Capítulo 69
Entre Lambidas e Mordidas -- Capítulo 69
Casar-se com Débora é a realização de um sonho para Paula. Mas com a proximidade do casamento, ela descobre que algumas vezes os preparativos são bem mais estressantes do que imaginava.
Paula parou diante do armário e abriu os braços indignada.
-- Onde estão minhas roupas?
Daniela e Bianca se entreolharam.
-- Eu não sei de nada -- disse Bianca, saindo disfarçadamente do quarto.
-- Nem eu -- Daniela desviou o olhar em direção a janela -- Dia lindo!
-- Onde vocês esconderam as minhas roupas?
Daniela coçou a cabeça e esfregou o rosto.
-- Foi a Bianca.
-- Mentira! -- Bianca berrou lá da sala -- Foi a Dani.
Paula cruzou os braços e ergueu o queixo.
-- Fala a verdade, Dani. Eu sei que foi você.
-- Vou contar uma piada.
-- Eu não quero ouvir piada. Não é o momento para isso -- disse Paula, já começando a ficar irritada.
-- Não é bem uma piada. É mais uma parábola. Ouça:
Primeira noite dos recém-casados. Na cama, a moça diz ao rapaz:
-- Sabe, amor, eu não disse a você, mas eu não sei fazer nada de nada!
-- Não se preocupe, lindinha! Você tira a roupa, deita na cama e deixa que eu faço o resto!
-- E ela, não muito meigamente, responde:
-- Não, amor, acho que você não entendeu... o que eu não sei é lavar, passar, cozinhar, arrumar casa...essas coisinhas...
-- Isso é uma piada!
-- Não, não é -- insistiu Daniela -- É uma narrativa curta que, mediante o emprego de linguagem figurada, transmite um conteúdo moral. Resumindo: Parábola.
Paula ergueu os braços, impaciente.
-- Tá, e daí?
-- Você não entendeu a parábola? Sua tansa!
Paula deu um tapa na cabeça dela.
-- Você está me deixando ainda mais nervosa. Seja mais clara.
-- O que eu estou querendo dizer é que a mana é um desastre na cozinha. Não sabe nem preparar um miojo -- Daniela sentou-se na cama e ficou olhando para Paula -- Lembra da época em que eu, a Bianca e você, morávamos juntas? Comíamos tanto Miojo, que você já estava cagando macarrão instantâneo.
Paula a examinou com um olhar raivoso.
-- Minhas roupas?
-- Não se preocupe, Paula. Foi só para garantir que você não fugiria -- Daniela pegou um jeans, uma camiseta de malha e jogou sobre a cama.
-- Idiota. Até parece que depois de tudo o que eu sofri por sua irmã, pensaria em fugir?
-- Sei lá. Tem cada doido.
Bianca retornou ao quarto com uma folha de papel na mão.
-- Eu tenho notado uma nova classe social surgindo no Brasil, o pobre de classe rica.
-- E como é essa nova classe? -- perguntou Paula, curiosa.
-- É igualzinho ao rico, só não tem dinheiro.
-- Penso que a maior desgraça do pobre foi aprender a pedir Uber -- Daniela se levantou da cama e foi até Bianca -- Falando em Uber, lembrei-me de uma parábola.
Paula revirou os olhos.
-- Piada.
-- Fala, minha boa samaritana -- pediu Bianca.
-- Um cara pegou um Uber, após a balada. Quase chegando no local de destino (ele estava no banco de trás) colocou a mão no ombro do motorista, para avisá-lo que deveria virar à direita. O cara deu um berro absurdo, perdeu o controle da direção e quase bateu o carro. Ele falou: "Nossa o que foi isso?"
O motorista respondeu: Desculpa, Senhor. Levei o maior susto da minha vida! Estou desempregado e iniciei no Uber hoje. Até ontem eu dirigia carro de funerária!
-- Vocês duas só falam besteiras -- Paula pegou a roupa que Daniela havia deixado sobre a cama e foi se vestir no banheiro.
