Entre Lambidas e Mordidas -- Capítulo 70 

 

 

O rosto de Daniela se iluminou com um sorriso lindo. 

-- Yasmin! 

Bianca deu uma cotovelada de leve em seu braço e ela desviou o olhar imediatamente para a amiga. 

-- Segura o entusiasmo, loira. Ao menos até a sua irmã dizer o sim. 

Daniela não resistiu e tornou a olhá-la, para encontrar os olhos castanhos sorrindo para ela. Yasmin estava sentada ao lado da vovó Dinda, com Danielzinho em seu colo. Linda como sempre. 

Mesmo com o coração aos pulos, Daniela voltou o rosto para as noivas. 

As palavras bonitas que o juiz falava e que depois eram repetidas pelas noivas, encheram os olhos dos convidados de lágrimas. Elas se olhavam com muito amor, as mãos entrelaçadas, trocando os juramentos, antes de iniciarem suas vidas juntas. 

A cerimônia terminou e as noivas saíram, distribuindo sorrisos, caminhando lentamente por entre os convidados, em direção a enorme tenda montada para a festa. 

Daniela saiu driblando todo mundo pela frente até chegar em Yasmin e abraçá-la com amor. 

-- Estou tão feliz de vê-la aqui! -- Daniela afastou-se um pouco, admirando com olhar ardente toda aquela beleza -- Você é linda assim sempre ou só enquanto respira? 

Yasmin sorriu. Segurou o rosto dela entre as mãos, beijou a face, depois a boca. 

-- Quis fazer uma surpresa. Gostou? 

-- Se gostei? Amei! -- Daniela envolveu-a em seus braços e cobriu-a de beijos. 

-- Para, Dani! Para! -- Yasmin ria e a empurrava -- Cuidadooo, você vai borrar a minha maquiageemmm! 

O jantar foi um grande sucesso. Muitos amigos estavam presentes, e Daniela não podia deixar de admirar a reciprocidade, a harmonia e a sintonia entre Débora e Paula. A felicidade era contagiante, e o tom de amor era visível no olhar. 

Yasmin sorriu, passou os braços ao redor do pescoço dela e abandonou-se, sentindo a magia da música romântica que começava a tocar. Daniela a apertava com força, acariciava seus cabelos, sua cintura. 

-- O casamento foi maravilhoso -- comentou Yasmin. 

-- Também achei. Fiquei muito emocionada e contente. Paula é meiga. Acho que Débora vai ser muito feliz. 

-- Sem dúvida, Dani. Elas se amam bastante e só isso importa. 

Deram mais umas voltas pelo salão, até que decidiram retornar a mesa onde estavam Roberta, Lavínia, Paula, Débora, Matias e Vinícius. 

-- Parabéns, meninas! Estava tudo tão organizado e tão lindo, muito mais lindo que imaginávamos que seria! -- comentou, Yasmin -- A decoração estava linda, a comida uma delícia, maravilhoso... 

-- Obrigada, Yasmin. Mas, devemos tudo isso a Roberta. Foi ela a responsável pela organização da festa -- Débora beijou o rosto de Roberta -- Obrigada, tia. 

-- O que é isso, meu amor. Não precisa agradecer. 

-- Obrigada por sua ajuda, Beta -- Paula a abraçou. Estava feliz, o rosto brilhando de alegria -- Foi maravilhoso! 

O prefeito e sua esposa se aproximaram. 

-- Parabéns meninas. Foi o casamento mais badalado que Canoinhas já teve. 

-- Já está indo, prefeito? -- indagou Lavínia, oferecendo uma bebida vermelha para Roberta. 

-- Tenho que acordar cedo. Marcamos uma reunião com os agricultores, no galpão da igreja. Não quero correr o risco de perder a hora. 

Daniela levantou uma sobrancelha. 

-- Reunião? Que... 

-- Com licença -- vovó Dinda se aproximou e segurou Débora pela mão -- Sinto interrompê-las, mas o carro já está aí para levá-las. 

-- Venha, minha querida -- Paula a puxou pelo braço --Temos que ir, pessoal, vamos passar a nossa lua de mel em Fernando de Noronha. 

-- Ah, mas antes a mana vai ter que jogar o buquê. Nada é mais animado em um casamento do que a hora de jogar o buquê. 

-- Bem lembrado, Dani. Lá vai! 

As convidadas correram ensandecidas para o meio da pista de dança. Débora se posicionou e começou a contar: "1, 2 e 3 e já" Ela enganou, deu um pulinho e finalmente jogou o buquê lançando a sorte pra uma das convidadas solteira. E então o buquê voa... e o que acontece? 

