Quarta-feira

Um corpo se espreguiçou levemente na cama, enquanto sentia com a palma de suas mãos o lençol macio ao qual o seu corpo repousava. Ao abrir seus olhos, notou uma pequena frecha de luz atravessando a cortina branca e batendo sobre a cama que no momento estava toda bagunçada.

Esticando um de seus braços, Raquel apanhou o seu celular que estava sobre a cômoda. Antes mesmo de reparar na hora exata que marcava no seu celular, Raquel se deparou com a mensagem de Sófia.

“Bom dia, meu amor! Espero que você tenha um ótimo dia. Muitos beijos!”

Mesmo a mensagem sendo algo simples, cada palavra lida parecia aquecer de alguma forma seu coração.

Raquel sorriu ao terminá-la e suspirou ao se lembrar de tudo que havia acontecido entre elas antes de dormir.

Na noite anterior, as duas haviam conversado por horas. Parecia que nunca acabava o assunto entre elas. Qualquer besteira, parecia reder longos minutos de conversar. E isso era algo que Raquel amava na relação entre as duas, o assunto para nunca chegar ao fim.

Como aquele dia iria render muito para a engenheira, Raquel respondeu a mensagem de Sófia rapidamente.

“Bom dia, amor! Muito obrigada, espero que você também tenha um ótimo dia. Estou com saudade. Não vejo a hora de encontrá-la. Muitos beijos nesses lábios que amo! “

Após enviar a mensagem para Sófia, Raquel olhou para as horas. Os minutos já se aproximavam das 8:00 horas. Estava muito atrasada para ir ao trabalho, todavia, Ricardo não havia lhe enviado nenhuma mensagem com o endereço de onde era a obra em construção.

Não querendo perder mais tempo, Raquel levantou fazendo a coberta deslizar por sua pele e cair sobre o colchão macio.

Enquanto se dirigia para o banheiro, ouviu um latido forte atrás da porta.

— Ah... Nino já está querendo seu café — Raquel correu para o banheiro para fazer a sua higiene matinal e quando voltou, começou a vestir as roupas que iria usar naquele dia: uma camisa azul jeans com dois botões desabotoados; uma calça preta. Para finalizar, calçou uma bota preta cano curto — Será como vai ser hoje? — perguntou-se enquanto se olhava em frente ao espelho. Os seus cabelos estavam soltos. Um pouco maiores do que quando voltara — As coisas mudaram!

Após estar pronta, Raquel abriu a porta de seu quarto e foi recebida com um abraço canino. Nino era realmente um presente em sua vida.

— Eu sei muito bem que isso é interesse — Enquanto se mantinham abraçados, Raquel reparou que os olhinhos de Nino brilhavam era linda a forma como seu gigante peludo demonstrava o amor por ela — Bom dia, meu amor! — Começou a acariciar as costas de Nino.

Como não poderia mais perder tempo naquele momento, Raquel colocou a ração para seu garoto e foi preparar seu café.

Após estar tudo pronto, Raquel se sentou à mesa e começou a comer. Enquanto mastigava um pedaço de pão, viu o seu celular tocar avisando que havia chegado uma mensagem. Era Ricardo, e isso fez o alimento descer querendo formar um bolo em sua garganta.

Sabia que seu irmão lhe mandaria mensagem para ela, mas recebe-la era algo que mexia com o seu emocional. Passaria quase o dia todo com o seu irmão. Isso implicava tantas coisas. Essa proximidade fazia ela se dar conta de que era difícil viver escondendo de todos que amava a Sófia.

“Bom dia, Raquel! Essa mensagem é para lhe enviar o endereço da obra e para avisar que podemos nos encontra lá as 9:30. Eu tenho uns assuntos pendentes por isso que não te avisei antes. Até mais tarde!”

Raquel com a mensagem só consegui responder um simples “OK”.  Passou a sentir uma sensação esquisita lhe invadindo. Aquele não seria um bom dia.

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— Eu não estou entendendo o que você está me pedindo, Ricardo — Álvaro, um dos arquitetos da construtora dos pais de Raquel e amigo de Ricardo, disse se sentindo totalmente confuso. Ricardo estava lhe pedindo ajuda para dar um pequeno susto em Raquel naquele dia.

— Isso mesmo que você ouviu — Ricardo estava na obra e havia acabado de mandar uma mensagem para Raquel. Aquele dia iria começar a sua vingança. Queria acabar com a sua irmã sem ela ao menos saber o que estava acontecendo.

— Ricardo, acho que não podemos fazer isso. Um acidente faria os seus pais colocarem a responsabilidade em você... na gente... em tudo — Álvaro começou a ficar preocupado.

