Boa noite amores, espero que gostem do capítulo.
Beijão
NÃO PODE SER ELA
POV Carina
Fui pra casa com o pensamento a mil. _ Não pode ser ela! Eu repetia pra mim mesma, na tentativa de me convencer que aquilo era uma loucura. Tomei um banho rápido e me joguei na cama, eu precisava dormir e colocar minha cabeça no lugar. Rolava de um lado para o outro quando ouvi meu celular apitar indicando que uma mensagem tinha chegado.
“Decidiu o que vai fazer?”
“Não Lu, minha cabeça está doendo de tanto que pensei nisso.”
“Qual o grilo Carina, sabíamos que isso aconteceria.”
“Sim, mas não que seria ela quem faria.”
“Isso faz diferença?”
“Claro que faz, ela é sua amiga, tem um passado dolorido e como se não bastasse, ainda é um saco.”
“Pelo amor de Deus Carina, para de arrumar chifre na cabeça de cavalo! A Madame Berta foi clara, basta saber se você vai deixar essa oportunidade passar ou se vai encarar ela de frente.”
“Essa mulher me odeia Luna, como pode ser o amor da minha vida?”
“Se vira gata, quem mandou achar que tudo seria flores? Eu tive que me virar nos 30 com a Helô, agora é sua vez.”
“Cansei desse papo loira, deixa eu dormir, porque o remédio tá começando a fazer efeito.”
“Espero que você seja tão corajosa quanto aparenta, porque eu não vou te perdoar se você não tomar uma atitude.”
“Ok loira.”
“Dorme bem. Beijos”
“Beijos”
Coloquei o celular no vibro e apaguei. No dia seguinte acordei mais disposta e durante o café comecei a lembrar das palavras da cartomante.
“Seu amor está ao seu lado e você cega, foi incapaz de enxergar.” Como assim não fui capaz de enxergar? O que ela queria que eu visse? “Sua alma gêmea se apresentará através de um tapa. Um tapa doído, com raiva mas que se for trabalhado, se converterá em amor rapidamente. Então confie e trabalhe.” Isso é muito louco, eu nunca olhei para ela com segundas intenções, como ela pode ser minha alma gêmea?
Saí do meu transe, terminei de me arrumar e fui para o hospital. Mal cheguei e encontrei a Luna e a Alex conversando no estacionamento. Sério? Tinha que ser logo cedo? Praguejei internamente. Eu não poderia simplesmente fingir que não as vi e entrar, eu precisava cumprimentá-las pelo menos, mas não fazia a mínima ideia de como faria isso.
_ Bom dia Lu. Ela me retribuiu com um sorriso.
_ Alex eu queria te pedir desculpas por ontem, eu não deveria ter agido daquela maneira. Me perdoa. Ela virou para mim com cara de poucos amigos e com um sorriso irônico perguntou por qual dos atos estava me desculpando. Já vi que ela não facilitaria minha vida. Respirei fundo e procurei manter a calma. _ A única desculpa que lhe devo é em relação a minha conduta na casa da Luna. Ela fez menção de falar, mas me antecipei e continuei falando. _ As vezes acontecem situações em uma cirurgia que exigem de nós uma posição rápida. Infelizmente o procedimento que você faria demandaria um tempo que o bebe não teria, por isso precisei ser mais enérgica. Nunca tive a intenção de afrontá-la e é uma pena que você não consiga separar as atitudes meramente profissionais de todo o resto. Mas naquele momento eu agi de acordo com a necessidade e as pessoas que estavam na minha frente não eram a mulher e a melhor amiga de uma pessoa muito cara a mim e sim a cardiologista e a ortopedista do hospital. Vi que ela me olhou perplexa, talvez não esperasse uma posição tão séria. _ Caso queira conversar melhor estou à disposição. Agora se me derem licença eu tenho um parto para fazer daqui a pouco e preciso me preparar.
POV Alexandra
Me surpreendi com a atitude dela, estava séria e parecia sinceramente incomodada com o clima tenso que nos envolvia, sem contar que numa coisa ela tinha razão, eu supervalorizei o acontecido no centro cirúrgico. Realmente nossos interesses, naquele momento eram contrários, ela queria salvar o bebe e eu a mãe. E ambos foram salvos então porque me senti tão afrontada com a atitude dela?