Benta estava sentada, conversando com Bianca, quando o buquê caiu no colo dela. 

A moça fitou Bianca nos olhos e disse, emocionada: 

-- Eu havia pedido um sinal vindo do céu. Estava em dúvida se devia aceitar o seu pedido de casamento. 

-- Tipo o sinal que os fariseus e saduceus, pediram a Deus? -- indagou Bianca, olhando para o céu e depois para o buquê -- Que coisa! 

-- Esse buquê é o sinal para que eu responda sim -- Benta se levantou e puxou Bianca pela blusa para mais perto -- Sim, eu aceito. Eu aceito casar com você, Bianca. Apesar de achá-la louca, idiota, chata, esquisita, dramática, estranha... 

-- Não precisa esculhambar! Eu sou... 

Antes que Bianca tivesse tempo de completar a frase, os lábios de Benta tocaram os seus, calando-a com um beijo provocante e intenso. 

-- Até mais, meus amores! -- as noivas levantaram a mão e acenaram se despedindo. Ao som da música: Love is Your Name, de Steven Tyler, elas foram saindo abraçadas. 

 

"Envie seus beijos do meu jeito 

Traga o seu doce coração para mim 

Eu estive esperando por tanto tempo 

Diga-me todas as suas histórias 

Deixe um pouco aberta para mim 

Escreva seu nome para essa música" 

 

O grupo se concentrou em verem as amigas que partiam, mantendo-se em silêncio. Daniela abraçou Yasmin e, com um sorriso radiante, disse para os amigos: 

-- Animação galera! A noite é uma criança, o bar é um brinquedo. Não sou eu que chego tarde é o Sol que nasce cedo. Bora dançar! 

O dia já amanhecia com os primeiros raios de sol no horizonte, quando enfim, a festa terminou e todos os convidados se foram. 

 

Yasmin foi a primeira a acordar, feliz por ter dormido com tanta facilidade. Tomou um copo do suco que estava na geladeira, vestiu uma calça jeans e uma blusinha fina, foi até o quarto ver se Daniela e as crianças ainda dormiam, escreveu um bilhete e fixou na porta da geladeira, para então sair. 

Passou pelo portão da fazenda e foi em direção à estrada de terra vermelha. Munida de óculos escuros e uma garrafinha de água, Yasmin partiu para conhecer a sede do Projeto "Patinhas de Canoinhas". 

Para cortar caminho pegou uma trilha extremamente íngreme em certos trechos, mas a vista das montanhas era linda e compensava o esforço. A ruiva olhou em total encantamento, admirando os raios de sol que se espremiam entre os montes. 

Yasmin espreguiçou-se, feliz. A sua volta só havia o campo, o ar puro, a tranquilidade. Respirou fundo e foi em frente até alcançar a enorme porteira da fazenda. 

Continuou andando e então Yasmin parou, maravilhada com o que via. Sentiu-se cercada de natureza por todos os lados, podia ouvir o canto dos pássaros, o mugir do gado, o cheiro do mato e muitas outras sensações. Haviam vários animais soltos pela fazenda e dois cachorros correram até ela, pulando em suas pernas, querendo brincar. 

-- Bom dia -- uma senhora de meia idade, falou com forte sotaque caipira -- Posso ajudá-la? 

-- Bom dia -- ela sorriu, com simpatia -- Sou Yasmin, a esposa de Daniela. 

-- Yasmin! -- a senhora, demonstrou surpresa ao vê-la -- Muito prazer. Eu sou a Maria, funcionária da fazenda. 

-- E amiga da Daniela. Ela me falou muito de você -- Yasmin se abaixou para acariciar os cachorros -- Que lugar lindo! Quando a Dani me contou, achei que ela estava exagerando -- confessou, envergonhada. 

-- A Daniela deve estar muito feliz, ela me disse que você não gosta do interior e que talvez nunca viesse a Canoinhas. 

Yasmin deu uma gargalhada. A mulher devia considerá-la uma Patricinha mimada. 

-- A senhora devia ter visto a cara dela, quando me viu. 

-- Eu imagino -- Maria sorriu, sentindo-se bem mais à vontade. A esposa da doce Daniela, não era a riquinha irritante que imaginou que fosse -- Vamos entrar -- Maria a levou para o hall da casa. De mármore branco e paredes revestidas com pedras coloridas, o lugar estava repleto de rosas vermelhas. 

