Capítulo 14
— Como você pode não gostar de sushi quando frequenta com tanto afinco um restaurante Japonês? — Mia perguntou enquanto segurava o par de hashis com habilidade e calmamente molhava o sushi no molho. Levou-o a boca enquanto ouvia a breve risada de Helena, os olhos azuis focando-se na mulher a sua frente enquanto mastigava.
— Você soou ridiculamente idêntica a Aly agora. — a Mexicana respondeu enquanto sorria de fora larga, mas logo deu de ombros enquanto encaixava ambos os hashis entre os dedos para logo em seguida pegar uma guioza dentro as outras colocadas lado a lado no longo prato de porcelana negra. — O que é um sushi perto de uma Guioza? — indagou. As sobrancelhas se arquearam segundos antes da mulher dar uma boa mordida na guioza e em seguida virá-la para Mia para que ela visse o recheio de camarão.
A mesa estava tomada por um belo de um banquete com a diversidade de coisas que haviam pedido, havia os sushis e sashimis que Mia havia feito questão de pedir, assim como as preciosas Guiozas que Helena tanto amava, um prato com alguns Tempuras, duas tigelas pequenas de Gyudon e uma mediana de Sukiyaki. E sim, Helena sabia que era muita comida para duas pessoas, mas ela nunca conseguia vir aquele lugar e comer apenas um prato.
— Eu também sou apaixonada por Ramen, mas hoje não é um dia que combine com ele, está quente, gosto de comer Ramen quando faz frio.
— Apaixonada por Ramen? — arqueou uma sobrancelha enquanto se ajeitava um pouco onde estava sentada e deixando as pernas em uma posição mais confortável. — É muito bom saber disso. — completou enquanto pegava, desta vez, um sashimi e molhava no molho shoyo antes de levar a boca.
— Não vá me dizer que você sabe fazer Ramen...
Mia sorriu de forma larga e completamente convencida quando ouviu aquelas palavras.
— Eu viajei para o Japão, fiquei lá por quinze dias com o Hernando quando eu estava terminando a faculdade. A arquitetura daquele lugar é sensacional e o minimalismo das coisas é incrível, então foi um prato cheio de conhecimento pra mim e para o Hernando, mas eu também aproveitei para conhecer um pouco mais da culinária. — deu de ombros enquanto esticava um mais o braço para pegar uma das guiozas. — Então eu aprendi e muito bem a fazer sushi, ramen, guioza... — olhou para Helena por breves segundos após citar a comida que ela parecia tanto gostar, deu uma mordida na mesma e olhou brevemente para o recheio antes de molhar o pedaço que sobrou no shoyo.
— Você quer casar comigo? — Helena perguntou de forma séria enquanto apoiava o braço esquerdo na mesa e apoiava a cabeça na mão.
— Quer casar comigo para me fazer a sua escrava culinária?
— Talvez escrava sexual também.
Mia semicerrou os olhos assim que ouviu aquelas palavras, uma parte sendo pega completamente desprevenida, afinal, podia ver na cara de Helena que aquilo não era ao todo uma brincadeira, por mais que não conhecesse a Artista completamente, ela já podia dizer algumas coisas que Helena era capaz ou não de fazer.
— Você não acha que precisa de um pouco de vergonha na cara?
Helena deu uma boa risada, a ponto de jogar um pouco a cabeça para trás.
— Você acredita que eu estava pensando nisso? — indagou enquanto se ajeitava um pouco e voltava a sua atenção para a comida, pegou um dos Tempuras com o hashi antes de voltar a falar. — Temi por um momento que pudesse te aterrorizar com a minha falta de vergonha na cara e com o fato de eu ser sempre absurdamente direta. Eu fui enrolada por anos e nunca falava o que eu realmente pensava. — foi explicando, mas fez uma breve pausa para dar uma mordida nos vegetais fritos, limpou os lábios com a língua para só então voltar a falar. — Então hoje em dia eu realmente não gosto de guardar o que penso ou o que eu quero. Mas voltando... Enquanto pensava que eu podia te assustar, eu pensei: “Ela conhece o meio pior segredo, se ela não correu daquela vez, não vai correr com isso.” — arqueou ambas as sobrancelhas enquanto um sorriso surgia nos lábios e os olhos voltavam a fitar Mia de forma completamente tranquila, isso automaticamente a fez sorrir de volta.
— É, posso me arrepender por admitir, mas eu gosto da forma direta com que você trata as coisas. Mesmo que às vezes pareça que você pensa muito em me comer.
— Apesar de você ter feito com que eu parecesse um macho escroto agora, eu não penso tanto assim em te comer. Meus pensamentos são apenas consequências de ontem à noite.
Mia umedeceu os lábios rapidamente após senti-los repentinamente secos e respirou um pouco fundo, não aguentou o olhar de Helena e precisou desviar, tentou focar em qualquer outra coisa além da intensidade que Helena emanava pelo olhar. Sentiu a curiosidade borbulhar em seu interior quando ouviu a risadinha de Helena e pode jurar que ela havia percebido algo que não deveria, que no caso, era o fato de como a noite anterior mexia com Mia.
— Desculpe por não ter perguntado antes, mas como foi à reunião? — Helena mudou de assunto imediatamente, além de ser extremamente perceptiva, Mia era transparente demais, não queria deixá-la desconfortável, sabia que a mulher estava lidando com diversas questões pessoais desde a noite anterior, pela breve conversa que tiveram dentro daquele carro, então, por mais que fosse uma pessoa extremamente espontânea, respeitava os limites que Mia tinha e jamais a forçaria a continuar uma conversa em que ela pudesse estar desconfortável.
*
Um almoço que normalmente duraria pouquíssimas horas se estendeu por quase a tarde inteira em meio a conversas que serviram unicamente para que Helena e Mia se conhecessem melhor, as duas sequer viram o tempo passar, mas ambas tinham a sensação e a vontade de que aquela tarde não acabasse em momento algum. A conta fora dividida igualmente sem quaisquer discussões apesar de Helena inicialmente ter tentado arcar com todas as despesas, bastou Mia dizer que não gostava para que Helena simplesmente aceitasse, afinal, teria feito o mesmo caso Mia tentasse pagar sozinha.
— Você vai continuar me enrolando para não dizer qual foi o maior “pt” que você deu? — Helena tinha um sorriso divertido nos lábios enquanto saia devagar do restaurante ao lado de Mia.
— É claro que eu não vou te dizer algo tão vergonhoso, Helena. — Mia rebateu enquanto procurava a chave de seu carro ao mesmo tempo em que andava, não havia voltado a vestir o terninho, o mesmo estava dobrado e sobre o seu antebraço. Aquele assunto havia sido levantado quando Mia, com uma clara tristeza, teve que recusar o saquê que lhes foi oferecido como cortesia da casa, afinal, ela estava dirigindo.
— Você praticamente sabe tudo da minha vida, até o meu maior segredo e você não quer me contar algo só por que é vergonhoso? — fez drama. Acabou dando uma breve risada e ajeitou sobre o ombro a alça da bolsa de lado que carregava seu caderno de desenhos e mais alguns utensílios, a mulher vestia um belo vestido longo branco, mas estampado com diversas flores minúsculas, tinha alcinhas finas e era levemente decotado, à medida que Helena caminhava a bela coxa ficava sempre a mostra devido à fenda cavada que tinha no lado direito do vestido.
Mia olhou para Helena por alguns segundos enquanto andava, felizmente já havia achado a chave do carro, quando havia chegado ao restaurante não viu ou sequer prestou atenção no que Helena vestia. Grande erro. Ficou como uma boba admirando aquela bela mulher quando ela ergueu-se do chão com aquele vestido. Ela estava linda, aos olhos de Mia ela esbanjava pura liberdade, espontaneidade e ao mesmo tempo a sensualidade nata que aquela mulher sempre parecia ter.
A Designer riu por novamente se ver admirando a mulher ao seu lado e balançou a cabeça de forma negativa enquanto se chamava de idiota em sua mente, calmamente saiu da calçada enquanto destravava o carro vermelho e ia direto para a porta do motorista.
— Eu não vou deixar você evitar essa pergunta, só pra deixar claro! — Helena reclamou enquanto abria a porta do passageiro, as duas entraram no carro quase ao mesmo tempo, enquanto Mia se esticava um pouco para colocar suas coisas no banco de trás, Helena se ajeitava colocando sua bolsa no chão mesmo do carro – ao ver que estava bem limpo – logo após ter fechado a porta, cruzou as pernas devagar de maneira confortável enquanto já começava a puxar o cinto. — Doces lembranças... — comentou ao olhar um pouco para dentro do carro e principalmente para o banco do motorista, o sorriso sem vergonha deixava claro sobre o que estava falando.
— Não comece Helena. Não comece. — bronqueou e umedeceu os lábios devagar só com a lembrança dos lábios de Helena contra os seus, evitou com todas as forças o olhar de Helena naquele momento, a lembrança da noite passada do que aconteceu dentro daquele carro estava completamente vivida em sua mente e em cada parte de seu corpo onde os lábios e as mãos de Helena haviam tocado.
— Você é tão chata... — deu uma boa ênfase no “tão”, tinha uma expressão e falou de um jeito como se estivesse sentindo desprezo devido aquele fato, mas não era nada além de implicância com a mulher ao seu lado.
Mia a olhou de maneira completamente ofendida e deu de cara com aquele sorriso largo que a desarmaria em absolutamente qualquer situação, isso a fez rolar os olhos imediatamente enquanto dava partida no carro para logo em seguida puxar o cinto de segurança. Aquele sorriso era o sinal mais claro de que Helena estava claramente implicando com ela e nada além disso, conheciam-se há muito pouco tempo, mas Mia facilmente sentia que era a muito mais tempo do que se podia imaginar, Helena era uma pessoa fácil de socializar, de conhecer e de se abrir.
— Lembra que ontem te falei que uma vez que o Hernando me levou a um festival de cerveja? — mudou de assunto enquanto atentamente olhava pelos retrovisores do carro à medida que ia dando ré, não esperou a resposta de Helena, logo continuou: — Então, foi nesse dia o maior PT que eu já tive em toda a minha vida. — começou a explicar enquanto engatava a outra marcha e após olhar no retrovisor para ver se a rua estava livre, saiu da vaga onde estava. Sentiu-se em dúvida por breves momentos quando Helena lhe fizera a pergunta de qual foi a sua maior bebedeira, lembrou-se do dia em que bebeu e transou com Charlie pensando nela. Acabou corando com aquela lembrança.
— E o que aconteceu?
— Bom, você sabe. — pigarreou por um breve momento. — Cerveja te da muita vontade de ir ao banheiro. — mal terminou de falar e já ouvia a gargalhada de Helena que provavelmente já havia entendido o que tinha acontecido. Mia acabou sorrindo de forma larga contendo a vontade de rir de si mesma. — Eu havia esquecido onde eu estava... Na verdade eu me esqueci de muita coisa por que eu realmente não me lembro de tudo o que aconteceu naquele dia, foi a primeira e única vez que eu me esqueci do que eu fiz quando bêbada. — franziu um pouco o cenho, segurava o volante do carro com uma mão e a outra gesticulava à medida que ia falando. — Eu também não me lembro de ter vomitado quase o carro inteiro do Drew e de chorar enquanto estava com a cabeça para fora da janela do carro ou de fazer xixi em mim mesma em algum momento de todo esse desastre.
E mais risada da parte de Helena e dessa vez Mia não resistiu, teve que rir junto. Teve que olhar para a mulher ao seu lado por breves segundos e mais um vislumbre de como Helena era maravilhosa.
— Agora eu entendo de verdade por que você não queria me contar.
— Ah tá, agora ela vem ser solidária e entender por que eu não queria contar. Agora. — reclamou de forma irônica. E mais risadas de Helena.
— No dia seguinte você deve ter acordado um lixo não?
— Mais ou menos. Felizmente o Hernando sempre cuida bem de mim, assim como eu cuido dele quando ele passa dos limites. Ele me da banho, me bota uma roupa limpa, cuida até do meu cabelo, me da remédio para o estômago, felizmente tenho até um balde exclusivo para mim na casa dele.
— Ew. — fez uma expressão de nojo.
— Sim, seria engraçado se não fosse algo horrível.
— Acho linda a sua relação com o Hernando. — Helena falou um pouco mais sério desta vez, tinha um sorriso terno nos lábios e não parava de olhar para Mia, estava adorando ver à morena dirigindo tão concentrada.
