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  • Capítulo 34 - Alguém que eu não conhecia: Parte I

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As escolhas de Helena por escolhasdehelena

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Palavras: 4924
Acessos: 2106   |  Postado em: 26/06/2019

Capítulo 34 - Alguém que eu não conhecia: Parte I

 

 

Entrar de férias, sair de férias, entrar em férias... tantas expressões para um mesmo idioma! Há quem diga que sair de férias é o termo mais comum para quem aproveita as férias para viajar. No caso de Helena, aplicar-se-ia muito bem o vocábulo, pois esta já se encontrava de malas prontas para ir a São Paulo. Sua ansiedade fora substituída por tristeza por um breve tempo, mas logo se conformou com a situação acadêmica e percebeu que era hora de aproveitar um pouco do tempo livre na Selva de Pedra. Mas a garota não seria a única a aproveitar o período de descanso em outra cidade.

“Lívia, você vai para a casa dos seus pais logo? Arrumaram o trecho do trajeto que passa pela sua cidade, eu poderia lhe dar carona, se quiser.” Helena oferece, enquanto retira do armário os lanches que havia comprado para a viagem.

“Nessas férias eu não vou, Lena, mas muito obrigada por oferecer. Vou para Porto Alegre com o Dante.”

“Não era você que estava completamente contra a aquisição do carro?” Helena questiona, desconfiada.

“Eu só estava preocupada porque eu me lembro bem o que aconteceu com você alguns meses atrás.”

“... e assim como você sofreu por mim, não quer sofrer dessa maneira por ele.” Helena dá uma piscadinha sarcástica e satisfatória.

“Não sofri por você, sua tonta arrogante.” Lívia revira os olhos mas cede à brincadeira com uma breve risada. “Mas me assustei com a possibilidade de você morrer.”

“Eu me contento com isso.” Com um levantar de ombros e uma jogada de beijo jocosa, Helena coloca os lanches dentro de uma sacola e vai pegar suas malas para levá-las ao carro.

 

 

________//________

 

No fim da tarde, Lívia terminava de se arrumar para passar as próximas 16 a 18 horas dentro de um carro atravessando parte do estado de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e finalmente Rio Grande do Sul, enquanto Anna Júlia e Dante conversavam na cozinha.

“Você planeja ir pela BR?” Anna Júlia pergunta a Dante, já tomando seu achocolatado quente e planejando dormir logo.

“É o que planejo, desde que duplicaram, está bem mais segura.” Dante responde, tomando um copo de café para se manter acordado.

“Fez a revisão? Conferiu água, óleo? Calibrou os pneus? Está preparado mesmo para enfrentar tantas horas? Tivemos poucas horas de treino.” Anna Júlia demonstra preocupação com o novo proprietário de seu carro.

“Fiz tudo sim. O carro está pronto para andar mais de mil quilômetros tranquilamente. E eu só não me recordava direito como se dirigia, mas uma aula foi suficiente. Eu aprendo e reaprendo rápido.” Dante aparenta calma e naturalidade.

“E tem certeza que quer dirigir à noite?” O instinto de Anna Júlia implora por mais perguntas.

“Prefiro assim, pelo menos não inicio a viagem com raios solares nos irritando por horas.”

Lívia então aparece com duas malas enormes e uma pequena bagagem de mão. “Eu já compilei uma playlist com aquele rock doidão que você às vezes ouve para se concentrar, mas tem também aquelas músicas que você diz que escuta longe de todos para não passar vergonha. Está levando o adaptador para o carregador do celular?”

“Lógico, meu amor. Mas... por que estais tão arrumada? Nós só vamos chegar lá amanhã no início da noite. Eu vou dirigir de pijama, por exemplo.” Dante se levanta e mostra a camiseta com um furo no canto e a bermuda de malha.

“Dante! Trate de trocar de roupa. E se algum guarda para a gente? E se nos envolvemos em algum acidente? Imagina a vergonha em você ser socorrido assim!”

“Eles não vão deixar de me atender por causa de vestimentas, né, Liv.” Dante respira fundo mas se vê obrigado a trocar de roupa, dado a insistência da namorada.

