Capítulo 22 - A canção mais triste
Capítulo 22 – A canção mais triste
Pov Liz
Acordou sentindo tapinhas em seu rosto enquanto sua cabeça latej*v* de dor. Podia sentir algo espetando suas costas e quando se deu por si estava deitada na grama que rodeava a piscina. Sua Tia Luísa estava debruçada sobre ela e a olhava preocupada enquanto respirava ofegante.
— Liz! – exclamou aliviada e quando finalmente a viu abrir os olhos, abraçou-a. — Oh meu Deus, menina! Você está bem?
— Estou — respondeu tentando se soltar do abraço e se sentou ainda tonta.
Luísa estava com as roupas formais de executiva e seu cabelo castanho com traços de grisalhos estavam molhados. Aliás, toda a roupa dela estava encharcada. Mais uma vez a culpa a atingiu. De alguma forma estava sempre preocupando e decepcionando as pessoas ao seu redor. Uma agonia a tomou novamente e olhou para a tia com olhos de culpa, falando:
— Sinto muito! — Sua voz saiu em um sussurro. — Eu só queria respirar um pouco...
— Vem cá!
As duas voltaram a se abraçar. Liz permitiu-se chorar no colo “materno” dela, que já a embalara tantas vezes antes quando era mais nova. O desespero e a dor de tudo que aconteceu no passado estavam ali lhe remexendo as entranhas e o pior de tudo, agora ainda tinha a raiva de Lia sobre si e sabia que merecia cada gotinha de seu ódio pelo que fizera.
Luísa apenas a abraçava apertado e elas ficaram por bastante tempo daquele jeito na grama enquanto seu choro e soluços passavam. Liz estava ainda mais sensível naquele dia, muito mais do que qualquer outro, toda a dor estava lhe tomando ainda mais intensamente. Quando finalmente cessou o choro, Luísa perguntou:
— Consegue mesmo se pôr de pé? — perguntou preocupada ao sentir o cheiro de álcool forte que ela exalava.
— Consigo sim — respondeu aprumando-se.
— É sempre uma aventura ter você na minha vida, Lisandra.
Elas voltaram para a casa de mãos dadas A tia a colocou debaixo do chuveiro na água fria e lhe preparou um chá para que tomasse com um remédio. Quando a deitou já devidamente trocada de volta em sua cama, protegida em seu aposento, ela se pôs a observá-la. Liz ainda tinha lágrimas rolando por sua face.
— Você leu a carta? — Luísa perguntou baixinho lhe fazendo cafuné.
— Não — disse tristemente. — Eu joguei fora.
Luísa abriu a boca em surpresa e suspirou pesadamente, fechando os olhos.
— Eu queria mesmo saber o que tinha naquela carta.
Liz apenas ficou ali calada, fingindo que o envelope não estava lá jogado no cesto de lixo a menos de um metro de distância. Não queria mais falar sobre o assunto e fechou os olhos, assim que o fez a imagem de Lia surgiu em sua mente. Era instantâneo. Mesmo em um momento tão conturbado e doloroso era somente nela que pensava agora, no quanto seus sentimentos por ela estavam intensos e no quanto ela deveria estar magoada com suas atitudes. Sabia que dessa vez seria uma tarefa árdua acalmar a fera e não poderia culpá-la.
— Liana! — suspirou falando baixinho o nome dela.
— O quê? — A tia perguntou ao seu lado. — Quem é Liana? Sua namorada?
— Eu espero que ela ainda seja.
Sua voz se quebrou e engoliu em seco. Lia devia estar puta com ela e sentia medo do que aquilo poderia causar ao recente relacionamento já que sua irritadinha tinha um jeito tão explosivo. Porém, reconhecia que havia mesmo pisado na bola. Era tudo tão confuso.
— Como assim? — Luísa insistiu.
— Eu quero dormir. — Liz virou-se para o lado, quebrando o contato.
Ouviu-a suspirar às suas costas e sentiu quando ela pôs-se de pé para sair do quarto.
— Também vou dormir. Foi um dia longo, cansativo e agitado. Por favor, Liz, não faça mais nenhuma besteira, ok?
Liz não chegou a responder. Apenas ficou calada e ouviu quando ela saiu fechando a porta. Virou-se e ficou encarando o teto. Tudo o que queria naquele momento era ser acalentada por Lia. Esconder a face em seu pescoço e ficar sentindo aquele cheiro gostoso que só ela tinha. Queria o calor do corpo delicado contra o seu e seu carinho tão cuidadoso. Lia era tão especial que a assustava. Seu consolo sempre foi cair na noite, bebendo e pegando meninas aleatórias, mas agora não. Só pensava nela, só queria a ela e mais ninguém. Só esperava que não tivesse estragado tudo e seu peito apertou dolorosamente ao pensar no pior...
No outro dia Liz acordou e quando olhou para o chão do quarto viu os destroços de seu celular por todos os lados. Bufou e levantou-se, estava apenas de calcinha. Começou a juntar os pedaços restantes e achou o seu chip, pelo menos dele precisava e guardou-o. Procurou algo para vestir em seu antigo guarda roupa. Encontrou várias peças de roupa preta e pegou uma calça e uma camiseta qualquer e desceu. Ainda estava com dor de cabeça, mas forçou-se a descer, precisava voltar para a cidade o mais rápido possível.
Já passava das nove da manhã e encontrou sua tia sentada no sofá, mexendo no notebook, ela estava devidamente vestida com roupas de executiva e parecia concentrada. No entanto, parou de fazer tudo quando notou sua presença.
— Olá! — cumprimentou-a surpresa. — Eu tinha certeza que você ia demorar a acordar.
— E eu estou surpresa com a senhora em casa a essa hora. — Liz foi até ela e sentou-se ao seu lado. Se sentia um pouco melhor, mas ainda estava sorumbática.
— Bom. — Luísa pôs o notebook de lado e passou a mão no cabelo de Liz. — Queria aproveitar que está por aqui. Toma o café-da-manhã comigo!?