Continuaram andando e então Yasmin parou, maravilhada com o que via. A sala de estar, toda decorada com madeira rústica, tinha dois níveis. No nível inferior havia os sofás, subindo dois degraus chegava-se à sala de jantar. 

-- Minha nossa! Isto aqui é maravilhoso! -- Yasmin não escondeu sua admiração -- Nem mesmo em São Paulo conheci uma casa tão linda e confortável. 

Maria dirigiu um olhar indecifrável e continuou andando. 

-- Venha comigo. Quero mostrar-lhe uma coisa. 

Maria parou diante de uma porta colorida, em seguida, abriu-a e dirigiu-a para dentro. 

Era um quarto infantil todo decorado com estilo, reunindo tudo de lindo, essencial e útil. 

-- A Dani... 

-- Sim. Mesmo sabendo que vocês nunca se mudariam para Canoinhas, ela fez questão de construir tudo isso para vocês. 

Yasmin sorriu entre lágrimas. Aquela era a casa que Daniela sempre sonhou morar. 

-- Obrigada por me mostrar a casa, Maria. Agora, preciso ir. Tenho um compromisso muito importante e estou atrasada. 

A senhora assentiu com a cabeça e ficou observando Yasmin sair em louca disparada, afastando-se rapidamente da fazenda "Patinhas de Canoinhas". 

 

Daniela leu o bilhete e coçou a cabeça com vigor. 

-- Yasmin devia ter me chamado para ir junto. Ela não conhece nada da região. 

-- Será que ela saiu de salto alto? 

-- Cala a boca, Bianca. Claro que não. 

-- Vindo da Yasmin, não duvido de nada. A essa altura, ela deve estar de bosta de vaca até a cabeça. 

Daniela limitou-se apenas a balançar a cabeça. 

-- Vou até a cidade. Essa reunião que será realizada com os colonos no galpão da igreja, está me cheirando confusão. 

 

Dez minutos depois, Daniela estacionava o carro no pátio diante da igreja, na última vaga disponível, e puxou o freio de mão. A reunião devia ser muito importante pois, parecia que toda a população de Canoinhas estava presente. 

Puxando o ar com vigor, saiu do carro em direção ao galpão. Subiu os degraus até as portas douradas de folhas duplas e as empurrou. 

-- Caramba, quanta gente! -- Daniela exclamou, admirada. 

A reunião já havia terminado. As pessoas se acotovelavam a caminho da saída. Daniela tentou se aproximar do prefeito, mas era como se nadasse contra a maré de um mar agitado. 

-- Que droga! -- resmungou irritada. Conformada, desistiu de conversar com o prefeito e saiu por uma porta lateral - Bem, já que estou no centro, vou ao mercado comprar umas coisinhas para as crianças. 

Daniela travessou a rua correndo e entrou no mercado. 

 

Yasmin retornava para a fazenda de Roberta a passos curtos e pesados. Estava cansada e com os pés doendo de tanto caminhar. Yasmin tinha que admitir que em Canoinhas poderia faltar qualquer coisa, menos mato. 

Ouviu um barulho a esquerda e se assustou. Olhou na direção do movimento e viu um bicho esquisito se debatendo preso a um pedaço de arame. Com o coração aos pulos, ela tentou se aproximar. Queria ajudar o animalzinho, mas, ficou com medo de ser mordida. 

-- Ai, bebê. Queria tanto te ajudar. 

O bichinho se debatia desesperado. Yasmin chorava, sentindo-se impotente. 

-- Calma amiguinho, vou atrás de ajuda. 

Yasmin correu para a estrada. Constatou desanimada que dificilmente alguém passaria por ali. 

-- Tadinho! -- sentou-se em uma pedra, derrotada e triste. 

Então ouviu o barulho de um motor. Uma caminhonete vinha correndo pela rua estreita, levantando uma nuvem de poeira. Yasmin foi para o meio da estrada com os braços levantados, pedindo ajuda. 

O carro parou em frente a ela. Suspirou e preparou-se para um discurso emocionante e convincente. Poucas pessoas estão dispostas a perder seu tempo salvando um bichinho na beira da estrada. 

O desconhecido abriu a porta do veículo e colocou uma perna para fora. 

-- Yasmin? -- A voz de Daniela ecoou no ar -- O que é que você veio fazer aqui neste deserto? 

Em reposta, recebeu um sorriso. 

-- Dani! -- A voz de Yasmin era profunda e extremamente emocionada -- Meu Deus, que coincidência maravilhosa. Estou precisando muito de ajuda. 

Os olhos de Daniela se arregalaram e um arrepio percorreu sua coluna. 