_ Ei Alex você me ouviu?
_ Desculpa Lu.
_ Você precisa reconhecer que ela está certa.
_ Eu sei. Me limitei a dizer.
_ Então abaixa essa guarda e conversa com ela. As duas são minhas amigas e eu não quero vê-las se matando. Ela reconheceu que pegou pesado lá em casa. Releva e bola pra frente.
_ Pode deixar, vou conversar com ela.
_ Melhor assim.
Entramos no hospital e fomos cada uma para seu setor. As palavras da Carina ficaram martelando na minha cabeça e eu me senti mal pelo ocorrido. Sempre nos demos bem, podia dizer que éramos até amigas e não tinha cabimento nos afastarmos por uma besteira qualquer. Se ela foi capaz de me pedir desculpas eu também pediria. Peguei meu celular e mandei uma mensagem rápida pra ela.
“Carina precisamos conversar. Me encontra na hora do almoço.” Mal coloquei o celular no bolso e ouvi um pequeno bipe indicando que tinha recebido alguma notificação. Ao abrir o whatsapp me surpreendi com a rapidez na resposta.
“Meu dia será cheio e não faço ideia da hora que irei almoçar. Podemos beber alguma coisa depois do plantão, o que acha?”
“Pode ser. As 20h no bar do Lucas?”
“Prefiro te levar em um lugar mais sossegado. Se formos ao Lucas dificilmente conseguiremos conversar, sabe como é, aquele lugar parece uma extensão do hospital, kkk. Me encontra na recepção e saímos juntas.”
“Combinado”
“Beijos”
“Pra você também.”
Novamente coloquei o celular no bolso do jaleco e corri com as visitas. Precisava assinar duas altas, conversar com uma família sobre a necessidade de um transplante e ainda tinha uma cirurgia bem chatinha me aguardando.
E assim meu dia foi literalmente voando. Quando dei por mim já eram quase 19h e eu estava morta. Encontrei com a Lu correndo pelos corredores do hospital com uma criança extremamente ensanguentada. Agradeci mentalmente não ter escolhido a pediatria como especialização, jamais teria sangue frio para cuidar daqueles serzinhos tão frágeis. Era interessante observar como uma mesma pessoa conseguia carregar em si características tão distintas. A exemplo disso temos a Luna, uma mulher meiga e dona de uma delicadeza ímpar, mas ao mesmo tempo trazia uma força e uma disposição invejável, ainda mais quando o assunto eram seus pequenos pacientes.
Cheguei na sala dos médicos, peguei um copo de café e me joguei no sofá. A vontade que tinha era me jogar na cama e literalmente desmaiar, mas seria indelicado desmarcar com a Carina, ainda mais depois daquele pedido de perdão.
Arrumando ânimo sabe-se lá de onde levantei e tomei um banho rápido, coloquei uma calça jeans bem colada ao corpo, uma blusa de seda vermelha e um salto nude. Fiz uma maquiagem leve, afinal não fazia ideia de onde iríamos e não seria legal exagerar no visual. Depois de uma última conferida, peguei minha bolsa e me encaminhei para o saguão.
Como cheguei uns minutos adiantada resolvi mandar uma mensagem pra Luna.
“Estou saindo com sua amiguinha para conversar. Se eu não aparecer até amanhã de manhã me procura em uma delegacia qualquer, pois com certeza estarei presa por assassinato e ocultação de cadáver, kkk...”
_ Vamos?
Olhei para cima e a vi sorrindo como se nada tivesse acontecido. Guardei o celular na bolsa e a acompanhei.
_ Posso saber onde vamos?
_ Nenhum lugar especial, na verdade nem pensei ainda, mas qualquer lugar nesse momento será melhor que o Lucas.
_ Posso sugerir um japonês perto da casa da Lu, estou morrendo de fome e aquele restaurante é uma delícia.
_ Claro.
Nos encaminhamos para o estacionamento e paramos no caminho para decidir sobre o carro.