Liz acenou positivamente e elas foram para a mesa.
— Eu vou só terminar aqui e voltar.
— Mas já? — perguntou desapontada.
— Eu preciso falar com a Lia o mais rápido possível.
— O que aconteceu?
— Eu deixei de comemorar meu aniversário com ela para vir até aqui.
— Ela ficou com raiva por você ter vindo? Mas como ela pode ter ficado com raiva disso?
— Eu não contei que eu estava vindo. Pirei com essa história de carta. Ela preparou um aniversário surpresa para mim. Eu não sabia — desabafou e fez-se um silêncio enorme na mesa. Quando olhou para sua tia, ela apenas a encarava bastante surpresa.
— Nossa! Essa moça deve gostar mesmo de você. — Luísa falou e depois perguntou com cuidado. — Você não contou nada do que aconteceu a ela, não é?
Liz apenas balançou a cabeça negativamente e continuou a comer algumas das várias comidas dispostas à mesa.
— É, vai ser mesmo complicado — constatou. — Você jogou mesmo a carta?
— Eu amassei e joguei no lixo.
— Você sabe que vai precisar encarar essa situação mais cedo ou mais tarde.
Sentiu um embrulho no estômago. Estava verdadeiramente temerosa com o conteúdo dessa carta e não se sentia minimamente disposta a descobrir do que se tratava. Seu pai se matou anos atrás e ainda continuava a atormentá-la. Ele não tinha direito algum de querer lhe falar qualquer coisa que fosse agora. Perdeu esse direito no dia que tirou a vida deixando-a sozinha, quebrada e extremamente culpada por tudo o que aconteceu.
— Eu não vou ler a droga dessa carta. — falou em um rompante. — E não quero mais falar sobre isso. A senhora pode pedir o jatinho para me levar de volta?
Luísa apenas suspirou pesadamente e assentiu.
— Sim, eu posso. Está disponível. Mas não queria que voltasse nesse estado que está. Por que não fica até semana que vem? Fico sempre tão preocupada com você.
— Tia. Eu preciso mesmo voltar. Você sabe que eu nem gosto de vir até aqui. Essa cidade, essa casa... Me lembra de todas as loucuras que fiz.
— Eu entendo! — suspirou e olhou-a com carinho. — Pelo menos você tem alguém para lhe fazer companhia agora. Eu quero conhecer essa garota que fisgou a indomável Lisandra.
Liz sorriu com o título e sentiu-se um pouco mais feliz. Lia iria adorar se a apresentasse a sua tia e vice-versa. Tinha mesmo vontade de fazer tudo aquilo com ela e pela primeira vez em sua vida. Só Lia a deixava assim.
— Por isso quero voltar. Preciso falar com ela antes que minha situação piore.
— Seja sincera! Conte tudo a ela.
— Não é fácil para mim falar sobre isso.
— Eu sei que não. — Luísa pousou a mão sobre a dela e continuou. — Nunca é fácil. Mas pode ser bom desabafar e já que vocês estão envolvidas assim ela merece saber e te conhecer.
— Eu não vou aguentar ver um olhar de pena dela para mim. Não dela.
— Você precisa confiar mais...
— Eu não sei de nada. — Liz interrompeu, não queria sofrer por antecipação. — Pode pedir o jatinho, por favor? Preciso mesmo ir.
— Tudo bem. Por favor, me liga. Eu fico preocupada com você. Sozinha por aí. Seu lugar é aqui do meu lado.
— Quanta insistência. — Liz respondeu chateada e exasperada. — Qual é!? Já chega!
Luísa pediu o jatinho e depois de uns trinta minutos ele chegou. Ela a acompanhou até a pista de pouso e a abraçou apertado antes que fosse embora.
— Por favor, não se martirize e não faça nenhuma bobagem, tudo bem?
— Tudo bem. — Liz respondeu abraçando-a. — Desculpe por tudo novamente. Eu sempre só venho lhe dar dor de cabeça.
— Não pense nisso, querida! — Luísa exclamou emocionada. — Só quero que fique bem. Eu me sinto tão impotente. Nunca consegui ajudar você, minha menina.
— A culpa não é da senhora. A culpa é toda dele.
— Você não pode viver com esses sentimentos aí dentro para sempre.
Liz ouviu calada tudo o que ela falou. Ultimamente estava se sentindo leve, sabia que devia isso ao que sentia por Lia, mas era somente questão de tempo até a escuridão alcançá-la novamente. É claro que nem tudo poderia ser perfeito.
— Tchau, tia. — despediu-se dela com mais um abraço e entrou no jato rapidamente sob o olhar triste dela.
Pousou quase meio dia no aeroporto e logo ela saiu de lá a procura de um táxi. Sua vontade era ir atrás de Lia naquele mesmo instante, mas apenas imaginou que ela estivesse no campus naquele momento já que ela nunca faltava aula. Deu o endereço do seu prédio e ficou se martirizando o caminho todo até lá. Liz estava confusa e triste. Sua vida toda era um caos. Se sentia sozinha e deslocada desde o dia que a mãe morrera naquele acidente de carro terrível quando tinha apenas dez anos de idade.
Perdê-la daquela forma foi algo que lhe deixou com uma grande e dolorosa cicatriz e todo o resto que aconteceu depois disso foi indo de mal a pior. Tentou espantar esses pensamentos, reviver tudo era sempre mais doloroso e por isso é que estava sempre à procura de algo que lhe desviasse os pensamentos. Por vezes conseguia a distração que sua mente precisava junto da algazarra, bebidas e garotas. Nunca quisera nada sério com ninguém, tinha medo do que o sentimento poderia trazer para si. E se ficasse igual a ele?
Ao chegar até o apartamento, Vivi não estava lá, na certa estava na faculdade ainda. Pegou seu cartão de crédito e saiu no seu carro dessa vez. Foi até a loja mais próxima e comprou um smartphone melhorzinho, qualquer um para usar, não era muito ligada nisso ou coisas do tipo, o que mais queria no momento era ligar para Lia.
