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Nossa canção inesperada por Kiss Potter

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Palavras: 8049
Acessos: 1141   |  Postado em: 10/05/2020

Capitulo 39 - Carp diem

Capítulo 39 – Carp diem

 

Pov Lia

 

— Liz! — Artur chacoalhou-a de leve no ombro, lhe chamando a atenção. — Sei o quanto tudo isso é difícil, mas precisamos ser fortes agora. Os médicos disseram que ela precisa de uma doação de sangue urgente. Vá fazer o exame. Quanto mais rápido, melhor.

              Naquele momento deu um estalo na cabeça de Lia. Seu sangue era O negativo, o que significava que poderia ajudar.

              — Eu posso doar o tanto que for possível, sou doadora universal.

              Liz a olhou rapidamente sem acreditar e sorriu parecendo um pouco aliviada. Ela levantou da poltrona e lhe deu um forte abraço, repousando a cabeça em seu ombro.

— Que bom saber disso, minha linda.

Lia a sustentou carinhosamente por alguns segundos, fazendo carinho em seus cabelos.

              — Boas notícias sempre são bem-vindas — Artur exclamou satisfeito. — Vamos logo fazer isso. Quanto antes, melhor.

              As duas fizeram os exames e foram liberadas para doar enquanto esperavam aflitas por notícias. Já era noite e Lia tentava fazer com que Liz comesse alguma coisa, ela estava agitada com a falta de notícias e ia até a recepção de meia em meia hora.

Artur ficou com elas o tempo todo e se encarregou de repassar informações para os amigos mais chegados de Luísa. Uma coisa que Lia estranhou foi o fato de não ter nenhum parente ali além de Liz, a família delas era pequena mesmo.

A demora era a pior coisa que existia em situações desesperadoras. A sensação de impotência as esmagava sem piedade e, infelizmente, tudo o que lhes restava era a espera torturante...

Logo após a meia-noite, Liz acabou cedendo ao cansaço e cochilou em seu ombro no grande e confortável sofá que lá havia. Lia também estava com muito sono, mas não conseguia cochilar em lugares assim.

Finalmente uma enfermeira entrou depois de horas e Lia acordou a namorada o mais rápido que pôde. Ela os informou que a cirurgia havia acabado bem, que ela já havia recebido a transfusão de sangue e estava na UTI em observação.

— Vocês vão apenas esperar o médico vir para apresentar o laudo e informar como ela se encontra, tudo bem? — A enfermeira os acalmou com seu tom de voz imparcial. — Agora é só aguardar.

— Ok, muito obrigada — Liz agradeceu de forma vazia.

Lia percebia como ela estava tentando se fazer de forte e não demonstrar preocupação.

— Oh, Deus! — Artur exclamou, cruzando as mãos em prece e agradecimento. — Que bom que ela está bem. Graças a Deus que correu tudo bem.

Liz e Artur se abraçaram brevemente. Ele parecia bastante preocupado com Luísa e aquilo aqueceu o coração de Lia, sabia o quanto ela merecia uma pessoa que gostasse mesmo dela daquele jeito.

— Ela vai ficar bem, Liz. Eu sei disso! Luísa é uma mulher forte.

— Obrigada, Artur. Vamos torcer para que isso aconteça.

Mais uma vez os três caíram em uma espera eterna. Já passava das três da manhã quando Liz a fez deitar-se no sofá com a cabeça sobre suas pernas, não poderia mentir que estava caindo de sono e facilmente cochilou ali mesmo.

Acordou-se algum tempo depois com a namora deitada ao seu lado no sofá e dormia pesado. Olhou as horas e viu que já passava das seis da manhã. Suas costas doíam devido à péssima posição que havia dormido no sofá e levantou-se vagarosamente para não despertar Liz.

Estava morrendo de frio, na correria não havia levado o seu casaco e resolveu dar uma volta para circular o sangue. A sala de espera era espaçosa e sofisticada com uma imensa janela de vidro que ia do teto até o chão. As venezianas estavam abertas e podia ver os prédios com o tempo enslarado lá fora.

Artur também ainda dormia na poltrona. Ele havia dito que só sairia dali quando falassem com o médico. Lia saiu à procura de café e alguma coisa que pudesse enganar um pouco a fome, mas não precisou ir longe. Ali perto encontrou uma bandeja enorme que tinha café, chá, leite, açúcar e alguns biscoitos.

Disfarçadamente serviu-se de algumas coisas e voltou para o cômodo. Sentou-se ao lado de Liz no sofá e começou a comer. Seu estômago estava roendo de fome. Enquanto comia ouviu algum telefone vibrando, era o de Liz. Lia o pegou da mão dela bem devagar para não a acordar.

Olhou no visor, viu que era Vitória e resolveu atender.

— Oi, Vitória!

— Lia? — seu tom de voz não foi mais do que um mero sussurro desanimado. — Como está tudo por aí?

— Ainda estamos aguardando o médico vir aqui pessoalmente, mas ela está na UTI se recuperando. Desculpe ter atendido, mas é que a Liz finalmente conseguiu dar um cochilo e eu não queria acordá-la.

— Não precisa se desculpar, você já é da família — respondeu de maneira amável. — Bem, liguei só para saber como mamãe está e dizer que eu e Tomás já vamos pegar o voo. Creio que chegaremos por aí por volta das oito ou nove da noite.

— Tudo bem. Vou avisar a ela assim que acordar.

— Obrigada, vou desligar agora. Já estamos na fila de embarque.

— Certo, estaremos esperando por vocês.

Lia havia ficado feliz ao ouvir o que Vitória havia dito de que ela já era da família, mas deixou para lá, não era o momento certo para isso. Estava terminando o seu lanche quando Artur finalmente acordou.

— Bom dia, Sr. Artur — saudou-o educadamente.

— Bom dia, querida — Ele ajeitou no sofá e alongou-se levemente.

— O senhor quer um café? Acabei de tomar com algumas bolachas.

— Oh, se não se incomodar — falou grato e sorriu para ela.

— De forma alguma.

Lia queria se movimentar devido ao frio que sentia. Iria esperar Liz acordar para pedir o seu casaco emprestado por um tempo. Voltou ao quarto com a bandeja e entregou-a a Artur, que lhe agradeceu educadamente com um sorriso.

