Capitulo 45

            Ester estava parada ao lado do corpo de Augusto que ainda estava no chão. Enquanto tentava entender de onde havia tirado tanta força para derrubar seu primo, notou que aquele lugar estava ficando pequeno demais para as pessoas que estavam indo ver o que tinha acontecido.

            — Você é louca! — Augusto disse quando alguns enfermeiros começaram a lhe ajudar a se levantar — Depois disso pode ter certeza que meus tios e meus pais irão mandar você pra longe desse hospital — Enquanto falava, colocou a mão em frente ao seu rosto, pois não queria que ninguém visse o estrago que sua prima havia feito.

            — Cale-se! — Ester gritou e todos ficaram sem entender o que havia acontecido com aquela mulher que parecia ser tão calma.

            Os funcionários do hospital sabiam que Augusto e Ester tinham suas diferenças, mas nunca acharam que isso poderia resultar em uma agressão.

            — Você me agride e ainda se acha no direito de me mandar calar? – Ao conseguir sustentar seu corpo, Augusto tenta ir para cima da médica, mas os funcionários do hospital lhe impedem.

Com a atitude de Augusto, Ester se afastou um pouco, entretanto não se deixou abalar.

— Você vive se fazendo de santo, no entanto sei que não vale nada – Falou com muita raiva e isso deixou Augusto pensativo.

— O que será que ela descobriu? – Pensou, já que aquele comportamento de Ester não era normal. Eles tinham suas diferenças, mas sabia muito bem que sua prima era calma e não agiria daquela forma sem um motivo.

— Vocês dois tem que se acalmar – Um dos médicos mais velhos do hospital apareceu para tentar amenizar aquela situação.

— Acho melhor mesmo – Diferente do que todos haviam imaginado, Augusto não deu corda para aquela discussão. Não que ele não quisesse, todavia aquela atitude de Ester estava muito suspeita. Precisava saber o quanto a sua prima estava sabendo ao seu respeito.

Acompanhado por sua secretária, Augusto foi para sua sala.

Ester ficou no corredor vendo o seu primo se afastar. Queria poder fazer aquele homem sofrer ainda mais, contudo precisava ter calma. Não podia pensar somente nela. Nessa história toda ainda tinha Helena que era a mulher que ela amava e que não podia mais sofrer.

***

Após chegar em sua sala, Augusto começou a ficar muito pensativo. Ester estava sabendo de algo, mas ele ainda não sabia o que era. Essa era a justificativa para a agressão que levara de sua prima.

— O senhor está bem? – Ivete, a secretaria, tentou se aproximar do médico para ajuda-lo, no entanto Augusto não queria ninguém perto dele.

— Por favor, não se aproxime – O médico estava irritado demais por não saber o que estava acontecendo.

Neste momento, a porta da sala se abriu. Era Aldo, um médico amigo de Augusto.

— Me disseram que sua prima lhe deu um soco – Aldo falou ao entrar na sala – Essa é a oportunidade que você estava esperando para tirá-la da diretoria.

— Não posso me aproveitar disso – Augusto disse tentando se lembrar de algo que Ester pudesse usar para incriminá-lo.

— O que aconteceu?

— Não sei, e isso está me irritando – Bateu a sua mesa com um de seus punhos e isso assustou as outras duas pessoas que estavam naquela sala – Ivete, a minha prima andou recebendo alguém diferente na sala dela?

Desde que Ester havia começado a trabalhar naquele hospital é que Ivete observava seus passos, essa era uma de suas funções ali, já que Augusto tinha receio de sua prima se meter em seus assuntos.

— Espere, vou pegar a minha agenda – A secretária saiu da sala e Aldo ficou sem entender o que estava acontecendo.

— Você acha que sua prima desconfia de algo? – O outro médico indagou.

— Eu não acho, tenho certeza, Aldo. Minha prima não agiria assim sem um motivo. Não gosto dela, mas sei muito bem que é uma mulher cautelosa em suas ações.

— Você pensa em fazer algo contra ela?

