Capítulo 47

Sexta-feira

Eram 6:30 da manhã, todos da casa de Ilara estavam à mesa e o clima estava muito estranho.

Helena parecia que nem estava naquele lugar, pois ficou várias vezes se perguntando mentalmente como ela iria sair com sua amada no dia seguinte. Ainda não sabia para onde iriam, mas Ester havia deixado claro no dia anterior que elas iriam começar a resolver suas vidas naquele dia.

Estava decidida a se separar de Augusto, fazia alguns dias que eles nem compartilhavam mais a mesma cama e seu marido parecia nem estar ligando muito parar isso, pois estava com maiores problemas para resolver.

Helena se sentia aliviada por conta da falta de interesse de seu marido nela, já que agora não iria mais nem conseguir fingir se caso ele quisesse ter relações.

Não amava Augusto e isso a cada dia estava mais evidente.

Ilara por ser a filha mais velha, percebia que sua mãe não tinha mais nenhum interesse em seu pai e ela entendia Helena.

Mesmo se algum dia aquela mulher tivesse amado Augusto, era muito difícil, agora, conseguir sentir o mesmo depois de todas as coisas que haviam acontecido.

Helena havia sofrido muito naquele casamento. Sofria violências físicas e psicológicas, mas mesmo assim, não odiava Augusto.

Talvez fosse uma mulher boa demais ou tivesse um pouco de consideração por por ter tido com aquele homem os amores de sua vida, que eram seus filhos. No entanto, ela não odiar Augusto não queria dizer que ela teria uma boa relação com ele após uma separação. O que Helena mais desejava naquele momento era ter Augusto bem longe de suas vidas e pagando por tudo que havia feito de errado.

— Hoje vou ao hospital e só irei retornar no domingo à noite — Augusto comunicou e todos acharam estranho.

— Você vai para onde, papai? — Gustavo perguntou, pois aquilo era muito estranho.

Helena queria fazer aquela mesma pergunta de seu filho, entretanto ficou com receio de Augusto achar que ela estava querendo se meter em sua vida.

Augusto ficou por um tempo pensado. Aquela ausência sua foi algo pensando naquela noite, nem havia inventado uma justificativa.

Das outras vezes, ele saia para ficar com suas amantes. Até tinha um caso mais sério com uma, pois seu casamento com Helena não estava mais lhe agradando, no entanto, daquela vez, ele queria resolver sua situação. Precisava achar uma forma de Ester não conseguir lhe culpar por nada.

— Irei fazer uma viagem a pedido do hospital. Atender uns pacientes em outra cidade — Percebeu que a mentira não estava convencendo muito — Você sabe filho. Por ser um ótimo médico, eu sou muito requisitado.

O único naquela mesa que acreditou naquela história mal contada foi Gustavo, por ser um pouco ingênuo demais, mas as duas mulheres sentiam que isso não era verdade.

O homem mais velho parecia muito nervoso e preocupado. Comportamento não muito comum para Augusto.

Ilara olhou para sua mãe, esperando que ela falasse algo a seu pai, mas a mulher mais velha nada disse.

Augusto saiu de casa e Helena nem fez questão de se despedir.

— Mamãe, a senhora ainda ama o papai? – Ilara indagou quando seu irmão saiu para ir se arrumar no quarto.

Helena que no momento estava lavando a louça, parou o que estava fazendo e ficou pensando no que dizer a sua filha.

—Pode dizer a verdade, mamãe, você o ama?

— Não, filha, eu não amo seu pai – Helena disse sincera, ela não podia mentir mais para sua filha mais velha.

Após essa fala, Helena ficou olhando para Ilara por alguns instantes. Sentia vontade de falar toda a verdade... falar sobre Ester, mas percebia que não era o momento ainda, pois tinha que resolver sua situação com Augusto primeiro.

Com a fala de sua mãe, Ilara ficou pensativa. Parecia que fazia tempo que esperava sua mãe lhe dizer aquilo, pois das vezes que fez aquela mesma pergunta sentia que a resposta não era sincera.

Num rompante, Ilara saiu de onde estava e se jogou nos braços de sua mãe que estranhou aquele comportamento, mas sabia que as precisava daquele contato mais íntimo.

Ilara aconchega sua cabeça sobre o peito esquerdo de sua mãe.

— Eu sei que muitas pessoas querem seus pais sendo felizes juntos, mas sei que aqui vocês não são. Eu sei que já sacrificou muito por nós, no entanto, não quero mais que a senhora faça isso, mamãe, você precisa viver sua vida... ir atrás de sua felicidade.