_ Vamos no meu Alex, depois te levo pra casa. Amanhã você pega o seu aqui, ou então deixa a chave com a Luna e pede pra ela levar pra você. Pelo que estou vendo ela veio sem carro, pelo menos não estou vendo o carro dela aqui no estacionamento.
_ Ela deixou o carro dela na revisão. Me espera que vou deixar a chave no armário dela.
POV Carina
Fiquei parada naquele estacionamento enquanto ela corria para deixar a chave do carro com a Luna. Nunca me senti tão adolescente como agora, parecia que estava indo para meu primeiro encontro, e olha que isso nem era um encontro, pelo menos não que ela soubesse.
Eu não sabia como me portar, maldita hora que fui àquela cartomante, agora estou aqui nervosa, ansiosa e com medo de fazer merd*. Mal tive tempo pra me recompor e ela já estava de volta. Entramos no carro e vi que ela estava digitando alguma coisa no celular.
_ Avisando ao Crush que vai atrasar?
_ Crush, kkkk... Até parece, kkk... Só você Carina pra me fazer rir a uma hora dessa. Estou avisando a Luna que deixei a chave do carro no armário dela.
_ Não entendi o porquê da risada? Você é uma mulher linda, interessante, culta, qualquer um ficaria amarrado em ser seu Crush.
_ Agradeço os elogios, mas não tenho nenhum Crush.
Passado esse momento de descontração, fizemos o resto do caminho em silêncio. Chegava ser constrangedor, mas eu não sabia o que falar. Chegamos ao restaurante e em pouco tempo fomos devidamente servidas.
_ Alex... pigarreei em sinal de completo pavor. Eu queria mais uma vez me desculpar pela minha infantilidade. Jamais poderia ter agido daquela maneira e não quero que isso afete nossa amizade.
_ Eu também preciso me desculpar Carina, acabei me melindrando com uma atitude completamente normal no nosso meio. Supervalorizei o que aconteceu e sinceramente não sei te dizer o porquê, geralmente não ajo assim.
_ Zeradas?
_ Zeradas. Ela sorriu e comecei a perceber como ela poderia ser encantadora.
Nossa conversa começou a fluir e a noite transcorria de maneira agradável. Na verdade nunca tínhamos parado para conversar, sempre estávamos envoltas com a Luna, talvez por isso nunca a olhei com maldade. Mas agora, parando para reparar ela realmente era uma mulher linda, encantadora, animada e parecia beijar muito bem.
Conversamos sobre tudo, profissão, dissabores, pegação, amigos e amores. Ela me confidenciou que estava há mais de um ano sem trans*r. Desde que o marido morreu que ela estava sozinha. Um verdadeiro pecado, diga-se de passagem, mas...
_ E você Carina, gosta da Lu?
_ Claro que gosto, aquela loira faz parte da minha vida.
_ Tô falando como mulher e não como amiga.
_ Entendi, kkk... Eu ficaria muito feliz se o meu caminho se cruzasse com a Luna para além da cama, mas ela é vidrada na Helô e acabamos nos tornando grandes amigas.
_ Mas não rola nem uma pontinha de ciúmes da Heloísa.
_ Não, imagina. Tudo bem que eu acredito que aquela marrenta não merece a Luna, mas não é ciúmes. Quero muito que a Luna seja feliz.
_ Ok, me convenceu. E a tal mulher que a Cartomante falou?
_ O que tem ela?
_ Vocês começaram a falar ontem, mas eu estava tão possessa que confesso que não prestei atenção. Só sei que envolve a sua interna. Não é isso?
Então... ela não lembrava sobre a história do tapa... Confesso que me soltei mais depois disso. Estava morrendo de medo dela jogar na minha cara que estava dando em cima dela por causa de uma cartomante. _ Tá muito interessada, posso saber o porquê? Brinquei
_ Porque eu quero saber quem é a coitada que está predestinada a ficar com você.
_ Coitada????? Nossa magoei.