— Sim, eu também, é a melhor amizade que eu tive em toda a minha vida. Ele me apoia em tudo, mas nunca passa a mão na minha cabeça, se estou errada ele fala. Ele cuida de mim como ninguém, lava meu cabelo quando eu peço por que eu amo a massagem que ele fica fazendo, ele é muito carinhoso e ele sempre abre meus olhos para coisas novas, para mundos novos.
— Eu definitivamente sinto o mesmo com a Aly. — sorriu de forma satisfeita enquanto se ajeitava um pouco para ficar mais confortável, em seguida sorriu fraco enquanto continuava a encarar Mia. — Você fica extremamente sexy enquanto dirige.
Minha deu uma pequena risada e olhou mais uma vez para Helena por um breve momento.
— É por isso que não para de me olhar?
— Também.
— Quais seriam os outros motivos?
— Você parece uma obra de arte.
— Isso é algum tipo de cantada de Artista, Helena? — Mia encarou a mulher ao seu lado de forma bem mais demorada desta vez aproveitando o fato de ter parado no sinal vermelho, os olhos se encontraram de forma intensa e Mia desviou o olhar por um breve momento para os lábios carnudos bem desenhados em um sorrisinho irresistível.
— Não, eu estou falando sério. A cor da sua pele tem um contraste perfeito com o tom escuro dos seus cabelos e seus olhos, que além de ser maravilhosos, trás suavidade. Suas sardas são como um elemento que da mais profundidade a obra, é sinal de que não é perfeita, mas é cheia de significados e intensidade.
Naquele momento Mia pareceu ter sido atropelada por aquelas palavras e estava claramente bem surpresa, continuava presa ao olhar de Helena e aos poucos foi sentindo o rosto esquentar, sabia que estava corando, havia sido desarmada, era impossível continuar mantendo qualquer pose após aquilo, seu corpo se sobressaltou no momento em que ouviu buzinas repetidas atrás de si, olhou rapidamente para frente vendo que o carro o qual havia parado atrás, já estava bem longe, o sinal havia aberto e ela não tinha percebido. Pigarreou enquanto já voltava a acelerar de uma vez para sair logo dali e acabar com qualquer estresse dos motoristas que vinham atrás.
— Ok... Não era uma simples cantada de Artista. — Mia brincou para aliviar o rubor que sentia.
Helena riu por breves segundos ao perceber a clara vergonha de Mia, mas nada falou sobre, havia sido completamente sincera e pelo jeito Amélia não esperava por isso. Ajeitou-se no banco do passageiro e olhou para rua para logo em seguida franzir o cenho ao reconhecer o caminho.
— Está me levando pra casa?
— Eu não deveria...?
— Claro que não, vamos para a minha galeria. Entre na próxima a esquerda!
— O que? Por quê? — Mia a olhou brevemente enquanto já sinalizava com a seta para entrar à esquerda como foi indicado por Helena.
— O que? Você mesma disse que não viu minhas obras naquele dia. — a morena falou como se isso fosse à coisa mais óbvia do mundo. — Vou fazer uma exposição completamente exclusiva pra você. A não ser é claro que você tenha algo para fazer.
Mia abriu um sorriso largo e riu logo em seguida antes de balançar a cabeça de forma negativa, lembrava-se de Helena ter comentado algo sobre isso enquanto almoçavam, mas não imaginava que ela levaria mesmo a sério.
— Mesmo se tivesse eu não perderia uma exposição exclusiva de uma Artista tão famosa.
— Boa menina.
***
— Vamos... Seja bem vinda. — Helena brincou ao fazer até uma breve reverência para Mia pedindo para que ela entrasse na galeria. Mia não deixou de rir ao passar pela morena e olhar em volta, estava exatamente do jeito que lembrava, com exceção de, ao que pareciam, quadros empacotados no canto da recepção.
Helena esperou que Mia entrasse para voltar a trancar a porta da galeria e caminhou devagar até a caixa de interruptores e pacientemente foi ligando um a um, dando vida a galeria em uma fração de segundos, a morena olhou em volta brevemente para ver se havia ligado todas as luzes e quando teve a certeza que sim, se afastou e sorriu de forma larga e satisfeita.
— Sabe... Eu não havia parado para pensar bem naquele dia. — Mia olhou brevemente para Helena indicando com um simples olhar que falava sobre o dia da exposição. — Mas agora faz muito sentido os olhares que você me lançava durante a sua entrevista.
Helena deu uma risadinha satisfeita enquanto ia dando passos lentos, acompanhando Amélia que parecia não ter pressa alguma para se aventurar pelas obras de Helena.
— Fiquei muito satisfeita quando eu te vi. Muito. — deu de ombros e respirou um pouco fundo enquanto olhava para os quadros. — Infelizmente temos apenas acho que por volta de cinquenta por cento das obras expostas ainda, em relação as que estavam naquele dia.
Mia deu uma breve risada enquanto caminhavam devagar pela galeria, os olhos percorrendo as obras ainda expostas, mordeu o lábio inferior com um pouco de força parando então em frente a uma das obras que não havia visto da última vez. Olhou bem, o preto e o vermelho predominando como na maioria dos quadros e uma figura minúscula encolhida no canto da cena retratada e nada mais, Mia sorriu fraco, entendeu o que retratava.
— É fácil entender seus quadros quando se sabe de toda a sua história.
Helena acenou de forma positiva com a cabeça enquanto parava logo atrás de Mia, mas seus olhos não estavam no quadro e sim na morena, a Artista sorriu fraco, satisfeita com aquele momento e principalmente, completamente confortável.
— Lembro-me de quando estávamos vindo pra cá, o Hernando falou que ouviu falar que ver suas obras era como um passeio por cada parte de sua vida. — Mia comentou, sentia a presença de Helena e por isso mesmo desviou os olhos do quadro para se virar em direção à mulher, a encarou com um sorriso no canto dos lábios. — O nome da galeria é por isso não é?
Helena deu apenas um passo à frente para que ambas ficassem extremamente próximas, sorriu enquanto os olhos desviavam dos olhos de Mia, para os lábios por breves segundos antes de voltar a encarar aquela imensidão azul que começava a gostar cada vez mais.
— Exato. El Arte de Una vida. — Helena falou em tom baixo e Mia teve absoluta certeza que aquele nome ficou ainda mais bonito com Helena falando com aquele sotaque mexicano. — Arte sobre uma vida que nenhuma mulher deveria viver.
Mia escapou de Helena e sorriu fraco com isso enquanto caminhava em direção a outro quadro, mas desta vez não fugia dela por medo como fizera na noite anterior na casa dela, fugia dela apenas na intenção de provocar. Helena apenas deu uma breve risada com a fuga de Mia com a sua investida, mas não se importou.
— Como surgem as suas ideias? — Mia indagou enquanto seus olhos pareciam fascinados por aqueles quadros, entendia cada um deles, desde a forma como Mia retratava os homens com rostos deformados, como monstros, a como às vezes se retratava de forma inferior a eles, como também tinham quadros que ela dominava-os. — Lembro que perguntaram isso a você naquela noite.
— Surgem de lembranças, de pesadelos, de medos e desejos. — Helena respondeu com sinceridade enquanto voltava a se aproximar de Mia, tocou-lhe a mão com cuidado entrelaçando os dedos lentamente e saiu andando a passos lentos em outra direção.
Mia gostou da sensação que sentia ao ver como os dedos de Helena se encaixavam perfeitamente bem nos seios e sentiu o coração palpitar por alguns segundos enquanto logo percebia que caminhavam em direção aos desenhos emoldurados. Desenhos que eram diferentes do que ela vira mais cedo, eram muito mais detalhados, cheios de significados.
— Este, este é um pesadelo constante. — disse. O desenho era escuro, sem cor além do grafite e do branco da folha, retratava perfeitamente bem uma mulher dormindo em sua cama e uma silhueta negra no canto do quarto a olhando de forma completamente fixa, a espreitando.
Mia sentiu um arrepio percorrendo o seu corpo por breves segundos ao imaginar que Helena convivia com pesadelos sinistros como aquele quadro de forma realmente constante. A morena quis dar algum tipo de conforto a Helena e automaticamente ergueu a mão, trazendo a mão de Helena junto, virou-a deixando o dorso da mão de Helena a sua frente e beijou-lhe de forma carinhosa e cheia de respeito.
Helena observou toda a cena de forma praticamente hipnotizada, o coração chegou a bater muito mais rápido dentro de seu peito e algo que era completamente raro de acontecer... Aconteceu. Helena se sentiu completamente desarmada e principalmente sem graça. Ela sorriu de forma carinhosa e se aproximou de Mia roubando-lhe um beijo demorado na bochecha antes de afastar-se soltando também a mão da morena e foi se afastando.
— Venha. As esculturas daquele dia foram todas vendidas, eu não faço muitas, por que são as peças mais demoradas, mas eu tenho uma em andamento e algumas obras também, acho que você vai gostar de ver.
Fora realmente rápida em escapar de Mia, pela primeira vez, notou que não sabia mais lidar com sentimentos como aquele, fazia tempo que não os sentia, tanto tempo que realmente sequer mais lembrava como era. Isso a fez sorrir, mas sorriu para si mesma, sem que Mia visse, enquanto andava de volta para a recepção.
— Você faz suas obras aqui mesmo? — Mia não havia percebido o estado de Helena. Mas a seguiu sem pensar duas vezes, o local beijado por Helena estava quente. — Eu achei que você fazia em casa.
— No começo sim, fazia tudo na garagem de casa. — explicou enquanto parava na porta corrediça e quase imperceptível para quem não conhecia o lugar. — Mas aqui eu tenho mais espaço e assim a galeria fica sempre aberta, foi a Alyson mesmo que deu a ideia.
Mia franziu levemente o cenho enquanto olhava bem para o que Helena fazia até perceber do que se tratava, ela arqueou ambas as sobrancelhas como se estivesse se dando conta do que era e logo em seguida sorriu.
— É bagunçado, é bem bagunçado, mas na loucura da criatividade é impossível não ser. — alertou antes de ir empurrando a porta corrediça abrindo então o amplo espaço destinado ao estúdio onde fazia cada uma de suas obras.
O sorriso de Mia foi se tornando cada vez mais largo assim que via o ambiente ficando exposto, jamais esperava que fosse ali que Helena trabalhava em suas obras, a morena deu uma breve risada ao notar os pincéis amontoados, sujos e notavelmente muito usados, uma absurda quantidade de bisnagas de tintas amontoadas e quadros por todos os lados, alguns em cavaletes, outros nas paredes e mais um bocado amontoados no canto da parede, uma mesa repleta de argila e também bastante suja com tal, tinha uma escultura quase no meio da sala ainda em andamento e Mia sequer conseguia entender o que seria.
— Como você faz essas esculturas? — perguntou a primeira pergunta que viera a sua mente enquanto se aproximava, não parava de olhar em volta, procurando cada detalhe que pudesse ver, por mais bagunçado que fosse, tudo aquilo esbanjava criatividade. Era como se gritasse que Helena não conseguia ficar parada ali dentro.
— Faço parte por parte e vou encaixando e modelando, argila é muito fácil de ser manuseada, basta um pouco de água.
— Mas você idealiza antes o que vai fazer ou vai criando na hora?
— Normalmente eu idealizo antes. — a Artista falou e saiu andando como se procurasse algo e achou sobre a mesa onde ficavam as argilas um papel um pouco sujo com um desenho simples. — Aqui, é mais fácil, eu desenho antes e foco no desenho para dar vida à escultura, é mais fácil por que como é demorada eu nunca foco apenas nela, eu paro um pouco, volto a pintar, paro a pintura, vou para o desenho e assim sucessivamente, eu nunca foco em apenas uma coisa. Eu não consigo.
— Isso é incrível. — falou com sinceridade enquanto voltava a olhar em volta, os olhos azuis focando no quadro inacabado em cima do cavalete, foi se aproximando dele devagar. — Você tem muitos quadros aqui, o suficiente para fazer outra exposição.
— Isso é verdade. — Helena falou, deixou o desenho sobre a mesa novamente e devagar foi andando em direção a Mia sem muita pressa, não olhava para o quadro e sim, para a morena que se encontrava de costas para si. — Mas muito dos quadros que tenho aqui eu não me sinto confortável em expor. — esticou ambos os braços e as mãos logo tocaram Mia, laçaram a cintura sem qualquer pressa à medida que seus corpos também iam se aproximando.
Mia se sentiu repentinamente nervosa, mas não escapou de Helena desta vez, manteve-se quieta, sentindo os braços envolverem o seu corpo em um abraço e o corpo de Helena colando-se em suas costas de maneira completamente confortável, o nervosismo instantaneamente passou e deu lugar ao conforto, aquela sensação maravilhosa que ainda não sabia explicar o que era.
