Raquel estava sentada no sofá da sala pensativa...

Nino se encontrava deitado em um canto qualquer da sala só observando os movimentos de sua dona, parecia que sabia que Raquel não estava bem.

A morena respirou fundo e fechou os seus olhos por alguns instantes...

A imagem de Sófia veio a sua mente.

Aquele sorriso encantador que tanto amava surgiu fazendo o seu coração bater mais forte.

— Droga! — Pegou algo que estava sobre a mesa de centro e jogou na parede.

Neste momento, Nino latiu, demonstrando que não havia gostado do que a dona havia acabado de fazer.

Raquel nada disse. Estava irritada consigo mesma. Mesmo após o que havia acontecido, ela ainda pensava em Sófia.

Raquel a amava e não sabia como tirar aquela mulher de seu coração.

— Ela é a noiva de meu irmão — Levantou-se de onde estava sentada e foi até a janela do prédio.

Respirou fundo ao sentir a brisa batendo em seu rosto.

Precisava tentar se acalmar... Não tinha mais como ela mudar o que havia acontecido, mais uma vez havia se envolvido com uma das namoradas de seu irmão.

Talvez Eleonora estivesse certa, os dois irmãos tinham os mesmos gostos para as mulheres.

— Meu Deus, por que tinha que ser assim? — Apoiou as suas mãos na janela e começou a sentir as primeiras lágrimas escorrendo pelo seu rosto.

O seu coração doía... doía por saber que amava alguém que pertencia a outro.

Agora entendia o porquê de Sófia não ter aceitado ao seu pedido de namoro.

— Será que ela queria ficar com os dois? — Perguntou-se.

Muitas dúvidas começaram a surgir em sua mente.

Talvez Norma estivesse certa, ela precisava conversar com Sófia para entender o que havia acontecido, mas ela tinha medo.

Não seria fácil se dar conta mais uma vez que ela havia sido enganada e que tudo que Sófia havia dito não era verdade.

— Mas parecia tão real — Voltou a fechar os seus olhos e começou a se lembrar dos detalhes da noite de amor das duas... da forma como Sófia havia se entregado para ela. Todo parecia ter sido tão intenso.

Ao se lembra de tudo que havia acontecido entre ela e Sófia, Raquel se irritou novamente.

Não queria mais pensar naquela mulher, precisava esquecer.

Começou a olhar para o horizonte, o sol estava se pondo.

Uma ideia surgiu em sua mente, precisava sair de casa... precisava se esquecer daquela mulher que não poderia ser sua.

Num rompante, ela pegou a chave de seu carro e o seu celular.

Nino ficou observando seus movimentos atentamente.

— Vou à praia, Nino — Comunicou ao seu cachorro que parecia querer saber para onde ela estava indo — Se comporte, prometo não demorar.

Enquanto Raquel ia até a porta, ela começou a digitar uma mensagem no celular

“Norma, eu vou sair um pouco. Se caso você vier em casa e não me encontrar é por conta disso” — Mandou e rapidamente houve o retorno.

“Para onde você está indo?” — Norma começou a se preocupar. Estava com medo de sua amiga fazer alguma besteira.

“Fique tranquila, eu vou a praia. Quero pensar um pouco na vida” 

“Está bem! Faça isso. Tente relaxar um pouco e não pense em besteiras. Nem sempre as coisas são como a gente pensa”.

Após a mensagem de sua amiga, Raquel passou a ficar pensativa, pois Norma parecia estar defendendo  Sófia.

Raquel mais nada disse a sua amiga.

Decidida, saiu de seu apartamento e foi para a praia.

Gostava de observar as ondas indo e vindo, de alguma forma isso lhe acalmava.

Ao chegar em seu carro, ela ligou o som.

Realmente nada parecia ajudar a esquecer Sófia.

— Músicas românticas — Disse com desagrado após desligar o som.

Era melhor dirigir somente escutando os seus pensamentos.

Não demorou muito para chegar a praia e quando chegou, Raquel foi para um pequeno quiosque.

Estava dirigindo, mas ela precisava beber para esquecer tudo que havia acontecido.

Aquela doce ilusão que temos de achar que a bebida vai nos ajudar a esquecer todos nossos problemas.

Enquanto estava sentada em um banco, Raquel começou a observar o imenso mar que estava ao seu lado.

De alguma forma isso lhe acalmava.

Respirou fundo e sentiu um ar fresco entrado por suas narinas.

Ali ela se encontrava em paz.

Pediu a primeira dose de sua bebida. Quando o garçom trouxe, Raquel ficou a encarando por um tempo.

Será mesmo que valia a pena bebê-la?

Neste momento de tantas indagações, Raquel percebeu que uma bela mulher sentada em uma outra mesa do quiosque, a observava.

A mulher era negra, aparentava ter mais de 40 anos... Era realmente muito linda, os cabelos cacheados estavam soltos... eram volumosos.

A engenheira notou a mulher a olhando com interesse, não entanto, nada fez, pois não era isso que ela estava procurando naquele momento.

Deixou um dinheiro sobre a mesa e a bebida sem ser tocada.

Achou melhor caminhar pela praia.

O vazio que estava sentindo não seria preenchido por doses de bebidas, ela sabia disso.

Com suas sandálias em mãos, ela começou a andar pela praia.

Como já estava um pouco tarde, poucas pessoas estavam ali.

Havia vários casais e Raquel se lembrou da noite que havia trocado declarações de amor na presença daquela imensidão de mar.

Ficou caminhando por alguns minutos sentindo aquela areia fria sob seus pés.

Quando sentiu-se cansada, ela se sentou, colocando suas sandálias ao seu lado e começou a encarar o mar.