Ricardo percebendo o quanto o seu amigo era medroso, respirou fundo — A Raquel está se metendo em um assunto que só a mim diz respeito. Eu quero que ela suma de uma vez — Olhou para os lados para ver se alguém naquela obra estava escutando a conversa dos dois — E você sabe, você me deve favores.

— Ah... claro que sei que devo — Álvaro levou a sua mão até a gola de sua camisa. Lembrar de suas dívidas com Ricardo era algo que lhe incomodava — Mas ela é sua irmã... Uma das donas da construtora.

Ricardo começou a rir de uma forma que Álvaro achou muito estranha — Raquel é apenas uma mulher que quer brincar de engenheira. Logo cansa e vai embora de novo.

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— 9 horas – Raquel olhou para a tela do celular para ter certeza que já não estava perto de meio-dia. Encontrava-se em seu carro já se sentindo um pouco agoniada com o calor que parecia não querer amenizar com o ar condicionado.

Sentia-se um pouco desconfortável. Não estava se sentindo bem naquele momento. Parecia que poderia acontecer algo, mas isso só poderia ser algo de sua cabeça.

Enquanto dirigia, os seus pensamentos eram constantes. Não se casava de imaginar como seria esse encontro com Ricardo. Era estranho estar junto de seu irmão estando com a ex dele e fingindo que não faz ideia do que se passa entre os dois.

— Raquel, pare com isso... você já fez sua escolha – Disse enquanto parava em um semáforo.

Aquele não estava sendo um dos seus melhores dias. Os pensamentos lhe atormentavam...

Durante seu café-da-manhã, Raquel recebeu em seu celular a mensagem com um endereço do edifício que estava sob a responsabilidade da construtora de seus pais. Era algo no centro da cidade, então, Raquel tinha certeza que só poderia ser algo grande.

Alguns minutos depois, se deu conta de que estava certa. Estacionou o carro em frente ao um maior prédio que a construtora de sua família havia projetado.

— Vejo que não imaginava algo assim – Ricardo disse enquanto via sua irmã descendo do carro, surpresa com o que acabara de ver.

Enquanto sua irmã apreciava a imagem que estava vendo. Ricardo rangia os dentes enquanto reparava nela. Queria saber o que tanto Sófia havia visto naquela mulher. Não tinha cabimento isso para ele.

Raquel nem uma mulher forte era. Como poderia amar Sófia como Ricardo achava que ela gostava.

— Dessa vez a construtora se superou – colocou seu capacete enquanto olhava fixamente para obra inacabada.

— É um conjunto habitacional... o melhor que já fizemos. Álvaro – apontou para o homem moreno musculoso que estava ao seu lado – é um dos que me ajudaram nisso... o nosso brilhante arquiteto.

— Ah... Para com isso, Ricardo, você sabe que tudo que você toca se torna algo grandioso — Álvaro se aproximou de Raquel para cumprimentar — Muito prazer lhe conhecer, Raquel — Enquanto se aproximava da morena, Álvaro começava a se perguntar o porquê de Ricardo querer fazer mal a sua irmã sendo que a mulher parecia ser uma boa pessoa — É melhor eu querer saber pouco sobre isso. Para não correr o risco de sobrar para mim — Pensou.

— Muito obrigada, Álvaro — Raquel deu um sorriso largo demonstrando toda sua simpatia.

Ricardo notando isso, sentiu o seu corpo ficar tenso. Queria acabar com toda a felicidade de sua irmã.

— Vamos, precisamos ver muita coisa por aqui — Ricardo deu as costas para os dois e começou a andar na frente. Precisava planejar como iria fazer para ficar sozinho com Raquel e Álvaro. A última coisa que queria era ter testemunhas do que iriam fazer.

Após ficar alguns minutos naquele ambiente, Raquel começou a se familiarizar com tudo, Álvaro lhe explicava tudo pacientemente e fazia questão de lhe apresentar as pessoas. Já Ricardo, ele se mantinha mais distante. Queria parecer simpático, mas toda vez que se lembrava que Sófia havia lhe trocado para ficar nos braços de Raquel, ele sentia uma fúria incontrolável tomando conta dele.

— Por que essa história teve que se repetir? — Se perguntou enquanto se mantinha mais distante de Álvaro e Raquel que no momento observavam a planta do local.

Talvez Ricardo não fosse uma má pessoa, mas a situação, estava lhe fazendo perder a cabeça completamente.

Em um determinado momento, Ricardo começou a se sentir totalmente impaciente. Cruzou os seus braços e ao olhou as horas no relógio em seu pulso.