— Por que não? — indagou em um tom baixo.
— Íntimos demais. — respondeu sem quaisquer rodeios e olhou para o rosto de Mia por cima de seu ombro e sorriu fraco em seguida. — Você vai novamente esperar até a hora de ir embora para me beijar?
— Como assim, íntimo demais? — Mia indagou, sorria de forma um pouco larga devido à pergunta de Helena, mas fingiu que não havia ouvido e apenas se afastou alguns centímetros para logo em seguida ir se virando nos braços de Helena até ficar de frente para ela, os corpos voltaram a se colar e apesar de ainda não ser como na noite anterior, Mia já sentia o calor gostoso que crescia entre ambos os corpos.
— Ah, você acha que tem o privilégio de entrar tão amplamente em meu íntimo assim? — Helena entrou na “brincadeira” e deu um sorriso enquanto aproximava o seu rosto do dela um pouco mais, até que os narizes roçassem uns nos outros de forma bem lenta.
— Eu não tenho? Está querendo me barrar justamente agora? — Mia arqueou uma sobrancelha, mas logo em seguida sorriu contra a boca de Helena, os lábios já roçando um nos outros com qualquer mínimo movimento que qualquer uma das duas fizesse.
— Barrar você? — Helena indagou em tom baixinho e ergueu a mão direita devagar, para então agarrar parte da gola da camisa de Mia de maneira firme. Começou a dar passos para trás, puxando Amélia pela camisa sem que as duas se desgrudassem. — É sério que é essa a impressão que eu estou passando agora?
Riram juntas, Helena conhecia tão bem aquele espaço que conseguiu facilmente encontrar a parede sem nem ao menos olha ou esbarrar em qualquer espaço. A química que as duas tinham era simplesmente perfeita aos olhos não só de Mia, mas também aos de Helena. Por mais diferentes que fossem às vezes, já haviam notado que naqueles momentos em que esqueciam qualquer coisa e apenas se beijavam, elas se encaixavam de uma forma simplesmente perfeita.
Helena foi envolvendo devagar os ombros de Mia com o braço esquerdo enquanto os lábios iam se encaixando aos dela devagar, não havia pressa, apesar da imensa vontade daquele beijo. Inicialmente aconteceu apenas um selinho, mas logo em seguida os lábios se entreabriram e se encaixaram de forma ainda mais perfeita e quando as línguas se encontraram, Helena puxou Mia mais para perto ao abraça-la de uma vez pelos ombros com apenas um dos braços. Mia por sua vez apreciava a forma como seu corpo agora pressionava bem o de Helena contra a parede, as mãos ainda um tanto receosas passeavam pela cintura bem desenhada que a Artista tinha.
Os lábios de Mia se arrastavam devagar pelos de Helena e a línguas pareciam danças juntas de forma ousada, sem pressa, como se apenas tivessem a plena intenção de, ao mesmo tempo em que pareciam querer se conhecer ainda mais, pareciam também querer matar a saudade da noite anterior. Helena foi erguendo devagar a perna direita, a mesma que ficava exposta devido à fenda do vestido, na intenção de ficar ainda mais confortável do que já estavam, encaixou-a na altura da cintura de Mia e isso de alguma forma só fez com que os corpos ficassem ainda mais colados, os seios espremidos um nos outros, as coxas roçando-se por qualquer mínimo movimento que as mulheres faziam.
— Sabe... — Helena começou quando parou o beijo por alguns segundos, os lábios tocando os de Mia ainda, os olhos da Artista se abriram de forma quase preguiçosa, encararam a imensidão azul dos olhos de Mia por alguns segundos e em seguida encarou aquela boca carnudo, sorriu com as lembranças do que iria dizer. — Quando eu te beijei naquele dia, na primeira vez, eu me irritei depois por que eu não conseguia tirar da cabeça o seu beijo. — Mia deu uma breve risada ao ouvir aquela confissão e se inclinou devagar, o suficiente para que o alvo de seus lábios fosse agora o pescoço de Helena, mas não tinha a intenção de beija-la ali, não ainda. Ainda assim, os lábios tocaram devagar a pele morena da mulher e respirou fundo.
— E eu não conseguia tirar da cabeça o seu cheiro. — ergueu a cabeça para pode encarar a mulher, voltou a sorrir, naquele momento em que apenas aproveitava para fazer o que tanto queria com Helena, ela não tinha vergonha de admitir tais coisas. — E eu lembro que no dia da sua exposição, quando eu entrei aqui, eu senti um aroma muito familiar. — riu brevemente enquanto afastava um pouco o rosto para encarar Helena, as duas sorriam de forma completamente cúmplice.
— Ah é? — Helena indagou enquanto dava uma pequena risada. — Eu com certeza vou usar isso a meu favor.
— E você acha que eu não irei usar o fato de você gostar do meu beijo? — Mia arqueou uma sobrancelha como se estivesse desafiando Helena naquele momento. A artista sorriu de forma verdadeiramente larga enquanto levava a mão direita até a mão de Mia e devagar começava a guiá-la em direção a coxa erguida.
— Na verdade eu quero que use. — Helena falou baixo, os olhos mantinham-se fixos nos de Mia quando sentiu a mão quente dela sendo espalmada em sua coxa. O braço livre ainda rodeava os ombros de Mia e fora responsável por puxar o tronco da mulher para mais perto e consequentemente os rostos voltaram a se aproximar ainda mais. — A ideia de ganhar uma boa quantidade de beijos seus, mesmo que em troca de algo, é bem interessante. — a voz não passava de um mero sussurro contra a boca de Mia. Apertou a mão da mulher com um pouco mais de firmeza, a mesma mão espalmada em sua coxa e foi a puxando, fazendo a mão de Mia ir deslizando devagar por sua pele, subindo por sua coxa devagar, era como se silenciosamente estivesse pedindo e guiando para que Mia á tocasse um pouco mais, para que tivesse a liberdade para tal e sentia perfeitamente bem como sua pele ficava quente em cada lugar que a mão de Mia passava.
Afrouxou o aperto em torno dos ombros de Mia e a mão esquerda rapidamente tomou um novo rumo, em uma fração de segundos os dedos finos já se emaranhavam entre os fios escuros de seu cabelo e puxavam Mia para um novo beijo tão intenso quanto o anterior, as duas quase gem*ram de pura satisfação quando as línguas voltaram a se entrelaçar, a mão direita de Helena começou a subir devagar pelo braço de Mia, acariciando a sua pele de maneira carinhosa e se sentiu tremendamente satisfeita quando sentiu Mia mover a mão em sua coxa e começar a acariciar-lhe por vontade própria. Puxou levemente os cabelos dela fazendo então com que a morena pendesse a cabeça levemente para o lado, assim fazendo com que os lábios se encaixassem de forma ainda mais perfeita.
As mãos de Mia apertaram ao mesmo tempo a pele de Helena, uma bem espalmada na coxa e a outra espalmada na cintura da Artista, a vontade de tocá-la cada vez mais parecia crescer de forma desenfreada e a mão, que estava na coxa, começou a subir e a descer, sentindo a pele extremamente macia e deliciosamente quente sob a palma de sua mão e distribuindo bons apertos por toda a extremidade da coxa. Mordeu o lábio inferior de Helena devagar e o puxou bem devagarzinho enquanto pendia a cabeça para o outro lado sem qualquer pressa, sorriu contra a boca carnuda antes de voltar a beijá-la.
Estava ficando desnorteada, que beijo delicioso era aquele? Parecia que a cada vez que beijava Helena, mais vontade tinha de beijá-la, de continuar, de avançar! De beijá-la não só na boca. Aquele beijo fazia seu corpo inteiro arrepiar-se, arrepios cada vez mais intensos que acabavam toda vez em sua calcinha e não queria de forma alguma pensar no estado em que ela estava naquele momento. E só com um beijo.
O gemido surpreso escapou de seus lábios e novamente o corpo se arrepiou e muito quando os cabelos foram puxados com bem mais força desta vez forçando-a a pender um pouco a cabeça para trás e consequentemente quebrar o beijo. Helena deu um sorriso inteiramente satisfeito com isso enquanto se inclinava um pouco para tocar o pescoço de Mia com os lábios. E quando o tocou quase gem*u de satisfação, primeiro lambeu, bem devagar antes de tocar o mesmo local com os lábios em um beijo molhado e ao mesmo tempo carinhoso. Sentiu sob suas mãos o corpo de Mia se encolhendo, tremendo diante a sua carícia, os lábios subiram um pouco mais e desta vez uma mordida, breve, mas generosa, próxima ao ouvido e desta vez ouviu uma arfada baixinha, quase uma reclamação.
— Me da vontade de ficar horas fazendo isso só pra ouvir e sentir essas suas reações. — sussurrou. Os lábios roçando no ouvido de Mia e o sorriso safado estampando seus lábios.
— Isso soa bem pra mim. — Mia sussurrou no mesmo tom, inebriada demais naquele momento e na vontade de ter um pouco mais, para pensar em qualquer outra coisa.
Agora sentia que tinha todo o tempo do mundo para continuar ali beijando Helena até que se sentisse completamente satisfeita e definitivamente era o que iria fazer. E então o novo beijo fora muito mais intenso do que qualquer outro que haviam dado até aquele momento. O desejo que ambas sentiam uma pela outra começava a dominar aquele momento, a quase necessidade de sentir um pouco mais uma da outra, de ficar ainda mais próximas, apesar de naquele momento estarem com os corpos completamente colados, queriam mais! A mão de Mia subiu com certa vontade por dentro do vestido de Helena, lembrou-se da noite anterior, da forma como apertou a pele da Mexicana, e assim a mão espalmou-se na bunda da mulher de forma completamente despudorada. A puxou para mais perto em meio ao aperto que dera. Os seios se espremeram um contra o outro e as duas quase gem*ram juntas, uma contra a boca da outra, sequer percebiam que aquilo estava tomando um rumo o qual não iriam conseguir voltar se continuassem.
Um movimento simples e completamente simples de Mia arrancou de Helena um arfar surpreso contra a boca da mulher, a coxa da Designer havia se encaixado perfeitamente bem entre as pernas de Helena e devido à coxa erguida dela, a de Mia roçava em um local completamente perigoso ao toque justamente naquele momento. O beijo fora quebrado, mas os lábios não se afastavam, roçavam uns nos outros devagar enquanto as mulheres respiravam um pouco fundo, os olhos ainda fechados, inebriadas naquele momento, ambas com a pele completamente arrepiada devido às carícias que recebiam uma da outra. Estavam tão, mas tão envolvidas uma na outra que, quando um barulho diferente soou pelo ambiente, o susto fora completamente inevitável.
Sentiram o coração parar por segundos e olharam numa velocidade extrema para a porta que dividia o estúdio da Galeria, a mesma havia sido completamente fechada e por um momento, nem Mia e muito menos Helena entenderam o que estava acontecendo.
— Peguem com cuidado, por favor, são obras delicadas. — a voz de Alyson soou do outro lado da porta agora fechada e Helena respirou fundo de maneira quase aliviada antes de apoiar a cabeça na parede atrás de si e rir e se dar conta que era apenas Alyson que provavelmente havia fechado a porta para que não as vissem ali. Mas quando sua risada não foi retribuída e não sentiu mais o toque de Mia e muito menos o seu corpo, abaixou a cabeça imediatamente para olhar para a dona daqueles belos olhos azuis.
Mia estava um pouco mais pálida do que normalmente era e os olhos completamente alarmados indicavam que ela havia se assustado bem mais do que deveria e Helena desconfiava que isso tinha haver com o fato de ela ter sido pega no flagra, ou com o fato de as duas quase terem passado dos limites, mais do que a noite anterior, eram como fogo e palha seca, bastava um pequeno contato para que o fogo se alastrasse por todo lugar.
— Ei, ei, ei... — foi cautelosa enquanto abaixava a perna antes erguida e se afastava só alguns centímetros da parede, segurou as mãos de Mia com carinho, às erguendo devagar e beijou ambas de maneira carinhosa na palma e sorriu para a morena, ainda mais quando viu o rosto antes pálido, começar a ganhar um pouco mais de coloração. — É só a Alyson, ela é o meu Hernando. Então ela não vai falar absolutamente nada. Se acalme. — fez com que as mãos de Mia se espalmassem uma de cada lado de seu pescoço e então guiou as próprias mãos para a cintura da Designer e a puxou para perto mais uma vez, voltando a colar os corpos devagar de maneira carinhosa.
