Paola mesmo sabendo que não era bem-vinda, manteve-se no mesmo lugar. Não havia voltado àquela cidade para desistir tão fácil.

— Bom... agora estava com um grupo de amigas, porém, por sorte, eu te encontrei aqui... em um estado um tanto deplorável – Riu.

Ricardo fechou a cara, demonstrando não achar nenhuma graça do seu comentário.

 – Você não se finja de desentendida. O que você veio fazer aqui? Por que voltou?

— Por você, Ricardo, eu voltei por você.

— Você é muito cara de pau – Ricardo olhou para o copo sobre o balcão. Não estava conseguindo acreditar no que estava acontecendo. Sua vida tinha virado mesmo de cabeça para baixo. Sófia com Raquel e agora Paola ressurgindo.

 – Você tá louca. Já se passou 5 anos, Paola... será que esse tempo fez você se esquecer de sua trepada com minha irmã?

— Ricardo, por favor, foi um erro... eu me enganei... eu me deixe levar pelos meus desejos... estou aqui para corrigir meus erros – Paola levou sua mão para o ombro do engenheiro.

— Não me toque – Gritou chamando a atenção de todos ao redor.

— Por favor, não eleve o tom de voz – Paola disse ao notar vários olhares sob eles.

Ricardo nada disse. Ficou em silêncio precisava entender o que estava acontecendo. Olhou de soslaio para Paola e a notou distraída. Não podia negar que aquela mulher era linda. Paola era morena, cabelos longos levemente ondulados. No momento, ela usava um vestido azul colado ao corpo.

Pegou o copo e tomou a bebida tudo de uma vez. Poderia escorraçar aquela mulher, contudo, naquele momento, estava se sentindo totalmente só. Não seria uma má ideia ficar com Paola por uma noite. Já que estava totalmente disponível.

— Vamos para meu apartamento – Levantou-se sentindo um pouco de dificuldade.

— Ricardo, não seja tolo... eu estar querendo uma segunda chance, não quer dizer que eu vá aceitar tudo que você propor.

— Se não é isso que você quer. Então, é o quê?

— Eu quero de volta o que eu perdi... o seu amor.

— Idiotice – Pagou a conta – Isso daí pertence a outra pessoa... Sófia.

— Veremos! – Paola disse enquanto via Ricardo se afastar com dificuldade. Sabia que havia errado muito no passado, todavia, agora, queria muito se redimir – Vou te reconquistar, Ricardo, sei muito bem que Sófia não quer nada com você.

Como não conseguia dirigir até o seu apartamento, Ricardo ligou para Tadeu que não demorou a chegar de Uber.

— Que estado deprimente, Ricardo — O amigo comentou enquanto dirigia o carro de Ricardo — No meio da semana. Será que você não pensa que terá trabalho amanhã?

— Por favor, não quero sermão — Desabotoou mais alguns botões de sua camisa demonstrando estar incomodado com algo.

— O que houve?

— A Paola — Disse e notou que Tadeu ficou confuso — A mulher ressurgiu das cinzas falando que quer ter de volta o meu amor. Só pode estar maluca depois do que aconteceu no passado.

— Por essa eu não esperava.

— Nem eu — Ricardo se acomodou melhor no banco parecia bem cansado, era o efeito do álcool.

— Você sentiu algo com esse aparecimento dela?

— Tenho que confessar que ela tá muito bonita... mais mulher, mas eu amo a Sófia. Não vou desistir dela tão fácil... vou recuperar o que a Raquel me roubou.

— Hum... Será que você não da conta de que esse seu amor está um pouco doentio?

— Você tá querendo dizer o que com isso?

— Ricardo, a Sófia terminou com você. Não tem mais o que se fazer. Você não vai mudar os sentimentos dela por Raquel.

— A minha irmã colocou coisas na cabeça de Sófia... ela nunca foi lésbica... ela deve ter ficado confusa... a Raquel tá manipulando ela... Vou mudar isso.

Tadeu respirou fundo.

 – Ricardo, para... Pelo que entendi, a Sófia está com sua irmã porque quer. Ninguém a obrigou.

— Chega, você não vai me convencer desse absurdo – Ricardo se alterou.

— Não queria te dizer isso, mas se você amasse realmente a Sófia, você a deixaria ser feliz com quem deseja.