Assim que voltou ao apartamento que ligou o aparelho e fez todo aquele processo chato de primeiro acesso, a primeira coisa que fez foi ligar para ela, que não lhe atendeu. O desespero bateu forte. Lia sempre a atendia, tinha certeza que aquilo era um mau presságio do que estava por vir. Olhou nas mensagens que a última visualização dela tinha sido às nove da manhã. Talvez ela estivesse saindo da universidade ainda e tentou se aquietar. Mesmo assim lhe mandou uma mensagem e ficou ansiosa à espera de uma resposta que não chegou.
Ligou o som e jogou-se no sofá imenso da sala. Lembrou-se da noite que tivera com Lia, quando a lambuzou toda de chocolate e depois lambeu cada parte de seu corpo. Memórias assim eram sempre bem-vindas, com ela se sentia mais calma sempre. Era automático. Estava com muito medo mesmo de perdê-la.
Colocou sua playlist de rock pesado para tocar e apenas fechou os olhos. Estava devastada e uma briga com Lia naquele momento era a última coisa que precisava, muito pelo contrário, tudo o que queria era o seu afago, seu carinho e ouvir aquela voz delicada e macia que sempre lhe acalmava. Liz sempre conseguia o que queria dela com jeitinho, ela sempre a compreendeu das outras vezes e agora não seria diferente. Ou assim pensava.
Sabia que precisava contar tudo a ela, sabia que não era justo deixa-la no escuro e sumir sem explicações. Mas falar sobre aquela tragédia toda que era a sua vida lhe parecia tabu, sem falar na dor que sempre lhe tomava quando revivia tudo que já tinha passado e falar sobre todas aquelas coisas, com certeza poderia ser bem pior. Além de que não queria aquele olhar de pena dela. Já havia passado a adolescência toda recebendo aquilo de todos os outros, seria um baque mais forte ter isso de Lia.
Todos mais próximos a Liz lhe tratavam com fragilidade e uma compreensão incomum. “Tadinha da órfã, vamos relevar”. Era sempre assim mesmo com todas as coisas que já aprontara, ninguém ousava lhe confrontar, apenas a sua tia Luísa, mas até mesmo essa se dobrava todas as vezes. Ela sempre cuidou de Liz, as duas eram muito apegadas e por um bom tempo Luísa até que conseguiu mantê-la por perto, mas depois dos dezoito que ganhou liberdade financeira da herança, a única coisa que queria era fugir daquela cidade e daquele ambiente que lhe despertavam memórias dolorosas.
Liz sempre foi de conseguir o que queria. Aquela cara de menininha sapeca e jeito rebelde, inconscientemente, usava disso, dos seus “poderes” de persuasão sempre na medida certa quando queria algo. As meninas caíam aos seus pés e foi em todas elas que se perdeu um pouco quando queria fugir da realidade sufocante, nelas e na música, claro. Cantar e tocar era algo que, definitivamente, sempre a ajudou muito. E por longos três anos foi assim que gastou sua vida até encontrar Lia e de repente tudo mudou drasticamente.
Precisava apenas dela e do seu corpo gostoso para que tudo começasse a fazer algum sentindo. Era em Lia que ela tanto se perdia quanto também se achava...
A música alta sempre a ajudava a pensar e quando o som parou de repente, abriu os olhos e viu a amiga morena bem à sua frente com um misto de desaprovação e tristeza na face. Liz aprumou-se no sofá e ficou à espera do relato doloroso que ela com certeza iria lhe passar agora. Seu coração bateu forte e sentiu um embrulho no estômago.
— Finalmente resolveu aparecer, senhorita Moraes.
— Ah, Vivi, qual é!? — bufou e revirou os olhos, a última coisa que precisava era uma lição de moral naquele momento. — Você não tem noção do que me aconteceu, ok?
— É claro que eu não tenho. Você nunca me diz nada, nunca! — Vivi sentou-se ao seu lado. — Nem para mim e nem ninguém. Poxa, mas nem mesmo para Lia...
— Eu sei que pisei na bola e vou reparar meu erro.
— Vai mesmo? Espero que dessa vez diga a verdade a ela.
Será que era tão difícil para as pessoas entenderem que aquilo não se superava fácil? Não fazia nada de propósito. Geralmente era sempre muito calma e serena, mas aquele assunto em particular sempre lhe tirava do chão.
— Eu já disse para ela que não me sinto à vontade em falar essas coisas.
— Eu sei, mas você sumiu sem dar satisfação alguma. A gente preparou uma surpresa linda para você...
— Eu não pedi nada disso, Vivi. Qual é!? Eu não pedi surpresa nenhuma e você melhor do que ninguém deveria saber que eu não gosto desse tipo de coisa.
Vivi a encarou estagnada como se não pudesse acreditar no que ela estava falando, parecia magoada e consternada.
— Olha Liz, eu sei tudo o que você passou antes e eu entendo mesmo porque você é assim, mas muitas vezes você não passa de uma egoísta. Acha que só você sente dor nesse mundo? Acha que só você tem sentimentos?
Vivi levantou do sofá alterada e olhou-a severamente. Liz apenas ouviu tudo calada e sem esboçar reação alguma, apenas queria que a amiga acabasse de uma vez com aquela conversa, as palavras dela lhe deram um tapa na cara para o qual não estava preparada e sentiu raiva por isso.
— A Lia ficou muito mal e preocupada com você. — Dessa vez a frase chamou a sua atenção. Já começava a sentir aquele bolo de formar em sua garganta e seus olhos arderem. — Você achou uma menina doce que gosta de você e se preocupa de verdade com os seus problemas. Ela pode ser um recomeço. Espero mesmo que não seja tarde e que você não estrague tudo.
Perante o silêncio de Liz, a amiga apenas se retirou, mas antes foi até ela e lhe deu um abraço. Já passava das três da tarde e seu estômago roncava de fome. Procurou por algo na geladeira e fez um sanduíche rápido. Checou no telefone mais uma vez. Lia havia visualizado sua mensagem, mas não respondera. Ok! Agora estava mesmo preocupada. Ligou para ela, que novamente não a atendeu. Queria saber se ela estava no apartamento.
