Após tomar banho e dar ração para Nino, Raquel se deitou no sofá usando uma roupa mais leve e começou a procurar o número de Norma na agenda. Precisava contar as novidades e saber se sua amiga havia tomado alguma decisão com relação a Laura.

— É, agora que já enjoou de namorar você resolveu procurar as amigas – Norma disse após Raquel perguntar como ela estava.

— Bom... eu ainda não enjoei de namorar. Só estou com saudade de você mesmo.

— Hum... sei – Disse desconfiada – Como está sendo as coisas com a Sófia?

— Muito bem... finalmente nos acertamos – Disse demonstrando todo seu amor por Sófia – Ela é a mulher perfeita para mim, Norma.

— Eu sempre soube disso. Vocês duas tem uma ligação. Seus olhos brilham ao estar perto da outra... esquecem de tudo quando estão juntas. Até das amigas

— Norma!

— Não falei nenhuma mentira. Quando estão juntas parece que só existem vocês, Nino e Nina – Deu uma pausa – Falando no meu segundo casal preferido, como eles estão?

— Estão bem... Ontem, Sófia e eu saímos com eles. Estavam bobos por estarem juntos. Falei com Nino que ele precisa pedir a Nina em namoro. Ele ficou todo se graça – Riu ao se lembrar da cena e Norma ficou pensativa.

— E você, quando vai pedir a Sófia em namoro?

— Você sabe, eu já pedi ela uma vez, mas ela não aceitou, pois disse ter que resolver uns assuntos antes... Que você sabe muito bem o que foi.

— Sei sim. Ela precisava terminar com o Ricardo antes de ter qualquer coisa com você.

— É  — Raquel falou sentindo um pouco de incômodo ao se lembrar que Sófia já havia sido de seu irmão – Mas agora acho que vai ser tudo diferente.

— Você pretende pedir quando? Onde? Vai fazer surpresa? – Norma ficou curiosa.

— Norma, paciência, por favor! – A morena riu – Ela me chamou para ir a praia, à noite.

— Hum... Vejo que ela deve estar com muitas intenções para esse dia – Norma se lembrou de já ter dado essa ideia para Raquel antes. Com a intenção delas namorarem mais a vontade em um lugar agradável.

— Eu também – Disse toda sapeca – Mas... bom... quero aproveitar esse dia para pedir a Sófia em namoro.

— Acho uma boa ideia e vai ser romântico também – Norma comentou e ficaram em silêncio por alguns segundos.

— E você? – Raquel queria saber se Norma havia tomado alguma decisão com relação a Laura.

— Eu o quê?

— A Laura, não decidiu nada?

Norma ao ouvir esse nome, ficou um pouco em silêncio.

— Não! E nem tenho o que decidir... isso é uma loucura... eu nunca fiquei com uma mulher. Nem sei como se fica com uma... e ter que tomar a iniciativa com uma mulher vai ser estranho para mim – Norma mesmo sentindo um certo interesse, estava muito desconfortável com aquela história.

— Então deixe a Laura tomar a iniciativa. Acho que isso não é um problema para ela – lembrou de que Laura costumava correr atrás do que ela queria.

— Então, vamos fazer assim. Se ela vier me procurar, eu dou uma chance. Se não, a gente finge que isso nunca aconteceu.

— Você é cabeça dura também – Raquel comentou.

— Eu sou cautelosa... é diferente.

Após essa conversa com Raquel, Norma se deitou em sua cama e começou a ficar pensativa. Estava tão bem com sua vida. Era sossegada. Já havia dado uma pausa em sua vida amorosa, pois nunca encontrava um homem interessante e que mantivesse o seu interesse por ele.

— Será que sempre gostei de mulher e nunca me dei conta? – Remexeu na cama e começou a encarar a parede – Mas não é possível, eu nunca me interessei por uma mulher antes – Tentou se lembrar de algum momento que havia olhado para alguma mulher de forma diferente, mas isso nunca havia acontecido antes de Laura surgir na porta da casa de sua amiga.

Norma tentou acalmar seus pensamentos fechando seus olhos, porém passou a se lembrar de Laura naquele dia.

A mulher estava linda com aqueles cabelos cacheados soltos... aquele vestido colado ao corpo delineando sua cintura. Ao se lembrar disso, Norma sentiu o seu coração se acelerar e sua boca querer se umedecer ao se lembrar dos lábios da médica.

— Essa mulher está tirando meu juízo – Norma se revirou mais uma vez na cama... precisava se acalmar. Precisava se esquecer que aquela mulher existia.

_*_

Terça-feira

Raquel havia acabado de chegar a construtora e novamente estava radiante. Não conseguia disfarçar sua felicidade por nenhum momento.

Eleonora que como sempre estava na recepção, não conseguia ficar contente com essa história. Não achava que Raquel não merecia Sófia, mas a situação era complicada. Se as pessoas descobrissem, a vida da engenheira voltaria a ser um inferno. E a pergunta que Eleonora sempre fazia a si, era: Será que Sófia estaria ao lado da engenheira quando chegasse esse momento ou faria como Paola, fugiria?

— Bom dia, Eleonora – Raquel disse sorridente ao passar pela senhora.

— Bom dia, Raquel – Eleonora ficou observando a morena até ela entrar no elevador.

Após chegar no andar em que trabalhava, Raquel foi até o bebedouro e depois de ouvir alguns passos atrás de si. Ela sentiu um corpo quente se encostando no seu e um perfume que ela tanto amava invadindo suas narinas.

— Bom dia, Raquel – Sófia disse com uma voz rouca enquanto pegava um copo descartável.

— Bom... dia – Raquel se virou para Sófia e se perdeu um pouco na visão que teve.