Com a fala de sua filha, Helena começou a sentir as primeiras lagrimas escorrendo pelo seu rosto. Não esperava aquela atitude de Ilara.

— Quero que seja feliz, mamãe, e que eu possa compartilhar dessa felicidade contigo e Gustavinho — A garota falou emocionada.

— Meu amor, nem sei o que lhe dizer. Isso só demonstra o quanto você cresceu nos últimos anos e nem percebi — Deu uma pausa e fez a garota olhar em seus olhos— A minha felicidade é estar com vocês — Completou.

— Então vamos ser felizes longe daqui? — Com a pergunta de Ilara, Helena sorriu. Aquele sorriso carregava consigo tantos sentimentos que ela sequer conseguia distingui-los.

Antes de Helena responder a pergunta, Gustavo apareceu na cozinha.

— O que estão fazendo? — O garoto perguntou ao notar as duas mulheres abraçadas.

Ao notar o garoto, Helena pede para ele se aproximar e quando Gustavo chegou perto, a mulher mais velha lhe puxou para o abraço.

Gustavo não entendeu o que estava acontecendo, contudo, se sentiu muito bem ali com sua mãe e Ilara.

— Eu amo muito vocês — Helena disse emocionada, pois aquelas duas pessoas eram muito importantes para ela.

Agora entendia que estava no caminho certo e que não precisava carregar mais consigo tantas inseguranças... Precisava agora ser forte para lutar pelo que acreditava.

 

            ***

 

Ás 7:00 Ilara chegou ao seu colégio, estava se sentindo tão bem. Parecia tão mais leve.

— O que aconteceu entre você e Michelle? — Milena indagou quando se encontrou sozinha com sua amiga em um dos corredores.

— Nada — Ilara estranhou aquela pergunta repentina.

— Que estranho... você está com um semblante tão diferente — Deu uma pausa — Nunca comentei isso com você, mas sempre te notei com um semblante de preocupação.

Após a fala de sua amiga, Ilara começou a entender o que estava acontecendo... ainda não havia falado com Milena a respeito da situação em sua casa.

— Tem algo que ainda não te contei — Ilara segurou as alças de sua mochila com força demonstrando seu nervosismo. Não sabia como iniciar aquela conversa com a outra menina.

Notando o desconforto de Ilara, Milena resolve se pronunciar.

— Você sabe que não precisa falar se caso não quiser.

— Eu sei, Milena, mas, quero falar com você sobre isso — Notou os corredores começando a ficar cheios — Mas não agora.

— Está bem — A outra garota entendeu o que Ilara estava querendo dizer.

Após essa conversa, as duas meninas começaram a andar em direção a sala.

 

 

 

No decorrer das aulas, Ilara não conseguiu se concentrar muito, pois estava pensado no quanto a situação de sua casa estava mudando. Parecia que tudo estava se ajeitando.  

Sua mãe em pouco tempo havia se tornado uma outra mulher.

Ilara queria achar uma explicação para tanta mudança e foi a partir daí que começou a se lembrar dos momentos que sua mãe demonstrava uma felicidade fora do comum.

Se o seu pai não era a razão para tal felicidade então quem ou o que seria?

Foi se fazendo essa pergunta que as aulas foram passando e chegou o último horário, aula de Michelle.

Quando sua professora de matemática passou pela porta todos aqueles pensamentos se dissiparam. Ilara queria destinar toda a sua atenção para a mulher a sua frente.

— Bom dia, turma — Michelle cumprimentou ao se aproximar da mesa colocando sua bolsa sobre o móvel.

— Bom diaaaaaa — Os alunos gritaram demonstrando que estavam felizes por aquela ser a última aula.

Michelle quando constatou isso, começou a sorrir e ao perceber que o olhar de Ilara estava voltado para ela, se ver perdida por alguns segundos, tempo que não foi notado por outras pessoas, além de Ilara e Milena que sabiam o que estava acontecendo.

A aula começou e Michelle estava passando um exercício de um conteúdo que não era novo para os alunos daquela turma, mas Ilara nem sabia que rumo tomar em cada questão.

Notando a dificuldade de Ilara, Michelle se aproxima.

— Não está conseguindo responder? – Michelle falou com um tom de voz doce enquanto se posicionava ao lado da cadeira da garota.

Com a proximidade de Michelle, Ilara sentiu o seu corpo mudar. Um nervosismo começou a tomar conta dela e seus batimentos começaram a acelerar.

