Capítulo 11

            Giovanna acordou por volta das seis horas da manhã com a claridade que vinha da janela do quarto. Levantou-se lentamente e foi até a janela. A visão do dia nascendo era incrível e agora entendia o porquê de Carolina sempre estar na varanda ao amanhecer. 

            Foi até a sala, vestiu sua cuequinha e o top, foi até a mochila pegou um short, uma regata, o chinelo e a escova de dentes. 

            Arrumou as suas roupas que estavam espalhadas por toda a sala e as deixou dobradas sobre o sofá. Recolheu os sapatos, colocando-os perto do sofá e colocou a mochila ao lado dele. Agora não tinham mais equipamentos nenhum ali, além do celular, mas ele tinha código para ser acessado e mesmo que ela conseguisse, estava todo em mandarin, não precisa se preocupar se ela mexesse. 

            Foi ao banheiro de um dos quartos, usou-o, escovou os dentes e arrumou o cabelo. Retornou para a sala e guardou a escova. 

            Abriu a porta e desceu para a praia. Precisava fazer Qigongs, assim se acalmaria e colocaria as ideias no lugar, precisaria de calma para descobrir tudo da forma mais sutil possível. Não poderia deixar que desconfiassem do quanto ela sabia. Chegando perto da água, virou o corpo sentido Arpoador, fechou a mão direita e colocou a esquerda aberta em cima, inclinou a cabeça e começou os movimentos. 

           Carolina acordou e viu a cama vazia, sentiu um aperto no peito, teve receio de Giovanna ter ido embora. Levantou rapidamente e olhou pela janela. Reconheceu a pessoa que estava na areia fazendo movimentos lentos e delicados e sorriu. 

            Foi até o escritório e pegou o binóculo e foi para a sala. Ao ver as roupas dobradas e arrumadas sobre o sofá, sorriu mais uma vez, achou bonita a preocupação de Giovanna em arrumar suas roupas. Encostou-se à porta da varanda levou o binóculo aos olhos e ficou contemplando a sua amada. Quando ela virou em um dos movimentos, viu que ela não sorria como o habitual, estava séria com uma expressão carregada e com os olhos abertos, pareciam até um pouco triste. Preocupou-se. Será que ela havia feito algo que incomodou Giovanna? Não soube dizer. A não ser que tenha dito alguma coisa dormindo. Tentaria descobrir o que estava deixando a mulher que amava tão séria e com a expressão carregada daquela forma. Resolveu guardar o binóculo antes que ela voltasse. 

            Foi até o escritório e o guardou na gaveta. Foi até a suíte e tomou um banho. Vestiu uma minissaia jeans e uma regata. 

            Voltou para a varanda e viu um rapaz loiro e muito forte cumprimentando Giovanna com um aperto de mãos e os dois deram um abraço rápido meio de lado, depois caminharam um pouco conversando, se cumprimentaram novamente, conversaram mais um pouco e ele foi embora. Giovanna ainda ficou parada na areia, olhando o mar mais alguns instantes e depois se virou segurando os chinelos, caminhando em direção ao seu apartamento. 

            Carolina foi para a cozinha e começou a preparar um café da manhã, para as duas cortando as frutas para a salada de frutas. Neste momento ouviu o som da porta abrindo e Giovanna entrando. 

            Giovanna estava fazendo Qigongs e percebeu que Carolina estava na varanda. Olhou disfarçadamente e viu que ela usava o binóculo. "Droga, porque ela tem que fazer isso? Queria tanto que não fosse assim Carol!". Ficou triste e não conseguia sentir a mesma paz que sentia nos outros dias que realizava os movimentos. Sabia que ele chegaria em breve e Carolina provavelmente o veria. Teria que arranjar uma desculpa para a presença dele. 

            Passados vinte minutos, viu o enorme loiro se aproximando. 

