POV Maria

_ Heloísa eu tô dirigindo, posso te ligar daqui a pouco? Me assustei com o choro compulsivo que ouvi do outro lado da linha. Meu coração doeu e tive a sensação que um terremoto se aproximava. _ Pelo amor de Deus Helô, o que está acontecendo? Fala comigo Heloísa. Novamente só ouvia o choro. Comecei a me desesperar, procurei a primeira vaga disponível ao longo da via e estacionei. _ Helô se acalma e fala o que aconteceu, estou começando a me desesperar. Esperei ela se acalmar, mas a cada momento o choro se tornava mais compulsivo. _ Onde você está? Com muita dificuldade ela me disse que estava no depósito do segundo andar do hospital. Por sorte eu ainda estava perto, peguei o primeiro retorno e em poucos minutos estava eu no hospital novamente. E pensar que meu plantão tinha finalizado há menos de 40 minutos. 

_ Helô cheguei.

_ A Luna vai me deixar. Disparou assim que me viu fechar a porta.  

POV Heloísa

Minha cabeça estava a mil por hora, cada fibra do meu corpo doía, latej*v*, literalmente gritava ao me imaginar sem a minha mulher. A noite tinha sido péssima e pra ajudar ainda precisei fazer uma força sobre humana para que a Luna não percebesse nada. O passeio que tinha tudo para ser agradável se transformou em um grande tormento pra mim. A tal Mônica acabou indo ao cinema com a gente e como se não bastasse nos acompanhou ao restaurante. E entre sorrisos, lembranças de um namoro juvenil e de toda descoberta que fizeram juntas vi meu mundo lentamente desabar. Ao final da noite eu estava exausta e completamente destruída por dentro.  

Ao chegarmos em casa ela questionou minha introspecção, mas pretextei cansaço e dor de cabeça e em menos de 20 minutos me joguei na cama, com a esperança que uma noite bem dormida me traria a tranquilidade desejada. Doce ilusão... 

_ Como assim? Vocês estavam basicamente em lua-de-mel. Vocês brigaram? A Maria basicamente gritou me tirando daquele estado de inércia.

_ Meu casamento acabou. E lá estava eu desesperada novamente. Por mais que tentasse não conseguia parar de chorar.

_ Para de chorar mulher. Se orienta e me orienta que eu tô mais perdida que cego em tiroteio. Como assim seu casamento acabou? Que loucura é essa?

Enxuguei as lágrimas e comecei a contar toda minha saga, desde o momento que entrei na sala da Cartomante até o memento que dei de cara com a exibida no setor de obstetrícia.

_ Deixa eu ver se entendi, uma cartomante qualquer disse que a primeira paixão da Luna voltaria e que ela seria tentada a aceitar, aí você foi pro Shopping e deu de cara com uma namoradinha da época da adolescência e surtou?

_ Não é uma cartomante qualquer Maria, é a Madame Berta, foi ela quem previu a minha volta. Olhei pra ela tentando mostrar toda a lógica existente nos acontecimentos. 

_ Mentira que eu atravessei dois sinais vermelhos por isso? Você enlouqueceu de vez, só pode ser!!!! Diz que você não acredita nisso, por favor! Ela me olhou demostrando toda a incredulidade possível em relação ao que estava acontecendo. _ Você realmente acredita que a Luna vai te trocar por uma paixão juvenil? Depois de tudo que ela enfrentou para ficar com você, cadê a lógica nisso Heloísa? Eu juro que em circunstâncias normais eu também acharia loucura, mas não era esse o caso. _ Só não entendi a parte dela estar aqui.

_ A vaca é a mais nova enfermeira do hospital e você ainda acha que estou surtando em vão. As coisas estão se encaixando Maria. Eu vou perder minha mulher. E mais uma vez eu voltava a chorar.

_ Toma tenência Heloísa, para de procurar cabelo em ovo e vai curtir seu casamento.