“E quanto a você, Anna, trate de se divertir enquanto não estamos aqui.” Lívia ordena.

“Vou me divertir bastante no calor dos meus cobertores com minha própria companhia...” Anna Júlia ri.

“Vai festar, mulher! Vai conhecer alguém e fazer alguma estupidez! Estupidez com consciência, óbvio.”

“Vou pensar no seu caso, Lívia.” Anna Júlia finaliza seu chocolate quente enquanto Dante retorna com uma camiseta mais aceitável.

O casal se despediu da amiga com um forte abraço e ambos saíram do apartamento, com Dante se atrapalhando ao tentar levar todas as malas de Lívia de uma vez para o carro. A noite estava bonita, estrelada, com algumas nuvens esparsas e um ventinho gelado, impedido de entrar pelos vidros fechados e o aquecedor ligado.

Lívia tentava conectou o cabo do celular ao mp3 do carro, mas não conseguia fazer a música reproduzir.

“Eu não acredito que eu cometi essa cagada.” A garota coloca a mão na testa.

“O que foi?”

“Preparei a playlist mas esqueci de colocar para baixar. São mais de quatrocentas músicas!”

“Tudo bem, eu roteio internet e daí tu podes baixar.”

“Na saída da cidade o sinal é péssimo. E vai demorar um século. Deixa para lá. Conecta seu celular mesmo, a gente para em alguma lanchonete no inicio do dia e eu pego o wifi.” Lívia responde com tristeza em sua voz. Ela pega o celular do namorado e pluga. Ao iniciar o modo aleatório, começa uma música acústica.

“Muda! Essa música é tosca.” Ele rapidamente toma o celular e passa para a música seguinte.

“Por quê?” Lívia, com a sobrancelha em elevação acentuada em seu lado esquerdo, retoma o celular e volta a música.  “Ei! Eu conheço essa música. Você me mandou pouco antes da nossa primeira ficada, antes mesmo da sua transição.”

“Essa mesma.” Dante responde entre os dentes. “Agora podes mudar?”

“O que foi? Eu amava essa música! É aquela da Kell Smith não é? E que amar demais representava perigo, e aí você me olhou...e já é...” Lívia canta junto com a música.

“Na época, eu mandei a música porque por um momento percebi que estava me apaixonando. Mas isso me assustou e continuei levando a vida e ficando com outras pessoas. Foi meio tarde que eu descobri que tu eras suficiente, e que só tu bastavas. Essa música me faz lembrar dessa época de dúvidas.”

“Por que tarde? Nós estamos juntos agora, Dante! Somos eu e você!” Lívia responde com convicção e Dante lança um breve olhar antes de voltar a focar na rodovia. Um olhar que dizia mais que mil palavras e fez Lívia engolir a seco.

“Eu te amo, Lívia. Continuo te amando e não ligo, só queria honestidade e confiança mútua.” A frase de Dante precede um momento de silêncio súbito.

A namorada respira fundo e tenta não transparecer a angústia de perceber que acabara descoberta. “Foi a Anna né? Vocês andaram passando um tempo juntos, ela deve ter contado.”

“Não. Eu já sabia faz tempo. O que mais me doeu foi saber do quanto tu exigias de mim, para ir lá e agir da maneira que tu mais condenavas.” Conforme profere as palavras, o coração de Dante aperta e seu rosto tenta esconder o marejar dos olhos ao manter o olhar fixamente no carro logo à frente na rodovia.

“Sei que fui hipócrita. E por culpa minha vamos ficar num climão e agir estranhos até o fim da viagem. Se quiser, já me deixa aqui no próximo posto e eu chamo uber de volta para casa.” Com a voz trêmula, Lívia tenta traçar seu destino.

“Eu não consigo viver sem ti.” Dante abafa a voz para não parecer sentimental.

“O quê?” Em meio a fungadas e lágrimas retidas, Lívia não consegue entender.