Daniela sacudiu os ombros com desdém.
-- Paula está muito dramática hoje -- deu um muxoxo e sorriu -- Que papel é esse?
-- Tenho dúvidas intermináveis com relação ao meu casamento. Estou anotando os pontos positivos e os negativos do casamento da Paula.
-- Já vão casar? Você não disse que casamento, só depois do sex*?
-- Eu ainda não pedi a Benta em casamento, mas quando pedir, já quero ter tudo pronto.
-- Ah! -- Daniela estava sem palavras -- E qual é a sua principal dúvida?
-- O que seria mais apropriado: Banda alemã, dupla de sertanejo universitário ou pagode?
-- Bandinha alemã! Sem dúvida nenhuma.
-- Logo imaginei, Frau Daniela -- Bianca anotou na folha.
-- Estou pronta -- Paula saiu do banheiro, já vestida.
Foi para o quarto e começou a secar e escovar os cabelos.
-- Vamos aonde Paula? -- Bianca se preparou para anotar.
-- Vamos até o cabeleireiro depois, no cartório. Está bem?
-- Ótimo -- Daniela colocou um braço ao redor dos ombros de Paula e começaram a caminhar -- Hoje você é quem manda, "cú nhada".
Paula era uma amiga querida, fiel e sincera. Daniela estava felicíssima com o casamento, porque via o nascimento de uma linda família, cheia de amor, de afeto e de muita alegria.
Débora e Paula haviam comprado um belo sítio em Canoinhas. Tinham a intenção de se mudar para a pequena e pacata cidadezinha. Ter filhos e viver junto a natureza.
Aquele era também o seu sonho, pena que não era o de Yasmin. Sacudiu a cabeça para afastar aqueles pensamentos ruins. Queria estar feliz e alegre no casamento da irmã.
Depois de Paula acertar todos os detalhes no cabeleireiro e no cartório, foram direto para a casa de Roberta.
-- Paula! -- Débora correu para recebê-la -- Que bom que chegou, amor! Não sei o que fazer com o meu vestido! Provei quando trouxe da costureira e agora não consigo fechar o zipper.
-- A mana faz dieta de segunda a sexta, mas quando chega o final de semana, come até o imã da geladeira.
-- Eu entendo a Débora -- disse Bianca, pesarosa -- Ou você é feliz, ou você faz dieta. Porque as duas coisas ao mesmo tempo, não dá.
-- Acho que ela se enganou e apertou demais -- Débora levantou os olhos para Paula e reclamou, manhosa.
-- Deixe que eu dou um jeito, amor -- Paula segurou o rosto dela entre as mãos e beijou a sua boca -- Vou buscar a costureira.
Daniela e Bianca se entreolharam.
-- Nem pensar -- disse Daniela, segurando Paula pelo braço -- Deixe que eu e a Bianca buscaremos a suspeita.
Paula franziu a testa.
-- Que suspeita?
-- A costureira! Ela não sabotou o vestido da mana?
-- Ai meu Deus! Melhor eu ir -- Paula deu um passo em direção a porta, mas foi contida por Daniela.
-- Nada disso. Aproveite cada instante do seu último dia de solteira. Pode deixar essa missão com a gente. Vem Bianca.
Paula ficou olhando enquanto elas se afastavam.
-- Espero não me arrepender.
Enquanto Vinícius arrumava as malas para viajarem para Canoinhas, Matias escolhia o traje para o casamento.
-- O que você acha dessa roupa, Vivi?
-- Lindo! -- os olhos de Vinícius brilharam -- Se Deus fizesse você mais lindo do que já é, eu acho que estragaria.
-- Obrigado, meu fofo -- Matias apertou as bochechas do namorado -- Você também é uma gracinhaaaaa... seu monstro, desumano.
-- O que foi Matito? O que eu fiz? Credo, que susto!
-- Olha o que você fez com a minha gravata rosa! Está praticamente destruída dentro dessa mala. Me dê aqui, vou colocá-la em minha bolsa.
