não havia mais pisado na empresa desde que tudo havia acontecido. Seria demasiado doloroso...
***
Pov Lia
Lia teve uma boa conversa com os pais a respeito de seu tempo com Liz. Por sorte, sua mãe foi mais compreensiva e seu pai, ainda que meio relutante, acabou aceitando algumas condições. Juntos, eles decidiram que elas poderiam ter mais momentos a sós em semanas alternadas e da forma que desejassem. Até que foi uma conversa proveitosa.
A namorada ficou mais do que feliz ao saber das notícias e por telefone elas começaram a fazer planos. Liz dizia que queria viajar com ela para os lugares mais lindos e românticos e que agora começaria a usar bem a herança da família.
A irritadinha ficava receosa, pois sua rockeira sempre arcava com praticamente tudo quando saíam juntas e aquilo lhe incomodava muito. Talvez devesse procurar algum emprego de meio período. Se bem que seus pais não iriam querer que ela dividisse a atenção com os estudos, mas tantos colegas seus faziam isso. Não que seus pais não lhe dessem uma boa mesada por mês, porém, não gostava de abusar.
O mês de fevereiro e Março correu tranquilamente e enquanto isso, Pedro e os pais preparavam a sua ida para a cidade junto com Lia já que ele havia passado para a mesma federal que ela. Sendo assim, como o aluguel havia sido desfeito os pais decidiram que iriam procurar por um apartamento maior para que o irmão morasse com ela e Cris. Seria perfeito.
Nos finais de semana liberados, ela sempre ia para a capital com Liz, que havia voltado a tocar com sua banda e revezavam entre isso, ir à praia ou aproveitar o frio de uma boa serra, sempre a sós.
Nos últimos tempos as duas sentiam uma necessidade cada vez maior de passar um tempo apenas uma com a outra e desfrutar o máximo possível. As brigas nunca acabavam, obviamente. Às vezes discutiam por motivos bobos, mas sempre se entendiam de uma forma ou de outra. Lia até que gostava de uma boa treta de vez em quando, pois, as reconciliações eram sempre a melhor parte.
Seus sentimentos por Liz apenas aumentavam a cada dia, se é que aquilo fosse possível e realmente não conseguia mais imaginar sua vida sem ela. Estava perdida de amores. Tudo parecia um sonho lindo, mas... como tudo o que é bom dura pouco, logo essa felicidade toda foi abalada.
Era uma tarde de sexta-feira e as duas assistiam filme na sala de sua casa quando Liz recebeu um telefonema de um número desconhecido.
— Alô? — Liz atendeu educadamente como sempre.
Lia apenas continuou assistindo ao filme, recostada onde estava no peito da namorada, mas logo percebeu o corpo dela se retesar todo.
— O quê? — Ouviu desespero em sua voz e imediatamente aprumou-se no sofá, olhando-a.
A rockeira estava apavorada e uma lágrima cortou sua face. O coração de Lia apertou angustiado. Para ela estar chorando só poderia ser uma notícia péssima.
— Mas quando isso aconteceu? Como ela está?
Ao ouvir aquilo e julgando pelo comportamento da namorada, só um pensamento veio em sua mente: Luísa.
— Vou providenciar tudo, chegarei aí o mais rápido possível. Obrigada, Artur.
Algo de ruim havia acontecido com ela e aflita, esperou o final da ligação que não demorou. Liz estava tremendo e chorando, e abraçou-a com força.
— Tia Luísa sofreu um acidente de carro! — falou entre soluços e apoiou a cabeça sobre as mãos. — Não acredito que isso está acontecendo de novo... não acredito!
— Calma, meu amor — Lia ajoelhou-se diante da namorada e tomou as mãos delas nas suas, mirando bem sua face. — Escuta, seja lá o que tenha acontecido, sei que ela vai ficar bem.
— Não vou aguentar perdê-la assim também.
Imediatamente lembrou-se que a mãe dela, Elena, havia morrido também em um acidente de carro, com certeza estava sendo duplamente doloroso receber essa notícia.