Olhou para o seu caderno buscando uma forma de se acalmar e viu escrito números complexos. Aquele assunto era algo que Ilara não conseguia compreender mesmo com as várias explicações de sua professora, mas sabia que algo ainda mais complexo que aquilo, era o que sentia por aquela mulher ao seu lado.

— Vou te ajudar — Michelle estava tentando fazer seu papel como professora, mesmo sabendo que toda aquela aproximação também lhe afetava.

Quando pegou o lápis da garota, os seus dedos se tocaram e esse contato fez as duas mulheres se olharem nos olhos.

Ilara ficou sem saber o que fazer, porque começou a olhar para a boca da sua professora, percebendo que não era momento para isso, abaixou a cabeça e Michelle tentou fingir que não havia percebido nada.

Mesmo Ilara evitando olha-la, Michelle tentou explicar o conteúdo mais uma vez da forma mais clara possível para que a garota pudesse assim resolver as questões sozinha.

 

 

— Vocês duas são engraçadas — Milena comentou baixinho com Ilara após a professora se afastar, pois achava diferente a forma como aquelas duas mulheres se comportavam.

— Não acho nada engraçado — Ilara fingiu não saber do que a amiga estava falando.

— Sei — Milena ficou rindo e Michelle direcionou o olhar para a morena.

 

 

 

Mais tarde, por aquele dia ser sexta-feira, Michelle resolveu deixar sua rotina de lado e levou Ilara e Gustavo para uma sorveteria.

Como sabia que o garoto gostava muito de sorvete, achou que era uma ótima oportunidade para passar mais tempo com a garota.

— Já falou para sua mãe que você vai a minha casa amanhã? — Michelle aproveitou que Gustavo havia ido ao banheiro e perguntou com um misto de ansiedade na voz.

Ilara com aquela pergunta direcionou seu olhar para Michelle. Sentiu que não era só aulas que sua professora iria lhe dar no sábado. Poderia acontecer muitas coisas entre aquelas mulheres.

Mesmo não sabendo como tudo seria, Ilara não estava com muita vontade de negar-se aos seus desejos. Como dizem dar alguns “amassos” não tira a virgindade de ninguém, mas a garota sabia que fazia sentir vontade desse momento acontecer e ela estava pensando na possibilidade de se permitir ser tocada mais intimamente por aquela mulher.

— Irei falar quando chegar em casa — Respondeu e seu olhar se prolongou no da professora.

— Espero que ela não veja nenhum problema nisso — Michelle se manteve naquele contato até que Gustavo apareceu de repente, devorando uma grande quantidade de sorvete.

— Vocês não sabem o que estão perdendo — Gustavo disse, pois percebeu que Michelle e Ilara quase não havia tocado no sorvete delas.

Era inocente demais para perceber que o que importava ali não era o sorvete.

— E você não acha que está exagerando? — Ilara recriminou o irmão com o olhar.

— Ilara, deixe seu irmão... nem sempre ele pode fazer isso — Michelle sentia que não era sempre que o garoto tinha aqueles momentos, pois os irmãos pareciam viver muito em casa. Foi se lembrando disso que ficou se perguntando com estaria a situação na casa de Ilara e se Helena havia tomado coragem para ligar para o número que ela havia dado.

— Por isso gosto muito de Michelle — Gustavo falou e Ilara balançou sua cabeça negativamente, porque seu irmão já estava se achando todo íntimo de sua... bom, ela ainda não sabia o que Michelle era dela, só sabia que não era mais só professora, mas isso não era algo que atrapalhava o desenvolvimento da relação das duas.

 

            Ao terminarem seus sorvetes, Michelle levou os dois irmãos em casa.

            Quando estacionou o seu carro em frente à residência, aconteceu o mesmo de sempre. Gustavo desceu do carro às pressas e Ilara ficou para se despedir melhor.

            As duas mulheres ficaram um bom tempo olhando para o nada, mais uma vez não sabiam como agir, era estranho se conhecerem a um bom tempo, mas ainda se sentiam tímidas na presença da outra.

            — Então até amanhã — Michelle disse tentando quebrar aquele clima.

            Vendo que tudo estava novamente se repetindo, Ilara deixa sua vergonha de lado e se joga nos braços da mais velha.

            Quando sentiu seus corpos tão colados, Michelle levou uma das suas mãos até a face de Ilara.

            — Temos que acabar com toda essa timidez — Falou e viu no rosto de Ilara se formar um lindo sorriso. Aquilo mexia demais com ela, os olhos de Ilara brilhavam de uma forma intensa e aquelas curvas dos lábios da garota eram muito convidativas.