Ficou sentada ao lado de Liz até que sentiu o seu telefone vibrar. Era uma mensagem de sua mãe perguntando como Luísa estava. Sorriu internamente com a preocupação dela e sentiu um calorzinho tomar conta do seu peito. Logo tratou de respondê-la.

Algum tempo depois, Liz finalmente se remexeu ao seu lado e acordou.

— Hey! — saudou-a com um afago em sua face.

              — Eu dormi muito? — sentou-se parecendo agitada. — O que eu perdi?

              — Calma! — tratou de acalmá-la. — Agora que são sete da manhã. O médico ainda não chegou.

              Liz colocou as pernas para fora do sofá e esfregou as mãos na face. Lia abraçou-a e pousou a cabeça sobre o seu ombro. Artur saiu da sala por um momento para fazer algumas ligações, deixando-as à sós.

              — Vitória ligou a pouco tempo, dizendo que já estavam pegando o voo. Disse que vão chegar por volta das nove da noite.

              — Ok, vou falar com o motorista para ir buscá-los no horário.

              — Tudo bem — Liz não havia a olhado ainda em nenhum momento desde que acordara, por isso tocou levemente em sua face, fazendo-a lhe encarar. — Olha para mim!

              O olhar da rockeira estava opaco e sem vida. Era horrível vê-la daquela forma. Abraçou-a apertado.

              — Tem calma, amor. Eu sei que a Luísa vai ficar bem. Você não ouviu a enfermeira dizer que a cirurgia foi um sucesso?

              — Estou tentando manter a calma, mas é difícil. Estou com tanto medo, Lia.

              — Eu sei e te entendo demais, mas vamos tentar pensar positivo, ok?

              — Ok — Liz concordou com a cabeça e pôs a cabeça em seu pescoço. — Obrigada por estar comigo.

              — Nem precisa agradecer. Jamais deixaria você sozinha nesse momento.

              Ficaram abraçadas daquela forma por algum tempo até que Artur voltou para a sala e parecia trazer notícias.

              — Conseguiram retirar o carro da Luísa da ladeira onde que ela caiu. Foi perda total para o veículo.

              — Você tem fotos do acidente aí? — Liz perguntou.

              — Tenho sim.

              — Será uma boa ideia ver isso? — Lia disse preocupada. Sabia como ela tinha complexo com aquela situação por tudo o que havia acontecido com a mãe.

              — Eu preciso ver isso, está tudo bem.

              Artur mostrou as fotos em seu telefone para as duas. Foi um acidente bem feio e desastroso e Lia assustou-se ao constatar que não havia sido nada além de um milagre Luísa ter sobrevivido àquilo. Liz apenas chorou silenciosamente ao seu lado por algum tempo.

              — Calma, amor! Vamos ficar felizes por ela ter escapado com vida disso.

              A namorada nada falou, apenas se deixou ser afagada. Ela estava muito mal e infelizmente só poderia lhe dar apoio e carinho naquele momento tão difícil.

              — Vou pegar alguma coisa para você comer.

              — Não tenho fome.

              Lia apenas ignorou-a, não iria deixar que ela ficasse fraca. Voltou ao quarto com a bandeja e colocou em sua frente, mas ela nem ao menos olhou para a comida. Lia insistiu mais um pouco até que, vencida pelo cansaço, Liz comeu algumas bolachas com um pouco de chá.

              — Amor, você está com frio? — perguntou algum tempo depois.

              — Não, por quê?

              — Estou congelando, esqueci de trazer minha jaqueta.

              Rapidamente Liz retirou seu casaco de couro e entregou-a.

              — Desculpe, linda. Nem reparei, estou tão confusa.

              — Eu sei, não precisa se preocupar.

              Foi um alívio quando sentiu a jaqueta ainda quentinha com o calor do corpo dela e logo já se sentia aquecida.

              Por volta das nove da manhã, o médico finalmente apareceu.

              — Bom dia — Ele saudou-os educadamente. — Sou o Dr. Igor e fui responsável pela cirurgia da Sra. Vargas ontem. Todos aqui são familiares?

              — Sim, doutor. Como ela está? — Liz adiantou-se apressada por notícias.

              — Ela estava se recuperando bem na UTI. No entanto, reclamou de dor forte na cabeça ao despertar e fizemos alguns exames. Agora estamos deixando-a em coma induzido por segurança e vai precisar passar mais alguns dias lá já que precisa de uma observação mais rigorosa.

              Lia sentiu seu coração apertar de angústia e segurou firmemente a mão de Liz ao seu lado.

              — Coma induzido? — Liz desesperou-se ao ouvir aquilo. — O que ela tem?

              — O acidente foi grave e aparentemente ela teve algumas lesões cerebrais. Ainda não sabemos se é algo extremamente grave, por isso, preferimos ter a certeza...

— Ela vai ficar com alguma sequela? — A namorada exigiu saber.

— Os exames já foram feitos, agora estamos aguardando os resultados que devem chegar hoje ainda. Eles serão entregues diretamente para mim e assim que eu analisar, veremos como proceder. O coma induzido é apenas uma segurança para que ela não sinta dor e evite ficar com as sequelas já que não sabemos bem a gravidade das lesões. Ela teve uma hemorragia devido à alguma pancada na hora do acidente, por isso preferimos agir com bastante cuidado e prevenir qualquer coisa mais séria, mas é apenas por isso — por sorte Dr. Igor era um médico calmo e não parecia ser tão frio quanto os outros costumavam ser.

— Mas o senhor acha que foi grave? Fale a verdade! — Artur se pronunciou pela primeira vez e parecia aflito.

 — É cedo para dizer isso. Assim que eu ver os exames, virei pessoalmente falar com vocês e explicar tudo. Danos cerebrais são imprevisíveis e eu só posso afirmar alguma coisa quando o resultado chegar, mas tendo em vista a gravidade do acidente, posso dizer que Luísa resistiu fortemente a todo o procedimento, então mantenham a calma, é o que peço agora.

Fez-se um silêncio tenso por alguns segundos.

— Ficaremos aqui na espera — Liz declarou de maneira firme. — Não tem outro jeito.

— Infelizmente não poderão vê-la por hoje, então podem ir para a casa descansar um pouco que, caso seja preciso, entraremos em contato. Já deixaram um número de emergência no balcão com a recepcionista desse andar?