            - Zaov an! (Bom dia!) - Ele disse.
            - Zaov an! Que bom que você atendeu ao chamado dessa sua amiga! - Giovanna disse isso apertando a mão e dando um leve abraço em seu amigo de anos.
            - Pra você Fênix sempre estarei à disposição, sabe disso!
            - Vamos caminhar um pouco?
            - Mas me diga Fênix, tem certeza que é isso que você quer? 
            - Sim Tigre Branco, preciso da sua discrição. Estou fazendo isso à parte. É por minha conta. Quero proteção e vigilância vinte e quatro horas. 
            - Tenho uma nova equipe, são muito discretos, ela nem vai desconfiar! E eles também não!
            - Sabia que poderia contar com você meu amigo. Só confio em você, só restaram nós três da Garras de Águia!
            - E como está o Cléber? 
            - Trabalhando na minha equipe! Se você já estivesse aqui no Rio de Janeiro na época, também estaria.
            - Tudo bem, mas porque me pediu isso à parte? Ele não sabe?
            - Pedi porque somos como irmãos, só confio minha vida a você! Eu não quero que ele saiba, teria que notificar ao comando e quero isso sigiloso.
            - Entendi! Você acha que pode ter algum vazamento de informações? 
            - Não sei, mas prefiro dessa vez trabalho paralelo. Não quero que aconteça como aconteceu ao Garras de Águia.
            - Nossa nem me lembre, aquele dia foi fatídico! 
            - Foi sim, mas vamos mudar de assunto. Como está a Amélia e os trigêmeos e os gêmeos?
            - Vão todos bem, minha querida. To cuidando bem daquela prole, precisa ver o tamanho deles! E como já aprenderam o Wushu e o mandarin!
            - Assim que tudo isso passar, vou fazer uma visita. E quero ver mesmo se eles estão bons no Taolu. Agora não seria seguro para eles.
            - Eu sei! Se cuida minha querida. 
            - Eu me cuido e tenho certeza que você também vai cuidar certinho de mim e dela. Confio plenamente em você. Funcionou tudo certinho com o que estava no envelope?
            - Sim tudo perfeito, as imagens e os sons estão claros! Todos os homens estão a postos!
            - Ótimo! Quando vocês começam?
            - Já começamos! Já estamos monitorando e gravando tudo agora.
            - Como sempre eficaz meu queridão!
            - Pra você Fênix sempre, você sabe que pode contar comigo!
            - Assim como você também sabe que pode contar comigo.
            - Não é à toa que nossa equipe saía sempre ilesa. A amizade de todos do grupo fortalecia, até aqueles desgraçados nos traírem!
            - Éramos uma família mesmo! Mas eles pagarão Tigre! Eles pagarão!
            - Minha querida, preciso ir. Estamos nos expondo demais e não adianta falar deles. A raiva aumenta e ainda é cedo!
            - Vai sim, eu também preciso voltar!
            - Você viu que ela está te vigiando, não?
            - Sim, eu vi!
            - Uma pena! Ela é linda! 

            Giovanna deu um sorriso meio de lado e abraçou o amigo querido. Um pouco triste pela frase dele e disse desanimada.

            - Pena mesmo!
            - Mas vai se divertindo enquanto isso, só toma cuidado hein?! - O loiro deu uma piscadinha para Giovanna.
            - Pode deixar amigo, sei que você vai me ajudar nesse quesito. O de ter cuidado, não o de se divertir! 

            O loiro soltou uma gargalhada.

            - Não sou louco! Sei que você é mestre em Shaolin Chuan.
            - Estou voltando aos ensinamentos agora. Ainda estou enferrujada!
            - Quem é mestre nunca esquece! Vou deixar na garagem mais alguns equipamentos para você colocar no sítio e no carro. E hoje mesmo estou fazendo as chaves e estaremos indo à clínica instalá-los.
            - Ótimo! Onde você vai deixar os equipamentos?
            - Em um saco de papel atrás do pneu traseiro do carro dela, do lado do passageiro. Sei que você vai dar um jeitinho de guardá-los. 
            - Pode deixar comigo. Agora preciso ir mesmo! Manda um beijo para a mulata e aqueles meninos lindos!
            - Mando sim! Qualquer coisa estaremos perto.
            - Nos seguirão até Petrópolis?
            - Claro! Proteção total esqueceu?
            - Qual é o carro? Quero saber diferenciá-los!
            - Vamos estar em uma Frontier preta.
            - Caramba! E você chama isso de discrição?
            - Para aqueles lados tem muitas Pick Ups. Você sabe!
            - Tudo bem! Acho que no máximo em uma hora estaremos saindo!
            - Boa sorte! E qualquer coisa basta gritar, não se esqueça!
            - Até parece que essa sua amiga grita, hein?
            - Mas não custa tentar, né?
            - Xìe xìe i zài jiàn! (Obrigada e Adeus!)
            - Bu yong xie, Zài jiàn! (De nada, adeus!)

            Giovanna ficou vendo Diego se afastar, lembrou-se da sua adolescência e de todos da Equipe Garras de Águia. Ficou um pouco triste, mas agora precisaria fazer tudo certo, para pegá-los de uma vez por todas. Voltou para o prédio, lavou os pés na entrada e subiu. Assim que entrou no apartamento, viu Carolina na cozinha, ela cortava frutas. Aproximou-se e a beijou de leve.

            - Bom dia anjo!
            - Bom dia Gio, puxa fiquei triste em acordar sozinha! - Carolina fazia biquinho e ainda segurando a faca, passou os braços em volta do pescoço de Giovanna para aumentar o contato com o corpo. 

            Os músculos de Giovanna se retraíram ao ver Carolina com a faca em suas costas. 

            - Que foi Gio?
            - Nada! Só preciso tomar um banho para tirar essa maresia. E me trocar para irmos. Precisa da minha ajuda aqui?
            - Não tudo bem, pode tomar banho, já estou acabando.
            - Daqui a pouquinho volto!
            - Fique à vontade, tem tudo que precisa no boxe e toalhas na primeira porta do armário do banheiro!
            - Obrigada minha linda, já volto! - Deu outro beijo em Carolina e se soltou do abraço dela. Assim que saiu da cozinha fechou os olhos e suspirou. Não gostaria de ferir Carolina, mas não permitiria que ela a ferisse. Pegou sua mochila e foi para a suíte, tomou banho, se trocou e em quinze minutos retornou. A mesa do café da manhã já estava arrumada com salada de frutas, pães, leite, suco, iogurtes, manteiga, creemchease, geleia e requeijão. Carolina estava em pé ao lado da mesa arrumando as xícaras e Giovanna se aproximou por trás a abraçando e colocando o queixo em seu ombro.
            - Hummm... vejo que não foi só você que tirou a sorte grande e conheceu uma cheff!