            — Concordo com você — Ilara prendeu seu olhar no de Michelle e foi depois disso que sentiu os seus lábios sendo delicadamente tocados pelos da professora.

            Por estarem em um local público, o beijo logo se findou e elas se despediram já pensando no que iria acontecer entre elas no dia seguinte.

            ***

— Então quer dizer que vocês dois estavam se acabando no sorvete? — Helena perguntou após Ilara atravessar a porta da cozinha. Não estava chateada com os dois, mas não gostava disso, pois Gustavo era muito guloso e tomava mais do que devia.

— A Michelle nos chamou, mamãe — Ilara falou ao se sentar à mesa — Falando nela, queria te fazer uma pergunta — Neste momento ficou um pouco sem graça, porque mesmo sendo para estudar, também poderia acontecer outas coisas na casa de Michelle. E será que sua mãe iria da permissão sabendo disso?

            — Faça — Helena achava que pudesse ser mais alguma coisa a respeito do seu relacionamento com Augusto, mas achou estranho, a sua filha querer perguntar ali na frente de Gustavo que por incrível que pareça estava comendo como se tivesse muita fome.

            — Michelle quer me dar aulas de matemática amanhã — Disse sem graça.

            — Aulas de matemática — Helena ficou repetindo aquela frase várias vezes e Ilara ficou com vontade de esconder a sua cara em algum lugar.

            — Sua professora é muito boa, né, mana? — Gustavo começou a prestar atenção na conversa.

            Helena com o comentário de Gustavo e o comportamento de Ilara começou a rir.

            — Pare com isso, Ilara, claro que você pode ir — Helena piscou para a filha.

            Com a resposta da mãe, Ilara se sentiu aliviada por ela não se opor.

            Em um clima agradável, os três almoçaram. Aquela casa era outra quando Augusto não estava. Parecia que todos ficavam mais à vontade, mas isso não queria dizer que aquele homem não era importante para os dois mais novos. Sendo uma boa ou má pessoa, Augusto era pai dos dois e tinha seu significado.

Como terminou sua refeição primeiro, Ilara ficou um tempo observando todos a mesa.

Era bom ter aquelas pessoas ali com ela. Mesmo com todos acontecimentos dos últimos anos, eles eram muito unidos e se preocupavam com os outros.

Às vezes, Ilara e Gustavo brigavam, contudo não era algo a se levar a sério, pois depois estavam agindo normalmente.

— Família são as pessoas que te acolhem e te fazem sentir bem — A garota pensou ao se lembrar de tudo que já acontecido e agradecia muito a mãe por ter lhe aceitado do jeito que ela era.

Com esses pensamentos, Ilara se levantou e foi lavar o seu prato, porém estranhou algo.

Gustavo parecia que queria demorar para terminar, Ilara não achou isso normal, pois o garoto era muito ligeiro. Queria perguntar se estava acontecendo algo com ele, mas sabia que não seria a ela que ele iria falar. E foi bem isso que aconteceu.

Após Ilara passar pela porta em direção as escadas, a garota ouviu o irmão falando a Helena que a mãe de Manu havia lhe chamado para passar o final de semana na chácara da família e que queria saber se ele poderia ir.

Com a resposta positiva de Helena para seu irmão, Ilara começou a rir, pois agora estava entendendo tudo. Gustavo não havia dito isso na presença dela, porque estava com medo dela começar a fazer brincadeiras com isso.

— Pelo visto, amanhã, mamãe irá ficar sozinha em casa — Ilara ficou sentida por isso, porque sua mãe poderia se sentir solitária, já que ninguém estaria em casa. No entanto, não sabia ela, que Helena se sentiu aliviada, pois não teria que inventar nenhuma mentira para poder sair com Ester.

***

            Após o jantar, Michelle e Marisa se sentaram no sofá da sala para assistir um pouco de tevê e conversar sobre como havia sido seus dias, já que elas só tinham mais tempo à noite, para ter esse momento mais íntimo.

— Marisa, amanhã Ilara virá em casa e eu queria ficar a sós com ela - Antes de Michelle dizer qualquer coisa Marisa foi a interrompendo.

— Michelle, você vai me despachar desse jeito? - Perguntou fingindo-se de indignada.

—Claro que não. Só quero que Ilara se sinta mais à vontade.

— Conta outra, Michelle, Ilara se sente bem na minha presença. Você está com outras intenções… Danadinha – Falou com tom um tom malicioso.

