1 MÊS DEPOIS

POV Carina

_ Loira a Helô está nos engolindo com os olhos, você viu?

_ Claro que vi, sinto minhas costas arderem de tanto que ela nos olha.

_ Ela falou alguma coisa?

_ Não, só disse que precisamos conversar e definir as coisas. Quando ela me buscou no aeroporto tentou forçar a barra para que conversássemos, mas pretextei cansaço e fui pra casa com a Carol. De lá pra cá fico inventando desculpas, atrás de desculpas. Tá ficando cada dia mais difícil enrolar ela.  

_ Ótimo. A Maria também não para de nos olhar. Sinal que nosso plano está dando certo, kkkk... Gata preciso ir, tenho uma paciente marcada, mas antes, deixa eu aproveitar que estamos sozinhas e te pedir uma coisa, me leva na sua cartomante?

_ O que? Kkkk... A senhorita cética quer se consultar, kkkk.

_ Se ela fez você acreditar é porque ela é boa.

_ Vou agendar um horário para nós duas e te aviso.

_ Combinado. Levantei sob os olhares inquisidores da Heloísa e cia. Sem me deixar abalar, dei um selinho bem demorado na loira e fiz um carinho nos seus cabelos. Percebi o espanto da Helô, afinal nosso ritmo era pegação e nunca trocávamos carinho no hospital.

Ofereci a mão a ela, o que foi aceito e de mãos dadas passamos pelas duas perplexas. Assim que saímos da cantina começamos a rir e uma vez refeitas voltamos aos nossos afazeres.

POV Luna

Depois de uma cirurgia de aproximadamente 3 horas me joguei na cama de baixo do Sala dos médicos e coloquei o jaleco sobre meus olhos, tentando aplacar um pouco a claridade e conciliar o sono, ainda que por poucas horas.

Senti um peso sobre mim e reconheci na hora o perfume amadeirado que me tirava completamente de órbita. Ela selou os lábios nos meus e sem pedir nenhuma permissão enfiou a língua na minha boca. Era impossível não ficar molhada com aquela mulher. Um gemido abafado saiu dos meus lábios e mesmo com os olhos fechados pude perceber que ela estava sorrindo.

Ela saiu de cima de mim e eu a olhei em silêncio. _ Helô...

_ É só pra você lembrar que eu ainda existo na sua vida.

_ E quem disse que eu esqueço. Você é mãe da minha filha.

_ Eu sou mais que isso Luna e você sabe disso.

_ Aqui não é lugar para conversarmos sobre isso, mas pra ser sincera nem sei se temos o que conversar. É visível que estamos bem assim. Não acho legal mexermos em time que está ganhando. Não quero me entregar de novo e depois ser jogada fora. Não sei se eu suportaria passar por tudo de novo.

_ Como você mesma falou, aqui não é o lugar para conversarmos.

Ela voltou a me beijar como se não tivesse ouvido absolutamente nada do que falei. É claro que eu estava fazendo charme e que tudo o que eu mais queria era me acertar com a minha latina. Mas eu ainda sentia que ela tinha reservas em relação a nós e que estava sendo movida, única e exclusivamente pelo ciúmes. E não era isso que eu queria, não mesmo.     

Ela saiu da sala dos médicos assim que a Alex entrou e pegou ela deitada em cima de mim.

_ Tudo bem Lu?

_ Essa mulher vai me enlouquecer, me beija como se não houvesse amanhã, mas se mostra insegura em relação a nós.

_ Você já pensou na possibilidade de ter uma amizade colorida com ela? Pelo menos até vocês se fortalecerem e decidirem o que fazer.

_ Amizade colorida com a mulher que fui casada por anos e que é mãe da minha filha? Cê tá de brincadeira né?

_ Nossa não tá mais aqui quem falou. Porque você não vai novamente na Madame Berta, ela sempre te dá uma luz.

_ Eu vou fazer isso, até mesmo porque a Carina quer ir comigo.

Conversamos por mais alguns minutos e fomos bipadas. Um carro invadiu o ponto de ônibus e atropelou 6 pessoas.

Depois de horas trabalhando e um cansaço extremo fui pra casa. Mandei uma mensagem pra Carina dizendo que a Madame Berta nos atenderia no dia seguinte as 10h da manhã e que impreterivelmente as 9h eu passaria na casa dela para buscá-la. Cansada dormi.

Passei uma noite agitada e acordei antes do despertador tocar. Tomei meu banho tranquila e fiz meu dejejum com bastante calma, afinal estava com tempo de sobra. Peguei meu celular para ligar pra Carina e me perdi na foto de capa. A Helô estava linda com a Carol todo bronzeadinha. Automaticamente me reportei para a primeira vez que fomos ao Rio de Janeiro.     