Vinícius gargalhou.
-- Eu amo esses seus ataques de pelanca.
Matias olhou de soslaio para Vinícius. Seu jeito escandaloso as vezes o fazia parecer rude e grosso.
-- Eu te trato mal, né Vivi? -- disse, lançando um olhar pesaroso ao namorado.
-- É claro que não! -- Vinícius apressou-se em pegar as mãos de Matias -- Eu adoro tudo em você; eu amo tudo em você! Eu amo até quando você me xinga.
-- Seu bobinho! -- exclamou Matias, abraçando-o com carinho -- Eu também amo tudo em você.
-- Ama o suficiente para casar comigo?
Matias se afastou um pouco e o olhou com surpresa. Tremeu de emoção e, refeito do choque, respondeu a ele:
-- Casamento é igual ursinho de pelúcia. No começo a gente adora, depois não fazemos tanta questão...
Vinícius abaixou a cabeça por um momento, como se estivesse refletindo sobre o comentário do namorado. Quando a ergueu, Matias o encarava.
-- Mas, quando está velhinho não descartamos por nada -- completou Matias, sorrindo -- Quero passar o resto dos meus dias ao teu lado. Vamos ficar grisalhos e velhinhos juntos.
Emocionado e feliz, Vinícius empurrou-o para a cama e se inclinou sobre ele. Matias protestou em voz alta, empurrando-o para longe.
-- Aiiiiii... Olha só o que você fez, seu brucutu! Quebrou a minha unha. Como vou ao casamento com uma unha quebrada?
Dois caçadores caminham na floresta quando um deles, subitamente, cai no chão com os olhos revirados. Não parece respirar. O outro caçador pega o celular, liga para o serviço de emergência e diz:
-- Meu amigo morreu! O que eu faço?
Com voz pausada, o atendente explica:
-- Mantenha a calma. A primeira coisa a fazer é ter certeza de que ele está morto
Vem um silêncio. Logo depois se ouve um tiro. A voz do caçador volta à linha. Ele diz: "
-- Ok. E agora?
Bianca ouviu a piada, revirou os olhos e não riu.
-- Estou começando a achar que você não ri das minhas piadas, porque não as entende -- Daniela se virou para trás e perguntou para a costureira: -- A senhora entendeu?
-- Hum, Hum.
-- Viu, ela entendeu.
-- Entendeu, mas não riu -- Bianca olhou pela janela do carro de Daniela e suspirou -- Tem certeza de que havia necessidade de amarrar e amordaçar a mulher? Ela se ofereceu para vir à casa da Roberta por livre e espontânea vontade.
-- Ah, Bianca. Que graça teria?
-- Hum, hum -- a costureira resmungou.
-- Não se preocupe, dona costureira. A sua prisão será temporária. Assim que consertar a merd* que fez no vestido da mana, será solta e responderá em liberdade.
Quando Lavínia entrou na sala, vovó Dinda sorriu de felicidade.
-- Que bom que chegou! Estava ansiosa pela sua chegada -- ela foi ao encontro da moça e a segurou pela mão -- Roberta está tão nervosa com o casamento da sobrinha, que se trancou no quarto, sem se decidir o que vestirá amanhã.
-- Roberta é tão indecisa que sua cor preferida passou a ser o arco-íris -- comentou Lavínia e as duas riram.
-- Eu indecisa? Não tenho certeza -- disse Roberta, da porta do quarto -- Olá, meu amor -- Um pequeno sorriso surgiu-lhe no canto da boca -- Não consigo mais nem escolher a cor dos sapatos sem pedir a opinião de Lavínia, mamãe. Eu confio plenamente no bom gosto da minha namorada -- Roberta e Lavínia trocaram olhares cúmplices.
-- Ficou confiada, isso sim -- vovó Dinda balançou a cabeça e saiu sorrindo.
-- Como é que foi seu dia na empresa? -- perguntou Roberta, aproximando-se até ficar bem de frente para ela.