— Ainda não — Artur respondeu.

— Então sugiro que informem números de emergência e vão para casa descansar. Não há mais nada que possa ser feito por enquanto, mas podem vir pela tarde para saber dos exames.

— Ok, doutor. Obrigada — Liz respondeu cabisbaixa.

— Tenham um bom dia e vamos manter as esperanças.

Ele saiu da sala com passos calmos, deixando todos muito abalados. Liz sentou-se no sofá em estado de choque. Artur passou um bom tempo calado e distante. Lia sentou-se ao lado da namorada e abraçou-a.

— Você ouviu o que o médico disse e ela só está assim por precaução. Logo os exames vão sair e ela vai ser liberada. Você vai ver.

A rockeira não falou nada, apenas chorou e concordou com um leve balançar de cabeça.

— Vamos tentar descansar um pouco para os próximos dias — Artur pôs a mão no ombro de Liz, lhe passando força. — Eu vou tratar de alguns assuntos na empresa que infelizmente não podem esperar e mais tarde eu venho aqui novamente. Sugiro que vá para casa descansar também, as duas.

— Artur tem razão. Vamos! A gente deixa seu número na emergência e qualquer coisa eles vão ligar.

Novamente ela apenas assentiu e saíram juntos. Liz ligou para o motorista e pediu para que ele as viesse buscar na porta do hospital a fim de evitar o contato com alguns repórteres que estavam de tocaia do lado de fora do prédio.

Já no condomínio elas falaram com Silvia a respeito da situação da tia. Ela parecia ser uma pessoa já da família e de muita confiança o que era explicável devido ao tanto de tempo que ela trabalhava ali. Ela logo disse que prepararia um café-da-manhã reforçado e levaria para o quarto logo.

Subiram para o quarto de Liz e viu como ela parecia deslocada, ela estava mesmo em choque. Retirou a roupa dela lentamente peça por peça, depois retirou as próprias roupas e levou-a para debaixo do chuveiro. Após um bom banho de água quente elas voltaram para o quarto e assim que se enxugaram propriamente, Liz jogou-se na cama e se cobriu com o lençol.

Lia procurou por um roupão no guarda-roupa e vestiu-o. Silvia chegaria logo com o café-da-manhã e estava faminta, parecia que o nervosismo apenas estava aumentando o seu apetite, era difícil explicar.

Sentou-se na cama e Liz rapidamente pôs a cabeça em seu colo. Ficou fazendo carinho em seu cabelo comprido por longos minutos até que a governanta chegou. Lia delicadamente levantou-se da cama e quando a mulher ia deixando o quarto foi atrás dela.

— Silva — chamou-a baixinho.

— Pois não, senhorita — atendeu-a solicita.

— Será que você consegue arranjar algum calmante para a Liz. Ela está muito mal, estou preocupada.

— Mas ela está bem?

— Está, apenas muito nervosa e preocupada, mas é normal.

— Eu entendo bem. Bom, eu já volto.

— Obrigada!

Ela esperou ali fora do quarto por Silvia, que não tardou a voltar.

— Eu acho que esse remédio é forte demais. Luísa o toma às vezes quando está sob muito estresse, então você pode dar apenas metade.

— Ok, muito obrigada, Silvia.

— Se desejar mais alguma coisa pode me chamar, senhorita.

— Pode apenas me chamar de Lia, obrigada.

Voltou para o quarto, colocou o remédio sobre a bandeja e foi até Liz. Mais uma vez ela chorava silenciosamente. Abraçou-a apertado e amparou-a por longos minutos até que ela estivesse mais calma.

— Amor, vem comer alguma coisa — Lia tentou puxá-la da cama, mas ela nem se mexeu.

— Já disse que estou sem apetite, Lia. Qual é! — exclamou aborrecida e deu-lhe as costas.

              A irritadinha sentiu o rosto arder e ficou chateada. Só estava tentando ajudar, mas pela primeira vez na vida, trincou os dentes e conseguiu engolir seu impulso. Liz estava passando por um mau momento, portanto deveria manter-se calma e compreensiva. Suspirando fundo, deitou-se sobre as costas delas e distribuiu beijinhos em sua nuca.

              — Eu só quero te ajudar, Liz — sussurrou em seu ouvido. — Não pode ficar sem comer.

              Liz nada falou, apenas passou um tempo parada e Lia ficou ali o tempo necessário. Depois de um par de minutos, a rockeira virou-se para ela, tocando a sua face e Lia viu que seus olhos estavam avermelhados.

              — Desculpe por ter sido grossa. Sei que só quer me ajudar, é que...

              Mais uma vez os olhos dela se encheram de lágrimas. Precisava fazê-la tomar o remédio.

              — Pedi um calmante para você, mas preciso que coma alguma coisa primeiro. Toma ao menos um suco.

              Liz finalmente se deixou levar e foi até a mesa tentar comer alguma coisa. Por fim, Lia lhe deu metade do remédio que ela tomou com um generoso copo de suco de maracujá. As duas voltaram para a cama e antes que pegassem no sono, deixaram seus celulares bem próximos e no máximo volume caso houvesse alguma emergência.

***

Pov Liz

              Por volta das quatro da tarde, elas voltaram ao hospital e continuaram à espera de notícias. Já estava se sentindo um pouco melhor, talvez fosse o efeito do remédio ainda. Algum tempo depois, Flávio chegou na recepção. O seu tio parecia verdadeiramente preocupado com o estado da tia o que a deixou espantada, levando em conta suas atitudes perversas para com Luísa.

              — Como ela está?

              — Está na UTI ainda e estamos aguardando o resultado dos exames dela. O doutor disse que ela teve alguns danos cerebrais e está em coma induzido — respondeu e ficou analisando a reação dele.

              — Em coma! — O tio parecia mesmo afetado com a notícia. — Liz, desculpe por não ter vindo ontem, tive receio de fazer tumulto aqui e não quis atrapalhar. Sei que eu e Luísa vínhamos nos desentendendo nos últimos meses, mas eu jamais desejaria que algo acontecesse a ela.

