Capítulo 37
Capítulo 37
Carolina pegou a foto na mão e viu aquele rostinho lindo de Giovanna pequenina. Nesse momento sentiu um arrepio percorrer todo seu corpo e teve uma ideia que a princípio achou errado, mas depois achou maravilhosa.
Carolina anotou o número dos recipientes que constavam nas fichas onde as amostras estavam guardadas, se vestiu e foi ao laboratório. Pegou um dos recipientes de criogenia e conferiu os números. Arrumou toda a estufa de cultura para climatizar o local que seria desenvolvido. Pegou uma das amostras de esperma que estava no nitrogênio, a descongelou e a reidratou no climatizador, separou os espermatozóides que queria e reservou em outro recipiente. Então retirou duas amostras de óvulos e também as descongelou e as reidratou. Esperou o tempo necessário e realizou, com a ajuda de equipamentos microscópicos a fertilização ICSI¹. Guardou as amostras na estufa de culturas, organizou todo o laboratório e foi para sua sala. Retirou os documentos de autorização de material genético da pasta de Giovanna e a guardou novamente no arquivo. Colocou os documentos na bolsa, checou novamente se a estufa estava ligada, a temperatura e em perfeito estado e saiu da clínica, trancando-a.
Foi para casa, mas não conseguia fazer nada. Seu pensamento estava no laboratório. Olhou no relógio e viu que estava quase na hora do almoço. Pegou o telefone e discou. - Amiga, ainda estou convidada para o almoço? - Carolina precisava se distrair. Nada melhor do que com Luiza, e seus quatro pais corujas. Quando se juntavam Marta, Virginia, Leandro e Rômulo para paparicar ela, era muito engraçado.
- Claro Carol! A Lú vai adorar! Vem logo amiga! - Marta desligou informando ao grupo a vinda da madrinha da Luiza.
Quando chegou ao apartamento de Virginia, esta a recebeu com a neném no colo.
- Olha Lú, a dinda veio te ver! - Virginia segurava a filha toda sorridente.
Carol entrou, cumprimentou a todos, foi ao lavabo, lavou as mãos e veio pegar a bebezinha de quatro meses que era muito fofinha e esperta.
- Lê, de boa, cada dia ela tá mais parecida com você! - Disse Carol ao levar Luiza perto do pai Leandro, que era todo bobo pela filha. Comparando o moreno claro e bonito com a bebezinha, também com cachinhos negros e olhos verdes.
- Ai gente ela é linda né? É tão bom ser mãe! Nossa me sinto no céu! Se soubesse teria doado há muito tempo meus bichinhos para vocês! Nem uso mesmo! - Disse Leandro rindo e todos acompanharam.
- Bichinhos tem na sua cabeça mona, tem minhocas aí! - Retrucou Virginia rindo.
- Ai gatinho, bichinhos? Que estranho! Eu prefiro chamar os meus de soldadinhos! - Riu Rômulo.
- Péra aê, se os espermatozóides você chama de soldadinhos, o pau você chama do quê? - Perguntou Virginia.
- De Gladiador! - Disse Leandro roxo de rir. E todos gargalharam do apelido do membro de Rômulo. Menos Rômulo que ficou vermelho.
- E quando você tiver um filho Rômulo, vai chamar de Ben Hur? - Brincou Marta que recebia Luiza de Carol para amamentar, pois a afilhada chorava muito e estava impaciente.
- Não, de Conan! - Brincou Virginia.
Almoçaram e conversaram a tarde toda, rindo e se distraindo.
Carolina saiu da casa de Virginia já era noite, contente pelo seu dia ter passado rapidamente ao lado de seus amigos. Passou novamente na clínica, checou os embriões e ficou feliz em ver que os dois estavam desenvolvendo conforme o esperado.
Foi para casa e tomou o que seria sua última taça de vinho por muito tempo. Não tinha dúvida. Era isso que iria fazer mesmo.
Trabalhou todos os dias muito, mas a todo o momento ia olhar o desenvolvimento dos embriões, não deixou nenhum dos técnicos do laboratório manipular os embriões, queria fazer isso sozinha. Até que na quinta decidiu que realizaria o procedimento, a maturação estava completa. Todos os funcionários foram embora por volta das dezoito horas. Ela fechou a clínica e a trancou. Gostaria que Jéssica estivesse ali para ajudá-la, mas teria que fazer sozinha. Jéssica nunca falou nada e a reprovaria se soubesse o que ela estava fazendo.
Ela se trocou colocando apenas um avental. Preparou a maca e tudo que precisaria. Pegou a seringa com o cateter acoplado à ponta, que colocaria para chegar ao útero e torceu para todos estes anos de experiência valerem para ela saber colocar perfeitamente, sem precisar do auxílio do ultrassom.
Retirou com cuidado o frasco com os embriões da estufa, puxou com a seringa todo o líquido com os embriões. Deitou na maca, introduziu o cateter delicadamente, fechou os olhos para se guiar sem a visão, sentindo melhor o que estava fazendo e quando achou que estava no local correto. Apertou a seringa. Esperou alguns segundos, retirou e ficou deitada quieta.
Fechou os olhos, pensando que desejaria que Giovanna participasse desse momento e acabou adormecendo. Acordou após uma hora e meia, levantou, trocou de roupa e foi para casa. Assim que entrou recebeu a ligação de Natália a convidando para sair, como vinha fazendo há meses, desde que soube que Carolina estava solteira. Após Carolina dispensá-la mais uma vez, tomou um banho rápido, de chuveiro mesmo e deitou em sua cama. Quando deitou, imaginou como Giovanna ficaria feliz se estivesse ali com ela. Lágrimas de saudade rolaram pela face e molharam o travesseiro. Ela colocou a mão sobre a barriga e disse para si mesma.
- Você estará comigo para sempre agora Giovanna, vou ter um pedacinho seu! Tomara que dê tudo certo!
Na sexta Carolina não teria pacientes, havia desmarcado todos no começo da semana. Decidiu ficar o dia todo descansando. Tentou ler, tentou assistir um filme, tentou se concentrar em revistas, mas nada a fez parar de pensar no que havia feito na noite anterior.
Queria não criar muitas expectativas. Ela melhor que ninguém sabia, que em muitas vezes a primeira inseminação poderia não ser bem sucedida. Ainda mais ela tendo feito sozinha, sem auxílio do ultrassom e sem planejar o dia correto. Não estava perto de menstruar o que seria total desperdício, mas também não era o dia mais indicado. Ela ainda tinha mais quatro óvulos. Poderia tentar mais duas vezes. Uma delas tinha que dar certo. Mesmo assim, entrou na internet e buscou nos sites de busca roupas de bebê, carrinhos, quartos e acessórios. Abriu um sorriso ao ver tudo aquilo. Sorriso este, que não dava há muito tempo.
...
¹ ICSI - Intracytoplasmic sperm injection - técnica que introduz um único espermatozóide direto no interior do óvulo.
Fim do capítulo
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