— Não é isso... — Mia falou baixo, o coração ainda estava acelerado dentro do peito, mas logo respirou fundo de forma bem demorada enquanto ainda ouvia a movimentação do outro lado da porta e Alyson falando com mais alguém. — Quer dizer, também é...
Helena deu uma breve risada.
— Eu sei, não precisa se explicar. Estávamos chegando a limites que você ainda não quer ultrapassar. — Helena era compreensiva, desde a noite anterior quando havia ouvido os temores de Mia, imaginava pelas coisas que ela poderia estar passando e não julgava, jamais o faria.
Mia a encarou em silêncio por alguns segundos, os olhos se encontrando de uma forma intensa, palavras não precisaram ser ditas, as duas se entenderam por aquela troca de olhares intensa, de fato, Mia não queria, ao menos não tão rápido e os motivos por trás disso, Helena entendia. Era uma troca de olhar compreensiva e cheia de agradecimentos por isso.
— Você deveria me agradecer e muito por eu ter entrado sozinha antes dos rapazes e ter tido tempo de fechar a porta. — Alyson já fora falando antes mesmo de abrir a porta, mas quando o fez, empurrando a porta corrediça com um pouco de força, a ruiva encarou o “casal” de maneira pouco contente.
— Mas você sabe que eu farei isso. — Helena falou como se isso fosse à coisa mais óbvia do mundo e de uma forma tão cara de pau já que agia como se nada tivesse acontecido, que fez com que Alyson rolasse os olhos.
— Eu estou te ligando o dia inteiro, Helena! E eu estava me perguntando o dia inteiro o que porr* você estava fazendo para não atender o celular. E o tempo inteiro você aos amassos com a... — Alyson parou de falar, o cenho franzido, indignado, mudou completamente para um surpreso quando Mia se afastou de Helena, saindo dos braços dela e virando-se então de frente para a ruiva.
Mia imediatamente arqueou ambas as sobrancelhas ao notar a clara surpresa de Alyson e então olhou para Helena também com as sobrancelhas arqueadas.
— Ela não sabe? — a Designer perguntou e então, mais uma vez sentiu o seu rosto esquentar, tapou o rosto com as mãos logo em seguida, virando-se para o outro lado. — Oh, Deus.
Alyson arqueou ainda mais as sobrancelhas como se estivesse perguntando “isso é sério?”. A verdade era que Alyson não tinha noção do que havia acontecido na noite anterior, afinal, ela não havia conversado com Helena desde a última vez que haviam se encontrado naquela galeria e por isso, definitivamente, se mostrava tão surpresa, ainda mais diante a reação de Mia.
— Eu sei, mas não esperava. — ponteou Alyson e Helena deu uma breve risada com toda aquela situação a qual preferia explicar a Alyson depois de uma forma bem mais detalhada.
— Até pouco tempo ela achava que você me odiava e tecnicamente ela também me odiava por isso. — Helena explicou para Mia enquanto dava alguns passos em direção a morena a tocando na cintura mais uma vez ao se aproximar por trás e dar um beijo carinho no ombro da mulher. Alyson olhou aquilo em completo silêncio, ainda tão surpresa quanto antes, apenas não demonstrava mais.
— E felizmente você parece ter ouvido muito bem meus conselhos de ir conversar direito com ela. — Alyson acusou e Mia então a encarou com uma sobrancelha arqueada.
— Ela gritou comigo de uma forma que você não imaginaria que ela é esse doce de pessoa se você visse o momento. — Helena falou para Mia e se afastou dela ao notar que enfim, ela parecia bem mais calma, foi caminhando em direção a Alyson devagar e ao aproximar-se deu um beijo carinhoso no rosto da amiga. — Eu te explico depois. — sussurrou e se afastou um pouco antes de sair andando devagar, indo em direção à mesa que ficava na recepção.
— Felizmente eu tenho noção de que você é babaca às vezes.
— Isso foi rude! — bronqueou a Artista sem nem ao menos olhar para trás.
— Assine absolutamente todos esses papeis que estão na mesa. — rebateu sem olhar para a amiga, mas logo em seguida focou o seu olhar em Mia e foi caminhando em direção à mulher, sorriu para ela ao se aproximar. Trocaram um abraço rápido em cumprimento. — É bom te ver, Amélia, desculpe a surpresa, além de eu nunca ter visto uma mulher aqui assim com a Helena, eu não esperava ser justamente você devido ao histórico.
— Eu estou tão surpresa quanto você. — assegurou e sorriu de forma aliviada para Alyson, ver a interação completamente à vontade de Helena e Alyson consequentemente também a fazia se sentir a vontade na presença das duas naquele momento. Mas ainda assim, ela não sabia exatamente o que falar, assim, decidiu que era hora de ir embora, afinal, ao que parecia agora Helena também tinha trabalho pela frente. — Bom, é melhor eu ir embora.
— E é assim que eu passarei as próximas horas aguentando uma Helena mal humorada me culpando por ter estragado o momento. — Alyson falou como se isso fosse à coisa mais óbvia do mundo enquanto os olhos claros iam direto para Helena sentada na poltrona em frente à mesa, aparentemente concentrada em assinar os papeis que havia pedido.
Mia riu por poucos segundos enquanto seguia o olhar da mulher ao seu lado e encarava Helena com um sorriso no canto dos lábios.
— Você não estragou nada. A Helena é compreensiva, ela sabe que eu preciso ir embora de qualquer forma. Eu preciso pensar. — Mia foi sincera enquanto mantinha ainda o olhar fixo em Helena e na forma como ela ficava ainda mais linda estando tão séria e concentrada lendo e assinando coisas que provavelmente eram referentes às obras vendidas. Mia imaginou por um momento como deveria ser observar Helena em um de seus momentos de criatividade. — Você disse que nunca viu uma mulher aqui daquele jeito com a Helena...
— Nem aqui e nem na casa dela. Pode não parecer, mas ela ainda está extremamente fechada depois do Trevor, então, você é uma novidade em todos os quesitos.
Mia sorriu.
— Eu certamente vou, em um dia mais normal, querer conversar com você por um bom tempo, Alyson. Você me conta os podres da Helena, eu te conto os podres do Fred. — Mia sorriu de forma convencida assim que olhou de canto de olho para Alyson que agora a olhava com ambas as sobrancelhas arqueadas e de uma forma quase... Acusatória.
— Esse dia vai ser interessante.
Agora sorriram uma para a outra de forma completamente cúmplice por alguns segundos antes de se despedirem com beijos no rosto. Assim Amélia caminhou devagar em direção a Helena. A mexicana ergueu o olhar assim que notou a aproximação e sorriu de imediato.
— Chegou a hora de eu ir embora. — Mia falou baixo enquanto ia diminuindo os passos aos poucos parando então em frente à Helena que se mantinha sentada.
— Não faça isso, eu já estou terminando.
Mia deu uma risada breve e terna antes de se inclinar devagar, a mão direita tocou de maneira carinhosa o rosto de Helena e os lábios tocaram a testa em um beijo cheio de respeito.
— Você sabe que eu preciso do meu tempo para pensar e também de um banho gelado.
As duas sorriram de forma cúmplice dessa vez e pela segunda vez naquele dia Helena havia sentido seu coração bater muito mais rápido e não soube como agir diante o beijo carinhoso que recebera na testa. Quando, há meses atrás, se envolvera com Seline, a dona do bar, era algo muito mais carnal do que qualquer outra coisa, com Mia era diferente. Com Mia, acima de tudo, havia respeito, havia carinho e principalmente muita compreensão e isso vinha de ambas as partes. Isso era algo que Helena, há muito tempo, já havia esquecido quando se tratava de um relacionamento.
— Obrigada pelo dia, Amélia. — os olhos se encontraram aos de Mia de forma completamente compreensiva.
— Obrigada pelo dia, Helena. — Mia sorriu de forma mais larga antes de piscar para a latina para então sair andando devagar. E sob o olhar de Helena, Amélia sumiu ao sair pela porta.
— Uau. — o olhar de Helena saiu rapidamente da porta e voou para a ruiva de sobrancelhas arqueadas e olhar surpreso.
— Eu sei. — Helena deu uma breve risada enquanto se ajeitava um pouco e voltava sua atenção para os últimos papeis que faltavam assinar, mas não conseguia deixar de sorrir.
— Isso é surreal. — a voz de Alyson soou mais perto desta vez, mas isso não fez Helena parar o que fazia, afinal, já esperava a aproximação da amiga.
— Surreal define muito bem tudo isso. — disse enquanto passava a folha devagar e assinava a última de maneira rápida e assim que o fez checou para ver se havia assinado todas e então, focou toda a sua atenção na ruiva sentada na poltrona a sua frente. — Eu te falei que havia dado o meu endereço a ela caso ela aceitasse sair comigo. — Alyson acenou de forma positiva com a cabeça. — Então, ontem a noite ela bateu na minha porta completamente perdida e sem graça e tivemos uma noite incrível. Cozinhamos, conversamos diversidades, nos conhecemos, dançamos, nos divertimos... Foi maravilhoso. — a mulher deu uma breve risada como se lembrasse de algo e baixou o olhar por um momento. — Quando eu abri a porta e me deparei com aquela mulher com um claro desespero no olhar, ao mesmo tempo em que eu estava totalmente surpresa eu não entendi nada. Mas logo descobri que na verdade foi só por que ela havia esquecido de levar algo para dar uma impressão melhor.
Alyson continuava em silêncio absoluto, atenta a forma como Helena narrava pacientemente o que havia acontecido e principalmente atenta às reações dela e aquele sorriso que não saia de seu rosto, isso chamava e muito a atenção da ruiva, era algo novo.
— E eu realmente me senti absurdamente à vontade com ela, como há muito tempo eu não me sentia com alguém, nem mesmo com a Seline. Contei tudo a ela, absolutamente tudo sobre a minha vida por que eu queria que ela me conhecesse de verdade, era quase uma necessidade, você não acha estranho? — sorriu fraco e ergueu o olhar para encontrar aqueles olhos azuis analíticos de Alyson e sentia, de verdade, que ela estava analisando cada palavra dita, mas naquele momento, surpreendentemente, ela não estava se importando com isso.
— Você contou absolutamente tudo a ela? — arqueou uma sobrancelha, a troca de olhares ficou mais intensa e Helena imediatamente sentiu aquela pontada em seu coração, o sorriso enfraqueceu ao entender sobre o que Alyson falava. Negou com um aceno de cabeça e Alyson apenas concordou também com um aceno. — E hoje, como aconteceu esse encontro hoje? — tratou logo de mudar de assunto.
— Ela esqueceu o celular lá em casa e só percebeu quando chegou na casa dela. — explicou enquanto se ajeitava um pouco e devagar descruzava as pernas apenas para trocar a posição das mesmas e cruzar novamente. — Ela fugia de mim sempre que tinha oportunidade e eu estava verdadeiramente estranhando isso. Foi por isso que ela esqueceu o celular, fugiu de mim quando estávamos quase nos beijando e decidiu no desespero que precisava ir embora.
Alyson arqueou uma sobrancelha e Helena deu uma breve risada com tal ato.
— É, eu também achei estranho. Mas depois que ela foi embora, bons minutos depois, olhei pela janela e o carro dela continuava lá na frente, mais uma coisa estranha. Fui até lá, entrei no carro e conversamos... Ela me confessou que eu era a primeira mulher por quem ela sentiu atração.
A risada gostosa de Alyson ecoou pela galeria por alguns segundos, em resposta automática, o sorriso de Helena se alargou.
— Você não esperava por isso não é? Eu também não.
— Mas isso explica muita coisa.
— Exatamente! — riu brevemente e manteve um sorriso largo nos lábios. — Mas conversamos sobre, eu entendi completamente pelo que ela estava passando e de qualquer forma acabamos ficando.
— Isso também justifica por que já pareciam tão íntimas hoje. — deu ênfase no “íntimas” e arqueou uma sobrancelha.
— É... — riu brevemente antes de continuar a falar. — Tivemos um dia bom hoje, ela é insegura com muita coisa, isso é muito claro, mas de alguma forma isso faz eu me sentir ainda mais confortável.
— Por que você também é insegura.
Helena acenou de forma positiva com a cabeça pouco contente em ter que admitir isso.
— Sim. Hoje eu percebi que eu não lembrava mais, de verdade, como é ser respeitada, Aly. Ou como é receber carinho de verdade. — a expressão da morena acabou ficando mais séria. — Como é ter alguém que me compreende. Senti tudo isso hoje e eu não soube como reagir em nenhuma dessas vezes. Você vive me dando tudo isso...