Sófia estava usando uma camisa branca com alguns botões desabotoados, uma saia preta com uma pequena fenda, saltos pretos e seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo.

— Você está linda – Raquel comentou baixo para que ninguém ouvisse e Sófia agradeceu ao elogio com um lindo sorriso.

Na construtora, ela tentavam se manter distantes para que ninguém pudesse desconfiar das duas.

Enquanto tomavam água de frente para a outra, elas se observavam e sentiam vontade de beijar os lábios da outra.

— Acho que preciso ir – Sófia fez menção de se afastar, mas Raquel em um movimento impensado segurou um de seus braços a impedindo de sair e depois o soltou.

— Será que depois você pode levar em minha sala aqueles projetos que ainda faltam? – Raquel inventou uma desculpa para ficar com a loira e Sófia não conseguiu não rir com isso.  

— Claro, eu levo sim – Sófia encarou aqueles olhos profundamente e saiu.

Enquanto Sófia caminhava, Raquel ficava ao lado do bebedouro a observando e tomando água para ver se acalmava seu coração que se acelerava ao ver Sófia.

_*_

Era a hora do almoço e Ricardo estava na casa de seus pais. Não era costume estar ali naquele horário no meio da semana, mas ele sentia a necessidade de colocar logo os seus planos em ação.

— Filho, você nunca mais trouxe a Sófia aqui em casa? – Rita perguntou, pois o filho havia dito que a loira havia aceitado seu pedido de noivado, mas eles nunca fizeram uma comemoração em família.

Naquele momento, todos estavam já sentados à mesa fazendo sua refeição.

— Sua mãe está certa, filho, precisamos comemorar o noivado de vocês – Ricardo que estava sentado na ponta da mesa comentou – Chamar os conhecidos... sua irmã Raquel.

Ao ouvir aquele nome, Rita e Ricardo ficaram em silêncio. Rita não tinha nada contra a filha, mas não queria que ela se metesse nos assuntos de seu preferido. Já Ricardo, tinha motivos de sobra para manter a sua irmã bem longe de sua vida.

— Rogério, não acho que colocar a Raquel no meio disse seja uma boa ideia. Só nós quatro já está bom. Queria ver Sófia, não precisamos fazer uma festa.

— Mas, amor, ela também faz parte da família – Rogério não entendia como sua esposa podia ser assim tão contra sua filha. Raquel havia cometido um erro no passado, mas nem por isso precisava ser crucificada a vida toda.

Ricardo que estava em seu canto, quieto, sentia vontade falar toda a verdade para os seus pais ali, contudo, ele queria ir muito mais além. Iria acabar com Raquel aos poucos a ponto de seus pais nunca mais querem falar com ela.

— A Sófia terminou tudo comigo – Ricardo disse deixando todos na mesa surpresos.

— Como assim, filho? – Rita não conseguia acreditar que alguém tinha coragem de terminar com seu filho que pra ela, era um homem maravilhoso.

— Aquele dia, eu não tive coragem de dizer a vocês que ela não havia aceitado meu pedido e terminado tudo comigo.

— Filho, eu não entendo. Vocês estavam tão bem – Rogério comentou.

— Pois é, pai, mas acho que alguém surgiu na vida dela – Ricardo começou fingir desespero – Sófia está diferente. Não parece a mesma pessoa que me relacionei... alguém está colocando coisas na cabeça dela – Deixou seus talheres de lado e começou a chorar. Não era disso, mas precisava impressionar seus pais a ponto de fazer eles acreditarem no que ele estava dizendo.

— Meu filho – Rita sentindo seu coração doer se levantou e foi até onde seu filho estava sentado – Como a Sófia pôde fazer isso com você? – Começou a se indignar com tudo que havia escutado.

— Não a culpo, mãe, tenho certeza que alguém está inventando mentiras pra ela para destruir nosso amor – Começou a chorar de forma descontrolada deixando todos preocupados.

— Eu vou falar com essa moça – Rita começou a ficar irritada – Depois de tudo que você fez por ela, ela tem coragem de fazer isso com você?

— Amor, acredito que Sófia tenha seus motivos – Rogério não era tão radical como sua esposa.

— Rogério, você não vai ficar do lado de nosso filho? – Rita gritou. Não aguentava ter que lidar com o jeito calmo do marido. O filho estava ali falando o quanto estava sofrendo por Sófia ter o deixado por outra pessoa e Rogério ainda queria entender – Meu filho, a verdade é que ela não presta... mulher nenhuma de respeito tinha feito isso com você.

— Não fale assim dela – Ricardo se voltou para a mãe furioso, deixando todos surpresos – Sófia não tem culpa de alguém estar se aproveitando do lado ingênuo dela.

— Mas meu filho, ela te trocou por outro – Rita disse calma.

— Eu sei, mãe, por isso que vou acabar com a vida dessa pessoa... por ter afastado a Sófia de mim.

— Ricardo, eu não quero que você se vingue. Eu não te criei pra você fazer mal a ninguém— Rogério se levantou. Sabia que Rita não pensava da mesma forma que ele, então resolveu tomar partido. Não podia deixar seu filho estragar sua vida por causa de mulher.

— O senhor querendo ou não, pai, eu iriei fazer isso – Ricardo saiu daquela casa a passos apressados deixando todos preocupados.

— Tá vendo o que seus conselhos estão fazendo com nosso filho? – Rogério disse nervoso ao olhar para sua esposa – E se ele fizer uma besteira?

— Ele vai estar em seu direito – Rita disse de forma fria enquanto saia daquela sala.

Rogério ao se ver sozinho, começou a se perguntar onde havia errado.

Fim do capítulo