              Liz se sentiu tocada com as palavras dele. Flávio parecia desnorteado e falava com sinceridade. Ele aproximou-se de si aos poucos e lhe deu um abraço. Ficou paralisada por alguns segundos e sem saber o que fazer, era a primeira vez na vida que o tio a abraçava daquela forma e apesar de ser esquisito, sentiu-se extremamente emocionada, talvez por estar fragilizada com toda a situação.

              — Obrigada, Flávio.

              — Se tiver alguma coisa que eu possa fazer para ajudar, por favor, não hesite em pedir.

              — Agradeço a preocupação.

              — Bem, quando chega o resultado desses exames?

              — A qualquer momento. Estamos esperando o médico aparecer. Ele disse que assim que analisasse viria até nós.

              — Entendo. E agora a maldita espera!

              — E agora a maldita espera — Liz concordou e sentou-se ao lado da namorada. Flávio ficou circulando pelo quarto de forma agitada.

              Artur também chegou depois de mais de uma hora de espera e ficou surpresa quando viu a troca de olhares tensos entre ele e Flávio.

              — Que surpresa você aqui — Artur disse parecendo sarcástico.

              — Até onde eu sei, sou mais da família do que você.

Liz franziu o cenho sem entender. Talvez por estar envolvido com sua tia, tivesse tomado as dores dela e discordado de Flávio, o que era compreensível.

— Incrível como você consegue ser tão cínico...

— Não é hora para desavenças agora. Eu vim aqui em missão de paz e por respeito a Luísa. Não estou bem com o que aconteceu a ela, jamais desejaria que isso acontecesse.

Liz observou que Lia nem piscava ao ver a discussão deles, não se sentia minimamente disposta a lidar com alguma intriga naquele momento, mas por sorte os dois pararam de falar com a entrada do médico.

— Boa tarde a todos! — Ele saudou educadamente mais uma vez. — Trago boas notícias. As lesões que Luísa recebeu na cabeça foram fortes, mas nada muito grave. A dor que ela sentiu foi apenas devido à pancada forte que recebeu e trataremos disso com a medicação correta. Logo vamos tirá-la do coma.

Sentiu como se milhões de pesos saíssem de seus ombros e aquele aperto no peito foi se aliviando parcialmente.

— Quando poderemos vê-la? — perguntou ansiosa. Queria poder olhar para a tia e aliviar a sua agonia.

— Devido à preocupação que temos de não deixá-la com alguma sequela, iremos estender o coma até amanhã e então vamos liberar a mudança de quarto 24 horas depois que ela acordar. Apesar de não ter sido muito grave, precisamos observar bem todos os sinais vitais, mas desde já, podem ficar tranquilos que agora é apenas uma questão de tempo para poderem vê-la.

— Obrigada, doutor. Muito obrigada mesmo.

Feliz e emocionada, Liz pegou na mão do médico apertando-a em agradecimento.

— Não fiz mais do que a minha obrigação. É sempre uma felicidade quando conseguimos salvar uma vida e mais uma vez, eu digo que podem ir para casa, pois logo ela vai precisar de todo o cuidado e atenção possíveis quando vier para o quarto. Luísa está sendo muito bem assistida. Seu estado é completamente estável e em recuperação.

— Obrigada, doutor Igor — Artur também apertou a mão do médico.

Assim que ele saiu do quarto, deixando-os, Flávio aproximou-se de si, falando diretamente com ela e a namorada.

— Fico feliz e aliviado em saber que Luísa está bem e logo irá sair dessa — Ele suspirou e pensou por alguns poucos segundos. — Onde estão os filhos dela?

— Devem estar chegando logo de viagem. Estão vindo dos Estados Unidos.

— Ah sim, tudo bem. Pelo menos já chegarão aqui, recebendo boas notícias.

— Sim, tio.

— Vocês precisam de carona para casa? — ofereceu-se solícito. Estava muito estranho toda aquela cordialidade, mas imaginou que era por uma boa causa.

— Não, estamos bem. O motorista nos espera lá embaixo.

— Tudo bem. Nesse caso então já vou indo — Ele apertou a mão de Liz e Lia com firmeza antes de sair. — Me ligue avisando qualquer novidade ou se precisar de alguma coisa.

— Tudo bem, tio. Obrigada!

— Por nada, Lisandra — despediu-se cortês e depois acenou para Lia. — Até mais.

Ele nem mesmo olhou na cara do outro e saiu pisando firme com toda a sua pose de sempre. Liz virou-se para Artur e encarou-o à procura de explicações.

— Desculpe dizer isso, mas seu tio é um cínico — Ele respondeu sem enrolação. — Desculpe também por ter me deixado levar, não era o momento. Pelo menos ele teve a consciência de vir aqui prestar alguma solidariedade, mesmo que de forma forçada e para parecer um bom samaritano perante todos.

— Eu sei bem como o meu tio pode ser, Artur. Não tenho a maior das simpatias por ele, mas depois veremos isso. Ele pareceu sincero.

— Você tem toda razão — concordou e passou o braço por seus ombros. — Vocês vão voltar para casa agora?

— Sim, vamos e depois tenho que ir buscar os meus primos no aeroporto.

— Tudo bem, então. Vamos!

Liz segurou a mão de Lia e foram até o carro. Já passava das seis da noite. Iam no banco de trás e recostava a cabeça no ombro de sua irritadinha. Não poderia mentir, ela ali do seu lado fazia total diferença. Nem queria pensar em passar esse momento sem ela.

— Você está com fome? — perguntou e entrelaçou os dedos aos dela.

— Sim, e você?

— Um pouco!

Viu que ela sorriu exultante com sua resposta. Era reconfortante sentir como Lia se preocupava com seu bem-estar e mesmo em um momento tão tenso, sabia que tinha sorte. A notícia que o médico havia trazido, mudou totalmente o seu humor e já se permitia sentir verdadeira esperança de que a tia fosse se recuperar mesmo.

— Vamos passar em uma lanchonete? — sugeriu carinhosa. — Acho que estou a fim de comer um hambúrguer.

— Claro, por mim pode ser. Vamos onde você quiser.

— Obrigada, linda.

— Não precisa me agradecer por nada, Liz.

Elas acabaram demorando na lanchonete e resolveram matar um pouco mais de tempo. Logo os primos estariam chegando e iria logo buscá-los, assim, iriam para casa de vez. Chegaram ao aeroporto por volta das oito e meia da noite e esperaram um tempo considerável. Uma hora depois, viram que o voo chegou e foram para o portão de desembarque.