— Não, estaria me incriminando se eu fizer isso. Eu não sei o quanto ela sabe e quem sabe, além dela. Se ela descobriu algo, precisamos acabar com as provas— Augusto ficou pensativo. Sabia que não era uma boa ideia Ester ter assumido a diretoria – Eu odeio essa mulher. Você não sabe o quanto. Parece que ela quer me destruir – Ficou tão nervoso que algumas de suas veias ficaram até alteradas.

— Acalme-se! Ainda podemos acabar com todas as provas e deixar ela se passar por mentirosa.

A porta se abriu, era Ivete.

— Ela recebeu a visita de um tal de Ramon – A mulher comunicou e Augusto não achou aquele nome estranho.

— Não conheço nenhum Ramon – Aldo confessou.

— Mas eu sim. Se for quem estou pensando, é o contador conhecido de meus pais – Augusto começou a ficar preocupado, pois se fosse isso mesmo, sua prima podia acabar com sua reputação  e seus pais nunca mais voltariam a confiar nele – Precisamos fazer alguma coisa, Aldo – Olhou para Ivete e achou melhor dispensar aquela mulher.

Após a secretaria sair, Aldo perguntou:

— O quê está pretendendo?

— Eu ainda não sei... Só sei que precisamos acabar com tudo que nos incrimina – Pensou por alguns instantes — Precisamos dar um jeito de sumir com as contas do hospital—  falou e ficou tentando pensar em como sumir com as contas, já que não seria um trabalho nada fácil.

***

A campainha da casa de Ester começou a tocar e com um pouco de receio, a médica foi abrir a porta.

— O que deu em você para fazer isso com Augusto? – Marina estava toda alterada. Sabia que com isso, o primo de sua amiga podia tentar fazer algo para se vingar.

— Ele mereceu – Ester achou que aquele soco ainda tivesse sido pouco. Para ela, Augusto merecia bem mais.

— Você está perdendo o juízo, Ester – Marina ainda não sabia que Helena sofria nas mãos de Augusto.

— Senta aqui – As duas mulheres se sentaram no sofá— Minhas suspeitas estavam certas.

— Como assim? – Marina não estava entendendo o que estava acontecendo.

— Augusto maltrata a Helena, Marina, além de ser um homem preconceituoso e desonesto,  ele também faz mal a Helena.

— Agora entendo toda essa sua falta de controle – Marina segurou uma das mãos de sua amiga – Você nunca foi de agredir ninguém, nem quando te falam algo pra tentar te atingir. Por te conhecer, eu já podia ter desconfiado que estava acontecendo algo muito grave.

— Sim, Marina, e eu não estou sabendo como lidar com tudo isso. A minha vontade é tirar Helena daquela casa – Olhou em direção a janela com um olhar triste. Estava querendo muito estar ao lado de sua amada naquele momento– Augusto não merece e nunca mereceu a mulher que tem.

— Ester, se acalme. Se for isso tudo mesmo... – Neste momento, a médica interrompe a fala de sua amiga.

— Mas é isso mesmo, Marina, eu vi no olhar de Helena que é verdade e o pior disso tudo é que ela ainda não quer tomar uma atitude – Se irritou ao pensar que naquele momento, Augusto podia estar com sua amada.

— Vamos tentar entender a Helena – Marina disse calmamente – Se ela passou tanto tempo em silêncio é por algum motivo. Talvez medo. Não é fácil para ela passar por isso tudo. Se ela te falou é porque ela confia em você e quer sair dessa situação. Ela não falou isso tudo em vão.

— Mas eu falei a ela que podia vir com seus filhos morar comigo.

— Eu sei que você talvez tenha feito essa proposta, mas querendo ou não, Augusto é o marido dela. Ele juntos têm dois filhos, um ainda criança— Deu uma pausa para ver se Ester estava lhe entendendo – Augusto se finge muito bem de santo. Ele tem dinheiro, influência. Helena deve ter medo de fazer algo e no final o marido sair de vítima. Você sabe como é nossa sociedade, muitas vezes o homem sai de vítima.

— Isso me irrita, me descontrola – Ester confessou.

— Eu sei, mas não é de uma pessoa descontrolada que Helena está precisando. Ela precisa de uma pessoa que lhe passe segurança.