Sem conseguir esperar mais um segundo se quer, pegou as chaves do carro e desceu até a garagem. Saiu em um arranque. Precisava vê-la com urgência. No caminho ela ia pensando nas palavras de Vivi. Talvez ela estivesse certa. Estava sempre tão concentrada em seus dilemas e em sua dor que não pensava em como as outras pessoas poderiam se afetar com suas atitudes. Talvez o fato de sempre passarem a mão em sua cabeça a tivesse acostumado mal. Finalmente parou em frente ao prédio dela e deixou o carro estacionado na rua mesmo.
Subiu até o apartamento em uma expectativa inquietante, suas mãos estavam suadas e se sentia extremamente nervosa, com medo... coisas que nunca havia sentido antes e das quais sempre vivia a fugir. Lia era sua maior força, mas também era sua maior fraqueza e era justamente aí onde morava o perigo.
Apertou a campainha e ficou aguardando por longos e tortuosos segundos. Foi Cris que a atendeu e ela pareceu surpresa ao vê-la. Ela lhe cumprimentou e lhe deu passagem para entrar. Liz virou-se para ela e analisou sua expressão, ela parecia séria e levemente incomodada. Mais uma que a odiava, que ótimo, a lista não parava de crescer.
— Hey, Cris. Lia está aqui? Ela não está me atendendo ou respondendo as minhas mensagens.
— Ela está no quarto.
— Como ela está? — Perguntou receosa.
— Ela ficou puta, né!? O que você acha?
— Cris eu não quis magoá-la. É que é tudo tão confuso.
— Liz. Não é para mim que você tem que dar explicações.
— Ok, tem razão. Eu vou lá, então.
— Escuta. — Cris a chamou antes que fosse. — Liz, não magoa a minha amiga. Eu nunca vi a Lia assim antes. Ela gosta de você de verdade, para valer, entende?
— Eu também gosto dela de verdade, Cris. Não duvide.
— Só cuidado, ok? Ela é minha melhor amiga e eu sempre vou tentar protegê-la.
Liz apenas assentiu e foi para o quarto dela. Parou na porta e ficou alguns segundos tentado controlar a respiração e seu coração que estava super acelerado. Ela estava deitada na cama de costas para a porta e olhando para a janela grande à sua frente, que estava aberta, fazendo o vento correr pelo cômodo. O rádio estava tocando Ana Carolina... Estava mesmo fodida. Lia estava linda com uma camiseta branca e suas lindas pernas e coxas estavam à mostra com o short curtinho que usava. Não aguentou e foi hipnotizada até ela. Era agora ou nunca.
***
Pov Lia
Lia estava deitada olhando para o nada já a algum tempo. Já havia chorado bastante na noite passada quando ficou sozinha no quarto, depois de ter dispensado a todos no bar. Não queria nem lembrar do momento tão humilhante. Porém, o pior de tudo foi a preocupação que sentiu com o sumiço de Liz. Ela já havia ligado e lhe mandado mensagens, mas dessa vez não iria ser tão fácil. Iria dar o troco custe o que custasse.
Ouviu a campainha tocar e depois de alguns minutos a porta do seu quarto abriu vagarosamente. Era ela, era inexplicável, mas conseguia sentir a energia dela. Mas quando o cheiro de seu perfume invadiu o quarto só confirmou suas suspeitas. Sentiu quando ela deitou-se no colchão ao seu lado e abraçou-a por trás, acariciando suas coxas e beijando-a na orelha. Fechou os olhos e ficou apreciando o toque dela. Apesar de estar com raiva, já sentia muitas saudades dela e por enquanto estava apenas feliz em saber que ela estava bem e de volta.
Arrepiou-se toda com os beijos dela em sua orelha e deixou-se ser afagada por alguns segundos. Estava fragilizada.
— Desculpa, minha linda. Eu sinto muito.
Lia não respondeu nada, ficou calada. A voz dela estava manhosa e chorosa. Puta que pariu! Ela sabia desmontá-la como ninguém, mas dessa vez não poderia se render tão facilmente. Com pesar levou a mão até a dela e a retirou da sua coxa. Automaticamente ela parou de beijá-la e se afastou um pouco percebendo seu incômodo.
Assim que virou-se, seu coração quebrou ao ver as lágrimas escaparem dos olhos dela. Liz parecia tão frágil e sofrida ali. Seja lá o que fosse, devia a estar afetando muito. Tocada, abraçou-a. Liz agarrou-se ao seu corpo com certo desespero. Naqueles momentos ela deixava de ser aquela mulher altiva, descolada e fodona e se tornava uma criança assustada e assombrada, eram quase duas pessoas diferentes. Ela escondeu o rosto em seu pescoço e sentiu seu ombro molhar com as lágrimas dela.
Ela própria não conseguia mais segurar seus sentimentos e ver Liz daquela forma apenas lhe deixou ainda mais frágil. Afagou-a por um longo tempo até senti-la se acalmar aos poucos. Fez cafuné e acariciou sua nuca até que ela retirou o rosto do seu pescoço e a olhou desolada.
— Eu sinto muito mesmo, linda. — Desculpou-se mais uma vez.
— Eu também sinto.
— Eu não fazia ideia de que você ia fazer algo para mim.
Lia não conseguiu nem ao menos responder. De repente a raiva a tomou mais uma vez e lembrou-se de todo o vexame que passara na noite anterior. Afastou-se. Se ficasse assim tão perto dela não conseguiria pensar direito. Já estava começando a ceder. Limpando a garganta, falou:
— Será que eu vou saber o que aconteceu dessa vez?
— Eu tive de tratar assuntos com a minha tia. Eu fui até a minha cidade para conversar com ela. É um assunto delicado, Lia.
— Porr*, Liz. — Lia levantou agitada da cama. Não acreditava no que estava ouvindo. – Sério mesmo que você vai vir com essa para cima de mim?