Assim que os dois surgiram, empurrando as malas, correu até eles. Os três se abraçaram emocionados e foi impossível não derramarem lágrimas.

— Como ela está, Liz? Como está a nossa mãe? — Tomás perguntou aflito.

— Tenho boas notícias. Saímos do hospital há pouco tempo e o médico disse que não foram graves as lesões cerebrais que ela teve e daqui a um dia ou dois, finalmente vai sair da UTI e poderemos vê-la.

— Eu tenho orado tanto desde que você ligou — Vitória falou emocionada. — Acho que nunca tinha orado tanto na vida. Graças a Deus ela está bem.

— Sim, prima. Deus atendeu as nossas preces. Não sabem o quanto eu fiquei aliviada.

Mais uma vez os três se abraçaram. O carro chegou e o motorista os ajudou a colocar as bagagens no imenso porta-malas. Liz aproximou-se de sua irritadinha e abraçou-a, ela apenas os observava parecendo também emocionada.

— Se importa de ir na frente? Vou no banco de trás com eles, sei que vão querer um relatório completo sobre tudo e não aguentarão até chegar em casa.

— Nem precisava dizer, eu já ia fazer isso mesmo.

— Obrigada.

Antes de entrarem no carro, Vitória e Tomás abraçaram Lia, cumprimentando-a carinhosamente. Eles já gostavam muito dela e Liz ficava muito feliz por isso.

Finalmente se acomodaram e o carro deu a partida. Como suspeitara, contou tudo o que sabia e o que tinha acontecido desde que a tia se internara. Relatando de forma mais detalhada sobre o coma induzido até o laudo do médico.

— Então não iremos até o hospital agora? — Tomás perguntou triste.

— Tomás, ele deixou muito claro que não teria necessidade e que deveríamos descansar para quando ela fosse transferida de quarto. Na UTI eles não deixam ninguém entrar e infelizmente não temos nada a fazer. Apenas esperar, por pior que seja essa sensação.

— Tudo bem, Liz. Vamos para casa, então — Vitória conformou-se a abraçou o irmão.

— Vamos! E não se preocupem. Meu número está lá como emergência e qualquer coisa vão ligar diretamente para mim.

— Liz, ainda bem que tinha você aqui para tomar conta da situação. Por isso, às vezes me sinto mal em morar tão longe — disse o primo parecendo culpado.

— Você tem razão, Tomás — Vitória concordou. — Obrigada por ter cuidado de tudo, prima.

— Vocês não têm que me agradecer por nada. Tia Luísa é uma mãe para mim, eu não poderia ter feito diferente, me preocupo com ela.

Logo eles chegaram ao condomínio e os ajudaram a levar as malas até os seus respectivos quartos. Depois que os primos se acomodaram e tomaram um banho, Silvia já os esperava com uma sopa de legumes bem leve para comer àquela hora da noite. Depois da janta, ela e Lia se juntaram aos dois na sala para conversarem mais. Ninguém sentia sono apesar do cansaço e infelizmente a espera era esmagadora e frustrante.

Decidiram ir dormir e acordar cedo no outro dia para irem até o hospital. Ela e Lia se aprontaram e deitaram abraçadinhas na cama até pegarem no sono...

 

***

Lá pelas dez da manhã os quatro foram até o hospital e tiveram a feliz notícia de que já havia sido feito o processo de tirá-la do coma induzido e que assim que ela acordasse, e estivesse se sentindo bem, a levariam para o quarto. Saber que tudo estava indo bem e que ela estava respondendo bem aos medicamentos, aliviou um pouco a tensão que todos sentiam.

Mais um dia frustrante se passou em que apenas esperaram. Liz conversou bastante apenas com os primos pela tarde enquanto Lia estava em seu quarto.

Eles sabiam como Luísa era preocupada com a empresa e mesmo sendo a última coisa a se pensar, era algo que eles também tinham que ter o mínimo de responsabilidade sobre.

— Talvez fosse hora de a mamãe relaxar mais e se dedicar à própria vida — A prima declarou pensativa. — Depois disso ela vai precisar de um bom tempo para se recuperar.

— Eu já estava pensando em voltar, para ser sincera — confessou pela primeira vez e os primos a olharam admirados. Não havia falado nada daquilo nem mesmo com Lia.

— Esse seria o sonho realizado da mamãe, de te levar de volta — Vitória disse. — Só tem você para tocar a empresa já que eu e o Tomás não queremos seguir esse rumo corporativo.

— Nunca vi mamãe tão decepcionada como no dia que a gente disse isso a ela — Tomás declarou sorumbático e pensativo. Parecia falar mais consigo mesmo do que com elas. — Às vezes me sinto mal por nem dar uma chance. A empresa está na família há tantas gerações.

— Seis gerações para ser mais exata — Liz falou. Sabia bem toda a história da família.

— E agora a mamãe é a última Vargas a dirigir a empresa — A prima disse pensativa. — Mas você carrega os dois sobrenomes Liz, tanto o Vargas quanto o Moraes. Você não tem outros primos por parte de pai?

— Tio Flávio tem dois filhos e um deles trabalha na empresa, mas é no setor de TI e não, exatamente, administrando tudo. Eu penso em voltar para ver como seria, mas... não sei se teria cacife suficiente para um dia comandar tudo igual a Tia Luísa ou os meus pais. Ela coloca muita fé em mim e tenho medo de decepcionar.

— E você se sente pronta para encarar tudo isso? — O primo perguntou inseguro. — Sei que ficou muito abalada quando tudo aquilo aconteceu.

— Passei muitos anos abalada, mas acho que estou conseguindo superar isso finalmente.

— Liz, isso é incrível — Vitória torceu com sinceridade por ela. — Fico feliz que esteja bem. Realmente eu fiquei surpresa em te ver aqui no fim de ano, mas aí quando você apresentou a Lia eu entendi tudo.

Liz sorriu. É claro que sua fama sempre a precedeu e era lógico para todos que Lia era o seu recomeço.

              — Lia me ajudou muito a finalmente conseguir superar isso. Ela foi um diferencial enorme que eu precisava na minha vida.