-- Hoje foi bem tranquilo -- Lavínia ficou na ponta dos pés e beijou-a com carinho na face -- Esse emprego aqui na filial de Canoinhas foi um presente maravilhoso que a Yasmin me deu. Não deve haver empresa melhor para se trabalhar!
-- Que bom Lavínia que você está feliz em Canoinhas. Juntas seremos felizes morando aqui, meu amor. Você é tudo para mim.
Abraçaram-se, os corpos se tocando por inteiro. Tinham a certeza de que, finalmente, haviam encontrado o amor que tanto esperavam.
A porta se abriu com violência e Daniela apareceu segurando uma senhora pelo braço. Roberta e Lavínia deram um pulo e se afastaram como duas adolescentes que acabaram de ser descobertas.
-- O que está acontecendo, Dani? -- perguntou Roberta, apavorada.
Bianca passou por ela e se sentou no sofá.
-- Trouxemos essa meliante, sabotadora de vestidos de casamento. Já vi muita mulher feia, mas essa aí não dá nem pra olhar!
-- Hum, hum -- resmungou a mulher.
-- Se a senhora estava planejando estragar o casamento da mana, pode ir tirando o seu cavalinho da chuva. Vaca!
-- Bianca... -- Roberta caminhou até a costureira.
-- É isso aí, Dani. Gostei -- Bianca afirmou, cruzando as pernas e apoiando o cotovelo nas costas do sofá.
-- Bianca...
-- O que Roberta? Fala logo, criatura! -- Bianca se inclinou na direção da tia da amiga.
-- Essa é a dona Ângela, a mãe da Benta. Esposa do delegado.
Bianca desmaiou.
Os primeiros raios de sol vieram anunciando um dia inesquecível para a pequena cidade de Canoinhas.
Débora despertou com batidas leves na porta do quarto.
-- Quem é? -- com um sorriso sonhador preso nos lábios entreabertos, Débora suspirou abraçando o travesseiro.
-- Daniela Vargas Pauly, ao seu dispor, madame.
-- Hummm... Ainda é muito cedo -- sussurrou, se espreguiçando com um sorriso.
-- Bom dia, dorminhoca! -- segurando uma bandeja cheia de coisas gostosas, Daniela entrou no quarto da irmã, irradiando felicidade.
-- Deixa eu dormir só mais um pouquinho, Dani. Está tão gostoso aqui na cama.
Daniela sentou na beirada da cama com a bandeja sobre o colo.
-- Vamos mana, não seja preguiçosa! Eu trouxe café, torradas e uma fatia de bolo que a vovó fez exclusivamente pra você, mas eu e a Bianca já comemos quase tudo.
Débora suspirou, com saudades do café perfumado e quente que a vovó preparava. Desde que foi embora de Canoinhas não tomara um café tão gostoso como o feito por Dinda.
-- Você dormiu bem, mana?
-- Dormi como um anjo -- respondeu, mordendo uma torrada -- Hummm! Estou faminta! -- Débora sentia-se bem-disposta e alegre. Seus olhos brilhavam de satisfação.
Daniela sorriu, feliz com a felicidade da irmã.
-- Você fica ainda mais linda feliz -- comentou.
A face de Débora ficou ruborizada e ela, envergonhada, escondeu o rosto entre as mãos. Depois abraçou a irmã mais nova com força exagerada.
-- Você é a melhor irmã do mundo, loirinha.
-- Eu sei disso, mas não precisa me quebrar ao meio -- as duas riram do comentário.
Débora contemplou-a com seus olhos negros.
-- Você está preocupada com alguma coisa, Dani? Seus olhinhos azuis estão claros demais -- bebeu um gole do café, enquanto analisava a irmã.
Daniela deu um sorrisinho sem graça.
-- Gostaria que a Yasmin e as crianças estivessem aqui comigo -- confessou com a voz sufocada.