— Preciso ir para cidade agora mesmo! — Liz se pôs de pé rapidamente. — Você vem comigo, não é?
— É claro que vou com você. Não vou te deixar sozinha agora. Vou arrumar minhas coisas.
Lia nem titubeou. Nem se importava se os pais falariam algo ou não. Liz precisava dela naquele momento.
— Vou pedir que o jatinho venha me buscar.
— ‘Tá bem, vou arrumar uma mala bem rápido.
Subiu as escadas em disparada e antes de ir para o seu quarto, bateu na porta dos pais. Precisava avisá-los.
— Eu vou precisar acompanhar a Liz até a cidade dela por uns dias. Acabaram de ligar dizendo que a tia dela sofreu um grave acidente e não está nada bem.
Lia não deu espaço para questionamentos ou pitacos, eles precisavam entender que aquele não era o momento. Nádia foi até a filha, parecendo mais compadecida com a situação.
— Como a Liz está?
— Nada bem, ela está lá embaixo chorando. Vou arrumar minhas malas.
— Mas só acontece desgraça nessa família, cruz credo! — Horácio declarou sério. — Espero que a tia dela fique bem.
Lia teve vontade de revirar os olhos, mas se controlou. Ao menos ele não falou nada sobre sua ida com a namorada.
— Vamos descer para falar com ela, Horácio — A mãe ordenou e Lia se sentiu feliz por isso.
— Obrigada, mãe — Lia abraçou-a apertado. — Diga a ela que já vou descer.
— Eu sei, minha menina. Tudo bem.
No quarto, Lia fez uma mala com alguns objetos pessoais e várias mudas de roupa. Não sabia mesmo quanto tempo passaria fora, mas tinha a sensação de que seriam muitos dias. Antes de descer, foi até o quarto do irmão, mas ele não estava lá. Havia saído com alguns amigos.
Quando Lia desceu, a cena que viu ali na sala, aqueceu seu coração de tal maneira que quase teve vontade de chorar. A mãe segurava um copo de água na mão e com a outra fazia carinho nos cabelos de Liz, que mais parecia em choque. Horácio apenas estava ao lado das duas e parecia sem jeito.
— Hey! — chamou a atenção de Liz quando se aproximou. — Estou pronta.
— Ah, ok. Vamos!
A rockeira parecia perdida e antes de levantar-se ela abraçou Nádia.
— Obrigada, dona Nádia.
— Por nada, querida!
Assim que ela se pôs de pé, Horácio aproximou-se e Liz estendeu a mão para cumprimenta-lo como sempre, mas foi uma surpresa quando, mesmo sem jeito, ele a puxou para um abraço rápido.
— Vamos orar pela sua tia. Vai ficar tudo bem.
— Muito obrigada, senhor Horácio.
Finalmente elas foram se encaminhando para a porta, mas antes Lia abraçou os pais com carinho. Estava sem palavras perante a ajuda dos dois.
— Obrigada pelo apoio.
— Não precisa agradecer, minha princesa — O pai disse afetuoso. — Tenham cuidado, por favor!
— Você já consegue dirigir até a cidade? — Nádia perguntou.
— Sim.
— Ótimo, a Liz estava muito mal quando descemos e dei um calmante a ela.
— Tudo bem. Obrigada mais uma vez. Agora precisamos mesmo ir.
Assim que elas chegaram até o carro, Lia pegou as chaves da mão dela, que não protestou. A viagem inteira foi feita em silêncio, salvo apenas pela hora que ela ligou para Vitória e Tomás a fim de lhes dar a notícia. Os dois entraram em desespero e disseram que pegariam o primeiro voo.
Ela parecia serena e calma, com certeza estava sob o efeito do calmante. Lia tentou ir o mais rápido possível quando ela lhe disse que o jatinho estava vindo para buscá-las. Quando chegaram ao apartamento não encontraram Vivi para dividir a notícia, mas Liz mandou um áudio rápido para a amiga, informando o que estava acontecendo e que estava de partida.