_*_

Era quinta-feira de manhã, Sófia estava na construtora. Já fazia mais de uma hora que estava ali e não conseguia tirar Raquel do pensamento.

A noite que havia passado juntas foi maravilhosa, não fizeram amor, mas o momento agradável na companhia da outra tornou tudo inesquecível.

Encostou seu corpo na cadeira o relaxando.

— Raquel – Disse ao fechar os olhos e depois sorriu. Tudo estava indo maravilhosamente bem entre as duas.

 – Nem acredito que finalmente estamos bem e pensando em nos casarmos.

A relação das duas era algo recente, no entanto, era intensa e transbordava de amor, algo que Sófia nunca tivera sentindo antes.

Ao pensar nisso, lembrou-se de Raquel em sua cama lhe abraçando, passando tranquilidade... uma sensação de que ela não precisava de mais nada, pois ao lado da engenheira, ela tinha tudo... Tudo que precisava.

— Por mais quanto tempo você ainda vai suspirar nessa manhã? – Amanda surgiu na sala de Sófia chamando sua atenção.

— Acho que o dia todo... a semana toda... o mês todo... o ano... a vida toda – Sófia disse revelando um sorriso apaixonado.

— Uau... Quero saber os detalhes dessa noite que lhe fez tão bem – Amanda se sentou em uma cadeira e encarou para Sófia, impaciente, pois queria que a loira começasse a contar os detalhes logo.

— Raquel e eu estamos noivas.

— Que história é essa?! Vocês ainda nem começaram a namorar.

— Pra que namoro se já temos certeza do que queremos...

— Estar ao lado da outra até se tornarem duas velhinhas – Amanda brincou.

— Para toda uma vida... estar com a outra em todos os momentos... momentos ruins... bons... de doença... ahh... compreender a outra. Saber que nem sempre estaremos certas e teremos que aprender com nossos erros para mantermos nossa relação firme e forte.

— Discurso de gente que ainda não casou é muito otimista... Casamento em um determinado momento se torna tão monótono... o cansaço faz a gente não querer até sex*.

— Amanda, está tão ruim assim sua relação com Tiago? – Sófia teve que fazer essa pergunta, pois sua amiga estava pessimista demais com relação a casamento.

— Não... não que esteja ruim... só sinto falta de sairmos mais... ficar muito em casa cansa, mas não posso reclamar dele. Temos uma ótima relação e ele é um amor de pessoa comigo – Riu por parecer que as coisas estavam muito ruins – Quando pretende contar a Ricardo? Vocês não vão conseguir esconder a relação de vocês por muito tempo. Acho que seria bom vocês mesmas dizerem a ele.

— Eu não sei, Amanda, Ricardo não parece estar muito bem depois do nosso término... falando nele, não deu nem sinal de vida ainda. Até fico um pouco preocupada pensando em ligar, mas prefiro me manter distante. Quanto menos eu me envolver com ele, melhor.

— Por esse lado, você tem razão. Se você demonstrar se importar, ele pode confundir as coisas.

— É... isso é a última coisa que quero – Deu uma pausa – Você acredita que ele quase derrubou a Raquel de um prédio ontem?

— Como assim? – Amanda levou as suas mãos até a boca, demonstrando surpresa.

— Estavam em uma obra... não sei muito dos detalhes, mas a Raquel disse que por pouco ela não caiu... ele tentou desequilibra-la.

—Sófia, isso é muito grave.

— Eu sei, Amanda, por isso que não quero falar com Ricardo sobre o que estou tendo com a Raquel... ele não está bem.

— Você não chegou a pensar na possibilidade dele já saber de tudo e estar querendo se vingar?

— Já e isso é o meu maior medo – passou a ficar com medo de Ricardo fazer algum mal a sua amada.

_*_

Passava do meio-dia, Norma estava em um táxi se questionando se havia feito certo em chamar Laura para almoçar com ela em um restaurante no centro da cidade.

Apreensiva, não sabia o que iria fazer quando encontrasse aquela mulher.

— Em um encontro entre mulheres, o que acontece? – perguntou a si mesma em um tom alto, chamando a atenção do taxista.

— Perdão, senhora, mas eu não entendi sua pergunta.

Ao perceber que havia falado alto demais, Norma envergonhou-se.

— Ahh... pensei um pouco alto – Respirou fundo. Aquele almoço estava mexendo muito com ela.

— Tudo bem – O motorista voltou a prestar atenção no trajeto.