Depois de mais algum tempo, jogando conversa fora voltou para o quarto. Era quase noite e Lia estava deitada em sua cama, mexendo no celular e correu para os seus braços.

— O papo estava bom mesmo, hein! — A namorada falou em tom carinhoso.

— Conversamos bastante mesmo, como nunca antes. Vitória disse que depois disso não quer tia Luísa se dedicando tanto à empresa. Ela vai precisar mesmo de um bom tempo para se recuperar.

— Isso é verdade. Ela precisa apenas se cuidar agora.

— Lia! — chamou-a, olhando bem em seus olhos. — Desde que eu contei para a tia Luísa sobre a greve na universidade que ela me convida para vir trabalhar na empresa e eu estava pensando em, talvez, aceitar.

Viu que ela pareceu surpresa com a informação, mas acabou sorrindo.

— Isso seria ótimo para você, Liz. Por que não tinha me dito isso ainda?

— Eu estava me decidindo. Também não queria ficar tanto tempo longe de você...

— Não quero que isso impeça você de voltar! — disse de maneira firme. — Vamos dar um jeito, como sempre.

O modo apoiador e carinhoso com que ela falou aquilo aqueceu seu coração. É claro que elas dariam um jeito na distância, até já havia pensado em uma possibilidade, mas não era momento para isso.

— Talvez eu volte. Principalmente agora que ela tem que descansar e precisa de alguém de confiança na empresa. Eu poderia ao menos tentar.

— Estou do seu lado com o que você decidir.

Liz sorriu para ela e a beijou com doçura. Nem lembrava mais a última vez que haviam se beijado desde a notícia aflitiva. Porém, deixou aquela conversa de lado. Apesar de já estar mais confiante com o que o médico havia falado, só conseguiria sossegar mesmo quando a visse bem pessoalmente.

***

Finalmente Liz recebeu uma ligação do hospital avisando que a Tia já iria mudar para o quarto particular. Ela, Vitória e Tomás já haviam preparado uma pequena bagagem para reversarem os dias que ela precisaria de acompanhante. É claro que os primos seriam os primeiros. Eles estavam fragilizados e com saudades da mãe.

Mais uma vez os quatro foram logo até o hospital. No caminho, Liz ligou para Artur e Flávio, avisando das boas novas. Foi estranho ligar para o tio, nunca havia feito algo do tipo antes e assustou-se quando ele foi totalmente cortês com ela. Já passava das cinco da tarde quando lá chegaram.

No hospital eles enfrentaram mais alguns repórteres. Vitória ficou extremamente aborrecida com aquilo.

— A mídia não tem um pingo de respeito com os outros.

— Eles estão aqui desde o primeiro dia em que ela foi internada — Lia informou-os.

— Isso é um absurdo! — Tomás disse indignado.

Logo eles deixaram isso de lado e quase correram para o andar em que ela estava. Ela era o mais importante naquele momento. Quando finalmente chegaram, ela já estava sendo devidamente instalada no quarto e eles ficaram aguardando até que as enfermeiras e o médico saíram de lá.

O coração de Liz quase saía pela boca. Se sentia emocionada e frágil. Mal poderia acreditar que finalmente iria ver a tia sã e salva.

— Olá, senhorita Vargas — O médico cumprimentou Liz. — Fico feliz em informar que Luísa poderá receber visitas logo. Ela está se recuperando muito bem.

— Fico aliviada em ouvir isso — Liz suspirou e segurou firme na mão dele, apresentando-o aos primos. — Esses são os filhos dela, Vitória e Tomás.

— Olá! — O médico segurou na mão de cada um e sorriso educado. — Devem ficar bastante orgulhosos da mãe que têm, ela foi muito forte.

— Obrigada, doutor — Vitória falou emocionada. Liz viu que ela tinha lágrimas nos olhos. — Quando poderemos vê-la?

— Primeiro preciso dizer que ela ainda está um pouco sonolenta. Vai levar algumas horas até que ela desperte mais. Agora no primeiro momento só posso permitir que entre um por vez e o horário de visitas começa agora até às sete — explicou educadamente. — As enfermeiras vão colocar máscaras, luvas e bata em vocês para que possam entrar no quarto. Ela ainda está frágil e nos primeiros dias recomendamos total cuidado.

— Tudo bem, doutor. Faremos o que for melhor por ela.

— Ótimo. Vou pedir que a enfermeira venha para prepará-los. Outra coisa importante, ela também vai mostrar os remédios que ela precisa no momento. Alguns nós já temos aqui e vamos nos responsabilizar, mas precisamos de outros, então peço que isso seja providenciado o mais rápido possível.

Dr. Igor se despediu deles com educação e logo uma enfermeira os levou até uma sala para que fizessem a higienização necessária para entrar no quarto. Vitória foi a primeira, ela parecia a mais abalada de todos com a situação.

— Um de cada vez, tudo bem? Cada um tem quinze minutos para ficar no quarto.

Finalmente a prima entrou no quarto já chorando emocionada. Enquanto a porta abriu, Liz conseguiu vislumbrá-la deitada sobre a maca e inconsciente. Seu coração pulsou dolorosamente. Nunca havia visto sua tia tão vulnerável antes e aquilo assustou-a demais. Logo procurou os braços de Lia. Aquele sempre seria o melhor lugar do mundo para todas as situações.

— Shhh — A irritadinha a acalmava, fazendo carinho em seus cabelos. — Ela está bem agora, está fora de perigo, amor. Logo você vai poder vê-la.

Após o tempo estimado, Vitória saiu do quarto, parecendo muito abalada e chorava copiosamente. Tomás entrou no quarto e as duas a ampararam.

— Nunca vi a mamãe assim tão frágil antes — disse entre lágrimas. — Ela está com uma péssima aparência.

— Calma, Vi — Lia acariciou os cabelos da prima. — Ela sofreu um grave acidente, é normal. Apesar disso o médico disse que ela está se recuperando muito bem.

— Isso mesmo, prima — Liz também tentava se acalmar. Sabia exatamente como ela se sentia e estava com o mesmo sentimento dolorido de ver a tia naquele estado. — Precisamos de calma.

Elas ficaram juntas daquele jeito até que Artur chegou, trazendo um lindo ramalhete de flores brancas. Ele parecia ansioso.

— Olá, meninas — ele aproximou-se de Vitória e abraçou-a. — Como você está, querida?