-- O que aconteceu? -- os olhos azuis estavam surpresos e preocupados -- Você está bem? 

-- Comigo está tudo bem, mas venha ver uma coisa. 

Daniela acompanhou Yasmin até aonde estava o animalzinho. Ignorando a relva molhada, ela se ajoelhou para olhar de perto. 

-- Um filhote de tatu-de-rabo-mole -- Daniela balançou a cabeça, indignada -- Vou buscar um alicate no carro. Não entendo como muitos seres humanos insistem em caçá-lo para saborear sua carne e usar a carapaça como um simples item de decoração. 

Yasmin fitou-a horrorizada. Daniela saiu correndo e voltou em segundos. 

-- Rápido, amor. Ele está muito agitado. 

Daniela cortou o arame com cuidado e segurou o tatuzinho com carinho. 

-- É triste saber que pequenos e indefesos animais da fauna brasileira estão em risco de extinção, e a culpa é nossa, somos uma sociedade que não cuida do meio ambiente, que desmata, causa incêndios florestais, tirando a vida de pequeninos seres, que estão no nosso mundo para acrescentar -- ela examinou o bichinho e soltou de volta a natureza -- O pequenino Tatu de Rabo Mole Comum é um desses animais que estão na extensa lista de risco a extinção. 

Yasmin sorriu de leve. Levantou-se, então, e ofereceu a mão direita a Daniela. 

-- Você é a minha heroína. 

A loirinha aceitou a mão que lhe era oferecida, mas, assim que se levantou, Yasmin puxou-a para si e beijou-a com tamanha paixão que a deixou sem ar. 

-- Assim que chegarmos em casa, será devidamente recompensada --sussurrou junto aos lábios dela, deslizando pelo pescoço que Daniela oferecia. 

-- Tenho a leve impressão que você está tentando me enrolar, Yasmin. O que está inventando? 

A ruiva sorriu, desarmando-a. Daniela apontou para o outro lado da rua. 

-- Vem comigo quero te mostrar uma coisa. 

Yasmin a seguiu e finalmente, depois de dez minutos, ela divisou um enorme lago. A água brilhava e ela parou para admirar a paisagem. 

Mais ao sul e além do lago avistou a enorme filial da Vargas Farmacêutica, contrastando com o azul do céu. 

-- Essa é a parte dos fundos da empresa? -- Yasmin sentiu uma brisa gelada balançar os cabelos cor de fogo -- Que lugar maravilhoso, Dani -- nesse momento, tentando ajeitar os cabelos revoltos, ela se lembrou de quantas vezes, visitou a filial e nunca se interessou em conhecer a parte externa da propriedade. 

 

Daniela caminhou até um tronco caído e sentou-se. Então fez um sinal a Yasmin para que fizesse o mesmo, a seu lado. 

-- Foi exatamente nesse local que eu e Matias nos conhecemos. Cada um de um lado da cerca. 

Yasmin sorriu de leve e tocou-lhe o braço com afeição. 

-- Essa cidadezinha é muito importante para você, não é mesmo? 

-- Muito, aonde eu for, a levarei comigo no coração. 

Yasmin segurou a mão dela com firmeza. 

-- Você tem razão, Dani. Esse lugar é maravilhoso -- lentamente, levantou os olhos, atenta ao ruído do vento batendo nas folhas das árvores, ao canto dos pássaros. Chegou a sentir-se parte do cenário -- Tudo o que eu quero é ficar ao seu lado. Eu, você e os nossos filhos todos os dias em uma rotina deliciosa. Vai ser tão bom poder ficar com você todos os dias, cuidarmos dos nossos filhos, brincarmos com eles. Faremos da nossa família, a mais feliz desse mundo. 

Daniela franziu o cenho. 

-- Você está dizendo que... 

-- Sim. Vamos morar em Canoinhas. Como você sempre sonhou. 

-- Não, Yasmin. Não desista dos seus sonhos por minha causa. Você tem um futuro brilhante como empresária. A Vargas precisa de... -- os dedos de Yasmin cobriram seus lábios, interrompendo as palavras. 

-- Eu renunciei a presidência da Vargas -- disse ela de maneira firme, levantando o queixo -- Matias é o novo presidente. 

Daniela olhou atônita para ela. 

-- Não devia ter feito isso. Eu já havia decidido voltar para São Paulo. 

-- Não, meu amor -- segurando a mão dela com firmeza, Yasmin a levou aos lábios. Gentilmente, beijou cada nó dos dedos -- Você vai realizar todos os seus sonhos. Vai ser eleita prefeita de Canoinhas e devolver a esse povo a dignidade que lhes foi roubada. 