-- Entendo -- disse Débora, disfarçando a tristeza -- Yasmin é uma chata. Mimadinha e cheia de não me toque. Se ela viesse, faria questão de levá-la até o pasto da fazenda da Roberta para que se breasse toda de cocô de vaca.
As duas riram com vontade.
-- Vou contar isso pra ela.
-- Pois conte -- acabando seu café, Débora saltou rápida da cama, correndo para abrir as janelas do quarto -- Que dia lindo! -- exclamou sorrindo.
-- Ainda bem que o tempo ajudou! Imagina se estivesse chovendo! -- comentou Daniela.
-- Seria um desastre. Os convidados com lama até a cabeça.
Perdida em pensamentos, Daniela nem notou que Débora havia entrado no banheiro.
-- Ah, Yasmin! Seria perfeito se você estivesse aqui comigo.
Na Fazenda de Roberta reinava o caos! Lavínia andava, nervosa, de um lado para outro, vendo se tudo corria bem. Roberta preocupava-se porque os assadores ainda não tinham chegado, os freezers não estavam na temperatura ideal para as bebidas e com mil outros detalhes.
-- E Matias? Ainda não chegou?
-- Ainda não, tia -- Daniela se sentou no sofá com o celular na mão -- A Paula já está preocupada com isso! Nem sei porque convidaram aquele mocorongo para testemunha. No mínimo perdeu a hora do voo escolhendo a roupa.
Bianca pegou uma cerveja na geladeira e se sentou ao lado de Daniela no sofá.
-- Se ele aparecer com aquela gravata rosa, eu juro que me jogo no chão.
-- Ele vai chegar a tempo. Tenho muita fé em Deus -- disse vó Dinda, fazendo o sinal da cruz.
-- A vovó diz que tem fé em Deus, mas vai beber água na cozinha de madrugada e quando volta pro quarto, não tem coragem de olhar para trás.
-- Cala a boca, Dani! Vou ver como estão as coisas lá na cozinha -- disse vó Dinda, saindo apressada.
Daniela ajeitou-se melhor no sofá e ficou de frente para Bianca.
-- E a mãe da Benta?
-- A mulher é mais assustadora que a vinheta do plantão da Globo -- Bianca deu um grande gole na cerveja -- Estou esperando o momento em que ela virá me procurar. Te contei do pesadelo?
-- Não.
-- A dona Ângela corria atrás de mim com aquelas mãos enormes cheias de tesouras.
Daniela arregalou os olhos.
-- Tipo o Edward mãos de tesoura?
-- Isso mesmo. Acordei em uma agonia danada. Só de lembrar, fico toda arrepiada.
-- Ninguém consegue nada de bom sem fazer um sacrifício, Bianca. Para ter uma mulher, por exemplo, tem que ter uma sogra -- depois de olhar, pensativa, para o teto branco, Daniela olhou séria para Bianca -- Você já parou para pensar que quem casa com filho de casal de lésbicas terá duas sogras?
Daniela ligou para Matias e soube que ele e Vinícius, estavam a caminho. Depois foi ver como Paula estava se saindo. Caminhou até o quarto e verificou que a porta estava ligeiramente aberta. Ela bateu e entrou.
-- Como está a minha cúnhadinha?
Paula sorriu, antes de responder.
-- Não consegui dormir essa noite. Quando penso que falta algumas horas para Débora e eu nos unirmos para sempre, sinto um friozinho no estômago.
-- Não se preocupe. Tenho certeza de que a mana vai acabar com esse friozinho facilmente.
As duas riram do comentário.
-- É normal se sentir assim, antes do casamento, Paula. Mas, vale a pena.
-- Você está certa, Dani. Vou me casar com Débora, a mulher que amo, e isso é maravilhoso.
Daniela olhou para o relógio e levantou uma sobrancelha.
-- Nossa! Acho melhor você começar a se vestir. A cabeleireira já deve estar chegando.
-- Está bem. Sabe, Dani, foi bom ter conversado com você. Estou tão zen, quanto um monge.