“Eu disse que não consigo viver sem ti. Tu fostes a primeira pessoa que aprendi a amar, depois que conheci o amor próprio e entendi quem eu era. Mas eu não quero viver sempre me indagando se sou a única pessoa em sua vida, então prefiro que sejamos abertos em tudo, sobretudo.”

“Abertos no sentido...?”

“Em todos os sentidos.”

“Você esperou eu topar ir para Porto Alegre passar as férias com você para me falar que quer abrir? Que chegando lá você vai querer ficar com outras pessoas, é isso?”

“O quê? Não, lógico que não, Lívia!” Dante acaba rindo do pequeno surto da namorada. “Eu não disse que quero ficar com outras pessoas, eu disse que quero abrir porque não quero ficar me perguntando se tu estás me traindo.”

“Mas eu não quero lhe trair, Dante! Foi só uma vez depois que começamos a namorar. E uma vez antes.”

“Eu não preciso saber dos detalhes, Lívia! E de onde tu tiraste que eu vou ficar com outras pessoas enquanto tu estás lá em Porto Alegre comigo?”

“Eu não sei! Eu não sei!” Lívia se exalta. “Eu só sei que não estou bem...” A garota coloca a mão na testa para sentir sua própria temperatura.

“Quer que eu encoste o carro até tu te sentires melhor?”

“Não, eu vou tomar um remédio que tenho aqui na bolsa e ver se consigo dormir um pouco, quando acordar podemos continuar a conversa.” E enquanto Lívia procura o remédio na bolsa, Dante aperta o play na musica seguinte.

 

 

 

________//________

 

Helena chegou no apartamento de sua mãe e Laura a recebeu primeiramente. Marco Antônio tomava banho para sair com seus amigos virem buscá-lo.

“Querida, você deve estar morrendo de fome! Vem, eu preparei uma sopa maravilhosa. Como foi de viagem?” Laura pega as malas da enteada e as entrega para a empregada, e então guia a garota para cozinha.

“Foi tudo bem. Eu realmente estou faminta, muito obrigada. E mamãe, onde está?” Helena lava as mãos na pia do outro banheiro, próximo a sala de jantar enquanto responde à madrasta.

“Sua mãe está em reunião na empresa com seu pai.  Parece que ele vai sair de licença paternidade e eles precisam acertar algumas coisas.” Laura explica.

“Licença paternidade, já? Os gêmeos já nasceram?”

“Pelo que ela me contou, a cesárea está marcada para amanhã. Você não vai visitá-los?”

“Não sei em que termos estou com meu pai.” Helena suspira. “O cheiro está realmente bom. É sopa de abóbora?”

“É sim, meu amor.” Laura pega uma das tigelas de porcelana para colocar uma porção de sopa. “Quer torradas?”

“Quero sim.” Helena aceita e Laura prepara um prato com pequenas fatias.

“Já pedi para a empregada arrumar seu quarto direitinho. É que quando eu e Marco Antônio dormimos aqui, ele costuma ficar no seu quarto, principalmente de fim de semana. Mas já comprei um colchonete para ele.”

“Mãe, mais tarde avisa a tia Fran que eu usei o shampoo dela. O cheiro estava bom, não resisti e o meu havia acabado.” Marco Antônio sai do banho arrumado. “Oi, Helena!”

“Oi, Marco! Está bonitão, hein!” Helena pisca jocosamente para o guri.

“Isso? É só para sair com a galera, mesmo.” Marco aponta para a própria camisa e dá uma giradinha para mostrar o look.

“Ele se acha com essa camiseta que a Fran deu para ele de aniversário.” Laura brinca.

“Minha mãe tem muito bom gosto mesmo.” Helena olha para seu prato de sopa, para as torradas, para Marco e então para Laura. Acaba sorrindo involuntariamente. Seria o semblante de um lar pairando no horizonte?

 

________//________

 

O dia amanhecendo. O sol despontando timidamente enquanto Dante dirigia dentro dos limites de velocidade, com árvores coníferas enfeitando a passagem.

“A felicidade, acordamos só pra ter... e compartilhar com aqueles que nos fazem sentir que estamos perto, saber que o longe é opção... será surreal, ter o mundo em minhas mãos?” Dante cantarola uma de suas músicas nacionais favoritas da atualidade, sentindo a calmaria da viagem.