Flashback on

_ Luna como isso aqui é lindo. Eu olhava pra ela completamente maravilhada. _ Obrigada pelo presente, sempre quis conhecer o Rio e você está realizando meu sonho.

Estávamos na sacada de um dos Hotéis que ficava na praia de Copacabana, já era quase noite e a praia estava linda. Toda iluminada, muita gente na rua, um clima quente e convidativo para um passeio.

Descemos e caminhamos no calçadão. Eu estava literalmente maravilhada com as coisas que via, tinham cangas, chapéus, pulseiras, além de umas esculturas lindas feitas na areia. Sentamos em um quiosque e pedimos uma água de cocô e uns petiscos para beliscar.

Passamos 7 dias na cidade maravilhosa, conhecemos várias praias, fomos ao Cristo, ao Pão de Açúcar, à Floresta da Tijuca, ao Maracanã e a louca da minha mulher realizou seu sonho mais maluco, pulou de asa-delta da Pedra da Gávea. Eu quase surtei, mas confesso que foi a experiência mais incrível que a Helô teve, pena que não tive coragem de acompanhá-la.

_ Mãe eu posso pular também?

_ Claro que não Carol, já não basta uma louca na minha vida, duas eu não aguento.

Ela ficou com um bico imenso que tivemos que aplacar com muito sorvete e muitos mergulhos. Nossa filhote estava totalmente bronzeada, mesmo passando protetor solar a cada duas horas.

_ Amor você sabia que essa marquinha de biquíni te deixou extremamente sexy?

_ Não me provoca Luna que não respondo por mim.

_ E quem disse que eu quero que responda, kkk...

Fizemos amor aquela noite de forma enlouquecedora. Nunca vi minha latina tão fogosa e tão safada. Acho que os ares cariocas deram a ela um apetite insaciável e eu estava adorando.

Quando estávamos nos despedindo da cidade maravilhosa e nos preparando para conhecer Bonito - MS, tiramos a foto que desde então não saiu mais do meu protetor de tela. Minha morena estava com um shortinho branco realçando sua cor e uma blusa tomara que caia amarelo bebe. A Carol jogada em cima dela com um vestidinho azul que realçava as marquinhas do biquíni e evidenciavam suas bochechas coradinhas. Como fundo tínhamos o Cristo Redentor de braços abertos abençoando nosso amor.

Flashback off

Voltei ao presente com a companhia tocando desesperadoramente. Abri a porta e dei de cara com ela, a mulher dos meus sonhos, dos meus desejos, dos meus delírios e dos meus tormentos.

_ Aconteceu alguma coisa com a Carol?

_ Não, ela está bem. Será que podemos conversar? Sei que você só pega no plantão a noite e eu estou de folga.

_ Poxa Helô eu estou de saída, na verdade já estou atrasada. Se você tivesse combinado comigo antes teria desmarcado, mas agora está muito em cima.

_ Que pena, eu realmente acho que precisamos conversar.

_ Eu também acho, mas agora não vai dar.

_ Tudo bem. Ela caminhou até mim e me deu um selinho. Passou a mão nos meus cabelos e sussurrou no meu ouvido que estava com saudades.

Nossa como eu queria jogar aquela mulher na minha cama e esquecer que o tempo existia, mas ainda não era o momento.

_ Posso saber com quem é seu compromisso?

Meu coração acelerou e fiquei com medo de responder, mas deveria seguir com o plano. _ Com a Carina.

Ela não disse mais nada, novamente me deu um selinho, virou as costas e saiu. Olhei no relógio e vi que, realmente estava começando a ficar atrasada. Peguei minha bolsa, as chaves do carro e corri para a casa da Carina.

_ Bom dia Doutoras a Madame Berta já está à espera de vocês. Respiramos fundo e entramos.

_ Bom dia Doutora, que bom que voltou. Ela sorriu e nos cumprimentou. Olhou para a Carina e ficou um tempo nos observando.

Pegou o baralho e pediu que tirássemos três cartas, assim o fizemos, ela olhou as cartas e insatisfeita pediu que tirássemos mais três. Novamente obedecemos.

_ Vocês tinham tudo para dar certo, são amigas, companheiras, confidentes e amantes, mas existem duas pessoas como entraves, por isso não conseguem se enxergar como casal.

_ Duas? Perguntei assustada e ela sorriu para nós.

_ Sim duas, a primeira é a morena por quem você vem lutando e a segunda é uma pessoa que apesar de próxima, ainda não foi percebida.  

_ Não entendi. Foi a vez da Carina falar e eu concordar com a cabeça.

