Capítulo 44
Capítulo 44
Quando Giovanna ouviu a frase de Carolina, sentiu tudo rodando e escurecendo. Carolina viu o rosto pálido de Giovanna e percebeu que ela iria desfalecer, tentou segurá-la, mas não conseguiu; havia sofrido uma cirurgia há um pouco mais de dois meses e não conseguiu impedir a queda de Giovanna, que bateu a lateral do corpo na beirada da cama e a cabeça no criado-mudo de Carolina, que ficava ao lado da cama, terminando a queda no chão.
Carolina correu onde ela estava, virou o corpo de Giovanna e checou seu pulso e respiração. Ela estava com todos os sinais vitais. Carolina percebeu que o cabelo de Giovanna começava a ficar molhado de sangue e examinou o corte, concluindo que ela precisaria de uma sutura, pois o corte era profundo. Provavelmente precisaria levar Giovanna para algum hospital e realizar exames detalhados.
Carolina não sabia o que fazer, Giovanna havia dito que tinham homens de Roberto cercando o prédio. Como ela sairia dali com Giovanna desmaiada? E ainda tinha suas filhas! Carolina estava transtornada. Lembrou-se do celular que estava no bolso de Giovanna. Pegou um travesseiro para apoiar a cabeça de Giovanna e retirou o celular dela do bolso. Localizou o último número que Giovanna tinha atendido e apertou para rediscar a chamada.
Fazia quase meia hora que Diego estava escondido no estacionamento do prédio de Carolina, olhava o relógio a cada minuto e desejava que Giovanna descesse logo, provavelmente desceria com Carolina, já que o prédio estava cercado e eles teriam que levar Carolina consigo. Talvez fosse essa a demora de Giovanna, deveria estar tentando convencer Carolina a acompanhá-la. Após alguns minutos sentiu o celular vibrar em seu bolso e atendeu prontamente, falando quase sussurrando. - Fala Fênix? - Diego demonstrava ansiedade para sair daquele local.
- Diego não é a Giovanna é a Carolina! A Giovanna desmaiou e bateu a cabeça, não consigo acordá-la, preciso da sua ajuda! - Diego sentia o desespero na voz de Carolina.
- Acalme-se Carolina, estou subindo! - Diego encerrou a ligação e se esgueirou silenciosamente ainda com o dorso abaixado entre os veículos que estavam na garagem. Assim que avistou a cabine do vigia, percebeu que ele estava concentrado vendo um programa em uma minúscula televisão, mas a cabine ficava na passagem para o acesso ao prédio, o vigia o veria se tentasse passar. Procurou à sua volta e não havia nada que pudesse chamar a atenção do vigia, foi então, que avistou algumas bicicletas que estavam penduradas em uma das vagas. Sorrateiramente foi até o local e soltou uma trava e retirou um dos bancos de uma das bicicletas. Precisaria chamar a atenção do homem para que ele saísse da cabine, para que ele pudesse passar e ter acesso ao interior do prédio.
Assim, Diego arremessou com muita força o banco da bicicleta contra um veículo que estava do lado esquerdo da guarita, justamente o lado oposto em que ele se encontrava. A peça atingiu o carro e o barulho foi enorme, imediatamente o alarme do veículo disparou, fazendo o vigia saltar de sua cadeira e sair rapidamente da cabine. Logo que o homem se afastou, Diego passou pela cabine e teve acesso à porta que levava às escadarias do prédio. Subiu até o terceiro andar e acionou a campainha do apartamento de Carolina.
Após cortar a ligação com Diego, Carolina foi até o guarda-roupa, pegou sua valise e um kit de primeiros socorros que tinha em casa. Pegou algumas gases e colocou sobre o corte do crânio de Giovanna, pressionando o local para estancar o sangramento. Após alguns minutos ouviu a campainha e foi rapidamente atendê-la. Examinou no olho mágico da porta e deixou Diego passar.
Quando Diego entrou na sala, apertou o interruptor rapidamente, apagando as luzes da sala e cumprimentou Carolina com um aperto de mãos.
- Carolina, precisamos deixar a casa escura, não podemos mostrar movimentações, pode chamar a atenção deles e eles podem invadir o prédio.
Carolina não entendia nada de espionagem ou de fugas, mas sabia que precisaria atender as recomendações de Diego, ele era a sua única chance de sair dali.