Ela começou a gargalhar e eu fiquei vidrada naquele sorriso. Como nunca reparei nela antes? Claro que eu estava longe de estar apaixonada, nem dava pra se apaixonar assim, em uma única noite, mas poderia ser interessante investir nela. O máximo que aconteceria caso a Madame Berta estivesse errada seria mais um tórrido romance sem futuro. Assim como com a Luna e nem por isso deixou de ser bom.
_ Carina está tarde, vamos embora?
_ Claro.
Depois de uma pequena briga para ver quem pagava a conta fomos embora. Dessa vez o clima no carro não estava mais constrangedor. Estávamos soltas, alegres e de bem com a vida. Fizemos o percurso entre o restaurante e a casa dela entre conversas, risadas e algumas indiretas que eu mandava.
_ Chegamos madame.
_ Boba. Quer subir.
_ Melhor não, amanhã eu acordo cedo. Apesar de não estar de plantão fiquei de passar no hospital para resolver uns pepinos que ficaram pendentes.
_ Eu amei nossa noite Carina. Obrigada pela companhia.
_ A recíproca é verdadeira loira.
_ Uau!!! Pelo visto ganhei o posto da Luna, kkk...
_ Com certeza ganhou, a partir de agora você que será minha loira. Até porque a Lu agora é a loira da Helô, kkk...
_ Verdade, kkk... Deixa eu subir. Nos vemos no hospital. Mais uma vez obrigada pela noite, me diverti muito.
Ela destravou o cinto, abriu a porta do carro e saiu. Eu fiquei ali parada sem saber se deveria tomar alguma atitude ou simplesmente ir pra casa. Quando ela estava quase chegando na entrada do prédio resolvi agir.
_ Alex. Ela me olhou e calmamente caminhei até ela.
_ Fala Carina.
_ Você esqueceu de uma coisa.
_ O que?
_ Não era assim que eu me despedia da Luna quando ela era a minha loira.
_ Oi?
Segurei sua cintura e a puxei para um beijo molhado. O beijo foi bastante calmo, com carinho, afinal minha intenção não era assustar. Confesso que tive que me segurar, porque, como previsto o beijo era uma delícia e facilmente me excitou, mas não era o momento de avançar o sinal. Finalizamos o beijo e ainda com a testa encostada na minha sussurrei.
_ Agora você pode subir loira. Ela me olhou com espanto, mas não falou nada. Com certeza se questionava mentalmente sobre o ocorrido, não só pela minha atitude, mas principalmente sobre sua aceitação. Antes que ela saísse dos meus braços dei mais um selinho e uma mordida no seu lábio inferior. _ Amei nossa noite, pena que acabou. Não vejo a hora de repetir. Ela continuava me olhando estática. _ Dorme com Deus e sonha comigo.
Fim do capítulo
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Naahdrigues
Em: 15/05/2019
Cah toda trabalhada na conquista, gostei, boa jogada.
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Brescia
Em: 29/04/2019
Oi mocinha.
Estou gostando muito mais desse casal, rs. Engraçado como foi preciso alguém falar para que se enxergasse o que estava a sua frente. Achei delicioso a espontaneidade versus a ousadia leve e delicada.
Tenho quase certeza que serão as duas a não dormirem à noite.
Baci.
P. S: sempre ótima a sua escrita .
Resposta do autor:
Oi linda, ótimo de ver por aqui novamente.
Você falou uma grande verdade, as vezes não enxergamos coisas óbivias e com isso deixamos de viver coisas maravilhosas.
Mais uma vez obrigada pela companhia e pelo carinho em comentar.
Nos vemos em breve. Beijão
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Rosangela451
Em: 28/04/2019
Rápida a Carina......
Gostei da atitude ...
Vamos vê se Alex vai facilitar rsrs foi meio facil
Abraços
Resposta do autor:
A Carina é muito rápida no gatilho, sabe o que quer e não tem medo de se arriscar, completamente diferente da Luna.
A Alex foi pega de surpresa e acabou ficando sem reação, mas também não podemos esquecer que ela é uma mulher fragilizada e carente. Um coração sofrido está sempre disposto a ser acarinhado.
Na torcida pela Carina, kkkk
Nos vemos em breve linda. Beijão
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