-- E você? 

-- Os seus sonhos estão aqui, Dani. Os meus sonhos não estão somente em São Paulo. Estão por toda parte, inclusive aqui em Canoinhas. 

-- Não entendi -- disse Daniela após um momento. 

-- Sou uma empresária que gosta de sair do lugar-comum e produzir algo novo, usar a criatividade e imaginação para inovar. Fiz pela Vargas, tudo o que era possível fazer, a transformei numa indústria lucrativa para todos. Penso que chegou a hora de alçar novos voos, buscar novos projetos. 

-- Mas, aqui em Canoinhas? 

-- Não me subestime, meu amor -- Yasmin ergueu os ombros e sorriu -- Alguns dias atrás liguei para o prefeito e pedi que ele agendasse uma reunião com os agricultores da região. 

-- Então, a reunião de hoje no galpão da igreja foi com você? 

-- Sim. Apresentei a eles o meu projeto de criação de uma cooperativa. Mostrei a importância do cooperativismo e, acho que agradei, pois, a maioria pediu o formulário para cadastro. 

-- Poxa -- Daniela franziu a testa -- Você sempre me surpreende -- comentou, passando as mãos pelos cabelos em desalinho -- Por isso a cada dia me apaixono mais por você -- ela pegou a mão de Yasmin e deu um suave beijo -- Vamos para casa, senhora Vargas Pauly. Temos muito trabalho a fazer. 

Yasmin se levantou curiosa. 

-- Temos? O que por exemplo? 

-- Enquanto eu trato as galinhas, você ordenha as vacas. 

Yasmin arregalou os olhos. Daniela caiu na gargalhada. 

-- Eu te amo muito. Muito mesmo, minha ruivinha. Eu sou uma pessoa de sorte por ter conhecido você! 

-- Obrigada por me fazer conhecer as mais importantes coisas da vida! Eu te amo muito, minha loirinha! 

 

Outubro de 2020 

-- Viva a prefeita Danielaaaa... 

-- Vivaaaa... 

Logo após o anúncio da vitória de Daniela na eleição municipal, o povo de Canoinhas saiu às ruas da cidade para comemorar. A esperança de dias melhores estava estampada em seus olhos. 

Nos seus anos de mandato, Daniela em nenhum momento decepcionou a comunidade. Atendeu, de fato, à expectativa da população, onde as propostas de campanha foram todas cumpridas. Ela governou com amor ao seu povo. Erradicou a pobreza e diminuiu desigualdades. 

Após terminar dois mandatos como prefeita, Daniela apoiou a candidatura de Bianca. A amiga venceu com facilidade e, com maestria, deu sequência ao trabalho do governo anterior com o slogan: "Governo do Povo, para o Povo". 

A criação da cooperativa foi um marco na história da cidade. A cooperativa ajudou o agricultor a se manter no campo, fomentou a comercialização de seus produtos, forneceu serviços a seus cooperados e desenvolveu a região de Canoinhas. 

Em uma bela tarde de domingo, Daniela e Yasmin passeavam de mãos dadas pelos campos próximos a propriedade. Costumavam realizar longas caminhadas pelos arredores, se viam feliz com a paisagem e a paz que as cercavam. 

Virando-se para olhar a casa que sempre fora seu sonho, Daniela sorriu. 

-- Obrigada. Obrigada por você existir! Você é uma criatura linda que Deus colocou no meu caminho. 

-- Obrigada, meu amor, mas por que isso agora? 

-- Porque estava aqui, fazendo um balanço de quem eu era antes de você e, conclui que eu não teria chegado até onde eu cheguei se você não estivesse ao meu lado, me apoiando, me dando bronca, me fazendo seguir em frente mesmo quando tudo parecia impossível. 

-- Amor de verdade é assim mesmo, Dani. Não escolhe apenas as horas felizes, amor de verdade está sempre presente, principalmente nos momentos difíceis. É por isso que sempre estarei aqui ao seu lado, para o que der e vier, meu amor. 

Yasmin segurou o rosto delicado de Daniela entre as mãos e a beijou profundamente. Ela conheceu finalmente a maravilhosa terra de que Daniela tanto falava. E não demorou a perceber que, como a esposa, ela também pertencia àquele lugar. 

 

"Quando duas pessoas se amam, elas não se submetem e nem se dominam, apenas se completam diariamente". 

 

 

FIM 

 

 

Fim do capítulo