Ela me abraçou, se despediu e disse que precisaria ir embora, pois precisava buscar a Juliana na escola. Fiquei mais alguns minutos naquele lugar tentando me refazer, antes de voltar a encarar minha desgraça de frente.

POV Carina

_ Tô procurando sua mulher já tem uns 30 minutos. Ela veio trabalhar? Falei assim que vi a Luna entrar pela recepção principal.

_ Boa tarde pra você também Carina. Ela sorriu e me deu uma beijo na bochecha. _ E não, eu não vi minha mulher hoje, ela deve der sido chamada de emergência, pois quando acordei ela já tinha saído. 

_ Vendo ela por aí fala que preciso falar com ela.

Dei mais um beijo na loira e... _ Te espero no centro cirúrgico. Falei já correndo.

_ Boa tarde Dra. Di Blasio, sou a nova enfermeira da Obstetrícia e irei acompanhá-la na cirurgia.

_ Boa tarde Mônica Gaultier. Falei olhando o crachá pendurado em seu uniforme. _Bem vinda a equipe.

_ Mônica, por favor, me chame apenas de Mônica.

_ Ok Mônica, mãos à obra.

A cirurgia demorou pouco mais de 4 horas. A Luna precisou intervir no feto devido uma má formação congênita no pâncreas e precisei estar a postos caso houvesse a necessidade de um parto de emergência. Mas graças a Deus foi tudo tranquilo. No centro cirúrgico descobri que a nova enfermeira era amiga de longa data da Lu o que me fez simpatizar ainda mais com ela. A guria era competente, extrovertida e aparentemente legal.

Finda cirurgia voei para a cantina, estava sedenta por um copo de café e um pedaço de brownie quentinho. Nem bem comecei a me deleitar com aquela delícia gordurosa quando dei de cara com a latina completamente sem expressão sentada em uma mesa no canto.

_ Quem morreu? Falei me sentando ao lado dela. _ Estava te procurando mais cedo. Queria saber se nossa ida ao sexi shop está de pé?

_ Desculpa Carina, mas não estou me sentindo muito bem. Podemos marcar para outro dia?

_ Claro morena. Sorri na tentativa de animá-la. _ Deixa eu te contar, a nova enfermeira da obstetrícia é uma gracinha. Acredito que você a conheça, ela é amiga da Luna. Mônica o nome dela. Vi que ela deu um sorriso amarelo, mas julguei fazer parte do mal estar. _ Precisa ver Helô, a menina é competente e bem extrovertida, gostei de trabalhar com ela. Reparei que os olhos da morena marejaram automaticamente e me assustei, nunca vi aquela latina fraquejar, muito menos na frente dos outros. _ Aconteceu alguma coisa Helô?

_ Eu vou perder a Luna. Tomei um susto que quase caí da cadeira.

_ Como assim?

_ Eu fui na cartomante. Ela me olhou ressabiada.

_ E...

_ Ela me disse que uma antiga paixão da Luna voltaria e que ela ficaria tentada a me deixar.

_ MENTIRAAAA... Acabei falando mais alto que deveria, chamando a atenção de quase todos para mim. _ Desculpa! Falei sem graça olhando para os lados com o sorriso amarelo. _ Quem será essa antiga paixão? Perguntei assim que os olhares saíram de nós.

_ A Mônica.

Novamente meu escândalo chamou a atenção para nós. _ Garota insuportável, não fui com a cara dela, precisa ver Helô, exibida, abusada. Ela me olhou esgueirando a sobrancelha em sinal de desacordo. _ O que você pensa em fazer?

_ Sinceramente não sei, não consigo raciocinar direito. A Lu está cheia de sorrisinhos com essa uma, relembrando a juventude e todas descobertas que fizeram juntas. Ela fez uma cara de vômito que me fez gargalhar.

_ Calma morena eu vou te ajudar.

POV Heloísa

Olhei para ela tentando imaginar a maneira que ela me ajudaria. Vindo da Carina podia-se esperar qualquer coisa.