- Farei tudo o que você pedir Diego, preciso muito de sua ajuda! - Sem cerimônias, Carolina deu um abraço em Diego, que estranhou um pouco, mas depois cedeu e retribuiu o abraço, achando que assim acalmaria Carolina. - Agora Carolina, preciso ver Giovanna, precisamos tirar vocês duas daqui!
- Duas não! Quatro! - Carolina o corrigiu.
- Como assim, quatro? - Diego não havia compreendido o que ela havia dito.
- Eu, Giovanna e minhas duas filhas! - Carolina disse isso e começou a andar em direção ao quarto das meninas.
Ao ver o quarto das bebês e as duas dormindo nos berços, Diego suspirou. Sabia que agora teria muito mais dificuldades para fazer a fuga do prédio. Naquele momento ele começava a entender a demora de Giovanna.
- Certo! Vocês quatro. Agora precisamos mesmo acordar Giovanna.
- Venha comigo Diego! - Carolina o conduziu até seu quarto. Giovanna estava caída ao lado da cama e havia em volta de sua cabeça uma poça de sangue.
Diego concluiu que era algo mais grave do que pensava.
- Como aconteceu isso?
- Eu falei para ela sobre as filhas dela e ela desmaiou, não consegui segurá-la e ela bateu a cabeça no criado-mudo. - Carolina voltou a colocar as gases e pressionar o corte para diminuir o sangramento.
- Filhas dela? - Diego ainda não entendia nada.
- Sim! Eu me inseminei com os óvulos de Giovanna, que ela havia guardado na minha clínica! - Carolina respondia, mas prestava atenção ao que fazia.
Diego se lembrou que Giovanna havia comentado que guardaria óvulos, pois teria que retirar o útero. Se um dia ela quisesse ter um filho, pagaria alguém para gerar a criança. Foi na mesma época que ele iria fazer a vasectomia e doou sêmen para ela, caso os óvulos não pudessem ser usados ela pagaria alguém para gerar uma criança usando os espermatozóides dele. Agora entendeu completamente o desmaio dela. Sabia que tinha que ser algo muito grave para fazer Giovanna desmaiar, afinal ela era uma assassina e não se comovia com muita coisa.
Diego e Carolina resolveram suturar o corte e imobilizar o pescoço de Giovanna. Com muito cuidado, Diego suspendeu Giovanna e Carolina apoiou o pescoço dela. Não sabiam qual era a gravidade da lesão e se havia atingido a coluna cervical na queda. Precisariam retirar Giovanna do prédio o mais rápido possível. Carolina realizou a sutura e fez um curativo no local. Depois com uma toalha de banho enrolou o pescoço de Giovanna e imobilizou com fitas adesivas, precisavam manter o pescoço imóvel.
Diego pegou o celular e fez algumas ligações, enquanto Carolina arrumava algumas bolsas com coisas suas e das meninas. Colocou apenas o essencial, mas mesmo assim com duas bebês, precisava levar muita coisa, o que preencheu duas bolsas grandes.
Diego combinou a fuga com Carolina. Ela trocou de roupa, depois fez o mesmo com as filhas e se preparou. Assim que Diego recebeu uma ligação confirmando o que ele havia pedido, fez outra ligação e começaram a descer. Diego carregava as duas bolsas e Carolina as duas filhas. Entraram no elevador com calma e fingiam que nada acontecia. Carolina passou pelo vigia e o cumprimentou, Diego fez o mesmo e foram em direção ao carro de Carolina que estava em sua vaga, na garagem do prédio.
Diego abriu o porta-malas e colocou as bolsas nele. Depois fechou o porta-malas e pegou com habilidade uma das meninas do colo de Carolina, tinha sete filhos, estava acostumado a segurar crianças. Carolina acomodou uma das filhas em um berço especial de transporte, no banco traseiro do carro e depois recebeu a outra filha de Diego, para fazer o mesmo. Quando as duas estavam presas, Carolina sentou no banco traseiro e Diego subiu para buscar Giovanna que ainda estava na cama.
Diego enrolou Giovanna em um edredom e a segurou no colo, no momento que desceu do elevador, sentiu alguém segurando seu ombro fortemente, seu coração disparou.
- Senhor, preciso saber o que tem nesse embrulho? - O vigia falava alto. Diego se virou em desespero, o homem iria chamar a atenção dos capangas de Roberto e não sabia o perigo que corria.