— Mas não é a mesma coisa. — interrompeu Helena imediatamente e sorriu fraco, momentaneamente, se sentindo aliviada. — Eu sempre te tratei muito bem, Helena e sempre, sempre houve completa reciprocidade. Mas somos apenas amigas, não foi uma amiga que abusou de você psico e fisicamente por anos. E por mais que eu sei que você não quer relacionamentos no momento, a Amélia ainda assim é um interesse amoroso. Ela não é apenas amiga.
— Interesse amoroso? Não está mais para uma... Amizade colorida? — franziu um pouco o cenho com aquele pensamento.
— Amizade colorida do jeito que você falou dela agora? Jamais, meu anjo.
®®
[21:33] Hernando:
Acabei de chegar em casa, o que a sapatão está fazendo?
[21:39] Mia:
Tomando um belíssimo banho de princesa e desejando alguém para lavar meu cabelo.
[21:41] Hernando:
Tem vinho?
[21:42] Mia:
Essa pergunta me ofende.
Mia tinha um sorriso leve nos lábios enquanto deixava o celular de lado e voltava a fechar os olhos, não precisava esperar resposta para saber que Hernando estava vindo. A água da banheira, cheia com sais aromatizantes e espuma, estava bem morna e era responsável por deixar o seu corpo completamente relaxado. Desde que havia chego da galeria de Helena, havia se jogado no sofá de sua sala e só saiu de lá depois de ter dor de cabeça depois de tanto pensar em tudo o que estava acontecendo.
E, para a sua surpresa e alívio, sentia-se feliz e completamente leve, a presença de Helena havia feito tão bem para Mia que ela sequer pensava em quaisquer problemas que antes pensava, apenas se sentia... Satisfeita. E não conseguia parar de pensar naquele beijo e nas sensações que Helena lhe causava.
Assim, após todo o seu momento de reflexão, se deu ao luxo de um banho demorado de banheira, uma boa taça de vinho e todo o tempo do mundo para aproveitar aquele banho, depois certamente deitaria, assistiria algo e dormiria como um anjo.
— Que dia! — a voz rouca de Hernando soou no banheiro e Mia imediatamente sorriu um pouco mais enquanto logo se ajeitava um pouco. — Acredita que um dos pacientes do Drew enviou um buquê de flores, uma cesta com chocolates e vinho e um belo bilhete convidando ele pra sair?
— Transou o dia inteiro e comeu os chocolates?
— E bebi todo o vinho obviamente. — riram juntos. Hernando se aproximou mais trazendo consigo uma garrafa de vinho que havia pegado na adega de Mia e apenas uma taça já que imaginava que Mia já tinha uma e estava certo assim que viu a taça quase vazia ao lado da banheira.
— Mas o Drew é maravilhoso, faz uma massagem incrível, é lindo, super simpático e tem cara de que fode bem. Ninguém resiste, Nando.
— Felizmente tudo isso é verdade. Mas não deixa de ser incomodo ver ele com pacientes tão descarados. — Hernando falou enquanto devagar entrava na banheira. Sentou na borda da mesma devagar deixando apenas os pés cobertos pela água morna e Mia então, parcialmente sentada, se encaixou entre as pernas do amigo. — Você sabe que eu não sou ciumento.
— Mas às vezes as pessoas passam dos limites.
— Isso, bebê, isso. Você me entende muito bem.
— É claro, eu também sou assim.
— Mia você é muito mais ciumenta do que eu.
— Talvez um pouco.
— E um pouco paranoica.
— Você está exagerando.
Hernando riu enquanto se servia de vinho e então esticava um pouco o braço para despejar o liquido rubro na taça vazia de Mia. Assim, enfim, deixou a garrafa no chão ao lado da banheira, deu um generoso gole no vinho doce e colocou a taça logo ao lado na região de madeira onde Mia colocava alguns produtos que usava no banho.
— Vamos, eu quero saber de tudo agora. — enfim, referia-se ao dia que Mia teve ao lado de Helena. Os dedos grossos, mas delicados, logo tocaram o coque que prendia os cabelos de Mia e o desfez sem muita pressa para enfim, bem ao seu lado, pegar o chuveiro de mão, testou na mão por alguns segundos a água, para ver se estava morna para logo em seguida começar a molhar os cabelos de Mia sem qualquer pressa.
O corpo de Mia automaticamente foi relaxando ainda mais assim que começou a sentir a água morna deslizando por sua cabeça e ela sorriu de forma carinhosa com os cuidados de Hernando.
— Ontem eu meio que surtei na casa da Helena por que quase nos beijamos algumas vezes e em todas às vezes eu fugi. — começou a explicar desta vez com a intenção de não esconder nenhum detalhe como fizera da última vez, devagar pegou a taça de vinho agora cheia mais uma vez e deu um gole bem generoso, lambeu os lábios devagar e respirou fundo antes de continuar. — Eu fui para o carro depois de me despedir e lá travei completamente, saí do ar por alguns minutos pensando sem parar em tudo. E de repente a Helena estava batendo na porta do carro e em segundos estava entrando e sentando no meu colo.
— Ela claramente sente prazer por sentar no seu colo.
— Ela não tem vergonha na cara! — falou isso como se estivesse irritada com a situação, mas não estava. Hernando riu.
— Continue.
— Ela me pediu para que eu fosse sincera com ela, afinal, ela mesma havia sido completamente sincera comigo. Então eu fui, expliquei que estava insegura, que ela é a primeira mulher a qual me fez sentir atração de verdade e que pra tomar uma decisão eu preciso pensar muito antes. — respirou fundo mais uma vez e sorriu fraco, quase de forma saudosa enquanto fechava os olhos de maneira preguiçosa com a massagem que recebia no couro cabeludo à medida que Hernando esfregava o shampoo. — E ela entendeu. Ela me entendeu, me apoiou, me confortou e me acalmou, Nando. Então nos beijamos... E muito. E quase passamos do limite.
— Hmmm, isso explica por que você esqueceu o celular na casa dela. Estava perdida.
Mia sorriu.
— O restaurante onde ela marcou hoje era sensacional, Nando e super simples. Eu preciso te levar lá depois, a comida é maravilhosa. A mesa fica em um quarto reservado, então tem muita privacidade.
— Vocês se aproveitaram dessa privacidade? — o moreno acusou, um sorriso travesso surgindo no rosto barbado.
— É claro que não, seu pervertido.
— Esqueci que o seu forte são banheiros.
Mia rolou os olhos.
— Especificamente os de boate.
Mia deu uma boa risada após as palavras do amigo e deu de ombros enquanto voltava a pegar a taça de vinho.
— Boas lembranças. — deu um bom gole no vinho mais uma vez e voltou a sorrir.
— Feche os olhos. — mandou em tom baixo enquanto voltava a pegar o chuveiro de mão e assim começou a tirar a espuma do shampoo dos fios negros. — E hoje, vocês ficaram novamente?
— Sim. — respondeu de imediato. — Felizmente interrompidas pela Alyson na galeria dela. É uma loucura, quando ela me toca e me beija... Porr*. — virou o resto do conteúdo da taça e suspiro de forma um pouco pesada antes de deixar a taça vazia de lado.
— Mas por que felizmente interrompidas pela Alyson? Eu te conheço, Mia, você não nega fogo. — Hernando falou como se isso fosse à coisa mais óbvia do mundo enquanto voltava a guardar o chuveiro de mão e então pegava o condicionador, a parte que Mia mais gostava. Mia deu uma breve risada com as palavras do amigo e se ajeitou um pouco, encolheu as pernas e as abraçou de maneira confortável.
— Não é questão de negar fogo dessa vez, sabe? A Helena é como uma faísca e eu sou a gasolina, basta só ela me tocar que explode, te garanto, Nando, é uma loucura.
— Mas você ainda não tem a mínima ideia do que fazer. — Hernando completou as palavras de Mia e a Designer de interiores deu uma breve risada que foi abafada por quase um ronrono manhoso quando Hernando começou a massagear sua cabeça sem qualquer pressa à medida que espalhava o condicionador. Mia sempre fora como uma gata manhosa bastava fazer-lhe carinho nos cabelos que ela já se derretia inteira, era por isso que gostava tanto que alguém lavasse seus cabelos.
— Eu ainda não tenho a mínima ideia do que fazer. Apesar de achar que isso não seria um problema. — falou em tom baixo e mais lembranças invadiram a sua mente a ponto de fazê-la sorrir fraco. Só lembrava-se de Helena lhe guiando, sempre perceptiva, sabia o que estava acontecendo e o que deveria fazer para ajudar. Mia estava adorando isso na mulher.
— Te conhecendo bem, você tentar algo que não sabe. Mas nesse caso você apenas não está pronta, eu te entendo, no momento sua insegurança é maior do que o seu fogo. O que é bem surpreendente.
— Hernando você tá me colocando verdadeiramente como uma pervertida nessa conversa. — a morena imediatamente se defendeu, apenas para receber em troca uma boa risada do amigo. Acabou sorrindo de qualquer forma.
— Não é como se você não fosse. — ele brincou, manteve o sorriso largo nos lábios antes de continuar a falar. — Sabe, quando o Drew olha daquele jeito sério pra mim por um tempo a mais do que o necessário, já me sobe um fogo... — Hernando ergueu a mão direita para poder gesticular e expressar-se melhor, mesmo que naquele momento Mia não estivesse o encarando. — Ou seja, com ele basta só um olhar, quando me toca então... — suspirou com as lembranças do dia que teve ao lado do namorado. — Talvez isso seja um sinal. A forma como Helena mexe com você. Talvez o sinal que você precisa para cair de cabeça em um relacionamento...
— Não é como se a Helena quisesse relacionamentos agora.
— Você perguntou isso a ela?
— Não é como se eu quisesse relacionamentos agora. — se corrigiu e rolou os olhos em seguida. — Posso mudar de ideia depois, mas agora, é o que penso.
Hernando deu uma pequena risada com aquela situação antes de afastar um pouco as mãos dos cabelos de Mia para pegar a taça quase vazia ao seu lado, deu o último gole responsável por deixar a taça vazia e respirou um pouco fundo, não a encheria novamente já que em breve sairiam dali. Ele não falou mais nada, apenas ficou em silêncio, os dois, algo completamente confortável naquele momento, Mia pensando naquela conversa e Hernando pensando que definitivamente aquela história de Mia e Helena daria em algo grande e pelo jeito, algo que nenhuma esperava. Sentiu vontade de conversar com Helena, mas balançou a cabeça de forma negativa enquanto voltava a lavar os cabelos os cabelos de Mia.
[23:02] Helena:
*foto em anexo*
Boa noite, Amélia. :)
Mia saia de seu closet a passos lentos enquanto ajeitava os cabelos já secos depois de ter passado alguns minutos em frente ao espelho o secando, ajeitou em seguida o Robe azul claro que cobria o seu corpo, seu celular em cima da cama, estava aceso e ela já foi o pegando quando se aproximou.
— Não temos trabalho, nada, o que vamos fazer amanhã? — Hernando perguntou enquanto adentrava o quarto e ia direto para a cama de Mia se jogando na mesma, ajeitou-se ficando parcialmente sentado e em cima do criado mudo pegou a garrafa de vinho que havia tirado do banheiro minutos atrás, encheu ambas as taças e se inclinou para entregar uma delas a Mia, só então para perceber como a morena tinha um sorriso idiota nos lábios e os olhos fixos no celular. — Por que esse sorriso bobo?
— Olha só isso. — Mia falou e virou o celular para Hernando mostrando-lhe então a foto que Helena havia lhe mandado. A Selfie mostrava Helena com uma expressão de sono, mas o que mais chamava atenção era a bola peluda e negra encolhida na região dos seios de Helena e com a cabeça pendendo para perto do pescoço, a gata estava em um claro sono profundo e o sorrisinho preguiçoso nos lábios de Helena era definitivamente, para derreter qualquer um.
— Agora você com certeza deve estar pensando... Ah como eu queria ser essa gata...
— Vai se foder, Hernando.
®®
Segunda-Feira
[12:43] Amélia:
*Foto em anexo* (Uma tigela de Lamen)
Fiquei com vontade desde o nosso almoço.
[12:47] Helena:
É quase uma ofensa você comer lamen sem mim depois daquele dia.
[12:49] Amélia:
A temporada de chuvas começou.
[12:52] Amélia:
Sinto muito. Fico te devendo um Lamen.
[12:53] Helena:
Não vejo a hora de cobrar.