— Ela acabou de ver a tia Luísa — Liz respondeu por ela.

— Como ela está?

— Pálida — Vitória conseguiu dizer. — Mas ainda bem que está fora de perigo.

— Sim e isso é o mais importante —Artur, segurou na mão dela com firmeza. — Onde está Tomás?

— Ele está lá dentro com a mamãe agora.

— Só pode entrar um por vez durante 15 minutos — Lia explicou.

              Quando Artur retirou-se com a enfermeira, Tomás saiu do quarto. Ele estava visivelmente emocionado, mas não tanto quanto Vitória. Liz foi até ele, abraçando-o e se preparando emocionalmente para entrar na sala.

              — Parece que ela já está querendo despertar — O primo comunicou. — Tenta ver como ela está se sentindo, ok?

              — Tudo bem, não se preocupe!

              Antes de entrar, Lia foi até ela e abraçou-a fortemente, mas nada disseram. A namorada a entendia perfeitamente e com o coração pulando no peito, finalmente entrou no quarto. Foi um baque ver a tia tão pálida e frágil deitada na maca, bem diferente da mulher altiva e enérgica que era. Seus olhos se encheram de lágrimas e se aproximou.

              Tia Luísa se remexeu na cama e Liz pode ver que seus olhos estavam abrindo lentamente.

              — Tia — exclamou emocionada e segurou sua mão com delicadeza.

              Luísa não respondeu de imediato. Ela parecia estar ainda se situando de onde estava. Percebeu que ela fez muito esforço para olhar em sua direção e quando o fez, lhe deu um lindo sorriso.

              — Minha garota... — sussurrou baixinho e fazendo força para conseguir falar.

              — Não faça tanto esforço — Liz acariciou os cabelos dela e derrubou mais algumas lágrimas. — A senhora está se sentindo bem?

              — Sim — respondeu simplesmente e uma lágrima cortou sua face.

              As duas ficaram se encarando por alguns segundos, cada uma emocionada à sua maneira.

              — Eu tive tanto medo... — A rockeira confessou. — Tanto medo de perder a senhora.

              — Estou bem — Era incrível como, mesmo naquele estado, ela ainda tentava acalmá-la.

              — Está mesmo se sentindo bem? — certificou-se. Queria cuidar dela da melhor forma possível.

              — Sim — voltou a dizer, mas acabou fazendo uma careta e remexeu o nariz.

Ela parecia incomodada com aqueles tubos de oxigênio em seu nariz.

— Vai ficar tudo bem, estamos aqui com a senhora — Liz não conseguia parar de olhá-la, verificando se tudo estava no lugar e que ela estava mesmo bem.

A tia parecia sem forças até para falar e Liz insistiu que ela ficasse quieta. No fim, Luísa acabou dormindo mais uma vez. Ficou ali apenas vigiando-a respirar suavemente e descansar. Tudo o que havia acontecido havia abalado Liz de uma forma devastadora e naquele momento deu-se conta de que a vida poderia acabar num piscar de olhos.

De repente o conceito de “todo o tempo do mundo” deixou sua cabeça. A vida era um sopro que poderia acabar muito rápido e sentiu que não havia tempo a perder. O agora era tudo que existia e todos deveriam fazer o seu máximo antes que fosse tarde demais.

A enfermeira entrou, sinalizando que seu tempo havia acabado e que outra pessoa deveria entrar. Liz enxugou suas lágrimas e antes de sair, sussurrou:

— Eu te amo muito, tia. Fica bem logo.

E saiu. Foi estranho pronunciar aquela frase, mas sentiu a necessidade de dizê-la. Lia a esperava na porta e abraçou-a apertado, sentindo o seu cheiro acalmar um pouco seus sentidos.

— Como ela está? — A irritadinha perguntou em seu ouvido.

— Frágil, mas se recuperando.

Artur entrou no quarto logo em seguida e Liz foi até o banheiro tentar se recompor. Odiava chorar na frente dos outros, só se sentia à vontade de chorar na frente da namorada, por isso retirou-se. Depois de lavar bem o rosto, voltou para onde eles estavam.

Vitória e Tomás já pareciam mais calmos e estavam abraçados. Assim que ela aproximou-se, Tomás perguntou:

— Ela acordou? Conseguiu conversar com ela?

Suspirou fundo antes de responder para conter o bolo que se formava de novo na garganta.

— Sim. Ela disse que estava bem e que a gente não se preocupasse. Tia Luísa é uma mulher forte, vai sair bem dessa, tenho certeza! — declarou obstinada.

De agora em diante teria apenas pensamentos positivos. Uma coisa era certa, não adiantava ficar se lamentando e remoendo as coisas passadas. Era apenas atraso de vida. Tudo estava claro em sua mente de uma forma estranha. Agora iria focar apenas na recuperação da tia.

Flávio chegou na recepção com seus dois filhos, Fernando e Fabrício. O tio e Fabrício estavam com roupas sociais, aparentemente, estavam vindo direto do trabalho. Já fazia muito tempo desde que Liz havia visto os seus primos, lembrava-se deles quando eram crianças ainda. Ficou de pé para recebê-los devidamente.

— Como ela está? — Flávio perguntou com aquele mesmo tom educado.

— Um pouco Pálida e fraca, mas se recuperando.

 — Luísa é uma mulher forte, sei que vai sair logo dessa.

— Obrigada, tio — agradeceu de coração. Toda palavra e pensamento positivo era bem-vindo.

— Oi, Liz — O seu primo Fabrício falou e a abraçou. Ele era o mais velho. — Quanto tempo!

— Sim, faz um longo tempo — A rockeira sorriu e depois olhou para o outro primo, Fernando.

Ele sempre havia sido mais tímido. Os dois tinham a mesma idade. Ele lhe deu um sorriso tímido e a abraçou um pouco sem jeito.

— Você está bem, prima?

— Agora sim, mais despreocupada.

— Liz, eu não vou entrar para vê-la — Flávio disse seriamente. — Talvez não seja uma boa ideia. Quando ela estiver melhor eu volto, vim apenas para saber se ela estava mesmo bem.

— Sim, é melhor. Não é bom que ela se agite tanto agora.

— Pode apenas repassar o nosso carinho para ela? — Fabrício segurou em sua mão firmemente. — Todos na empresa ficaram muito tensos com o acontecido. Estamos todos preocupados.