“Nossa... como minha boca está seca!” Lívia acorda meio perdida e zonza.

“Tem uma caixa de isopor com água e suco no banco de trás.”

“Onde a gente está?”

“Em algum lugar do estado do Paraná.”

“Eu dormi a noite toda?” Lívia pergunta, após molhar a garganta com suco de acerola.

“Dormiu sim. Feito um bebê.”

Lívia coça os olhos  e tenta esconder o rosto dos primeiros raios solares. “Por um momento esqueci que deveríamos terminar aquela conversa...”

“Não precisamos conversar sobre isso agora, meu amor.”

“Se não conversarmos eu vou ficar olhando para o horizonte, aflita, sem saber o que você está pensando.”

“Podemos conversar sobre outra coisa, por exemplo, sobre o que faremos em Porto Alegre. Meus amigos querem te conhecer, só falo de ti para eles. Tenho um amigo do Ensino Médio cujo irmão comprou uma casa noturna lá de PoA, nós poderíamos ir lá semana que vem.”

“Você ficou com ele?” Lívia pergunta, quase que em um reflexo.

“Com quem?”

“Com esse colega do Ensino Médio.”

“Quê? Que tipo de pergunta é essa?”

“Queria saber se você já ficou com ele, oras.”

“Lógico que não, ele é só meu amigo, mas que diferença faria?”

“Para saber se você não vai ficar de novo agora que abrimos.” Lívia começa a ficar tensa.

“Eu já te expliquei.” Dante revira os olhos. “Eu não quero ficar com ninguém!!”

“Então não faz o menor sentido nós abrirmos, Dante!”

“Faz sim! Faz porque vai ser a única maneira para que tu sejas honesta comigo!!!”

“Dante, eu já disse que estou arrependida! Já pedi perdão!”

“Não, Lívia!”

“Não o quê?”

“Tu nem me pediste perdão! Eu acabei descobrindo, e tu nem ao menos pediste perdão!”

“Então me perdoa, cacete!” Lívia eleva o tom.

“É lógico que te perdoo, porr*!” Dante responde no mesmo tom. “Só que antes tu não confiavas em mim, e agora, eu que não confio! Mas eu não consigo ficar sem ti, eu não consigo imaginar a droga da minha vida sem ti!”

“Eu também não consigo ficar sem você, Dante! Que saco, você sabe que lhe amo e que chega a doer dentro de mim ao saber do quanto amo você. Eu não quero ficar com outras pessoas. Eu não quero abrir, eu só quero que sejamos um casal normal!”

“E seremos, mas seremos abertos, Liv! Pelo menos assim podemos adquirir confiança até amadurecermos.”

“E o que mais vamos fazer?”

“A respeito de quê?” Dante pergunta, confuso.

“Em Porto Alegre.” Lívia resolve mudar de assunto repentinamente para não se estressar.

“Ah. Bem vou ter que trabalhar com meu pai um pouco, tu podes ficar em casa.”

“No hospital ou na clínica?”

“Em ambos. Preciso pagar o carro para ele.”

“Achei que ele tivesse dado.”

“Tu achas? Um dos carros dele fica na garagem há meses, tentei de todo jeito cantar a bola para ele me dar, mas ele disse que me venderia, só que eu não poderia pagar o valor total. Consegui negociar um carro de menor valor se eu virar uma espécie de minion para meu pai nessas férias e ajudá-lo.”

“E o que vai fazer nessa ajuda?”

“Organizar prontuários, atender telefone, dar uma vistoria na manutenção da clínica, conferir estoque de medicamentos, até porque dois funcionários da clínica vão tirar férias e eu vou cobrir. E no hospital ele ainda quer que o acompanhe em alguns plantões.”

“Eu posso ajudar você tranquilamente.” Lívia oferece. “Não quero ficar parada nessas férias.”

 

 

________//________

 

Helena acordou com sua mãe lhe chacoalhando levemente.