— Já passa das 11 — direcionou o seu olhar para Álvaro que estava explicando tudo a Raquel.

Após mais alguns minutos de explicação, Álvaro resolveu dar uma pausa — Acho que seu irmão está nos chamando — olhou para Ricardo que estava mais no canto, os observando.

— Ah... Sim — Raquel sorriu ao se dar conta de que havia se entretido bastante com as explicações do novo conhecido — Muito obrigada, Álvaro, por me deixar a par sobre a obra— Os dois começaram a andar até Ricardo.

— Raquel, não agradeça. Este é meu trabalho... ah... nosso trabalho, imagino que você irá nos ajudar nisso também.

Com a fala de Álvaro, Raquel sorriu. Fazia poucas horas que havia conhecido Álvaro e tinha se simpatizado com o arquiteto.

Enquanto caminhava até Ricardo, Raquel se sentiu muito estranha. Seu irmão lhe olhava de uma forma que ela não entendia o que queria dizer.

— Está na hora de darmos uma olhada geral – Ricardo anunciou e começou a andar na frente – Faz tempo que você não visita uma obra, né, Raquel? O que tá achando? – Não estava interessado nas respostas de sua irmã, todavia queria aparentar ter se esquecido do passado.

— É como se sentir em casa – Raquel começou a observar ao seu redor. Para ela, era muito bom observar todo o processo para construção de um prédio.

— Sempre me sinto assim – Álvaro comentou enquanto eles começavam a subir alguns degraus de uma escada.

Ricardo que estava na frente não conseguia acreditar que seu amigo estava caindo naquelas conversas de Raquel.

— Preciso começar a dar uns sustos em Raquel, mesmo Álvaro não me ajudando – Pensou ao se dar conta de que o arquiteto acabaria recuando e não seguindo seus planos. A ideia era dar um susto em Raquel, mas Ricardo já estava pensando na possibilidade de fazer algo maior. Álvaro iria lhe ajudar, mas não fazia ideia de como tudo seria feito.

Enquanto subiam os andares, Álvaro ia explicando como haviam pensando na obra e Raquel que passava a olhar tudo com paixão nos olhos. Ela amava estar naquele ambiente.

— Acho que aqui já está de bom tamanho – Ricardo parou em um andar.

— Pensava que iriamos seguir mais – Raquel ficou confusa, mesmo estando cansada, ela queria andar mais.

— Imagino que seja um pouco cansativo subir 10 andares – Álvaro fez graça, mas começou a olhar para Ricardo desconfiado. Tinha medo do que o engenheiro poderia fazer. Conhecia Ricardo há um bom tempo, mas nunca havia lhe visto estranho daquela forma.

— Estamos no quinto andar – Ricardo começou a andar calmamente por um dos corredores e os outros lhe seguiram – imagino que seja um pouco cansativo subir mais e depois ter que descer tudo isso pelas escadas.... e também, levaria muito tempo... existe uma outra forma de descer tudo isso rápido – O seu tom de voz mudou de repente – mas acho que ninguém quer fazer isso.

— O quê?! – Raquel ficou confusa com as conversas do irmão.

— Pular... pulando chegaríamos embaixo rapidinho – Riu de uma forma que fez descer um suor frio pelas costas de Álvaro.

— Mas acho que nenhum de nós, está louco a esse ponto – Álvaro olhou para Ricardo assustado. Nunca passara por sua cabeça que Ricardo poderia querer fazer uma loucura dessas.

Raquel achou estranho aquele humor do irmão, mas o seguiu. Em um certo momento do caminho, sentiu um calafrio percorrendo seu corpo. O que fez ela cruzar seus braços tentando esquentá-los.

— Quem vai saber, Álvaro – Ricardo disse após entrarem em um apartamento.

Enquanto Álvaro mostrava a Raquel como era os apartamentos... as suas divisões, Ricardo se aproximou da pequena área que tinha ao fundo. Ainda estava sem nenhum tipo de proteção.

Como nem ligava mais para o perigo, Ricardo chegou bem perto observando tudo que estava embaixo.

Uma queda dali de cima seria mortal. Ao constatar isso, Ricardo se encostou na parede próxima e teve uma ideia.

— Ei, venham ver isso – Gritou enquanto Álvaro e Raquel estavam dentro entretidos com o espaço.

Ao ouvir o chamado de Ricardo, Raquel foi prontamente. Álvaro foi atrás temendo o que pudesse acontecer dali por diante.

— Será que você tem coragem de olhar lá para baixo daqui de cima, Raquel? – Ricardo perguntou todo sorridente – Será que você é mulher suficiente para olhar? – debochou.

Fim do capítulo