— Pode deixar, Fabrício. Eu vou dizer. Ela vai gostar de saber notícias, obrigada.

— Verdade, todos estão muito preocupados — O tio voltou a dizer. — Vai ser um alívio quando receberem as boas notícias. Luísa é muito querida na empresa.

— Eu imagino — Liz sorriu delicadamente ao imaginar aquilo. A tia era mesmo o tipo de pessoa que todos gostavam.

Liz olhou ao redor, procurando por Lia que estava sentada ao lado dos primos e chamou-a com um aceno. Logo ela foi até eles.

— Lia, esses são os filhos do tio Flávio, meus primos, Fabrício e Fernando — apresentou-os formalmente. — Meninos, essa é a Liana, minha namorada.

A rockeira viu como Lia sempre parecia sem jeito ao conhecer pessoas novas, mas admitia que ela já havia melhorado muito nesse quesito. Ela cumprimentou-os com um lindo sorriso e um aperto de mãos.

Depois disso Liz reapresentou os primos também a Vitória e Tomás. Eles todos só haviam se encontrado algumas poucas vezes quando eram bem mais novos e nem se lembravam bem uns dos outros.

Naquele momento, ainda fragilizada e com o tio agindo como uma pessoa normal, até chegou a sentir saudades de algum convívio familiar e que talvez as coisas poderiam mudar com o tempo, mesmo que fosse um pensamento prematuro.

Logo os três foram embora para que não ficasse tão tumultuada a recepção. Artur, que já havia saído do quarto, apenas se manteve distante, observando. Ao menos ele estava evitando trocar farpas com Flávio, aquele não era momento para desavenças.

Já se aproximava das sete e o horário de visita acabou. Vitória passaria a primeira noite com a mãe e os outros três voltariam para casa, mas antes, foram até uma farmácia próxima, à procura dos remédios que a tia precisaria.

Pelo menos naquela noite eles já voltaram para o condomínio com os corações mais leves e despreocupados. Estavam esperançosos que logo Luísa se recuperaria e que não ficaria sozinha à noite.

Liz sentia-se completamente cansada, esgotada emocionalmente com toda a situação. Quando finalmente deitaram-se, enroscou-se em Lia. O abraço dela era sempre onde poderia descansar e recarregar as energias.

***

Os dias foram passando e cada vez mais com boas notícias. O atendimento do hospital era excelente e aquilo fazia toda a diferença, Liz sentia que podia confiar mesmo que eles todos estavam fazendo todo o possível para a recuperação da tia.

Luísa passou uns três dias para conseguir se recuperar e descansar totalmente, já que os remédios para dor acabavam lhe dando sonolência. Porém, conforme as dores foram se atenuando, menos dosagem ela recebia.

A tia também passou alguns dias para voltar a sentir um pouco as pernas, mas o médico garantiu que com repouso, medicação e fisioterapia ela logo voltaria a ter os movimentos normalmente, o que aliviou a todos.

Ela não conseguia lembrar-se bem o que realmente havia acontecido durante o acidente. Aparentemente alguns minutos acabaram sendo apagados de sua memória devido à pancada que havia levado na cabeça.

Artur era uma figura muito presente. Ele ia ao hospital todos os dias para visitá-la e sempre levava flores. Liz apenas ficava feliz em ver o cuidado que ele tinha com a tia, sabia o quanto ela merecia uma pessoa boa ao seu lado.

Finalmente passou-se uma semana desde o acidente. Certa tarde eles estavam todos no hospital quando Artur chamou-a para o canto a fim de conversarem à sós.

— Algum problema? — Liz quis saber preocupada.

— Não, problema nenhum. Eu estava apenas pensando em algo.

— O que foi?

— Precisamos marcar uma reunião com os investidores. Queremos fazer um anúncio oficial sobre o estado da Luísa para que todos saibam como ela está e também para que a imprensa pare de ficar confabulando tanto. Não sei se me entende...

— Entendo sim, Artur — falou compreensiva. — Sei que minha tia é quase uma figura pública e que tem muitas responsabilidades. Eu já esperava por algo do tipo.

— Perfeito! — ele pareceu aliviado ao falar. — Eu também pensei em outra coisa.

— O quê?

— Seria bom se alguém mais próximo a Luísa participasse dessa reunião. Para falar em nome dela.

O coração de Liz disparou ao ouvir aquilo. Já sabia exatamente onde ele queria chegar.

— Não vou mentir que pensei se você poderia fazer isso. Sei que ela ficaria feliz.

A rockeira ficou estática por um tempo e nada falou. Por dentro suas entranhas se reviravam nervosas com a possibilidade. Não sabia se estava pronta para voltar à empresa e encarar com peito toda aquela situação, lidando com a dor que ainda tinha dos pais.

Contudo, de uma maneira estranha, sentia que talvez, mas apenas talvez, fosse a hora de aproveitar mais o momento sem se prender tanto ao passado...

 

***

 

 

 

 

 

Fim do capítulo

Notas finais:

Novamente eu peço perdão pela demora, mas é que a vossa autora acabou pegando esse tal de corona vírus e estava se recuperando... enfim! Estou bem melhor agora.

Espero que gostem do capítulo...


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Comentários para 39 - Capitulo 39 - Carp diem:
patty-321
patty-321

Em: 24/09/2020

Que bom q a tia Luísa tá melhorando.

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Elna Vale
Elna Vale

Em: 12/05/2020

Ei menina...

Que susto heim,mas fico feliz por vc está melhor, estará em mhs orações!

Que capítulo intenso,fiquei emocionada...

Sua escrita tem essa capacidade,nos faz rir,chorar,sentir raiva da Cíntia rs... espetacular essas sensações q vc consegue provocar em suas leitoras,meus parabéns...

Se cuide viu,por favor!

Bjos


Resposta do autor:

Olá Elna

 

Perdão pela demora em te responder...

Sim, esse corona vírus me pegou de jeito. kkkkkkk

Obg pelo carinho, mas já estou bem melhor!

Eu fico feliz em conseguir despertar assim as emoções de vocês. Para quem escreve esse é o maior prêmio que podemos ganhar em retorno. Me seinto de missão cumprida!

 

Beijinhos!

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