POV Heloísa

Meu coração estava a mil por hora, a semana parecia estar passando em câmera lenta, nunca vi o tempo passar tão devagar como agora. Por mais que eu ocupasse minha cabeça o relógio não andava e isso estava me torturando. Pra piorar meu estado mental via a Carina cheia de sorrisinhos lascivos por todos os cantos daquele hospital.

_ Olha a cara de apaixonada da magricela. Que ódio!

_ Não se precipite Heloísa, a Carina não está fazendo nada.

_ Como não, ela não para de me provocar, não pode me ver pelos corredores que faz questão de mandar uma indireta do quanto a Luna é ótima companhia, linda e boa de cama. Preciso me segurar para não pular no pescoço dela.

_ E a Luna, como vocês estão?

_ Ai Maria, cada vez mais afastadas. De vez em quando eu forço a barra e acabo arrancado alguns beijos, mas nada que me dê segurança. Na verdade ela reluta um pouco mas no final acaba cedendo.

_ Entendi. Vocês já trans*ram depois daquela noite em que ela te largou sozinha na cama?

_ Já, mas eu basicamente agarrei ela.

_ Não foi bom? 

_ Claro que foi, foi ótimo, como sempre, mas é estranho ver ela sair da minha cama e depois agir como se eu fosse simplesmente mais uma. Eu quase morro quando esbarro com ela e com a Carina pelos corredores. Tenho vontade de agarrá-la na marra e mostrar pra Carina que ela ainda é minha.

_ Fica calma, amanhã já é sexta e vocês vão conversar. Ela já me ligou pedindo que eu fique com a Carol. Inclusive combinei de pegá-la hoje à noite, ela vai dormir lá em casa. Amanhã vocês terão todo liberdade do mundo para se entenderem.

_ A Carol vai dormir com você, bom saber.

_ Segura a ansiedade mulher, não antecipa nada, deixa acontecer naturalmente.

_ Pode ser. Dei de ombros

Olhei no relógio e meu plantão estava terminando, nos despedimos e corri para a sala dos médicos, joguei meu jaleco no armário, peguei minha bolsa e sumi do hospital. Em 20 minutos já estava no Shopping, passei algumas horas entre depilação, unhas, cabelo e massagem. Queria estar linda e relaxada para encontrar minha loira. Comprei um vestido cinza chumbo lindo, ele era um pouco acima do joelho e tinha um decote generoso, que valorizava meus seios. Optei por uma sandália preta de salto fino e pra finalizar o look faria uma maquiagem que valorizaria meus lábios. Ela sempre ficou louca com meus batons e eu iria abusar da sensualidade.

Finalizada essa etapa fui pra casa e me joguei na cama, estava bem cansada, mas a ansiedade não me deixava dormir. Peguei o celular e vi que já eram quase 23h da noite, nem percebi o quanto demorei no Shopping, mas valeria a pena. Abri o whatsapp e vi que minha loira estava online, não resisti e mandei uma mensagem.

“Oi?”

“Oi Helô, nem te vi hoje. Tudo bem?”

“Sim e com você?”

“Cansada, mas estou ótima.”

“A Carol está aí?”

“Não, ela foi dormir com a Juliana, aquelas duas estão cheias de segredinhos, kkk...”

“Você está em casa?”

“Ainda não, saí pra beber alguma coisa com a Carina, mas não vou demorar. Estou realmente bem cansada e preciso dormir.”

“Entendi. Que horas nos vemos amanhã?”

“Você quem sabe, desde que não apreça lá em casa às 7h da manhã, está valendo, kkk...”

“ Nossa quanta animação para me ver.”

“Que isso Helô, é claro que quero te ver. Tínhamos combinado de jantarmos, mas caso queira podemos nos ver mais cedo. Só me avisa para eu me arrumar.”

“Te pego as 17h, está tendo uma exposição linda sobre famílias Homoafetivas no Museu de Arte Contemporânea e queria ir com você. Depois saímos para jantar e no final da noite conversamos. Pode ser assim?”

“Pensei que ficaríamos em casa, mas o programa está ótimo. Nos vemos amanhã então. Beijos.”

