Já se passava das 10 horas quando Norma saiu do prédio de Raquel e pegou um táxi para ir para casa.

Não queria ter que deixar a sua amiga só, no entanto, tinha que atender a um cliente as 11 horas.

Enquanto estava no táxi, Norma passou a pensar em toda a situação de sua amiga. Estava complicada demais.

Sabia que Raquel amava Sófia e que esse sentimento era recíproco, contudo, havia um empecilho nisso, Ricardo.

Raquel não queria voltar a magoar o seu irmão, mas dava para perceber que ela sofria por isso, já que, o que sentia por Sófia era forte demais para ser deixado de lado.

Norma então passou a se sentir culpada, ela foi quem havia incentivado a morena a procurar Sófia e dizer tudo que sentia.

Se isso não tivesse acontecido, Raquel não estava passando por toda aquela situação, porém, Norma não tinha como adivinhar que Sófia era a namorada de Ricardo.

Mesmo ela tendo um pouco de contato com a família de sua amiga, ela nunca havia visto ou ouvido o nome da namorada do irmão de Raquel.

— o que vai acontecer agora? – Começou a encarar a paisagem fora do carro, porém isso não queria dizer nada, pois seus pensamentos eram tão constantes que ela nem prestava atenção no que os seus olhos viam – Sófia também a ama!

— O que senhora? – O taxista perguntou, pois achava que a advogada estava falando com ele.

— Nada, senhor, estou falando comigo mesmo – Ficou um pouco sem graça.

— Está bem! – o homem voltou a prestar atenção no percurso e Norma voltou a tentar achar uma solução para os problemas de sua amiga.

***

Raquel ao se ver sozinha em seu apartamento com Nino, ela pegou o café que sua amiga havia preparado e retornou com ele para a cozinha.

Não queria comer nada... Não sentia fome. Sabia que isso iria fazer mal a ela, no entanto, não ligava, já que algo muito maior já fazia mal para ela e estava acabando com ela aos poucos, a dor do amor não vivido.

 

Quando passou por Nino na sala, ela sentiu um olhar lhe recriminando, no entanto, isso não a impediu de deixar a bandeja na cozinha e voltar para o seu quarto.

Não se sentia bem ali por conta das lembranças que sempre lhe vinham a mente, contudo, era o único espaço capaz de lhe dar um pouco de conforto.

— O que vou fazer de minha vida agora? – Raquel começou a pensar em como tudo seria a partir daquele momento.

Não poderia mais andar com Nino pelo parque no período da manhã, pois se isso acontecesse, haveria a possibilidade de se encontrar com Sófia e isso ela não queria. Sim, Raquel queria reduzir o contato com a loira ao máximo. Sabia que seu filhote iria sofrer com isso, mas ela não tinha outra solução.

Nino e Nina se gostavam, não tinham culpa nenhuma no que estava acontecendo, no entanto, Raquel tinha certeza que conviver com Sófia poderia lhe trazer muita dor e ela não podia se martirizar dessa forma.

Como não tinha nada para fazer nesse momento, Raquel pegou o controle e ligou a Tv de seu quarto. Não era uma pessoa que destinava um pouco de seu tempo para assistir as programações, entretanto, naquele instante, ela estava procurando algo para distrair a sua cabeça. Não poderia continuar pensando em Sofia.

Respirou fundo tentando conter os sentimentos que começavam a lhe invadir.

— Vai ser muito difícil— se deu conta de que esquecer Sófia seria uma das coisas mais complicadas e dolorosas que teria que fazer em sua vida.

***

Faltava meia hora para Sófia ir ao trabalho e ela não se cansava de pensar em Raquel, em como a sua amada poderia estar.

Após o último encontro das duas, ela sabia que seria muito difícil reconquistar Raquel. Sófia entendia a morena, ela havia omitido o fato de ser comprometida.

— O que você tanto está pensando, filha? – Geraldo chegou a sala e notou Sófia totalmente perdida em seus pensamentos.

— Na Raquel, pai, eu não sei o que fazer para reconquistá-la... ela pensa que eu a enganei, mas tudo o que fiz foi por amá-la... tive medo de perde-la, por isso que iria dizer quando acabasse tudo com o Ricardo.

— Mas não esperava que ela fosse a tal irmã do Ricardo?

— Não, pai, eu não esperava.

Geraldo se sentou ao lado da filha no sofá e Sófia se permitiu aconchegar-se no colo dele.