“Filha, filha! Bom dia! Quando cheguei você já estava dormindo. Seu pai está indo para o hospital agora com Yasmin.”

“Hã? Bom dia.. mãe? Quê? Quem é Yasmin?”

“A mulher com quem seu pai está morando, que vai dar à luz aos seus irmãos hoje.”

“Verdade. Havia me esquecido. Yasmin.” Helena boceja.

“Não quer ir para lá agora? A gente toma um café da manhã na padaria em frente ao hospital.”

“Não, mãe, obrigada. Eu quero dormir um pouco.”  Helena se vira para o outro lado.

“Laura me disse que conversaram bastante ontem. Contou-me que reprovou em uma matéria. Por que não me ligou?”

“Não queria incomodar.” Helena suspira e fecha os olhos.

“Você está bem mesmo, filha?”

“Estou sim.” A garota continua a responder de olhos fechados.

“Seus avós chegam hoje também. Vão ficar lá com seu pai. Não quer almoçar com eles, pelo menos?”

“Depois eu vejo isso, mãe.” Helena por fim cobre o rosto.

 

 

________//________

 

Dante estacionou o carro em um restaurante na beira da estrada para que pudessem almoçar. O restaurante, enorme, parecia um daqueles localizados em centros de grandes cidades.

“E quando voltarmos das férias, como vai ser?” Lívia pergunta, logo após colocar sua bandeja com o prato sobre a mesa.

“Como vai ser o quê?” Dante responde com outra pergunta, já de boca cheia com a primeira garfada.

“Nós vamos passar algumas semanas completamente grudados agora. Quando voltarmos para lá, vamos voltar às nossas vidas normais, com o adicional de termos certas liberdades. Como vou saber quando você vai querer ficar comigo ou vai querer usufruir dessa abertura?”

“De novo isso, Lívia?!?”

“Eu preciso saber!”

“Tu moras com uma pessoa que tu já ficaste e nem por isso estou questionando.”

“Eu sabia que você usaria isso contra mim! Se sabe que eu moro com uma garota que já fiquei por que ainda pede para abrirmos?”

“Tu já ficaste com ela em um relacionamento fechado. Agora tu podes fazê-lo sem quaisquer implicações morais e eu não pago de trouxa.”

“Dante, sua insegurança não está ajudando em nada. Era por isso que não queria que soubesse!!”

“Para eu continuar na ilusão de que eu era suficiente para ti?”

“E você é! Foi um erro, Dante, um erro!”

“Lívia, vamos terminar esse almoço e continuar a viagem logo.”

“Foi um erro, Dante, foi um erro...” As lágrimas de Lívia começam a rolar no meio do restaurante.

“Liv...” Dante coloca sua mão sobre a da namorada. “Liv, por favor não chore aqui...”

“Eu errei, eu não quero que mudemos por causa desse erro, eu quero passar o resto da minha vida com você...” Lívia continua a chorar.

“Lívia, nós não estamos terminando!”

“Eu estou arrependida, Dante, eu errei, eu sei que eu errei...” A namorada limpa as lágrimas com um guardanapo.

“Hey... independentemente do que sentimos com relação ao que aconteceu... somos tu e eu e é sempre assim que vai ser. Eu te amo e se tu não terminares de comer essa salada de beterraba, eu roubo de ti.” Dante dá uma risadinha condescendente  para fazer a amada parar de chorar.

 

________//________

 

Quando Helena finalmente resolveu se levantar, o sol já estava a pino. Ao sair de seu quarto, e ainda com olhos entreabertos, foi para a cozinha e se deparou com a professora Laura fazendo almoço.

“Dona Alvina não vem hoje?” Sem ao menos dar bom dia, Helena observa as panelas elétricas em ação.

“Não... ela ficou na casa de seu pai hoje. E pelo jeito sua mãe vai acabar deixando com ele e contratando outra, as crianças vão demandar muito tempo e recursos que só dona Alvina vai conseguir ajudar.” Laura explica. “E eu estou fazendo costelinha com mandioca. Sua mãe me contou que você adora.”