— Eu não estou mentindo para você. Eu falo sério.
Liz sentou-se na cama e observou-a preocupada. Lia estava andando no meio do quarto de um lado para outro. Não conseguia acreditar que ela não ia falar nada.
— Liz...
— Eu não fazia ideia de que você ia fazer alguma coisa para mim...
— O problema não foi nem esse. Será que não entende? Eu imaginei que você talvez não fosse gostar de uma festa surpresa, mas eu assumi o risco. Quer saber mesmo o que foi pior?
Liz não a olhava de volta e Lia ficou puta com isso. Será que ela não conseguia mesmo entender que não era a única que poderia se machucar?
— Quando a Vivi chegou me contando que você sumiu, todo mundo olhou para mim a procura de uma explicação e eu não sabia de nada ou o que dizer. O que possivelmente poderia ter acontecido.
— Eu sinto muito.
— Não quero só desculpas dessa vez. Você sabe o que eu preciso.
— É tudo tão doloroso, Lia. Por favor, não me faz falar isso.
— Por favor digo eu, Liz. — Lia alterou-se e se afastou dela. — Eu não queria te pressionar, te assustar ou afastar. Porr*, será que eu não tinha direito a pelo menos uma mísera mensagem de satisfação?
— É claro que você merecia... é que eu fiquei meio desorientada. Foi tudo tão rápido. Desculpa, eu sei que errei.
— Desorientada com o quê?
Insistiu mais uma vez. Por que era tão difícil fazer com que Liz confiasse nela? Por quê? Estava frustrada e triste por isso. Esperou que ela respondesse, mas ouviu apenas o seu silêncio.
— Eu estou muito envolvida, Liz. Eu estou muito apaixonada por você. Você é maravilhosa, incrível e não sei como isso é possível, mas só agora eu percebo que eu não sei nada sobre você.
Viu que Liz escondeu o rosto nas mãos e suspirou. Um bolo começou a se formar em sua garganta.
— Eu preciso de mais — disse chegando mais perto dela. — Confia em mim.
— Eu confio, Lia. Eu só não consigo falar isso agora.
— Não consegue?
Lia dessa vez não iria aceitar menos do que merecia. Já havia deixado muitas coisas para lá. Liz sempre sumia sem deixar vestígios e depois aparecia. Seja lá o que fosse, tinha consciência de que era algo muito doloroso e sabia que não poderia obrigá-la a nada, como também não poderia se obrigar a permanecer nessa situação desconfortável.
— Olha Liz. Eu nunca iria lhe obrigar a falar nada contra a sua vontade. Eu não quero pressionar você. Mas eu preciso de mais. Talvez a gente precise dar um tempo.
Dessa vez Liz arregalou os olhos e como que em um impulso foi até ela e quase encostou o rosto ao seu.
— Ah, qual é, Lia!? – Ela tomou seu rosto nas mãos e lhe olhou com atenção e desespero. — Não faz isso com a gente.
— Eu não vou te pressionar. Mas também não quero estar nessa situação. Eu não sei nada sobre você — desabafou. Seu peito doía em admitir, mas era a verdade nua e crua.
— Ok. Me diz. Me pergunta o que você quiser saber. Qualquer coisa.
— Eu não quero que se sinta obrigada a me dizer nada. Quero que você fale as coisas naturalmente porque sente vontade e, mesmo assim, você já sabe o que eu quero.
— Qualquer coisa, menos isso. Eu só te peço um pouco de tempo.
— Exatamente. É isso que vou te dar. Tempo. Vamos ver o que acontece. — As palavras doeram mais nela do que Liz poderia imaginar e fez um esforço para não chorar.
Lia se afastou e percebeu como ela pareceu surpresa e contrariada. Se ela achava que conseguiria dobrá-la daquela vez, enganou-se muito. E se ela preferia perdê-la a falar o que sentia, talvez se afastar fosse mesmo o melhor a se fazer. Liz tinha um potencial enorme para conseguir lhe machucar e depois da noite passada, sabia que não poderia continuar com o relacionamento daquela forma, com tanto segredo e mistério.
Estava muito envolvida e havia se jogado de cabeça na relação. Liz a envolvia demais em seus dramas e mistérios. Estava sentindo tudo intensamente e necessitava sentir o mesmo vindo dela. Estava insegura e precisava que Liz lhe desse alguma garantia.
— Quantas vezes mais você vai viver fazendo isso? Sumindo e voltando, é sempre assim. Eu fico preocupada e eu nunca sei o que aconteceu. Deixei para lá das outras vezes, mas não agora. Dessa vez você me machucou para valer.
Uma lágrima escorreu por seu rosto e Liz aproximou-se, beijando-a ardentemente. Por alguns segundos se permitiu sentir os lábios quentes e maravilhosos dela nos seus, mas logo tentou afastá-la. Liz a abraçou forte pela cintura, trazendo-a para si.
— Eu sei que você não quer isso. – Liz falou sobre seus lábios. – Não faz isso com a gente, Lia!
— Eu não estou fazendo nada. Você está, sempre quando some e nunca me diz nada.
— Liana...
— Quando você estiver disposta a ter uma conversa de verdade, vem falar comigo. Ok? Eu só espero que não seja tarde demais.
O coração de Lia disparou e seu peito apertou. Quis chorar, mas obrigou-se a ser forte. Liz tinha que entender que daquela vez era para valer. Se ela não queria falar, era um direito dela, como era um direito seu não aceitar.
— Sai, por favor.
Lia foi até a porta, abrindo-a. Liz ficou estática por vários segundos até finalmente ir em sua direção. Não poderia fraquejar agora, teria que ser firme. Nunca fora de implorar nada de ninguém e era um completo absurdo precisar cobrar sinceridade e consideração a sua “namorada".
— Lia. Por favor, não.
— Eu já tomei minha decisão e você tomou a sua.
— Eu não posso simplesmente aceitar isso. A gente se gosta de verdade, estamos apaixonadas. Somos perfeitas juntas.