_ O amor tem a virtude, não apenas de desnudar dois amantes um em face do outro, mas também cada um deles diante de si próprio. Porque não interessa quem tu amas, onde é que amas, porque é que amas ou como amas, o que interessa é que amas. Um grande amor está chegando para você menina e ele abalará suas estruturas.

Olhamos para ela assustadas e novamente ela pediu que tirássemos mais uma carta. _ Sua batalha está chegando ao fim Luna, apesar de ousada você se mostrou uma ótima jogadora, mais saiba que a verdade é imprescindível em qualquer relacionamento e a grande conversa se aproxima. Chegou o momento de deixar o passado de lado e abrir seu coração para o novo. Confie em seus instintos, eles te indicarão a hora certa de parar.  Quanto a você morena, olhe para o lado e preste atenção aos sinais que a vida te dá, seu amor está ao seu lado e você cega, foi incapaz de enxergar. Mas fique tranquila, o que está traçado dificilmente será mudado. Sua alma gêmea se apresentará através de um tapa. Um tapa doído, com raiva mas que se for trabalhado, se converterá em amor rapidamente. Então confie e trabalhe.

Saímos de lá abobalhadas, na verdade eu estava bolada mesmo, não com o que a cartomante disse, mas com a facilidade apresentada a Carina.

_ Lu você tem noção que eu vou surtar, como assim meu amor está ao meu lado? Que história de tapa foi essa que não entendi? Não sei se estou confusa ou com medo.

_ Não reclama não, que pra você veio tudo mastigado. É só sossegar a bunda e esperar pelo tapa. Eu tive que me virar em mil para decifrar as coisas que ela me dizia e até hoje não sei se acertei. Escolhi um caminho e fui, graças a Deus parece que está dando certo.   

   Fomos para minha casa, cada uma imersa em seus próprios pensamentos. A noite fui trabalhar e graças a Deus o plantão foi extremamente calmo. Pena que essa calmaria durou pouco.

A Helô entrou numa disputa velada com a Carina e mal podia me ver que me agarrava e quase me engolia. É claro que eu estava gostando, não só das agarradas, como também do burburinho. Sem querer virei a sensação do hospital, sendo “disputada” por duas mulheres.

Os rapazes me olhavam sem entender o que eu tinha para conseguir essa proeza e a Carina interpretava direitinho seu papel de mulher apaixonada. Me mandava flores no meio do expediente, levava café pra mim após grandes cirurgias e me mimava de todas as maneiras possíveis. A Helô por sua vez estava trabalhada na maldade, usava seu poder de sedução sem o menor pudor, me fazendo babar e quase comê-la a cada esbarrão nos corredores do hospital.

Vira e mexe ela vinha com a ideia de conversarmos e eu sempre dava um jeito de me esquivar. No fundo eu estava gostando de vê-la brigando por mim e nessa brincadeira já estávamos há quase 2 meses. Helô e Carina se digladiando veladamente e eu no meio, me sentindo um troféu.   

_ Lu eu juro que estou gostando da ideia de termos uma amizade colorida, mas não consigo mais lidar com o fato de não sermos exclusivas. Eu quase piro em pensar nas coisas que você faz com a Carina.

Olhei para ela com pena, a coitada não fazia ideia que eu e a Carina não éramos mais nada que boas amigas. Desde que voltamos da viagem que nos afastamos no sentido sexual. A única coisa que trocávamos eram selinhos, mas sem nenhuma maldade. Meu coração e meu corpo eram exclusivos da morena e ela ainda não tinha se dado conta.

_ Helô na sexta-feira que vem estaremos de folga. Vou pedir para que a Maria fique com a Carol e jantamos juntas, o que acha?

_ Teremos enfim nossa conversa?

_ Sim.

_ Mas estaremos de folga amanhã, porque esperar até a próxima folga?

_ Amanhã eu marquei de ir pra casa da Alex. Preciso conversar com minha amiga, colocar minha cabeça no lugar, ouvir uns conselhos, pra só então conversar com você. Sugiro que faça o mesmo, reflita bem em tudo que quer. Essa nossa conversa vai ser decisiva e você precisa estar segura sobre suas ideias, seus sentimentos e, principalmente suas vontades.

Dei um beijo nela e voltei para a emergência, meu plantão estava apenas começando, mas minha cabeça já estava a mil. Mandei uma mensagem pra Alex me convidando para ir à casa dela no dia seguinte, afinal eu realmente precisa conversar. Em poucos minutos veio a resposta positiva. Desliguei meu telefone, mas antes dei aquela conferida na foto do meu papel de parede e um sorriso bobo escapou dos meus lábios. Ah morena, se você conseguisse mensurar o que sinto por você, jamais se sentiria insegura e teria a certeza que nunca precisaria me disputar com ninguém, porque eu sou toda sua, desde aquele beijo roubado no pub.

Fim do capítulo