Liz arrumou uma mala rápida também e logo as duas chamaram um Uber e foram até o aeroporto. O jatinho já as esperava. Ela segurou firme a mão da namorada e não soltou por nada, nem mesmo quando ela cochilou até finalmente chegarem ao condomínio.
— Amor — acordou-a com cuidado. — Já chegamos!
— Obrigada, linda — Liz tocou sua face com delicadeza. Podia perceber como ela tremia. — Vamos logo!
Elas caminharam até a mansão onde o clima não estava bom. Silvia e as outras auxiliares da casa estavam preocupadas e assustadas. Liz acalmou a todas e depois ligou para Artur, onde ele mandou a localização do hospital em que ela estava. A namorada estava muito calada, mas não a culpava, conseguia sentir e entender todo o desespero dela com a situação.
O motorista da tia estava a postos para levá-las. No banco de trás, foram abraçadas durante todo o percurso. Nunca havia visto Liz tão abalada antes, nem mesmo naquela vez em que ela lhe contara tudo e leram a carta.
Surpresa mesmo foi ao chegarem até lá. Tinha já vários repórteres e fotógrafos em frente ao hospital e correram ao reconhecerem Liz, mas por sorte o motorista ajudou-as até à entrada sem maiores problemas. Deveria ser o fim ter de lidar com aquele tipo de coisa em um momento tão delicado.
— Ah, qual é! — exclamou enraivecida assim que se viram sozinha dentro do hospital. — Mas como esses urubus já souberam do acidente e que ela está aqui nesse hospital? Puta que pariu!
— Essa gente paga por informação e claro que notícia ruim corre muito rápido. Deixa eles para lá.
As duas foram à emergência do grande e luxuoso hospital, que era um dos melhores do país, ali ela seria muito bem assistida e cuidada. Artur estava sentado em uma poltrona grande e bem confortável no quarto particular de espera daquela área. Ele foi até elas assim que as viu e parecia abalado.
— Como ela está? — Liz perguntou já com a voz chorosa e os olhos cheios de lágrimas.
— Nada bem. O acidente foi muito feio. Não entendi bem, mas ela está sendo operada nesse momento. Disseram que estava inconsciente, que havia perdido muito sangue e que estava com algumas costelas bem quebradas, nem sei mais, eles falaram tanta coisa...
Liz afundou no banco e chorou em silêncio. Seus ombros sacudiam forte. O peito de Lia comprimiu-se em agonia. Conhecia Luísa há pouco tempo, mas já se apegara a ela e lhe tinha um carinho muito grande, não queria que nada acontecesse a ela...
***
Fim do capítulo
N/A: Meninas, desculpem mesmo pela demora, mas apesar de ter sido um capítulo curto, foi bem difícil de escrever. Chega só de coisinhas bonitinhas, a vida tem os seus dramas. Vamos ver se Luísa vai sair dessa ou não...
Beijinho a todas 😘
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Elna Vale
Em: 03/05/2020
rOi menina...
Tdo bom?espero q sim!
Depois de muito tempo apenas acompanhando e não deixando comentários,resolvi passar para perturbar vc um pouco...
Quando sai o novo capítulo?
Porque olha,só vc mesma p nos salvar,sua pobres leitoras desamparadas nesta quarentena tediosa rs
Super fã do seu conto,então sou também super suspeita para deixar mh opinião rs..
Não demore com o próximo capítulo, please....
Bjs
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Anny Grazielly
Em: 18/04/2020
Aiaiaiaii autora... por favor, que nada aconteça com Luisa... ela merece ser muito feliz por cuidar tao bem da sobrinha...
Ainda bem que nossa Liz tem Lis para ficar pertinho dela... pelo visto Liz vai precisar tomar as rédeas da empresa agora... e vai precisar mais ainda da presença de Lis ao seu lado... espero que o amor vença sempre... mesmo com tanta dor pelo caminho... que o que elas tem seja mais forte que tudo... que nada e nem ninguém consiga separa-las...
eeeeee... acho que tem dedo do tio dela nesse acidente de Luisa... homem para eu odiar... aiaiaiaiaia
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