Ela a olhou à espera de uma resposta, mas Lia apenas olhou para o lado a ignorando.
— Eu vou. Você está chateada e de cabeça quente. Eu não vou considerar esse término.
— Considera o que você quiser, mas não estou brincando e não venha me exigir nada até decidir se abrir comigo. Essa conversa já foi longe demais. Não era nem para eu precisar pedir isso de você. Agora vai, eu preciso estudar.
— Ah, Lia. Qual é!? — Liz fechou-se. — Como você pode ter cabeça para isso?
— Não importa, porr*! Agora sai, por favor.
Liz estava arrasada e consternada. Lia também não estava diferente e assim que se encontrou sozinha no quarto correu até a cama para chorar. Liz preferiu terminar tudo a confiar nela. Talvez um tempo fosse mesmo necessário para as duas. Tantas coisas se passavam em sua cabeça e aquela música “simplesmente aconteceu” em seu rádio, a mais triste possível, tocava como a trilha sonora perfeita do seu drama particular.
***
Na sexta-feira na hora do intervalo Lia decidiu fazer aquilo que sabia ser o correto a se fazer. Foi até a coordenação falar com Carol sobre a inscrição para a prova de seleção do intercâmbio. Chegando lá, mais duas estudantes já estavam preenchendo a ficha para a vaga, uma ela conhecia, a Taís, estavam na mesma turma. Já a outra era uma ruiva muito bonita e não se lembrava de já tê-la visto antes pelo Campus.
Carol, sua coordenadora, lhe entregou a mesma ficha e depois lhe passou o conteúdo que seria pedido na prova. Porr*! Era tanta coisa e a prova já era no mês que vem. Como eles faziam uma coisa assim, uma prova tão em cima da hora? Não era justo. Se bem que muita coisa ali ela já dominava muito bem. Ela apenas dobrou o papel e voltou para a sala, não havia dito nem para Cris isso.
E pensar que estava muito perto de deixar essa oportunidade passar por causa de Liz a fez bufar ainda mais. Como fora tão cega e idiota? Será que ao menos Liz foi sincera com ela alguma vez? Preferiu terminar tudo a lhe contar a verdade por mais dolorosa que fosse. Ela precisava se sentir importante e sinceramente depois daquele descaso que Liz teve com ela, não sabia mesmo se esse era o caso.
Quando estava voltando para a aula, viu Liz cruzar do outro lado do pátio. Ela fez menção de andar até onde estava e com o coração pesado e o peito apertado, se pôs a andar rapidamente de volta para sua sala e para bem longe dela. Antes de dobrar no corredor, viu como os olhos dela pareciam tristes.
Lia mal conseguia se concentrar nas aulas ou em qualquer coisa que fosse, a imagem de Liz chorando fragilizada em seu quarto não saía de sua mente e se sentia horrível por isso, mas ao mesmo tempo, não poderia aceitar menos e se Liz presava tanto por aquele relacionamento, teria de se abrir com ela mais cedo ou mais tarde. Sem contar na dor de cabeça que estava agora por ter chorado antes de dormir.
Na saída da aula, Lia ia andando junto de Cris quando ouviu alguém chamar seu nome. Por um breve momento achou que fosse Liz, mas ao olhar para trás viu aquela mesma garota ruiva de mais cedo, a que ela vira fazer a inscrição para a bolsa na coordenação.
— Olá. Liana, não é? Eu me chamo Vanessa, tudo bem?
A ruiva lhe cumprimentou com um belo sorriso e educação. Lia ficou curiosa em saber por quê ela a estava chamando, com certeza tinha alguma coisa a ver com o intercâmbio.
— Olá, sou Liana, sim. Tudo bem — respondeu educadamente de volta e percebeu que ela tinha olhos bem claros, quase verdes.
— Desculpe estar te abordando assim, mas você teria dois minutinhos só para a gente trocar uma ideia rápida?
Lia já suspeitava do que se tratava e não queria que Cris soubesse assim por outra pessoa sobre a sua decisão impulsiva e repentina.
— Claro. — Lia olhou para Cris e pediu licença a amiga que ficou sem entender nada. — Eu já volto, Cris.
As duas sentaram-se no banco de cimento e a menina perguntou:
— Então, eu vi você se inscrevendo hoje, foi para o intercâmbio, não é?
— Foi sim. — Lia respondeu sem paciência. Não gostava quando ficavam bisbilhotando sua vida, ainda mais uma pessoa que nunca vira antes. Só foi falar com ela porque tinha sido bastante educada. — Por quê?
— Então, estou formando um grupo de estudos para a prova de seleção. Ainda temos um mês para conseguir estudar tudo o que for possível. Só gostaria de saber se você teria interesse em participar.
Lia pensou por alguns segundos. Até que não era uma má ideia ter algo para distrair a sua mente naqueles dias tão confusos e tristes. E aceitou o convite. Vanessa ficou alegre e juntas elas marcaram de começar os estudos na segunda-feira na biblioteca, depois do almoço.
Assim que chegaram ao apartamento ela conversou com Cris sobre a sua decisão de se inscrever para a vaga do intercâmbio.
— Amiga, eu só quero o melhor para você. Eu também estava achando uma oportunidade muito boa para você deixar escapar mesmo.
— Eu fui idiota. Estava pensando na droga do meu envolvimento com a Liz. Eu não sei mesmo se ela me leva a sério. Não posso deixar de fazer minhas coisas por causa dela.
— Eu concordo. Só não quero que você tome uma decisão de cabeça quente para se arrepender depois. Eu sei também que foi realmente muito chato ela ter sumido sem te dar satisfação, mas eu sei que ela gosta você. Dá para perceber. Eu acho que ela só não sabe demonstrar muito bem isso. Por tudo que já me contou dela é isso que eu penso. Talvez um tempo afastadas seja mesmo o melhor para as duas.
— Eu não sei mesmo se ela gosta de mim, Cris. — Lia encostou a cabeça no ombro da amiga. Se sentia perdida. — Ela preferiu terminar comigo do que me contar.