- Senhor Jurandir, esta é a minha namorada, ela bebeu muito e meu amigo veio buscá-la para levar para casa. - Disse Carolina que estava atrás do vigia e falava calmamente.
O homem se virou e a olhou desconfiado e resolveu deixar eles passarem. Afinal não queria se meter em rolo de gente "granfina", como sempre dizia.
- Tudo bem doutora!
Diego levou Giovanna para o carro e a acomodou no banco do passageiro. Carolina sentou logo atrás de seu banco, aguardaram um pouco e após alguns minutos ouviram o que esperavam e Diego rapidamente acionou o veículo, manobrou e o vigia abriu o portão para eles passarem.
Neste momento eles puderam ver as viaturas da polícia cercando os carros dos capangas de Roberto e os homens com os braços para o alto. A primeira parte do plano tinha saído como imaginado. Ele sabia que se ligasse para a polícia e dissesse que havia homens armados e parados na Avenida Vieira Souto, a polícia iria atender o chamado rapidamente. Afinal, estamos falando de Ipanema, um dos melhores bairros do Rio de Janeiro.
Diego passou com o carro e acelerou o quanto pode, mas se manteve dentro dos limites de velocidade, não queria ser parado por nenhuma viatura de polícia. Carolina no banco de trás, apoiava a cabeça de Giovanna com as duas mãos.
Após vinte e cinco minutos, o carro cruzou o portão lateral, chamado de "portão exclusivo", do aeroporto de Jacarepaguá e estacionou o carro em uma das pistas, onde estava o jato particular de Giovanna os aguardando. O piloto e o co-piloto vieram buscar as bagagens e ajudar Carolina a retirar os acentos das crianças. Diego subiu com Giovanna no colo e assim que entrou viu Amélia com os filhos, todos sentados e aguardando. Os dois menores dormiam e os maiores estavam um pouco assustados, tinham sido acordados no meio da madrugada e ainda não entendiam o que acontecia.
Carolina subiu e sentiu alívio ao ver Amélia que veio ao seu encontro e a abraçou, ajudando-a a acomodar as bebês nos acentos. Diego colocou Giovanna em um acento e o reclinou ao máximo.
Os tripulantes checaram tudo e antes de partirem Carolina examinou Giovanna e deixou sua valise, os kits de primeiros socorros e um tanque de oxigênio especial para vôos, do kit de primeiros socorros do avião, próximo a ela. Não sabia o que havia acontecido com Giovanna, mas sabia que era algo grave. Esperava não precisar usar nada do que continha ali, mas não sabia qual seria a reação do organismo de Giovanna quando estivessem voando.
Quando todos estavam sentados o avião começou a taxiar e a levantar vôo. Saíram do aeroporto de Jacarepaguá e o dia já amanhecia. Como previu, durante o vôo Carolina percebeu que a respiração de Giovanna estava ficando fraca e resolveu entubá-la e usar o oxigênio para ajudar a manter a respiração.
O vôo foi longo. Carolina estava exausta, cuidava de Giovanna e das filhas. Amélia e até Diego ajudaram da forma que puderam, mas também tinham as sete crianças deles para cuidar.
Após algumas horas todos dormiam. Carolina estava cansada, mas a preocupação que sentia não a deixava fechar os olhos. Sentada ali ao lado de Giovanna podendo tocá-la novamente, era uma sensação de felicidade tão grande que não a deixava relaxar. Olhava o rosto belo de Giovanna e o acariciava. Percebeu algumas cicatrizes finas próximas à sobrancelha esquerda e o queixo. Ela não conhecia aquelas marcas, mas imaginava que deveriam ser do acidente do barco. Acariciava cada milímetro daquele rosto que tanto amava, às vezes beijava suavemente o rosto e os lábios de Giovanna. Ela sorriu, ao ver outros dois rostinhos dormindo logo ao lado delas e ver como eram semelhantes ao da mulher que amava. As três dormindo, Giovanna, Giulia e Giane eram absolutamente idênticas. Sorriu, se inclinou e beijou os lábios de Giovanna e ficou deslizando suas mãos pelos braços e mãos dela. Não fazia a menor ideia para onde iriam, mas se fosse para proteger as três pessoas que mais amava no mundo, iria para qualquer lugar.
Fim do capítulo
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