— Você está certa... Como sempre,  você me dando um direção, né, Marina? – Ester era muito grata pelos conselhos que Marina lhe dava, já que as vezes ela agia muito sem pensar.

— Também não exagere, Ester – Marina olhou para a outra mulher por alguns segundos. Percebeu que amava muito aquela mulher e que só queria o seu bem, no entanto, aquele amor não era como antes de chegar aquela cidade, era agora um amor de amiga – Só quero dizer algo antes de você tomar qualquer atitude.

— O quê?

— A Helena precisa de alguém que tenha paciência com ela e que lhe apoie, mas isso não quer dizer que você tem que deixar as coisas como estão. Augusto precisa pagar pelo que fez a ela, isso não pode deixar impune.

— Sim, eu sei disso. Vou dar um jeito de acabar com essa boa imagem dele – Ao falar isso, Ester começou a pensar em como juntar provas para incriminar Augusto.

Após, Ester falar sobre o que andava acontecendo com ela, foi a vez de Marina.

— Eu acho que estou começando a gostar de Marisa – Confessou um pouco envergonhada, pois era a primeira vez que se envolvia com alguém tão diferente dela.

— E isso é algo ruim? – Ester perguntou em meio a risos.

— Eu não sei, mas estou gostando de gostar dela. Ela é muito diferente de mim, mas está me fazendo me sentir muito bem quando estou ao seu lado – Deu uma pausa – Estou sendo correspondida também.

— Então quer dizer que não vai mais embora?

— Não, Ester, decidi ficar para ver até onde isso vai chegar. Já falei para o dono da construtora, ele ficou muito feliz com minha decisão – Neste momento, começou a pensar em Marisa. Ainda não havia dito a ela sobre sua decisão, mas sabia que Marisa iria gostar.

— Eu estou muito feliz por você ter encontrado alguém, Marina, já que não pude corresponder as suas expectativas.

— Não pense assim. É por que tinha que ser. Agora você está com quem você gosta e eu também estou. O que importa é isso, minha querida —  As duas mulheres se abraçaram, demonstrando que estavam muito felizes com a felicidade da outra.

Quando essa conversa se findou, Ester levou Marina até seu carro e nem percebeu que Augusto estava na janela de sua casa as observando na rua.

***

—Aquela sem-vergonha, já foi se consolar nos braços daquela outra – Augusto comentou com muita raiva e Helena que estava cuidando de seus machucados ficou sem entender – Olhe – Apontou para a janela do quarto.

Quando Helena viu Ester se despedindo de Marina, ela se sentiu muito mal e deixou a bolsa de gelo cair no chão.

— O que deu em você, Helena? – Augusto achou estranho aquele comportamento e percebeu que sua esposa sempre se comportava assim quando ele tocava no nome de sua prima – Parece que não pode me ouvir falar de Ester.

— Não é isso – Estava nervosa e tentando imaginar o que poderia ter acontecido naquela casa entre aquelas duas mulheres.

— Melhor eu tentar fazer isso sozinho. Já que nem para cuidar de meus ferimentos você serve – Augusto ficou impaciente e Helena nem ligou para isso, pois estava com muita vontade de ficar longe de seu marido.

Quando saiu do quarto, Helena começou a sentir um sentimento começando a tomar conta dela.

— Será que estou com ciúmes? – se perguntou e quando recebeu uma mensagem de Ester teve certeza que era isso mesmo.

Queria saber como Ester estava depois do ocorrido no hospital, no entanto, estava um pouco chateada por Marina ter visitado sua amada.

Confiava em Ester, mas a insegurança fazia Helena pensar em tantas besteiras. Uma delas é que seria bem mais fácil a médica ficar com alguém igual a Marina, pois sua vida era complicada demais.

Helena deixava tantas besteiras tomarem conta de seus pensamentos que até se esquecia que Ester lhe amava e que estava aguentando os olhares tortos no hospital só por causa dela.

— Melhor eu dar um tempo nisso tudo – Helena ignorou as mensagens que estava recebendo de Ester e depois foi para o quarto de sua filha. Estava decidida a nunca mais dormir com seu marido que por estar preocupado demais com os últimos acontecimentos, nem ligou para a ausência da esposa ao seu lado na cama.

Fim do capítulo