POV Heloísa

Minha cabeça doía e a minha boca estava tão amarga que a sensação que tinha era que tinha engolido uma meia suja. Levantei à muito custo e peguei duas aspirinas e um copo de café bem quente.

_ Acordou a bela adormecida? Se demorasse mais meia hora ia te levar pro hospital.

_ Não exagera Bianca. Me fala, como terminou a noite?

_ Quase todos bêbados, pra variar.

_ E a Lu?

_ Era a única sóbria e saiu acompanhada da Ruiva.

_ PUTA QUE PARIU!

_ Você saiu daquele banheiro e começou a encher a cara, a ruiva rapidamente começou a cercar a Luna. Não vi se elas voltaram a ficar, até porque não fui paga pra ser babá de ninguém, mas vi quando entraram no mesmo taxi. Você já sabe a minha opinião, vai lá e agarra sua mulher antes que alguém faça. Ou então parte pra outra e deixa a loira se divertir.

Terminei de tomar meu café, chamei um taxi e fui pra casa. Precisava descansar e colocar minha cabeça no lugar. Acabei adormecendo e acordei horas depois com o despertador indicando que já estava na hora de trabalhar. Me arrumei, peguei minha bolsa e em menos de 15 minutos estava no hospital.

Dei graças a Deus que não cruzei com a Luna. Fiquei boa parte do tempo imersa em um procedimento e a hora que consegui me desvencilhar fiquei sabendo que ela estava em cirurgia. Passei na cantina, pedi um brownie e sentei um pouco para relaxar as pernas.

_ Que tanto você resmunga aí Caio?  

_ Vou ter que segurar as pontas na pediatria sozinho por 5 dias. Se eu e a Luna já ficamos loucos em determinados plantões, imagina ficar sem ela.

_ Não entendi!

_ Ela foi convidada para palestrar num congresso no Canadá. Congresso não, Simpósio Internacional de Assistência ao Parto.

_ Engraçado, ela não me falou nada.

_ Com certeza vai falar, até mesmo por causa da Carol.

Estava me preparando pra voltar pra emergência quando vi a Carina e a Luna entrarem na cantina. Vi que elas vinham em minha direção e, por mais que eu não quisesse, voltei a sentar. Não queria passar recibo acerca do incomodo que elas me provocavam.

_ Helô quem bom te encontrar aqui. Ela sorriu e sentou ao meu lado. A Carina me cumprimentou formalmente, comprou um café e antes de sair apresada deu um cheiro e beijo no pescoço da Lu. Bufei baixinho, tentando esconder meu incomodo, enquanto ela fingia não perceber. _ Preciso falar com você. Fui convidada para palestrar num simpósio no Canadá e vou precisar me ausentar por pelo menos 5 dias. Você poderia ficar com a Carol essa semana e depois voltamos a revessar?

_ Claro Lu, o Caio comentou sobre o simpósio. Fico muito feliz por você está alcançando notoriedade nessa especialização. Ela sorriu de uma forma tão encantadora que fez meu coração perder o compasso.

_ Combinado então Helô, assim que eu souber a data da viagem te aviso. Agora deixa eu correr porque tenho que dar assistência a um parto bem complexo. A Carina já deve estar me esperando.

Mais uma vez bufei, demonstrando minha frustação e antes que pudesse verbalizar qualquer pensamento a loira já tinha sumido do meu campo de visão. Terminei meu lanche e fui conferir o quadro de cirurgias, me certificando do tempo que teria até a próxima. Vi que teria pelo menos 3 horas pra descansar e me animei. Meus pés estavam doendo e eu precisava muito relaxar.

Me dirigi a sala dos médicos e me joguei na cama de cima. Por mais cansada que tivesse não conseguia dormir. Meus pensamentos estavam fixos na loira mais charmosa daquele hospital. Meus sentimentos se misturavam na minha cabeça e me dificultavam raciocinar. _ Porr*, essas duas tinham que ter especializações que se complementam? Mais chances de estarem juntas, mais assuntos em comum, que merd*!