— Filha, estamos em uma situação bem complicada – Acariciava os cabelos da filha de forma lenta – Ela tem razão por se sentir enganada, mas isso não quer dizer que você agiu de má fé. Você achou que seria melhor dessa forma, mas, agora percebe que foi pior, pois a Raquel se sente enganada.

— O que eu faço, pai? – pensou que o pai pudesse ter uma solução para o que estava acontecendo, pois quando era criança, ele sempre tinha uma solução para os seus problemas.

Geraldo ficou pensativo. Sua filha estava ali tão abatida, parecia uma menininha indefesa. Doía ver Sófia daquela forma. Sentia-se culpado por tudo que havia acontecido a loira, porque ela havia namorado Ricardo por gratidão a tudo que havia feito por ele.

Agora ele se sentia com uma dívida enorme com sua filha. Precisava achar uma forma de ajudá-la a reconquistar Raquel.

— Você vai ter que mostrar a ela que o que viveram não foi uma mentira, filha, que você sentiu e a amou de verdade... Demonstre que a ama e que esse sentimento sempre foi real.

Sófia pareceu pensar; olhou para a tela de seu celular e viu que estava atrasada.  Teria que ir a construtora e nesse instante se lembrou de algo. Raquel também iria trabalhar lá.

Será que vou encontra-la hoje? – Pensou e seu coração se aqueceu com a possibilidade – Pai, eu preciso ir – Deu um beijo rápido no homem ao seu lado, enquanto se levantava do sofá.

— O que houve? – Geraldo achou muito estranho aquele comportamento da filha. Ela estava triste em seu colo e agora parecia mais esperançosa.

— Nada... só pensei em algo aqui... vou ir trabalhar. Não dê muita ração para a Nina – neste momento, Nina que estava deitada em sua cama no canto da sala, levantou sua cabeça e começou a encarar a sua dona – Eu sei muito bem que o senhor faz todas as vontades dela quando estar aqui.

— Gosto de fazer os gostos de minha neta – Geraldo finalizou e Sófia saiu de casa.

 

Ao chegar em seu carro, um sorriso surgiu em seu rosto. A  imagem de Raquel lhe veio a mente... as sensações dos beijos trocados pareciam voltar a invadir o seu corpo.

— Eu te amo, Raquel – Disse ao dar partida em seu carro.

Durante todo o percurso, ela ficou pensando em sua amada. Em como iniciaria uma conversa com ela. Sim, Sófia estava na esperança de encontrar Raquel naquele dia.

Estava decidida a fazer como o seu pai havia falado. Precisava ser sincera. Dizer tudo o que sentia e que nada do que havia dito sentir por ela era mentira.

Passava um pouco das 13: 00 horas quando Sófia passou pela entrada da construtora e se deparou com Eleonora que a esperava um pouco inquieta.

— Sófia, ainda bem que chegou – A senhora se apressou e foi até onde Sófia estava.

— O que houve? — Estranhou o comportamento de Eleonora.

— Ricardo deseja falar contigo. Desde mais cedo que ele está perguntando por você... Ele não parece estar muito bem — Disse, pois achava que Ricardo e Sófia ainda tivessem algo. Poucas pessoas na construtora sabiam que eles haviam terminado.

— Vou falar com ele — Olhou em direção ao elevador e ficou se perguntado o que poderia ter acontecido com Ricardo e o que havia o levado a perguntar por ela mais cedo, sendo que ele sabia que era de costume ela só começar a trabalhar no período da tarde.

Eleonora, ao ouvir aquela fala de Sófia, começou a se sentir mais aliviada e deu alguns passos em direção a seu posto.

Sófia então se lembrou de algo.

— Eleonora? — Chamou pela mulher.

— Sim!

Quando a mulher lhe olhou, Sófia ficou sem saber como faria aquela pergunta, mas ela precisava saber se Raquel estava ou não ali.

— A Raquel veio hoje? — Perguntou esperançosa.

Após a pergunta de Sófia, Eleonora ficou um tempo lhe observando.

Desde quando Sófia havia interesse em saber da irmã de Ricardo?

— Não, ela anda um pouco indisposta — Respondeu e notou o olhar de Sófia mudar. Será que havia tristeza ali?

— Está bem, obrigada!

Sófia começou a andar em direção ao elevador e Eleonora a acompanhou com o olhar.

A senhora então começou a balançar a sua cabeça negativamente várias vezes.

— Será que vai acontecer tudo de novo? — se perguntou.

 

 

Fim do capítulo