“E ela não está errada.” Helena sorri e já começa a sentir o cheiro da comida. “O Marco está aí?” Ela pergunta, enquanto procura algo no armário para enganar o estômago até o almoço.

“Não está, resolveu dormir na casa de um coleguinha na zona norte. Tenho que ir buscá-lo mais tarde, acabou perdendo o dinheiro do metrô e teve que dormir fora.”

“Zona norte? Perto mais ou menos de onde? Estava pensando em conferir um estúdio de tatuagem na altura do metrô Parada Inglesa. Posso ir hoje e aproveito para buscá-lo.”

“Tatuagem? Está pensando em fazer?”

“Na verdade tem uma garota que comecei a conversar por aplicativo e ela trabalha lá. Ela me chamou para conhecer o trabalho dela. Mas então, onde o Marco está mais ou menos?”

“Marquei de buscá-lo em frente à estação Armênia, perto de onde o amigo mora. Creio que seja longe para você, meu amor.”

“Não é não, sei onde é. Só falar que altura da avenida eu devo esperá-lo e eu busco, sem problemas.”

“Você é um anjo, minha filha!” Laura vai até o armário que Helena procurava snacks e o fecha. “Mas o almoço sai em dez minutos e se comer agora, não vai ter fome, entendeu?” Ela aperta a bochecha da enteada e sorri.

 

 

________//________

 

“Vamos fazer um jogo?” Lívia pergunta, entediada, enquanto Dante já cruza o estado de Santa Catarina.

“Que tipo de jogo?” Dante responde com outra pergunta, logo após bocejar.

“Eu digo uma palavra ou frase e você diz uma que se associe a ela, mas tem que ser a primeira que você pensou, e depois você tem que se justificar e falar qual memória pode ter associado ao que falei, e depois é sua vez, okay?”

“Se isso me fizer perder o sono, eu topo. Tu começas?”

“Pode ser.” Lívia coloca a mão no queixo e pensa um pouco. “Lá vai: Uma banda.”

“Aviões do Forró.” Dante se espanta com a própria resposta.

“O quê?” Lívia cai na gargalhada.

“Não faço ideia do motivo de ter dito isso.” Dante também ri aos montes.

“Ontem você estava vendo um show antigo deles na TV, será que não é por isso?”

“Pode ser, pode ser. Minha vez agora: um filme!”

“Um amor para recordar!” Lívia responde de pronto.

“Sério?”

“Sim, eu amo esse filme desde a adolescência!” Lívia explica.

“Eu nunca terminei de assistir, achava meio meloso.”

“É porque não assistiu direito! Podemos assistir quando chegarmos na sua casa... e agora é minha vez: fetiche.”

Dante então fica mudo por um segundo. “Eu não sei descrever a imagem que veio em minha mente ao ouvir a palavra, e agora?”

“É tão pesado assim?” Lívia pergunta, temendo a resposta, mas em certo ponto, curtindo a conversa.

“Bem, envolve um balanço sexual, teu clit*ris e minha língua.” Dante sorri com malícia.

“Você está falando sério?!”

“Se tu não quiseres, não precisamos fazer.”

“É lógico que eu quero! Você tem um balanço sexual?”

“Tenho, está em uma mala em cima do meu guarda-roupas. Meus pais nunca mexem lá, então espero que ainda esteja intacto.”

“Você tem um balanço sexual e nunca mencionou isso para mim?!”

“Achei que tu não curtisse esses lances!”

“Precisamos revisar alguns aspectos desse namoro, amor. O primeiro é: se você tem um balanço sexual, você tem que falar porque sua namorada provavelmente vai amar!”

“Já que estamos falando sobre coisas que tenho em casa... eu também tenho um vibrador de controle remoto, mas o controle está quebrado e preciso consertar.”

            “É sério? Pois vamos arrumar o mais rápido possível! Eu sempre quis andar com um desses em algum lugar público e ver como vou reagir!”

            “Acho que vamos aproveitar bem essas férias...” Dante dá outro sorriso malicioso enquanto prosseguem viagem.