— Deve ser um assunto delicado para ela. — Cris a abraçou. — Quem sabe ela encontra coragem para falar nesse meio tempo.
— Eu não sei.
Lia estava arrependida por ter sido tão radical, mas tinha certeza de que se cedesse novamente, Liz nunca a levaria à sério. E só de pensar que já estava cogitando a ideia de se assumir para a família já lhe causava arrepios. Tinha certeza de que seria uma reviravolta, um caos em sua vida. Sentia medo só de imaginar.
A noite ela ligou para os pais e contou, finalmente, sobre essa oportunidade que estava surgindo e que ia concorrer a vaga de intercâmbio. Eles ficaram muito felizes e a incentivaram bastante. Seria uma economia e tanto se ela conseguisse isso, mas pediu para que não criassem tanta expectativa, afinal, as bolsas seriam muito concorridas e ela poderia não alcançar o objetivo.
Lia evitou o quanto pode deitar-se para dormir, pois sabia o quão estranho seria isso. Naquela noite, ela não teria ligação, mensagens ou nenhum tipo de conversa e, principalmente, não teria Liz em sua cama para aquecê-la de todas as formas possíveis. Dormira tanto com ela nas últimas semanas, que já estava mal-acostumada.
Escreveu desabafos por horas em seu notebook, até que seus olhos já não conseguissem mais se manterem abertos. Ao deitar-se, já quase caindo de sono, a memória do seu corpo chamou pelo dela e o vazio lhe tomou impiedoso e cortante.
O fim de semana foi o mais triste e cinzento de todos. Ficou em casa lendo e estudando, ou ao menos tentando fazer isso, mas era difícil se concentrar. Liz havia agitado a sua vida de uma forma tão única que era uma impossibilidade voltar para a mesma calmaria de antes. Queria sair para se distrair e Cris se prontificou a irem a algum barzinho. No entanto, não estava mesmo a fim de sair apenas com os dois e ficar “segurando vela”.
Por fim, resolveu ficar em casa no sábado à noite, assistindo a "Diário de uma paixão". Necessitava desse momento para curtir a fossa, não tinha outro jeito. Ela olhava o telefone de cinco em cinco minutos a fim de ver se recebia alguma mensagem de Liz ou algo do tipo, mas nada. Estava angustiada e ao final do filme, já não sabia se estava chorando com a história ou com as memórias das duas.
O domingo foi deprimente também, o pior em muito tempo. Não sentiu mesmo vontade de fazer nada. Seus pensamentos lhe consumiam. Iam desde a primeira vez que a vira, da briga no banheiro, da trégua até o tão esperado primeiro beijo. Era impossível não chorar a cada momento que se passava e a separação se fazia ainda mais real. Caralh*! Que dor sobre-humana era aquela!? E olha que só estava no terceiro dia de término. Será que conseguiria sobreviver a tudo isso que estava sentindo?
Na segunda-feira pensou seriamente em não pisar no Campus. Não teria forças para recuar caso ela lhe abordasse e ter a consciência de sua própria fraqueza lhe deixava com raiva e ficar triste mais ainda. Por fim, Cris não a deixou faltar e incerta sobre tudo, acabou indo encarar mais um dia de estudante com coração partido.
Por sorte a primeira aula foi extremamente interessante e conseguiu lhe despertar um pouco do torpor de seus pensamentos. No intervalo, não tinha mesmo vontade de comer nada e ficou feito uma mula teimosa a segurar o crepe que tanto gostava. Cris estava junto de Alberto nas escadas e por isso resolveu ir se sentar no pátio sozinha. Se sentia mal por sentir um embrulho no estômago perto dos dois. Não era culpa delas se o seu par não havia dado muito certo. A verdade é que estava de mal humor mesmo, simples assim.
Estava tão concentrada em seus próprios pensamentos que quase não viu quando Vanessa se aproximou animadamente dela.
— Hey, Lia. — cumprimentou-a com um sorriso lindo e espontâneo. — Tudo certo para hoje?
Lia hesitou antes de responder, não estava com cabeça para nada hoje.
— Ah, Vanessa. Eu não estou muito bem hoje. Será que podemos marcar para amanhã?
Sabia que não teria diferença alguma de hoje para amanhã, mas jurou para si mesma que se esforçaria mais no dia seguinte. Percebeu que Vanessa ficou calada por alguns segundos apenas lhe observando e aquilo a incomodou um pouco. Por fim, ela estreitou os olhos e falou perspicaz:
— Eu entendo. Quando estou mal com algum assunto importante também não consigo me concentrar em muita coisa. Mas tudo bem, quando você estiver melhor aparece lá na biblioteca, vou estar te esperando, ok?
Lia ficou aliviada por ela não ter insistido ou ficado chateada, Vanessa parecia ser mesmo uma garota bem legal.
— Obrigada. Prometo que amanhã eu me junto a você. — Tentou acabar logo a conversa, não estava mesmo com cabeça.
— Espero que sim. Já ouvi muito sobre a sua reputação com alguns professores.
Aquilo aguçou a curiosidade de Lia e mesmo querendo encerrar o assunto, não conseguiu se conter e perguntou:
— É? Eles falam o quê?
— Vivem dizendo que tem uma aluna do terceiro semestre que é mais aplicada e interessada do que nós do sexto. — Vanessa disse sorrindo e lhe fitando. — Sem falar da inteligência.
Lia riu um pouco. Se tinha uma coisa que sempre lhe colocava para cima era ser elogiada por sua inteligência. Era a sua vaidade, não poderia mentir. Então ela já era do sexto semestre. Vanessa parecia ser bem nova para já estar tão avançada, ela deveria ter começado o curso bem nova mesmo.
— Eu apenas gosto muito de letras. Sempre gostei muito de inglês e de ler. É um prazer estudar isso. Sempre sou mais fácil de aprender qualquer coisa que eu goste disso.
— Te entendo. Eu também sou bem assim. Desde criança eu gostava de aprender inglês. Depois comecei a fazer cursos e tal. Aí eu me decidi o que queria.