[12:54] Amélia:
Ou não vê a hora de me ver?
[12:54] Helena:
Isso também. :)
**
Terça-Feira
[06:28] Helena:
Você ama a Vadia, mas odiaria se ela te acordasse todos os dias nesse horário.
PS: Bom dia.
[07:15] Amélia:
Bom dia, coisinha mais linda! >>> Isso foi para a Vadia.
Ah, e bom dia, Helena.
[07:20] Helena:
Eu não vou mais falar com você hoje. ¬¬
[07:22] Amélia:
Nos falamos todos os dias, não quebre esse ritual.
Você vai mesmo me ignorar?
Helena você visualizou a mensagem.
Helena!!
[07:33] Helena:
Hahahahahaha, não, eu não vou te ignorar.
Gosto de conversar com você.
***
Quarta-feira
[17:55] Amélia:
Acabei de deixar o Hernando no aeroporto. Ele viajou a trabalho, mas fiquei morrendo de vontade de ir junto.
[18:00] Helena:
Pra onde ele foi?
[18:03] Amélia:
Viagem romântica e ao mesmo tempo de trabalho, para Berlim.
[18:04] Helena:
Ok... Até eu fiquei com vontade de ir junto.
[18:04] Amélia:
Tem algum lugar que você ainda pretende visitar? Você tem cara de que ama viajar.
[18:06] Helena:
Hmmm, eu realmente amo.
Eu tenho muita vontade de conhecer Machu Picchu, O Museu do Louvre e também com certeza um dia farei uma viagem de carro conhecendo a cadeia de montanhas em Idaho e Montana.
[18:10] Amélia:
Quando eu era criança eu sempre pedia ao Papa para me levar ao parque de Yellowstone no meu aniversário.
[18:11] Helena:
Peculiar a sua forma de comemorar um aniversário.
Mas uma ótima escolha.
Ao menos já sei que você é uma ótima escolha para ser minha companhia nessa viagem.
[18:16] Amélia:
Combinado. ;)
***
Segunda-feira
[21:12] Amélia:
Eu acabei de chegar em casa, sinto muito não te conseguido ir almoçar com você hoje.
[21:20] Helena:
Você estava trabalhando, não se preocupe com isso. Você pode com certeza compensar isso depois.
[21:23] Amélia:
Quais são seus requisitos para que eu compense muito bem, Helena?
[21:23] Helena:
Apenas vir não é o suficiente.
[21:25] Amélia:
Eu estava pensando além disso. ;)
Eu já venho, preciso de um banho.
[21:26] Helena:
Eu não sei se fico curiosa com o que você estava pensando. Ou se fico triste por que você deve ficar maravilhosamente cheirosa após o banho.
Ainda mais do que já é.
[21:58] Amélia:
Sobre eu ficar maravilhosamente cheirosa após o banho, você com certeza tem uma imaginação bem fértil para imaginar como eu fico.
[22:01] Helena:
Fértil o suficiente para imaginar muito mais do que o seu cheiro.
Está passando um documentário sobre fetiches estranhos.
O que acha de Podolatria?
[22:03] Amélia:
Eu adoro como você é tão aleatória nas nossas conversas.
[22:03] Helena:
A pergunta foi séria!
[22:04] Amélia.
Hahahahahaha, droga Helena.
Você pratica podolatria?
[22:05] Helena:
Não. Tenho cócegas nos pés.
[22:05] Amélia:
O mesmo para mim.
[22:05] Helena:
Me diz um fetiche seu.
[22:07] Amélia:
Eu sabia que você iria se aprofundar nisso.
[22:07] Helena:
...
[22:10] Amélia:
Dominação ou submissão, depende do meu ânimo no dia.
[22:12] Helena:
Imaginando. Com certeza imaginando muito.
[22:15] Amélia:
Com certeza o seu fetiche é a imaginação.
[22:16] Helena:
Hahahahaha, eu tenho um fetiche absurdo por mulheres com cinta liga. E, o mais obvio, eu amo um bom striptease, fazer ou ver.
[22:18] Amélia:
Nunca usei cinta liga.
[22:19] Helena:
Está considerando agora?
[22:19] Amélia:
Talvez.
[22:21] Helena:
Estou ficando cada vez mais curiosa sobre você, Amélia.
[22:23] Amélia:
Você tem direito a mais uma pergunta antes que eu vá dormir.
[22:23] Helena:
Mas só uma??????
[22:23] Amélia:
Eu preciso dormir, Helena...
[22:25] Helena:
Qual a sua posição preferida?
[22:26] Amélia:
De quatro.
Boa noite, Helena. J
[22:26] Helena:
Porr*, Mia!!!
Helena tinha um sorriso largo nos lábios logo após ter apoiado o celular em seu peito, mordeu o lábio inferior com um pouco de força na tentativa de conter um sorriso após aquela conversa com Mia. Era claro como Mia ficava cada vez mais a vontade com ela, afinal, as duas conversaram todos os dias ao longo de pouco mais de uma semana desde o dia em que almoçaram juntas, começavam sempre com um bom dia, quem acordasse primeiro vinha saudar a outra e ao longo do dia conversavam sobre as maiores banalidades possíveis e pouco se importavam com a demora em responder que às vezes acontecida devido ao trabalho de ambas, era bom, era natural, era divertido.
E mesmo conversando por mensagem por dias, a vontade de se encontrarem também crescia, o último encontro marcado naquele mesmo dia, não havia dado certo devido ao trabalho de Amélia, uma reunião de última hora! Mas Helena entendia, realmente entendia e por isso sequer se importara de receber a mensagem de Mia desmarcando o encontro, sempre haveria outras oportunidades. E por mais que dissesse que Amélia poderia compensar de outra forma, era nada além de uma brincadeira, ela jamais precisaria compensar por desmarcar algo sem culpa.
Não recebeu mais nenhuma mensagem, aparentemente Mia tinha mesmo ido dormir, era justificável a contar pela rotina corrida que ela andava tendo. Deixou o celular sobre o criado mudo e ajeitou-se na cama de forma confortável para também ir dormir, Vadia se mexeu ao seu lado e a morena sorriu, a mão esquerda pousando sobre o pelo macio de forma quase automática para acariciar a pequena gata. Os pensamentos não saiam de Mia e depois daquela simples conversa, pensamentos que faziam o seu corpo esquentar.
— Boa noite, Vadia. — falou baixinho, enquanto se ajeitava novamente ficando em uma posição mais confortável para de fato tentar dormir. E foi questão de minutos para que seus pensamentos se acalmassem a ponto de se transformarem em sonhos em meio a um sono profundo e aliviado já que havia tido um dia longo, estava mesmo precisando descansar.
Em determinado momento da madrugada... Parou de sonhar e o sono tranquilo se tornou inquieto. Tinha algo acontecendo. O sono já não era mais tranquilo, era perturbado, mas pelo que?
— Eu sei o que você anda fazendo, Helena. — a voz grave soou bem ao pé de seu ouvido e a morena abriu os olhos de repente, despertando de seu sono no susto, tudo para ser acometida pelo terror, os olhos se arregalaram imediatamente quando sentiu seu corpo ser ainda mais pressionado contra a cama impedindo ela de se mexer, a respiração saia com certa dificuldade, era como se tivesse um peso bem em seu peito.
Sentiu as lágrimas grossas começarem a escorrer pelo canto de seus olhos e quis gritar, fez força, tentou, quis gritar mais ainda por que nenhum som saía, seu coração doía de tão rápido que batia dentro do peito e a todo o momento ela sentia alguém bem ao seu lado. Queria virar o rosto para ver quem era, por mais que já imaginasse, queria perguntar por que, mas não conseguia. Simplesmente não tinha mais controle sobre o próprio corpo.
Não era a primeira vez que tinha paralisia do sono, mas sempre que tinha, ficava completamente aterrorizada e aquela vez não estava sendo diferente. Sentia-se derrotada por passar por aquilo mais uma vez, chorava quase compulsivamente, fechou os olhos com força enquanto mentalmente repetia sem parar. “Por favor, por favor, por favor.” Primeiro sentiu o movimento dos dedos e quando sentiu um formigamento subindo por seu braço e começando a tomar conta de seu corpo, ergueu-se com tudo da cama, sentando-se de uma vez, o ar viera com tudo queimando os seus pulmões, era como se tivesse acabado de despertar, mas sabia que não era bem assim.
Levou a mão ao peito que doía pela dificuldade em respirar, as lágrimas já chegavam ao seu pescoço e iam escorrendo tamanha era a crise de choro. Puxou com força o cobertor de cima do corpo e saiu da cama como se ela fosse à razão de sue medo. Quando ligou a luz do quarto olhou em volta rapidamente, estava procurando a presença que sentira durante aqueles segundos de puro pavor que mais haviam parecido horas, mas seu quarto estava vazio.
Fechou os olhos com um pouco de força e bateu levemente a cabeça contra a parede atrás de si, soltou um suspiro pesado, o suspiro trêmulo devido ao choro, tentava se acalmar, mas foi em vão, na verdade a angustia que sentia dentro do peito parecia piorar cada vez mais. As pernas fraquejaram e Helena deixou que seu corpo cedesse até que sentasse no chão e tudo o que fez em seguida foi abraçar as próprias pernas com toda a força que tinha... E chorar. Chorou temendo que nunca fosse ter sempre noites em que não acordasse daquela forma, chorou por ter sofrido tanto nas mãos do homem que havia lhe prometido apenas amor, chorou com medo de dormir novamente e acordar daquela forma. Chorou por sua sanidade e pela clara submissão que ainda tinha por Trevor.
E quando parou de chorar, ele já não era mais apenas Helena.
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— Bem vinda de volta, mascarada. — o segurança saudou a dançarina assim que abriu a porta dos fundos e a morena apenas sorriu de forma satisfeita ao ver o homem negro mais uma vez. — A Seline está ausente hoje, mas a sala dela é toda sua como sempre.
— Obrigada, querido. — agradeceu, manteve o sorriso satisfeito, quase safado, quando passou pelo homem e continuou andando a passos lentos, não tinha pressa, só de estar ali já se sentia satisfeita, por mais que seu interior clamasse pela sensação de estar em cima do palco.
Enquanto andava pelo corredor ouvia a música alta do bar, sentia os olhares de algumas dançarinas que ainda se arrumavam e sabia que agora era o assunto delas, afinal, sabia que muitas, se não todas, morriam de curiosidade de ver a dançarina sem aquela máscara. No fim do corredor virou à esquerda e subiu as escadas um pouco mais rápido seguindo em direção à sala reservada de Seline, de onde ela comandava todo aquele bar. Adentrou sem qualquer receio, foi recebida logo de cara pelo típico perfume doce da dona do lugar, por mais que ela não estivesse ali, seu cheiro parecia impregnado em todos os lugares.
Fechou a porta atrás de si e enfiou as mãos nos bolsos do sobretudo que sempre usava, a passos ainda mais lentos se aproximou da grande parede de vidro na mais pura intenção de apenas olhar o movimento, ainda não estava perfeito, não tinha tanta gente como queria e realmente não se importava de esperar um pouco mais, ah ela sabia muito bem que sempre valia a pena esperar um pouco mais. Respirou um pouco e fechou os olhos por um momento, por mais que a sala tivesse revestimento nas paredes para barrar o som exterior, ainda era possível, mesmo que bem baixo, ouvir. Não conhecia a música que tocava, mas gostava do ritmo.
Afastou-se da parede e olhou em volta, os olhos percorrendo cada canto daquela sala, um sorriso de canto se desenhou em seus lábios, as pontas dos dedos tocaram devagar o assento da poltrona perto da janela e foram se arrastando pela mesma bem devagar à medida que começava a andar, acabou lembrando-se das vezes que transou com Seline naquele lugar, não era saudade, não de Seline. Mas estava com o corpo quente, muito mais quente do que normalmente e sabia que isso tinha um único motivo. Um único nome.
Umedeceu os lábios devagar, o gosto amargo dominava a sua boca, precisava de algo para beber. Aproximou-se da mesa de carvalho no canto da sala e encostada em uma das paredes, repleta de garrafas caras de bebidas diversificadas. A bebida preferida de Seline era vinho e quase todas as vezes que vinha ali, a mulher tinha em mãos uma taça cheia, mas a diversidade de whiskys que tinha naquela mesa chegava a ser um tanto intrigante. Helena imaginou que todos eram destinados ao homem por trás de Seline. A morena deu uma breve risada, carregada de ironia quando pegou uma das garrafas e puxou com um pouco de força a tampa antes de despejar o líquido de cor âmbar em um dos copos enfileirados, deixou a garrafa de lado e segurou o copo com a ponta dos dedos e o levou aos lábios carnudos.