 

________//________

 

            Helena entrou em seu carro e combinou com Marco o local adequado. Resolveu inverter a ordem dos eventos para não ir sozinha ao estúdio. Ao estacionar em uma rua perpendicular à avenida, mandou mensagem ao garoto e ficou aguardando. Em poucos segundos, o garoto chega, abre a porta e se senta ao lado da motorista.

            “Marco, você fez treze anos agora, não fez?” Helena pergunta.

            “Sim, por quê?”

            “Porque eu preciso de uma boa justificativa para você estar fedendo a vodka no meio da tarde.”

            “Não é nada, os moleques jogaram bebida em mim, só isso.”

            “Seu hálito está com cheiro de álcool. E eu conheço bem esse olhar letárgico.”

            “Helena, foi só uma brincadeira com os moleques, eu nunca tinha bebido, não vai acontecer novamente.”

            “Como você espera que eu chegue em casa desse jeito? Sua mãe vai lhe matar e também ME matar.”

            “Você a distrai e eu corro para o banheiro, simples.”

            “Eu não vou lhe encobrir, Marco. O que você fez foi errado. Eu tenho um amigo que se ferrou de verdade por esconder coisas assim.”

            “Errado? Helena, minha mãe contou que você já quase morreu em um acidente por ter dirigido bêbada.”

            “Isso não justifica o fato de você ter treze anos e já estar bebendo!!”

            “Todo mundo faz isso nessa idade. Vai dizer que nunca fez?”

            “Com treze anos não, menino! Nessa idade eu só me importava em vencer meus amigos no videogame!”

            “Helena, se não quiser me levar, eu volto para a casa do meu amigo, pego o passe livre dele emprestado e pego o metrô, sem problemas, eu só não o fiz porque minha mãe insistiu para que eu voltasse de carona.”

            “Faz quanto tempo que você anda com esses amigos e bebe? Seja sincero.”

            Marco fica em silêncio, respira profundamente e então decide ser honesto: “Alguns meses.”

            “Então você começou com doze?!” Helena tira a chave do contato pois não planeja ir a lugar algum antes de resolver a questão.

“A gente não vai sair daqui hoje, né?” Marco revira os olhos.

“Achei que não fosse necessário, mas vou ter que conversar com sua mãe.”

“O que aconteceu com seu medo de chegar em casa e minha mãe me flagrar bêbado?”

“Agora que eu sei que você faz isso há meses, eu preciso tomar alguma providência!”

“Helena, nossas mães logo vão morar juntas. Minha mãe já quase não sai da sua casa. Somos praticamente irmãos, não somos?” Marco inclina a cabeça de maneira a parecer mais amável e digno de compaixão. “Irmãos devem proteger um ao outro.”

A motorista analisa o rosto do garoto e pensa por algumas frações de segundo. “Você promete que vai parar? Promete que foi a última vez? Porque seu cérebro ainda está em formação e o álcool pode trazer consequências irreparáveis nessa idade.”

“Prometo! Eu entendo. Fui levado pelos meus amigos. Mas agora tenho uma irmã que consegue me compreender.” Marco dá um leve soquinho no braço de Helena para demonstrar fraternidade.

“Vamos ver.” Apesar de Helena desconfiar, ela lhe dá o benefício da dúvida. “Vou parar em um estúdio de tatuagem, lá você aproveita para lavar o rosto e pegar um chiclete.”

“Eu não posso beber mas você pode sair por aí se tatuando a torto e a direito?”

“Eu sou maior de idade e tatuagens não detonam seu cérebro adolescente. E na verdade eu vou lá para conhecer uma garota.”

“Essa é minha irmã!” Marco ergue a mão para um high-five mas acaba sendo deixado no vácuo pela irmã que gira a chave na ignição.

 

_________//________

 

“Dante, você se incomoda se eu perguntar sobre sua infância?” Lívia continua a conversa durante a viagem.

“Por que me importaria?”

“Porque tecnicamente você era outra pessoa, não sei se sentiria desconfortável...”

“Eu era uma criança, não entendia nem fazia ideia do que acontecia dentro de mim, então não tem problema.”

“E como era?” Lívia abre uma garrafinha de água que estava no isopor.