— Você é muito ousada! — Pegou uma almofada para jogar na irmã, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, Marisa tomou o objeto da irmã.

— Marina fala que sou abusada— Começou a se lembrar de sua amada.

— Talvez ela tenha razão — Se levantou do sofá, pois tinha muitos trabalhos em cima da mesa para corrigir. Não poderia perder seu tempo se incomodando com as brincadeiras da irmã— Falando nela, como vocês estão?

— Muito bem… Você sabe, sou irresistível — Com o comentário as duas mulheres começaram a rir.

— Espero que ela nunca te ouça falando isso.

—Eu também espero — Marisa ficou um tempo em silêncio só observando a irmã deslizando a caneta sobre alguns papéis — Pela primeira vez, eu estou sabendo como é a sensação de estar apaixonada. A Marina mexe muito comigo, pena que ela é muito difícil.

— Talvez, você tenha se interessado por ela por esse motivo... por ela ser diferente das outras mulheres que você se relacionou — Parou o que estava fazendo para olhar a irmã. Nisso percebeu que a outra mulher estava com medo — O que está te incomodando?

Com a pergunta de Michelle, Marisa respirou fundo... estava muito insegura.

— Marina ainda não falou se vai ficar ou não — Confessou.

— Tem medo dela não querer investir em vocês?

— Sim, ela é diferente de mim. Não age por impulso. Ela quer se sentir segura primeiro para ter algo comigo. Tenho medo dela acabar partindo e me deixando com todos esses sentimentos que estão começando a tomar conta de meu peito — Marisa parecia muito apaixonada e isso fez Michelle sorrir — Por que está rindo?

Após a fala da irmã, Michelle saiu de onde estava e voltou para o sofá.

— Não tenha medo — Segurou as mãos da mais velha — Se ela está saindo com você é porque está pensando na possibilidade de vocês terem algo. Então acalme-se — Pensou por alguns instantes — Por que você não aproveita para sair com ela?

— Você tá querendo fazer o que nessa casa com a Ilara, para falar tanto que não vou estar aqui? — Marisa voltou a rir e Michelle percebeu que sua irmã era alguém que não conseguia ter uma conversa séria por muito tempo.

— Vou dar aulas para ela — Se levantou novamente e não tinha mais a intenção de voltar para aquele sofá.

— Aulas — Marisa ficou repetindo aquilo várias vezes.

Com as provocações da irmã, Michelle revirou os olhos, mas resolveu não falar nada, pois sabia que no fundo sua irmã estava certa.

***

 

 

 

Já era tarde da noite, Ilara e Gustavo já haviam dormido. Helena aproveitou esse momento para ligar para sua amada, para dizer que tudo já estava certo para o dia seguinte.

— Amanhã, eu ficarei sozinha em casa — Helena falou e começou a imaginar o que poderia acontecer entre elas duas.

— Augusto e seus filhos não vão estar? — A médica achou isso muito estranho, pois desde que havia se mudado para lá, Helena só costumava ficar sozinha quando os filhos iam para o colégio.

— Augusto disse que teria que atender uns pacientes fora da cidade e os meus filhos tem uns compromissos.

Com a fala de Helena, Ester começou a se perguntar se sua amada era ingênua mesmo ou se ela fingia não saber das coisas erradas que o marido fazia, por que não tinha como Augusto aprontar tantas coisas, ter amantes e Helena ficar repetindo esse discurso de que Augusto saiu a trabalho.

Por não querer perder tempo falando de Augusto, Ester foi logo para o assunto que lhe interessava.

— Está preparada para ser livre e vim ficar comigo?

— Claro que estou, o que mais quero é ficar contigo — Tentando de alguma forma ficar mais perto de Ester, Helena se encostou na janela de seu quarto e olhou em direção a casa da médica.

Para sua surpresa, Ester estava fazendo o mesmo. Estava encostada na janela do quarto olhando para casa de Helena.

Estando uma olhando para a outra, elas trocaram acenos discretos para ninguém pensar que as duas estavam tendo algo, no entanto, Ilara que havia se levantado da cama para a fechar a janela de seu quarto, vê Ester acenando para alguém que estava na direção do quarto de seus pais.

Foi depois disso que Ilara voltou para a sua cama e começou perceber que agora tudo estava se encaixando.

Sua mãe ficava muito estranha na presença de Ester e ainda mais, quando tocavam em seu nome. Isso só poderia significar algo.

Ilara ainda não tinha certeza, mas começou a suspeitar que a razão da felicidade repentina de sua mãe talvez estivesse na casa em frente.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fim do capítulo