_ Chega dessa cara de choro. Quero você ainda mais fatal, destemida e linda de morrer. Quero ver a Luna e todos os homens desse hospital babando em você. A talzinha precisa ver que a oponente dela está à altura ou você vai entregar a loira assim, de mão beijada?

_ Claro que não.

_ Então se prepare para a guerra. Eu vou colocar ela pra trabalhar comigo e ao menor sinal de abuso da parte dela te aviso.  

_ Você está certa Carina, se esse mulherzinha acredita que vai chegar e levar minha mulher na mão grande está muito enganada.

_ Foco total na Luna morena, sufoca ela de amor, carinho, beijos, sex* e tudo que sua imaginação permitir. Em hipótese nenhuma ela pode desconfiar do que a Madame Berta falou. Não queremos que ela olhe diferente pra essa “amiga”. Fez aspas com as mãos no “amigas” me arrancando o primeiro sorriso do dia.

Saí daquela cantina mais animada. Passei na sala dos médicos e lá estavam elas entre sorrisos e cafés. Segurei minha cara de nojo, me apossei do meu melhor sorriso indo cumprimentá-las.

_ Posso atrapalhar?

_ Oi amor, você nunca atrapalha. Ela falou me beijando.

_ Tudo bem Dra. Heloísa?

Falsa, quer roubar minha mulher e ainda fica me perguntando se está tudo bem. Pensei comigo mesma enquanto sorria e acenava afirmativamente com a cabeça.

_ Senti sua falta na cama amor, foi chamada para alguma emergência?

_ Fui sim minha linda. Mas fica tranquila que a noite eu compenso essa falta. Olhei para a cara da fulaninha e ela tentava disfarçar sua presença. _ Agora deixa eu ir que tenho uma cirurgia bem chatinha e preciso me preparar. Passei aqui só pra te dar um beijinho e aproveitar pra te falar que depois do plantão vou dar um pulinho no Shopping com a Carina. Vou comprar aquele brinquedinho que você me pediu. Pisquei pra ela sorrindo. Ela lambeu os lábios discretamente e ao lado dela aquelazinha não sabia onde enfiav* a cara. _ Feliz em te ver por aqui Mônica. Sorri amarelo pra ela e saí possessa por ter que deixar minha loira ali.

POV Carina

Eu fiquei completamente estarrecida com o que a Madame Berta falou. Tentei algumas vezes me colocar no lugar da Helô, mas só de imaginar me doía o coração. Imagina você saber que o grande amor da sua vida está prestes a te largar e não saber o que fazer pra evitar? Imagino a agonia da morena, mas ela tem amigas e não vai enfrentar essa sozinha, não mesmo. Senti meu celular vibrar no bolso e ao verificar a mensagem vi que era a Helô me sinalizando que as duas estavam na sala dos médicos.

_ Oi meninas. Falei já me jogando entre as duas.

_ Ai Carina, senta logo no colo, kkkk....

_ Não seja por isso loira. Levantei e sem a menor cerimônia me sentei no colo dela. _ Isso me lembra os velhos tempos, kkkk...

_ Você não vale nada Carina. Deixa a Helô ver você jogada em cima de mim.

_ Pode deixar que com a latina eu me resolvo. Lancei um sorrisinho todo irônico para ela.

_ Então quer dizer que vocês já se pegaram? 

_ Pegar é pouco gata, kkkk... Eu quase casei com essa loira, foi por segundos que ela não disse sim, kkk...

_ Sério Lu, essa eu não sabia.

_ Primeiro conselho Mônica, não acredite em tudo que essa louca diz, kkkk...

_ Qual parte não devo levar a sério?

_ O casamento claro, kkkk... Me antecipei a Luna e aproveitei para mudar o rumo da conversa. _ Mônica de agora em diante você atuará sempre nas minhas cirurgias e nos meus pós operatórios. Gosto de trabalhar com pessoas leves e você me parece uma delas.

_ Será ótimo trabalhar com você Dra. Di Blasio.