“Como eu disse, quando criança não entendia muito bem. Foi no início da puberdade que as coisas começaram a ficar desconfortáveis.”

“Desconfortáveis como?” O interesse de Lívia na conversa a faz perder o sono residual tanto dela quanto do namorado.

“Já não era mais a respeito dos bonés que eu usava ou dos carrinhos que eu gostava de brincar. Os peitos, ou melhor, os intrusos começaram a crescer, a forma feminina começou a surgir e a decepção foi aumentando cada vez mais. O desgosto de me olhar no espelho com as formas anatômicas femininas era um gatilho para disforia, mas continuavam a me dizer que um dia eu afloraria. Por um tempo tentei me aceitar como sou e foi uma época que eu buscava autoafirmação no prazer alheio, foi quando tu me conheceste no início da faculdade. Demorou um pouco para amadurecer nesse ponto. Meus pais, que já são do meio médico, entenderam melhor, mas meu avô, militar gaúcho e conservador, parou de falar comigo. Talvez isso é o que tenha mais doído em mim.”

“É por isso que em determinada fase, pouco antes de você se assumir trans, você ficava trancado no quarto o dia inteiro?”

“Em parte, sim. E também um pouco de dificuldade na autoaceitação. O maior preconceito que enfrentamos é o próprio.” Dante suspira. “Foi uma boa conversa. Por que nunca tivemos uma dessas antes?”

“Talvez tenhamos atingido um novo patamar no relacionamento.” Lívia sorri e brinca com o cabelo do namorado enquanto ele dirige.

 

________//________

 

 

Helena dirigia em direção ao estúdio de tatuagem quando sua mãe a ligou. Por não achar que fosse algo urgente, ignorou a ligação. Então, o celular tocou novamente. E outra vez. E outra vez.

“Marco, atende para mim e diz que eu estou no trânsito, por favor?” Helena pede e o garoto assim o faz.

“Alô? Tia Fran? Sim. É que ela está dirigindo... ah sim. Mas agora? Sim. Certo. Vou avisar.” Marco desliga o telefone. “Sua mãe pediu para você ir para o Hospital agora.”

“Que hospital? O Samaritano?” Helena questiona. “Deve ser para ver os filhos do meu pai. Já disse que não vou. Nós vamos para casa.”

“Ela disse que você precisava mesmo ir. Ênfase no verbo precisar.” Marco avisa.

“Ela é exagerada assim mesmo.” Helena explica, e o telefone toca outra vez.

“Sim? Tia Fran eu falei com ela, e ela- Ah, ok.” Marco tira o telefone da orelha. “Ela quer falar com você.”

“Coloca no viva voz.” Helena pede, e o irmão acata. “Diga,mãe.”

“Helena, eu preciso que você venha AGORA ao Hospital.” A voz de Franciele parece aflita.

“Isso é algum truque para eu ver os bebês? Porque não vou cair.”

“Helena, isso não é brincadeira, venha, por favor, é uma ordem.” A seriedade com a angústia mesclada acabou por fazer Helena obedecer a mãe, desligar o celular e redirecionar a rota.

 

 

Fim do capítulo

Notas finais:

Long time no see! Hahahaha. Que saudades eu estava de vocês, pessoal. E aí, que perspectivas vocês tem para Helena na vida familiar? E o relacionamento de Lívia e Dante? Fico no aguardo dos comentários! Beijão!


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Comentários para 34 - Capítulo 34 - Alguém que eu não conhecia: Parte I:
rhina
rhina

Em: 02/09/2020

 

Diálogo é tudo.

Rhina

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Endless
Endless

Em: 26/06/2019

Deixamos em suas mãos, autora, mas sobre Dante e Lívia, acho que o relacionamento só começou agora... Diálogo é tudo e Dante é uma pessoa linda. Boa sorte sempre.


Resposta do autor:

Concordo a respeito do personagem Dante e ainda temos alguns planos para ele, que é um personagem importante na história.

 

 

 

Beijão e obg pelo feedback, conto contigo para a leitura dos próximos capítulos ;)

 

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