Fui tirada dos meus devaneios, quando vi a porta se abrir, indicando que alguém entraria. Percebi que era a Carina, mas ela não entrou. Ficou apoiando na porta enquanto discutia com o Enzo. Automaticamente voltei minha atenção a conversa dos dois quando ouvi o nome da minha loira ser mencionado.  

POV Carina

_ Lu vou deitar um pouco. Você vem comigo?

_ Não posso, preciso ver um paciente antes de entrarmos em cirurgia. Só preciso de um café antes.

_ Somos duas, kkk...

Passamos na cantina, peguei meu café, dei um beijo na Luna e fui para a sala dos médicos. Apesar de estar bem cansada, não poderia dormir, pois em menos de 1h teria mais um parto para fazer. Estava quase entrando na sala quando o impertinente do meu irmão resolveu me atazanar.

_ Pelo jeito a loira te pegou de jeito. Vivem juntas, se não as conhecesse diria que são um casalzinho apaixonado, kkkk.

_ Deixa de ser besta Enzo, senão te dou uns sopapos, mesmo estando no trabalho.

_ Quanta violência. Pelo jeito acertei em cheio, ou melhor, a Luna acertou, kkk

_ Entra aqui que eu vou te ensinar a respeitar sua irmã mais velha, que petulância se meter na minha vida amorosa.

_ Você acha que me engana Carina?

_ E quem disse que quero te enganar. A Lu é realmente muito linda, tem um bom papo e é muito, muito gostosa.

_ Gente eu achei que não fosse viver para ver Carina Di Blasio arriada por alguém. 

_ Não estou arriada, até mesmo porque aquela safada só quer saber do meu corpinho, kkkk.

_ Tô pasmo, a pegadora da Toscana, foi fisgada por uma simples pediatra de Porto Alegre. A loira deve ser realmente boa, kkk

_ Ela é, pode ter certeza.

_ Então...???

_ Então, o quê? Estamos bem assim, somos amigas, confiamos uma na outra e nos curtimos quando estamos afim. Quer melhor que isso?

_ É impressão minha ou você está com medo de ter uma coisa mais séria com a Luna? Tem medo dela recusar?

_ Medo? Até parece que não me conhece irmãozinho. Na hora que eu decidir que quero aquela loira só pra mim, pode ter certeza que ela será minha.

_ Nossa quanta confiança! Deixa só eu te situar nesse universo, pra depois não dizer que não fiz meu papel de irmão. A Luna só está te dando condição porque a Heloísa ainda não estalou o dedo.

_ Oi????

_ Não se faça de desentendida que você sabe exatamente do que eu tô falando, a Lu é parada na Heloísa e a hora que ela estalar o dedo, acabou a brincadeira pra você irmãzinha.

_ Escuta você o que vou falar Enzo, a Heloísa nunca teve uma oponente a altura, e eu repito, se eu quiser a loira, não vai ter Heloísa que me segure. Agora deixar eu descansar que daqui a pouco eu tenho mais um parto pra fazer.

Terminei de abrir a porta do sala dos médicos já visualizando a cama e pensando no pouco tempo que teria pra descansar, antes de voltar para o centro cirúrgico, mas minha semi alegria esvaiu-se ao dar de cara com a Heloísa em pé de braços cruzados me olhando como se quisesse me esganar.  

POV Heloísa

Não era possível que aquela magricela, sem sal, estava se julgando uma oponente capaz de fazer frente a mim. Definitivamente ela não me conhece. Fiquei estarrecida ao ver a petulância dela em dizer que ficaria com a minha loira a hora que quisesse. Afinal, quem ela pensa que é? Mais um divertimento na cama da Luna? Mais um passatempo enquanto não tomamos coragem para assumirmos que ainda nos amamos? Mas ela ia me ouvir.

_ Então quer dizer que ainda não encontrei uma oponente a altura? E você se julga essa oponente?

_ Heloísa eu não sei o quanto ouviu, mas sinceramente não tenho que te dar satisfações. A Luna é divorciada e livre pra fazer o que quiser.

_ Mas eu não estou questionando as atitudes da Luna, apenas perguntei se você se julga uma oponente a minha altura.