            Carolina sorriu e se virou para beijar Giovanna. 

            - Isso não é ser Cheff, nem fui eu quem fez os pães, comprei prontos!
            - Ahh... não precisava revelar esse segredo. Poderia ter ocultado!

            Carolina ficou séria e se soltou dos braços de Giovanna.

            - Não gosto de segredos, lembra?

            Giovanna sentiu as palavras dela como um tapa.

            - Lembro sim!
            - Gio, quem era o rapaz da praia?
            - Um amigo que foi criado comigo!
            - Jura? Ahh... porque não chamou ele para subir e tomar café conosco?
            - Bom... eu fiquei tímida! Afinal é a primeira vez que venho na sua casa! 
            - Não precisa ter cerimônia na minha casa. Gostaria que você sentisse aqui, como seu lar também! Queria conhecer alguém que você gosta. Mas ele é de Santa Catarina também?
            - Sim! Mora no Rio há um ano. Trouxe a mulher e os cinco filhos.
            - Nossa, cinco! Como essa gente gosta de fazer filhos!
            - Sim cinco todos meninos, os primeiros são trigêmeos e depois eles tiveram gêmeos. Mas, porque diz isso?
            - Porque a Jéssica que é minha sócia e irmã da Virginia tem quatro, vivo brincando com ela, que ela é uma coelha. Teve um após o outro com diferença de um ano e meio mais ou menos entre eles. A menorzinha, a Amanda é minha afilhada, tem um ano e dois meses.

            Giovanna riu gostoso da brincadeira de Carolina. E ficou curiosa.

            - E você quer ter filhos?
            - Quero sim! Mas um só, de preferência menina!
            - Porque não quer mais que um?
            - Ah... sei lá... eu acho que não se consegue dar atenção para todos, quando se têm muitos! Sem falar que nem sobra tempo para ficar com a pessoa que amo, se cuidar, ter uma carreira legal, se tiver um monte de filhos.
            - Pode ser! Nunca havia pensado dessa forma!
            - Eu penso! Quero só um mesmo, nada mais! Deve ser difícil e desgastante cuidar de vários!
            - Está certo! Bom... vamos comer porque já são oito horas e daqui até Petrópolis demora quase duas horas. 
            - Vamos sim! Mas antes me responde: e você quer ter filhos?
            - Sim, mas nunca pensei em engravidar! Não consigo me visualizar grávida, mas adoro crianças! Não sei como, mas adoraria ter. Talvez adote, sei lá!

            Carolina sorriu e deu um beijo em Giovanna, sentaram e comeram, e Carolina separou os travesseiros, as toalhas, os lençóis e o cobertor que iria levar. Sempre se precavia. Não gostava de ter surpresas e sabia que nessas reuniões de amigos, sempre alguém acaba ficando sem as coisas e ela não gostaria que fossem Giovanna e ela dessa vez. 

            Giovanna se prontificou em levar as mochilas e as roupas de cama para o carro, enquanto Carolina lavava a louça do café e guardava todos os itens que sobraram.

            Abriu a porta de trás do carro e colocou as roupas de cama, a bolsa e a mochila de Carolina, deu a volta com sua mochila nos ombros. Abaixou fingindo que estava amarrando o cadarço do sapato, abriu o zíper da mochila e pegou o saco de papel com os equipamentos e colocou na mochila. E colocou-a no banco traseiro do veículo. Fechou tudo e foi subir para ajudar Carolina. Quando acionou o botão e o elevador chegou ao térreo, Carolina já estava descendo. 

            - Deu tudo certo Gio?
            - Sim, está tudo no carro!
            - Você se importa de dirigir?
            - Não, tudo bem! Eu gosto de dirigir mesmo!
            - Ai que bom! Arrumei a mulher perfeita que gosta de cozinhar, de dirigir e é uma delícia na cama! Você caiu do céu Giovanna!
            - Quer dizer, que você só quer abusar de mim, é?
            - Ai... não fala assim que penso outra coisa e dá vontade de subir de novo! 
            - Ah não... lá no sítio a gente foge um pouco!
            - Promete Gio?
            - Sim!
            - Vou cobrar hein? Quero muito sentir você todinha! - Falando isso, Carol veio para abraçar Giovanna e lhe dar um beijo, mas ela cortou, dizendo que o porteiro poderia ver. Foram para o carro e saíram do prédio. No momento que virou a segunda esquina, viu que uma Frontier preta estava seguindo o carro delas, arrumou o espelho retrovisor e sorriu levemente.

Fim do capítulo