-- Os monges são zen porque não moram com parentes -- Dani falou, sorrindo --Bem, Paula, vou me vestir e ir buscar a mana. Qualquer coisa que precisar, é só chamar a Lavínia ou a tia Roberta.
-- Obrigada, Dani.
No quarto, Bianca se perfumava delicadamente.
-- Hum. Se perfumando para a Benta? -- comentou Daniela, cinicamente.
-- Jequite, Avon e Natura é para os fracos. Eu que sou pobre, coloco é halls dentro da garrafa de álcool, espero três dias e uso debaixo dos braços.
-- Quanto drama!
-- E não? Minha vida se resume em gastar dinheiro porque estou triste e ficar triste porque gastei dinheiro.
-- Aff, você está muito chata, Bianca!
-- Estou doente.
Daniela olhou-a de alto a baixo.
-- Doente?
-- É, acho que estou com aquela doença hiper tesão.
-- Idiota! -- resmungou Daniela, enquanto abria o guarda roupa para pegar o seu traje. Os cabelos dourados, emolduravam seu rosto de pele clara e aveludada. O azul de seus olhos, naquele momento, tinha uma tonalidade mais forte e profunda. Daniela vestiu um conjunto que repetia o tom de seus olhos e destacava suas formas.
Pouco a pouco, tudo se ajeitou. A vovó Dinda apareceu na sala, muito elegante e emocionada. Roberta e Lavínia ajeitavam os presentes que chegavam sem parar. Em pouco tempo estavam todas prontas.
-- Vou buscar a mana -- Daniela pegou a chave do carro de cima da mesa e se encaminhou para a saída -- Peçam para a Paula não se atrasar, os convidados já estão chegando.
Minutos depois, Daniela entrou na casa da vó Dinda. Foi direto para o quarto. Bateu leve à porta, sem resposta. Mexeu na maçaneta, a porta abriu. Os olhos dela brilharam, ao ver a irmã diante do espelho.
-- Você está maravilhosa, Debi!
Débora sorriu, ficando ainda mais bonita.
-- Espero que a Paula também ache. Você é minha irmã, sua opinião é suspeita.
-- Impossível que ela não ache. Você está tão linda -- disse afetuosamente -- Vê-se que está mesmo muito apaixonada. Estar apaixonada deixa a pessoa mais bonita.
-- Então, eu e a Paula estamos lindas. Nós nos amamos demais e esperamos com ansiedade esse dia.
-- Vocês merecem ser felizes. Aposto que não há ninguém no Brasil, ou melhor, no mundo, que viva uma paixão tão intensa quanto a de vocês.
-- Exagerada! -- ela gargalhou -- Está se esquecendo do amor entre você e a Yasmin?
-- Oh, não! O nosso amor veio de outras vidas e eu sei que é eterno.
-- Você falou com ela hoje?
-- Eu liguei para ela, mas a danada não atendeu. Deve estar em reunião. Só pra variar.
Débora deu uma voltinha, balançou o cabelo e olhou para Daniela, esperando aprovação.
-- Estou bem?
-- Linda!
Apesar de parecer durona, Débora era muito sensível. Principalmente agora, que estava realmente apaixonada por Paula. Daniela tinha certeza de que elas seriam felizes, pensou ao abrir a porta e dar o braço para ela enganchar e se dirigirem ao carro.
Os primeiros compassos da música: Pra você guardei o amor, do Nando Reis cortaram o ar e Débora começou a seguir pelo caminho de pedra no jardim ladeado com flores coloridas.
O jardim estava repleto, as luzes acesas, os convidados todos de pé, observando o cortejo.
Paula foi ao encontro de sua amada e entregou um buquê para ela.
-- Você é linda -- disse Paula, emocionada.
-- Você também, meu amor.
Daniela Correu os olhos pelo jardim, pensando que talvez alguém a estivesse observando. No entanto, todos pareciam ter a atenção voltada para as noivas. Mas, aquela mesma sensação persistia, deixando-a incomodada.
Foi então que ela a viu!
Fim do capítulo
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