— Comigo também foi da mesma forma. — Respondeu empolgada.
Elas conversaram por algum tempo até o restinho do intervalo. Lia ficou até animada. Vanessa parecia ser uma menina muito inteligente e aplicada. Seria bom mesmo fazer esse grupo de estudos com ela, pensou Lia. Nem se deu conta, mas até conseguira comer o seu crepe enquanto conversavam.
— Então começamos amanhã, não é? — Vanessa perguntou, sorrindo.
— Sim, amanhã. — Lia respondeu sorridente e já sentia um pouco mais disposta. De uma forma estranha, ela havia conseguido levantar um pouco o seu astral.
Quando se despediram com um leve e rápido abraço, Lia avistou Liz do outro lado do pátio. Seu coração disparou ao vê-la, e ficou estática. Estava com tantas saudades dela. Liz apenas a olhou intensamente e sua face tinha uma expressão nada amigável. Nunca a vira daquele jeito antes e não entendeu nada. Liz saiu andando apressada na direção oposta sem ao menos olhar para trás.
Fim do capítulo
Olá... não me odeiem e nem a Lia, por favor! Tadinha, ela também está sofrendo.
Liz tem muita dor em seu passado, sim, mas ela precisa deixar de ser egoísta...
Saí correndo... kkkkkkkkkk
Bjs!
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Val Maria
Em: 22/08/2019
Oi autora querida.
A Lia tem todas as razões do mundo para agir assim,a Liz merece todo isso é muito mais.
Quero a Liz morrendo de ciúmes da Lia,só assim ela vai ter mais consideração por ela.
Autora, o próximo por favor!
Val Castro
Resposta do autor:
Olá, Val querida... Sempre maravilhoso vâ-la por aqui.
Bem, primeiramente, que eu fiquei muito feliz por vocês terem compreendido tanto a Lia e entendido que mesmo a Liz tendo essa grande dor e problema, ainda assim, não justifica o que ela fez. Fiquei mesmo muito contente e aliviada com isso.
Se você quer Liz morrendo de ciúmes, você conseguiu o que queria. Espero mesmo que tenha gostado do 23... rsrsrsrs
Desculpe a demora tanto em responder quanto em postar o outro, mas é que realmente não tive tempo para escrever no fim de semana passado e trabalhando a semana inteira é muito difícil conseguir ter tempo, cabeça e inspiração para escrever, mas consegui e já começei o próximo.
Bjs!
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Rosangela451
Em: 19/08/2019
Sai correndo não rs rs
Kiss tudo bem que liz tenha um passado dolorido ..Mais nem uma mensagem no fds?
Poxa! Assim fica difícil... liz não pode aceitar fácil esse tempo
Ela tem que correr atrás do prejuízo e mostrar que quer a lia ...
N demore
Resposta do autor:
Olá RoRo
Saí correndo, mas já voltei. kkkkkkk
Pois é, difícil entender o comportamento da Liz mesmo com toda a dor. Realmente foi uma falta de consideração com a Lia e egoísmo. Ela tem pessoas que a amam e que só querem o seu bem.
Como você já viu ela está mesmo correndo e sofrendo com o tal prejuízo.
Desculpe mesmo pela demora, mas fds foi niver da crush aí só consegui escrever ao longo da semana. Hehehe
beijinhos!
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Aurelia
Em: 13/08/2019
Oie, fácil sair correndo, não avisar nada e voltar achando que um simples pedido de desculpa vai resolver. A Liana foi até amável com ela de dá um tempo, e não terminou logo. Quem sabe se ela tivesse colocado um ponto final a Lizandra num corria atrás. Faz as pessoas que ama sofrer mas não faz nada pra mudar isso. Bem egoísta mesmo e a Vivi falou, mesmo assim ela não confiou na namorada. Feio hein Liz...
Resposta do autor:
Olá Aurelia
Primeiramente, desculpas mesmo pela demora em lhe responder, mas aqui vai.
Esse jeito que a Liz tem mesmo de sumir por aí é uma coisa realmente muito chata e como você mesma disse, não é somente m pedido de desculpas que vai resolver.
Quanto sobre a Lia ter sido amável você está certa também, ela foi até muito paciente levando em consideração o jeito explosivo que ela tem, mas de uma coisa pode ter certeza, ela vai ensinar uma lição na Liz direitinho. Hahahaha
Eu tenho peninha dela, mas assim... não podemos ficar passando a mão na cabeça das pessoas quando elas erram e ficar justificando o tempo todo, nesse ponto Liz é super imatura e egoísta mesmo e ela faz tudo de maneira insconsciente, mas Lia está aí para ajudá-la a "crescer".
Vivi foi praticamente venerada por essas verdades, rsrsrsrs. Lia está muito envolvida e fazer algo assim, além de sumir não dar uma satisfação. A pior coisa em uma relação é quando uma pessoa não confia em você e te esconde as coisas. Dificulta tudo.
Liz terá sua dose de sofrimento no 23 rsrsrs. Espero que goste. Postei ontem, não sei se viu. Hehehe
Bjs e espero vê-la no próximo!
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Brescia
Em: 12/08/2019
Boa noite mocinha.
Concordo que todos têm as suas lutas internas a superar, Lia fez o certo, quando estamos com alguém que se ama, se deve confiar, mais que um amante, temos que ser amigos e amigos confiam.
Baci piccola.
Resposta do autor:
Olá Brescia
Sim, verdade demais isso. Todos temos nossas lutas internas e não podemos ficar sempre procurando desculpas para os nossos erros, mesmo que seja algo tão doloroso quanto o que a Liz viveu.
Você tem razão sim, quando estamos nos relacionando com alguém a confiança deve ser algo muito bem desenvolvida para que os dois possam conviver, caso contrário o romance e todo o resto se abala demais, que foi o que aconteceu com a Lia.
Realmente é algo muito mais importante do que somente a cama e Liz tem que aprender isso. Ela vai penar um bocadinho no 23... Rsrsrs. Espero que goste.
Bjs!
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