Fechou os seus olhos a procura de paz e não encontrou.

Toda vez que fechava seus olhos, a imagem de Sófia vinha a sua mente.

— Percebo que não foi somente eu que veio a praia tentando esquecer algo — Uma voz agradável começou a tomar conta do ambiente.

Ao procurar a dona daquela voz, Raquel se deparou com a mulher que havia visto no quiosque.

Reparando agora melhor, Raquel se deu conta que a mulher era ainda mais linda do que ela havia visto anteriormente.

- Laura – A mulher carregava consigo uma garrafa de vinho e duas taças.

- Raquel – A morena disse desconfiada.

- Posso me sentar contigo? – Perguntou e não recebeu nenhuma resposta. Raquel queria ficar sozinha organizando seus pensamentos. Não precisava de ninguém ali – Bom... mesmo eu não sendo convidada, eu irei me sentar – Riu.

Raquel nada disse a aquela mulher.

Observou quando Laura levantou um pouco seu vestido para se acomodar melhor na areia.

A mulher tinha belas pernas, não teve como não reparar nisso.

A engenharia ficou em silêncio e Laura respeitou o seu momento.

Estava duas desconhecidas juntas observando o movimento das ondas.

- Quer? – Laura abriu a garrafa de vinho e começou a despejar o líquido no recipiente de vidro.

- Não, obrigada – Raquel disse mantendo seu olhar nas ondas.

- Poxa, você vai me deixar beber sozinha? – parecia ter ficado triste com isso.

-O que você quer comigo? – Raquel falou de uma forma calma. Não era uma pessoa que costumava ser rude.

- Bom... agora quero tomar vinho e conversar. Depois, eu já não sei – Piscou para a morena que passou a lhe olhar.

Aquele olhar carregava muita tristeza.

- Tome, pode ficar tranquila não é nenhum boa noite cinderela – colocou vinho na outra taça e ofereceu a Raquel.

Raquel neste momento sorriu.

- Tá vendo. Eu já consegui um sorriso seu – Deu uma pausa – Ele é lindo. Você deveria sorrir mais vezes.

- Eu não tenho motivos para sorri – Disse sentida.

- Por que diz isso?

Raquel respirou fundo e fechou seus olhos por alguns instantes.

- Fui enganada!

- Bom... Eu também fui, mas estou tentando não sofrer por quem não merece.

- Acho difícil, eu não sofrer – Começou a sentir as lágrimas voltando a escorrer pelo seu rosto – Eu a amo!

- Você ama uma mulher – Laura comentou.

- Sim, uma mulher – Encarou a mulher a seu lado esperando alguma reação, mas Laura nada disse ou fez. Parecia muito tranquila.

- Eu não sei como te ajudar. Não posso falar de algo que não vivi ou não estive presente para saber como era a relação de vocês duas.

- Nem precisa dizer nada... Eu só quero esquecê-la.

- Bom... precisando de alguém, eu estou aqui- Raquel sentiu sua mão sendo tocada por aquela mulher.

A pele de Laura era muito macia.

Raquel direcionou o seu olhar para o daquela mulher.

Elas ficaram conectadas por alguns instantes.

- Se eu pudesse, eu te levaria para um lugar, mas acho que não é disso que você precisa – Laura comentou.

- Não, não é o que preciso.

- Mas podemos conversar – percebeu que Raquel não queria trocar conversa fora– ou posso somente ouvir. Dizem que sou uma ótima ouvinte – sorriu.

- Ela é noiva de meu irmão- Raquel achou que seria uma boa ideia falar sobre o ocorrido com uma desconhecida.

- bom... isso deve ser um grande drama sapatão- Tentou brincar e Raquel pareceu não gostar – Desculpa, pode continuar.

Raquel, mesmo não conhecendo Laura, falou sobre tudo que estava sentindo e que havia acontecido.

Laura ficou surpresa pelo fato de se apaixonar pela namorada do irmão ser algo que já aconteceu em outro momento na vida da morena.

Falaram sobre suas vidas... Sentiram-se bem na presença da outra.

Conversaram até tarde da noite. Se despediram quando Raquel percebeu que estava na hora dela voltar para casa, já que ela tinha uma criança – Nino - lhe esperando.

- Foi muito bom te conhecer, Raquel, espero vê-la novamente- Laura chegou até Raquel e a abraçou.

As duas estavam encostadas no carro da morena.

Raquel ao sentir aquele corpo junto ao seu, deslizou suas mãos pelas costas de Laura, fazendo a outra mulher sentir um leve arrepio percorrendo seu corpo.

- Espero que algum dia. Você me procure, não somente para conversar – Laura colocou um pequeno cartão no bolso da morena. Era o seu número de telefone.

- Quem sabe – Raquel se afastou. Mesmo Laura parecendo ser uma boa pessoa, Raquel não queria mais saber de nenhuma mulher em sua vida. Já havia sofrido decepções demais .

 

 

 

Após entrar em seu carro, Raquel pegou o cartão que Laura havia lhe dado e jogou um canto qualquer do carro.

Havia gostado de Laura, mas não tinha vontade de voltar a ter contato com ela.

Mesmo Laura tendo acabado um casamento há pouco tempo, ela parecia já estar disposta a ter outras relações e Raquel não queria isso.

Não estava com Sófia, mas mesmo assim, não queria voltar a se envolver com outra pessoa. Já que seu coração tinha uma dona.

- Quando vou te esquecer, Sófia? – apoiou a sua cabeça sobre o banco e começou a olhar para um canto qualquer a sua frente.

 

 

Fim do capítulo