Era irônico. Odiava bebidas alcoólicas e o máximo que se permitia beber normalmente era uma cerveja, uma taça de vinho ou até champanhe, coisas leves... Mas naquele momento, um gole daquela bebida tão forte e tão quente pareceu acariciar-lhe por dentro e esquentar ainda mais o seu corpo. Era daquilo que a dançarina gostava. Sentou confortavelmente na poltrona próxima a parede de vidro, de onde tinha uma bela visão de todo o bar e relaxou, as pernas se cruzando devagar, o sobretudo se abrindo um pouco e exibindo parte das belas coxas cobertas por uma meia 7/8 preta que era bem segura por uma cinta liga da mesma cor.
Os cabelos negros, levemente ondulados, estavam soltos, hoje havia dispensado o uso de peruca e os lábios, como quase sempre, rubros, contornados por um batom. A máscara era a mesma, sempre era e cobria a maior parte de seu rosto, exibindo só os lábios carnudos. Deu um novo gole na bebida, um pouco mais longo que o anterior e exatamente logo em seguida ouviu batidas na porta da sala e olhou em direção a mesma a tempo de vê-la sendo aberta. A figura feminina era bem conhecida aos seus olhos, Katy, uma das dançarinas do bar, a que sempre usava perucas de cor azul.
— A Seline ligou pedindo para que eu deixasse você o mais a vontade possível já que ela está ausente hoje. — ela tinha uma voz doce, doce e ao mesmo tempo sedutora para Helena. Seria a prática de todas as noites ter que seduzir os homens que frequentavam aquele lugar?
— O mais a vontade possível? Será que ela tem noção do quão perigoso pode ser isso? — rebateu, a voz rouca saía tão sedutora quanto à de Katy.
— Gostaria de saber qual a sua percepção de perigo. — a porta da sala foi fechada e Katy deu alguns passos a frente, olhou em volta brevemente, desacostumada a entrar naquela sala sem a presença de Seline.
Helena ficou em silêncio, mas os olhos por trás da máscara estavam completamente fixos na dançarina de peruca azul que parecia um tanto entretida em olhar em volta, mas logo Katy parou os olhos em Helena.
— Por que tanto mistério com o lance da máscara? — Katy indagou enquanto se aproximava um pouco mais, um tanto empolgada com a oportunidade que tinha de conversar com alguém que sempre lhe despertou tanta curiosidade. Afinal, Helena era alguém que sempre ia e vinha do nada.
— E por que não? — Helena rebateu e levou o corpo de whisky aos lábios, dando um gole mais longo do que os anteriores, respirou um pouco fundo enquanto umedecia os lábios devagar os lambendo com a pontinha da língua. — É pelo mesmo motivo que eu me torno tão interessante pra você. Afinal, eu sei, eu sinto, que o seu interesse em mim é muito maior por causa da máscara.
— Não seria curiosidade?
— Curiosidade gera interesse, Katy. É automático.
— Qual o seu nome?
— Em que mudaria essa informação?
Katy encostou-se à larga parede de vidro e deu uma pequena risada enquanto mantinha o olhar em Helena, fixos, interessados e o sorriso quase divertido nos lábios.
— Qual a sua idade, Katy?
— Em que mudaria essa informação?
Helena não pode deixar de rir com a garota repetindo a sua mesma pergunta, devagar então, descruzou as pernas e ergueu-se de onde estava, inicialmente ao contrário do que queria, se afastou de Katy e caminhou até a mesa onde ficavam as bebidas.
— Sempre me perguntei o que você e a Seline faziam aqui antes dos seus shows. Ou se você manda tão bem em suas apresentações por que tem algum estímulo antes.
— O estímulo seria trans*r com a Seline? — olhou brevemente para Katy após aquela pergunta e arqueou uma sobrancelha antes de levar o copo mais uma vez aos lábios, deu um último gole e respirou fundo ao sentir o líquido quente esquentar ainda mais o seu interior. Katy não lhe respondeu. — Apenas conversamos normalmente, ela da em cima de mim, eu recuso e vou para o palco.
— Por quê?
— Por que ela é casada. — respondeu como se isso fosse à coisa mais óbvia do mundo e voltou a andar a passos lentos, logo após deixar o copo sobre a mesa, em direção a Katy desta vez. A idade de Katy ficava clara em seus traços jovens, por mais que aquela expressão sedutora e pose de mulherão pudessem enganar... Helena daria pouco mais de 20 anos a ela.
— Você dança para homens casados, Mascarada.
— Mas não transo com eles, Katy. — aproximou-se o suficiente para ficar apenas a um passo da dançarina que se mantinha encostada na parede de vidro, sorriu de canto. — Fale a verdade, por que veio aqui?
A garota de peruca azul deu de ombros e desencostou-se devagar da parede apenas para se aproximar um pouco mais de Helena. A mascarada sequer se moveu, mas notava o olhar de Katy oscilando entre seus lábios e seus olhos e realmente gostava disso, sentia-se instigada, não era à toa, chegara naquele lugar com o corpo quente, desejando algo e ali estava a oportunidade que queria. As mãos da dançarina tocaram o nó de seu sobre tudo e Helena cedeu ao dar um passo a frente assim que o fora puxada pelo nó. Os corpos chegaram a roçar um no outro e os rostos ficaram perigosamente próximos, principalmente os lábios. Katy investiu um pouco mais, viu que Helena sequer demonstrava qualquer resistência, os lábios se roçaram bem devagar e a dançarina sorriu contra aqueles lábios carnudos, um sorriso tão safado que fez Helena quase sorrir de volta.
Os lábios foram se encaixando bem devagar e Helena sentia as mãos de Katy sendo ágeis e desatando o nó que fechava o seu sobre tudo e gostava disso. Quando sentiu a roupa ficar mais frouxa ao seu redor, fora puxada mais para perto e os corpos colaram-se de uma vez por todas, assim como os lábios, o beijo já começou cálido, cheio de um desejo que Helena necessitava naquela noite, as línguas se entrelaçaram com pura luxúria e o gosto do whisky ainda era sentido entre aquele beijo. Não notou quando uma das mãos de Katy não lhe tocava mais, apenas notou quando sentiu o roçar breve em seu rosto e em seguida a sua máscara se movendo. Nunca agiu tão rápido.
A mão voou em direção ao pulso de Katy, o agarrou com demasiada força e o empurrou de uma vez contra a parede de vidro assim como também empurrava o corpo dela com o seu. A outra mão também agiu rápido e agarrou a mão livre da dançarina a empurrando também contra o vidro e assim, deixando a ousada dançarina presa. O beijo fora quebrado nesse processo e a expressão séria de Helena era responsável por causar aquele olhar levemente assustado em Katy. Quase, definitivamente, fora quase.
— Apostamos os lucros da noite que eu conseguiria ver seu rosto. — explicou-se em um sussurro que quase não saiu diante aquele olhar acusatório de Helena.
— Então aqui temos a verdade. — falou baixo, seu coração havia acelerado por alguns segundos após o susto, mas a sua máscara felizmente continuava no mesmo lugar. Deu uma risadinha que soou absurdamente malvada e viu, claramente viu quando Katy pareceu engolir em seco, como se estivesse temendo o que Helena faria. A mão esquerda da mascarada soltou o pulso de Katy apenas para poder agarrar o queixo bem desenhado que ela tinha. Apertou com demasiada força e a encarou nos olhos com uma intensidade sem igual. — Que menina mal criada, achando que pode me distrair a tal ponto. — uma nova risada e se aproximou novamente selando os lábios da garota em um selo demorado e estalado. — Odeio que mintam para mim, sabia? — a voz saiu entre os dentes e o aperto ficou mais firme tanto no pulso quanto no queixo, como se estivesse dando ênfase em suas palavras. — E é por isso que para compensar, você vai ser o meu estímulo hoje, Katy. — virou o rosto da menina com um pouco de força e se aproximou mais, a testa ficou colada na lateral da cabeça dela e a boca bem rente ao ouvido. No mesmo instante a perna direita agia, se enfiando entre as pernas de Katy de maneira repentina e erguendo-se um pouco a tal ponto que fez a garota prensada contra o vidro sobressaltar-se em um arquejo bem audível que fez Helena sorrir de imediato. — E é bom que você compense com a boca o fato de você ser uma péssima mentirosa.
— Sim. — foi tudo o que Katy falou, um sussurro contido, submisso talvez? Estava rendida aquela abordagem completamente mandona e superior de Helena.
— Sim o que? — Helena insistiu em um tom sério e ergueu um pouco mais a perna, a coxa pressionando perfeitamente o local certo entre as pernas de Katy. A garota arfou novamente e Helena apenas teve a certeza que definitivamente Katy adorava aquilo.
— Sim senhora. — falou de imediato e respirou um pouco fundo antes de continuar.
— Da próxima vez que tentar algo assim, eu vou adorar acabar com a regalia que todas vocês tem aqui por causa de mim, não me façam dizer a Seline que todas estão fazendo apostinhas idiotas para descobrirem quem eu sou. — e referia-se ao dinheiro extra que todas ganhavam com as apresentações de Helena.
Soltou o rosto da garota e quando seus olhos se encontraram mais uma vez, Katy acenou de forma positiva com a cabeça de maneira bem rápida para mostrar que havia entendido e muito bem as palavras de Helena. Toda aquela pose de mulherão havia caído e Helena havia entendido que havia sido só um disfarce para que ela conseguisse o que queria. Ela mais do que ninguém sabia como cada uma daquele lugar prezava e muito o dinheiro que recebiam, ameaçar isso era a pior ameaça que poderia lhes fazer.
Soltou também o pulso da garota ainda preso contra a parede e logo então sentiu as mãos de Katy voltando a lhe tocar, mas desta vez por dentro do sobre tudo, passando por sua cintura nua e a puxando para mais perto ao mesmo tempo em que os lábios se tocavam com ansiedade e ainda mais desejo do que anteriormente, as mãos de Katy eram extremamente ágeis, passeavam por seu corpo como se já tivessem feito isso várias e várias vezes. E era exatamente isso que Helena queria naquele momento. Não havia hesitação, não havia receios, só havia puro desejo entre as duas e a vontade de uma única coisa: Saciar suas vontades.
Pendeu levemente a cabeça para trás e soltou um gemido baixo ao mesmo tempo em que sentia o corpo inteiro arrepiar quando a boca da dançarina chegou ao seu pescoço, a língua quente deslizando por sua pele, a boca macia acariciando-a era capaz de quase fazer o seu corpo se derreter. Sorriu de forma inteiramente satisfeita enquanto fechava os olhos, ah como queria. A mão esquerda tocou a nuca da menina de maneira possessiva, apertando-a com vontade como se a incentivasse a continuar. Cada arrepio que sentia seguia um único rumo em direção: sua calcinha. Derretia-se inteira em um mel que melava-lhe a calcinha e a deixava mais do que pronta, seu corpo fervia desde cedo e finalmente estava sendo saciado.
— Você fica muito gostosa com cinta liga. — ouviu as palavras da menina assim que ela se afastou e deu uma risadinha bem satisfeita.
Um beijo no vale entre seus seios e um aperto firme em um deles, um novo arrepio e um gemido rouco dos lábios de Helena, a mão direita espalmando-se no vidro e os olhos de Helena acompanhando Katy descer cada vez mais para onde ela queria. Ter aquela jovem ajoelhada bem em sua frente era algo simplesmente delicioso naquele momento, sentia urgência de ter a sua boca, por mais que tivessem tempo para se aproveitar ainda mais, o desejo que sentiam naquele momento causava uma urgência mútua para ir diretamente para a melhor parte.
Ergueu a perna direita quando sentiu as mãos de Katy sendo ágeis e a puxando, apoiou-a sobre um dos ombros da menina, do jeito que Katy queria e imediatamente seu corpo tremeu, Katy não enrolava, ia direto ao ponto, louca para sentir o que tanto desejava desde as primeiras vezes que viu Helena dançando naquele bar. E a beijou ainda por cima da calcinha, o cheiro, o calor, a umidade foram capazes de fazer Katy gem*r e Helena morder o lábio inferior com um pouco de força.