Após alguns minutos, Norma chegou onde havia combinado com Laura.

Como a médica ainda não havia chegado, acomodou-se em uma das mesas e ficou pensativa ao encarar as horas. Faltava alguns minutos para o horário marcado.

— Senhora, no que posso te ajudar? — O garçom apareceu lhe entregando um dos cardápios.

— Vou esperar minha companhia chegar para escolher algo. Obrigada!

O garçom assentiu e enquanto Norma o notava distanciar, reparou que quem tanto esperava, estava passando pela porta do restaurante.

Laura se dirigiu até onde Norma estava com um caminhar seguro. Nada mais parecia chamar a sua atenção, além do ponto ao qual direcionava os seus olhos, Norma.

— Será que me atrasei? – Aproximou olhando fixamente para o relógio em seu pulso – Não – Sorriu, fazendo Norma sentir algo tomando conta de seu corpo... parecia um nervosismo... ansiedade.

— Ahh... droga, controle-se, Norma, isso é apenas um almoço – Pensou ao se levantar de onde estava sentada – Acabei de chegar.

— Que bom... não queria te deixar me esperando – a médica aproximou os corpos ao dar um abraço caloroso.

Norma, ao sentir aquele corpo quente perto, respirou fundo após fechar os olhos... era quente... exalava um cheiro gostoso.

— Foi muito bom receber seu convite – Laura se afastou e Norma sentiu a sensação de estar perdendo algo – Bom... podemos fazer nossos pedidos – Disse ao notar a advogada muito tempo em silêncio e pensativa.

— Ahh... claro — sentaram-se e fizeram os pedidos.

 Enquanto aguardavam, Laura fixou o seu olhar em Norma, deixando-a sem jeito.

 – Aconteceu algo?

— Nada, só estava reparando no quanto você é linda.

— Exagero seu – Colocou uma mexa do cabelo atrás da orelha, demonstrando nervosismo – Você é médica, né?

— Sim, e você é uma advogada que trabalha até aos domingos – Laura riu mostrando que não havia caído muito naquela conversa.

Norma, sentindo-se ainda mais nervosa, ficou em silêncio ao direcionar o seu olhar para a mulher a sua frente.

Quando reparou melhor a médica, a sua boca começou a ficar seca e o ar pareceu querer lhe faltar. Laura estava linda com aqueles cabelos cacheados e a blusa na cor azul claro tinha um decote que fazia Norma não querer desviar o olhar.

— Algum problema? – Laura perguntou ao notar para onde Norma estava olhando.

— Nenhum – Norma começou a olhar para os lados e se sentiu aliviada por ver o garçom chegando com seus pratos.

Durante o almoço, a ruiva se remexeu diversas vezes em sua cadeira. Laura lhe olhava a todo instante e não era um simples olhar, era intenso e causava arrepios. Aquela mulher, estava mexendo com ela sem ao menos lhe tocar.

— Fale-me sobre você – a advogada resolveu acabar com aquele clima que ela não sabia mais como lidar.

A médica sorriu.

 – O que quer saber?

— Bom... achava que era interessada por Raquel — Fixou o seu olhar nos olhos da médica, mas em seguida desviou, eram intensos demais.

— Bom... quando conheci a Raquel, estava saindo de uma relação complicada, senti tentada a ter algo com ela, mas muitas coisas aconteceram de uns dias para cá.

— Ela se reconciliou com a Sófia. Começaram a se entender.

— Pois é... e eu ajudei nisso tudo. Hoje, eu vejo que o único sentimento capaz de ter entre ela e eu é de amizade... e bom... acho que ando tendo outro interesse também — Sorriu enquanto reparava nos traços de Norma. A mulher a sua frente era muito bonita, demonstrava ser madura... não era uma mulher que vivia buscando aventuras.

 Laura já tinha certeza de algo, se fosse para investir em Norma, teria que deixar de lado a vida de conquistadora.

— Laura, eu nunca me envolvi com uma mulher... e não sei exatamente onde quero chegar estando aqui com você.

A médica sorriu e levou a sua mão até a de Norma.

Ao sentir aquele toque tão tenro sobre sua mão, fechou os seus olhos por alguns instantes. A mão de Laura era macia... quente... aquele toque era diferente dos que ela já havia sentido e isso lhe deixou confusa.

— O que essa mulher tem de diferente das outras pessoas? — Pensou.

Fim do capítulo