_ Pode me chamar de Carina linda. Se é amiga da minha loirinha aqui é minha amiga também. Só não abuse da hospitalidade, senão eu mordo, kkk...

_ Abusar? Como assim? Ela me olhou demostrando não ter entendido minha piadinha.

_ Não dê em cima da minha mulher e nem das minhas amigas, no mais pode pegar o hospital inteiro. Sorri triunfante. _ Ah, e antes que me pergunte, minhas amigas são a Helô e a Luna, sendo assim nada de “revive” mocinha. Pisquei pra ela que me olhava atônita.

 _ Carina!!!!! Levei um tapa na coxa em sinal de reprimenda.

_ Que foi, só estou cuidando do que é meu. Sou ciumenta e você sabe disso.

_ E desde quando eu e minha mulher somos sua?

_ Desde sempre meu amor, kkkk...

_ Gulosa você em Carina, bem que podia dividir um pouquinho comigo. Eu fico com a Lu e você com a Dra. Heloísa. Ela sorriu tentando entrar na brincadeira, mas eu fechei logo a cara.  

_ Sem divisões. Respeite as zonas proibidas e seremos eternamente amigas.

Dei um beijo estalado na loira e saí da sala dos médicos correndo em direção a uma emergência sinalizada.

POV Luna

_ Ela é sempre enfática assim?

_ Não liga não, ela é maluca, mas é inofensiva, kkkk...

_ Adorei sua esposa, ela é linda.

_ Ela é uma delícia, kkkk...

_ Quanto a isso prefiro não comentar, senão a Carina me mata, kkkk... Gargalhamos alto imaginando a cena. _ Mas e você Lu, está feliz?

_ Muito. E você?

_ Curtindo. Levei um pé na bunda por sua causa.

Olhei pra ela assustada. _ Minha? Como assim?

_ Tive um sonho erótico com você e pelo jeito falei enquanto dormia, porque acordei a base de porr*da, kkkk...

_ Um sonho erótico comigo? Conte-me mais sobre isso, kkkk...

_ Besta, kkkk... Ela falou que meu subconsciente ainda te desejava e me deu um pé na bunda. Agora ando me divertindo entre uma cama e outra.

_ Não quero nem imaginar a Helô ouvindo você falando que teve um sonho erótico comigo, kkkk...

_ Ela é ciumenta? Não pareceu.

_ O que? Aquela ali é o ciúme em pessoa. Até estranhei não haver um showzinho a parte por sua causa.

_ Ela não precisa se preocupar comigo, eu não mordo, a não ser que você queira, kkkk...

_ Mônica, toma tenência mulher.

Meu bipe tocou e saí de lá correndo para a emergência. Mas meu sexto sentido estava começando a apitar, se não cortasse as brincadeirinhas “ingênuas” da Mônica, futuramente poderia ter problemas. A Helô, por bondade de Deus estava tranquila em relação a ela e as coisas deveriam ser mantidas assim.

POV Mônica

Encontrar com a Luna me fez reviver um monte de sentimentos que julgava adormecidos. Nosso termino foi traumático, pelo menos pra mim, que era completamente apaixonada por ela. Foi difícil recomeçar, principalmente quando fiquei sabendo que uma amiga em comum estava flertando com ela. Eu chorei, gritei, tive vontade de sumir, mas meu tormento durou pouco, pois meses depois ela passou para uma renomada faculdade, inviabilizando sua permanência na cidade. E assim, sem vê-la eu segui minha vida.

Dizer que ainda sou apaixonada por ela seria um pouco demais, mas não posso negar que bateu uma pontinha de inveja da Dra. Heloísa. E como diz a Carina um “revive” não seria nada mal, kkkk... Sorri sozinha naquela sala dos médicos vendo a hora do meu almoço passar.

Abri meu celular e busquei na nuvem uma foto nossa, dos tempos que éramos uma só, que aquelas covinhas eram só minhas e eu era a única dona dos seus gemidos e sussurros. _ É dona Luna, eu bem que poderia ter você pra mim!

Fim do capítulo