_ Eu não me julgo, eu sou. Eu e Luna temos uma amizade com benefícios e por enquanto isso nos basta, mas a hora que eu quiser tê-la com exclusividade, não vai ser você que irá me deter. Ela é uma mulher incrível, sensível, companheira e não seria sacrifício nenhum namorar, casar e viver com ela. Você sabe melhor que eu, afinal foram casadas por alguns anos.

_ Não se atreva a falar do meu casamento.

_ Não se preocupe meu bem, não vivo de passado e no presente a Luna é muito mais minha do que sua. Agora, sabe o que é engraçado, quando te vi no aniversário da Carol, automaticamente me veio à mente tudo que ouvi a seu respeito como sendo uma mulher forte, decidida... Percebi seu espanto ao nos ver juntas e vi nos seus olhos o quanto você ainda era parada na dela. Pensei que você fosse lutar por ela e já estava me preparando para sair de cena, mas o que vejo na minha frente é uma mulher fraca, amedrontada, covarde, que prefere perder o amor da vida à engolir o orgulho e admitir que errou. A verdade é que você não merece a Luna.  

_ Você é muito atrevida garota. Agora escuta bem o que vou te dizer, a Luna é minha mulher, por mais que estejamos separadas e você precisa comer muito feijão com arroz para conseguir fazer frente a mim.

_ Isso é o que veremos Dra. Heloísa. Agora virou questão de honra, a Luna será minha e eu vou dar a ela o que você nunca foi capaz de dar, um relacionamento leve, tranquilo e sem cobranças. Prepare-se, pois o único elo que você terá com ela será a Carol.  

Cada músculo do meu corpo tremia e a vontade que eu tinha era de enfiar a mão na cara daquela magricela, mas não podia fazer. Saí daquele quarto bufando e nem percebi quando esbarrei na loira que estava conferindo uns prontuários.

_ Tá tudo bem Helô? Você está com uma cara.

_ Tô sim Lu, só me estressei um pouco, mas nada que valha a pena comentar.

_ Já marquei minha passagem. Viajo em uma semana.

_ Lu a gente precisa conversar. Estamos nos atropelando e isso não é justo com a gente, com a nossa história. Merecemos uma conversa franca.

_ Também acho, mas eu prefiro que essa conversa aconteça na volta. Preciso estar com minha cabeça voltada para esse simpósio e dependendo de como esse conversa termine...

_ Tudo bem, conversamos na volta. Mas fala, em que hotel vai ficar? Sabe que a Carol vai querer te ligar todo dia.

_ Acho que é Hotel Dijon, se não me engano.

_ Esqueceu o nome do hotel que vai ficar? Idade ou cansaço? Falei sorrindo. Minha loirinha tinha uma memória magnífica, lembrava de fatos e conversas que tivemos que nem eu puxando muito na memória seria capaz de lembrar.

Depois de uma gargalhada sonora ela me explicou. _ Foi a Carina quem fez nossas reservas, ela até me disse, mas estávamos no meio de uma cirurgia complicada que acabei não me atendo ao nome.

_ Vocês vão juntas? Meu coração disparou, minha respiração ficou irregular e minha boca ficou completamente seca. Tentei manter a pose, mas queria correr, não, na verdade queria proibir ela de viajar com aquela mulher. Ainda mais agora, depois da nossa pequena discussão.

_ Sim, ela também palestrará no simpósio. Esqueceu que nossas áreas são afetas?

Fingi uma ligação e saí correndo. Elas vão juntas, PUTA QUE PARIU elas vão juntas, eu gritava em pensamento. Preciso fazer alguma coisa, não posso deixar aquela magricela levar minha loira. Ela é minha e as meninas têm razão, a vida está me dando mais uma chance de ser feliz e eu estou desperdiçando por medo, medo de tentar, medo dela não me querer, medo dela ter desistido de mim, medo de terminarmos de novo, medo de sofrer, medo, medo... Mas está na hora de vencer esse medo! Quero ver Dra. Carina Di Blasio se você é uma boa oponente. Se prepara que você vai conhecer Heloísa Hernández.

Fim do capítulo