“Tenha uma ótima noite. Beijos”.

Desliguei o celular me sentindo devastada, estávamos a poucas horas de decidirmos nossa vida e ela estava agarrada com aquela mulherzinha. Tomei um calmante e apaguei a luz, deixando o quarto num verdadeiro breu. Não queria pensar em nada que aquelas duas pudessem estar fazendo e muito menos acreditar que esse encontro pudesse de alguma maneira indicar a escolha da Luna.  

POV Luna

Coloquei o celular no bolso me sentindo um pouco culpada. Não deveria ter dito para a Helô que estava com a Carina, até mesmo porque não estávamos sozinhas, a Alex estava com a gente e conhecendo minha morena iria encher a cabeça de caraminholas.

Mas eu estava tão nervosa que não tinha a menor condição de ir pra casa, precisava desvincular meu pensamento daquele encontro ou surtaria de vez. Meu momento tinha chegado e sei que precisaria ser sincera com ela. A Madame Berta me sinalizou sobre a necessidade de ser verdadeira e eu estava com medo da reação que ela poderia ter.

_ Você está bem Lu?

_ Desculpa Carina não te ouvi.

_ Perguntei se você está bem?

_ Apavorada, mas bem num aspecto geral.

_ Vai dar tudo certo, a Heloísa está surtada com nossa proximidade e já deixou claro que vai te reconquistar. Você conseguiu mulher, sua latina voltou pra você de corpo e alma.

_ Me deve uma garrafa de vinho, afinal fui eu quem te convenci a ir na Madame Berta.

_ Se tudo der certo, te monto uma adega Alex. Mas não pensem que vão escapar, como foi a conversa de vocês? Se entenderam? As duas se olharam sem graça e percebi que alguma coisa tinha acontecido. Não era possível que já tinha rolado. A Alex era hétero, como a Carina conseguiu qualquer proximidade em um único encontro?  _ Posso saber que clima é esse?

_ Claro que nos entendemos Lu, não tá vendo?

_ Perguntei como foi a conversa Carina? Ela olhou para Alex e deu um sorrisinho bobo.

_ Posso te dizer que nos entendemos mais que devíamos, porém menos que gostaríamos. Ela retribuiu o sorrisinho bobo e piscou discretamente para a Carina.

_ Uau, depois dessa me recolho a minha insignificância, kkkk... Quando eu crescer quero ser igual a você Carina.

_ A para, pra cima de mim Luna? Engana outra que eu te conheço do avesso, kkk...

Finalizamos a noite de maneira agradável. Aquelas duas vez em quando se engoliam com o olhar e eu comecei a ver que estava sobrando. Recusei o convite da Alex para fecharmos a noite na casa dela e fui para minha. Era só o que me faltava, virar vela a essa altura da minha vida, kkk... Sorri involuntariamente. Eu amava aquelas duas e ficava feliz em saber que estavam começando a se entender.

Chegando em casa tomei um banho bem quente e me joguei na cama. Peguei meu celular e vi que minha morena estava online. Hesitei em iniciar uma conversa, mas acabei não resistindo.

“Pelo visto tem alguém sem sono”

“Verdade”

Monossilábica, pelo visto está magoada. Não era essa minha intenção, na verdade tudo que eu menos queria era vê-la triste.

_ “Nossa, quanto interesse em conversar comigo. Está economizando para amanhã? Devo me preocupar?”

_ “Boba”

_ “Ansiosa?”

_ “Muito e você?”

_ “Com medo”

_ “De quê?”

_ “De não nos entendermos.” 

_ “Isso só depende de você Luna”

_ “Quem dera morena. Você sabe que não é bem assim.”

_ “Não vamos pensar nisso agora, amanhã a gente conversa com calma.”

_ “Combinado. Dorme com Deus morena.”

_ “Sonha comigo.”

_ “Pode ter certeza que sim.”

Desliguei o celular mais animada, mas a ansiedade permanecia como minha fiel companheira. O lance era tentar relaxar e torcer para que eu tivesse feito as escolhas certas. _ Ah Madame Berta se você estiver certa, eu juro que viro sua maior promoter.

Fim do capítulo