Sua calcinha fora puxada para o lado, o máximo que a posição permitia e o que sentiu a seguir a fez abrir um pouco a boca, quase gem*r, mas o gemido não saiu, nenhum som saiu, ficou preso em sua garganta junto com o prazer de ter uma língua quentinha e molhada deslizando tão gostoso por seu íntimo. Desceu à mão esquerda, os dedos emaranharam-se entre os fios da peruca e a mão se espalmou na cabeça da garota a puxando para mais perto. Arfou de forma audível desta vez, a língua fora mais além, seu interior se contraiu inteiro com o deslizar gostoso da língua que foi de sua entrada até o seu clit*ris.
— Isso, Katy... Agora sim está sendo uma boa menina. — sussurrou e um arrepio intenso dominou o seu corpo novamente, muito mais forte do que os anteriores, os lábios se entreabriram novamente e pendeu um pouco a cabeça para trás, fechou os olhos mais uma vez e aproveitou aquela vontade tão grande que Katy demonstrava. Sorriu completamente satisfeita antes de morder o lábio inferior com força, ah, era tudo o que ela queria, definitivamente.
O gemido saiu arrastado e irresistivelmente lento quando seu clit*ris começou a ser sugado de uma maneira inteiramente faminta, abriu os olhos e baixou o olhar para poder olhar para a menina que se empenhava tanto em lhe ch*par de uma forma simplesmente enlouquecedora. E o melhor de tudo era que aquela garota era deliciosamente gulosa. Lhe ch*pava com uma vontade tão clara que estava deixando Helena com as pernas fracas. Empurrou o quadril contra a boca dela ao mesmo tempo em que também lhe puxava, a cada vez que a língua quente deslizava por seu íntimo, a onda de prazer que subia por seu corpo em forma de calor vinha junto com um arrepio tão gostoso que a fazia querer cada vez mais.
Agora, o que ouvia não era mais a música ao fundo, bem baixa, ouvia apenas os pequenos, mas muito deliciosos barulhos que a boca de Katy fazia ao lhe ch*par com tanta vontade, sentiu um aperto firme na bunda e também as longas unhas da garota sendo fincadas em sua coxa erguida, uma leve fisgada, franziu o cenho levemente com a leve ardência que sentiu, mas que foi o suficiente para potencializar o seu prazer, fora melhor ainda quando Katy arrastou com força as unhas por sua coxa, arranhando-a de uma forma que Helena sabia que estava a marcando e gostava disso. Os gemidos iam ficando mais frequentes, mas quando Katy se ajeitou um pouco mais entre suas pernas, Helena quase soltou um gritinho com a sensação deliciosa que tomou conta de seu corpo assim que sentiu a língua ousada invadindo-lhe, rolou os olhos desta vez e gem*u de forma bem demorada, seu corpo chegou a tremer.
Iria se desfazer em pouco tempo na boca de Katy, não sabia se era por que havia vindo para aquele lugar já sedenta por algo assim, ou se era por que estava a muito tempo sem sex* ou se principalmente era por que aquela menina lhe ch*pava com uma habilidade sem igual, mas sentia já o clit*ris pulsando, estava à beira do orgasmo que estava chegando muito mais rápido do que gostaria. Rebolou sobre aquela língua, aquela boca que lhe sugava com vontade, voltou a olhar para Katy e notou que agora a menina tinha os olhos abertos, parecia querer também apreciar aquele momento. Continuou rebol*ndo, seu quadril indo para frente e para trás devagar, a língua de Katy arrastando-se a medida que Helena rebol*va, mas de maneira repentina Helena sentiu um aperto bem firme que foi capaz de parar o seu quadril e novamente quase gritou de prazer, mas tudo o que fez foi tremer quando a menina abocanhou-lhe o clit*ris com uma vontade que não havia demonstrado até então e começou a suga-lo de uma forma que fez Helena rolar os olhos mais uma vez, gem*r um pouco mais alto, perdendo o controle que tinha até então. Era como se Katy sugasse com força para ter o que mais queria: O orgasmo de Helena.
E a mascarada não durou muito mais, o corpo tremeu sob as mãos e boca de Katy, tremeu por bons segundos quando o orgasmo chegou com tudo, o interior se contraindo repetidas vezes de forma sincronizada com as pulsadas que sentia em seu clit*ris. Os olhos mantinham-se abertos, mesmo que semicerrados, não quis desviar o olhar da menina, arfou assim que sentiu um espasmo forte que a fez se contorcer, estava sensível, deliciosamente sensível e sentiu Katy sorrir contra o seu intimo. Mas a lambida que veio a seguir fez seu corpo se arrepiar dos pés a cabeça mais uma vez. A menina foi afastando a cabeça devagar e Helena viu a boca dela ainda ligada a sua intimidade por alguns fios de sua excitação e definitivamente fora uma cena deliciosa ver Katy lambendo os lábios, claramente lhe saboreando antes de voltar a encaixar a sua boca, a língua quentinha serpenteava por sua entrada sem parar e fazia Helena se contorcer tanto por prazer, quanto pela sensibilidade por qualquer mínimo roçar em cima de seu ponto de maior prazer.
Então, Katy se afastou devagar, um sorrisinho claramente satisfeito enquanto Helena tirava de cima de seu ombro a perna erguida, assim a menina ergueu-se devagar e encostou-se no vidro atrás de si mais uma vez. Helena não esperou nenhum segundo a mais para se aproximar e beijar-lhe mais uma vez, desta vez não foi um beijo cálido como os de antes, fora mais calmo, queira apreciá-lo desta vez e agora não era mais o gosto do whisky que dominava o beijo e sim, o seu próprio gosto. Deu uma breve risadinha contra a boca da menina e devagar a segurou pela cintura e foi a virando de costas para si, apoiou as mãos no vidro e olhou para a multidão de homens lá embaixo, estava muito mais cheio do que anteriormente. Colou o corpo no de Katy, quase a prensando contra a parede de vidro, deu um beijo no pescoço exposto da menina e os lábios saíram arrastando-se devagar pela pele cheirosa que ela tinha até chegar ao pé do ouvido.
— Agora você vai descer, vai escolher uma bela música para mim e o sucesso do meu show de hoje vai ser completamente por sua causa. — sussurrou ao pé do ouvido da menina, os olhos ainda lá embaixo, no bar. Sorriu de maneira satisfeita. — E assim, quem sabe, da próxima vez, se você seguir sendo uma boa menina, eu não te compense tão gostoso quanto você fez hoje.
— Por que só da próxima? — a voz de Katy soou extremamente manhosa e ela virou o rosto para poder olhar para Helena por cima de seu ombro.
— Por que se você tivesse vindo aqui com a única intenção de me fazer te comer, Katy, eu estaria fazendo isso agora. — piscou para ela rapidamente, deixando claro que o momento em que a menina havia tentado tirar a sua máscara de forma tão deliberada havia mesmo a irritado. Helena se afastou logo em seguida e deu as costas para a garota, as mãos foram até o sobre tudo o ajeitando e em seguida novamente ao amarrando contra seu corpo enquanto caminhava até o espelho.
Katy ficou em silêncio pelos segundos que vieram a seguir, apenas virou-se e encarou Helena agora em frente ao espelho ajeitando com calma o batom que cobria os lábios carnudos. Ainda assim a garota mais nova sorriu de maneira satisfeita com o que havia acontecido ali, apesar de extremamente excitada sabia que podia descontar isso em qualquer homem que lhe pagasse muito bem naquele bar, mas o que havia acontecido naquela noite, ela tinha certeza, que não era algo que aconteceria com qualquer uma. Afinal, a fama de intocável também percorria Helena.
— Dance para mim hoje. — foi à única coisa que falou antes de sair andando a passos um pouco mais largos em direção á porta.
Helena acompanhou pelo espelho a saída de Katy e então sorriu de forma satisfeita enquanto olhava o próprio reflexo, o corpo deliciosamente relaxado, mas ainda completamente quente, aquela noite havia mesmo começado muito bem para ela, agora precisava de seu ápice para se tornar perfeita. Ajeitou a roupa novamente, lembrando-se especificamente da calcinha e assim que ficou completamente composta, respirou fundo e saiu andando devagar até a porta da sala, saiu em segundos e desceu as escadas com calma apenas para seguir em frente em direção as outras escadas e finalmente a cortina vermelha por onde sempre passava antes de seus shows.
[Love is a Bitch - Two Feet]
Parou em frente à cortina e aguardou enquanto olhava para o tecido de veludo de forma quase fixa, ainda tocava uma música qualquer lá fora, mas ela não prestava atenção, apenas esperava a sua deixa, então, a música parou de maneira repentina e ela sorriu, era a deixa que sempre tinha antes de subir no palco, segundos sem música alguma no bar e ela então, calmamente deu alguns passos à frente atravessando a cortina vermelha, as mãos nos bolsos do sobretudo a luz a iluminou, a música começou, lenta, sensual, deliciosa de se ouvir, sorriu de forma satisfeita e pacientemente foi dando passos lentos em direção ao pole dance no fim do palco, os homens começavam a se amontoar ao redor, como sempre acontecia, a cada passo que dava sentia muito bem a fricção entre suas pernas, proveniente de sua lubrificação, ainda estava excitada e isso só tornava aquele momento ainda melhor.
Ah, como se sentia superior ao ver aqueles homens gritando, implorando por um pouco de sua atenção e ela os ignorava, pouco se importando de vê-los ali, lhe oferecendo dinheiro para que ela ao menos se aproximasse... Mas não o fazia. Parou a alguns passos do pole dance prateado e levou as mãos ao cordão em volta de sua cintura e preso em um nó a frente do sobretudo, o desatou devagar e um coro de vozes masculinas teve início:
— “tira, tira, tira”. — ela deu uma breve risada e mordeu o lábio inferior com um pouco de força, abriu um pouco mais as pernas, agarrou um dos lados do sobretudo e abriu repentinamente apenas um, no mesmo ritmo da batida da música, fez o mesmo com o outro lado, seguindo o ritmo e exibindo então o conjunto preto de lingerie quase transparente, a excitação era evidente pela pele arrepiada e os bicos dos seios bem evidentes contra o tecido fino do sutiã, a cinta liga era apenas um complemento ainda mais avassalador para aquele conjunto.
Aproximou-se do pole dance devagar e encostou as costas no mesmo, pendeu um pouco a cabeça para trás e foi descendo bem devagar, deslizando as costas pela barra de ferro, as pernas abertas ficando bem expostas à medida que ia se abaixando e os joelhos se flexionando, as mãos entre as pernas tapando o lugar que os homens mais queriam ver naquele momento. Dinheiro era jogado em sua direção, muito dinheiro e alguns homens inclinavam-se sobre o palco na tentativa de conseguir tocá-la, mas ela sequer fazia menção de deixar... Ergueu-se devagar e virou-se em direção ao pole dance, a batida lenta e sensual a fazia não ter pressa alguma para dançar.
Cada movimento era lento, era carregado de sensualidade, a forma como empinava a bunda ao agarrar a barra metálica e ir erguendo o corpo devagar para manobrá-lo no ar enquanto as mãos agarravam tão habilmente aquela barra, dançava com uma maestria sem igual, era tudo prática. Quando fez aulas de pole dance nunca achou que um dia as usaria e ali estava, usando cada habilidade adquirida para se exibir para aqueles lixos que babavam por qualquer coisa. Caiu de joelhos no chão, novamente em frente à barra, rebolou de acordo com a música, a cabeça pendendo levemente para trás, as mãos percorrendo as próprias curvas até chegarem aos seios e começar a adentrar o sutiã, mas então abriu os olhos de forma surpresa e sorriu de forma safada ao negar com a cabeça e retirar as mãos. Riu de si mesma antes de ir se inclinando, os pés se ergueram do chão, ficando apenas os joelhos quando ondulou o corpo, os seios focaram o chão primeiro, a bunda ficara bem empinada antes de ir se erguendo devagar para então começar a engatinhar bem lentamente, mas parou antes de se aproximar demais da beirada.
Ergueu-se do chão devagar e deu as costas novamente a eles e voltou em direção ao pole dance, mas não sem antes notar a garota de cabelos azulados no canto do palco, a olhando de uma forma que fez a dançarina sorrir de maneira mais larga. A chamou com o dedo e a menina obedeceu-lhe em um piscar de olhos. Subiu no palco e foi em direção a Helena a passos lentos e logo a mascarada segurou-lhe a mão e a trouxe para perto de uma vez, os corpos se chocaram repentinamente e as bocas se aproximaram mais uma vez de forma safada, sorriram de forma cúmplice, se moviam de forma sincronizada, lenta, de acordo com a música.
— Abra meu sutiã. — mandou em tom baixo contra a boca da menina e imediatamente sentiu as mãos dela subindo por suas costas devagar até fazer o que ela havia mandado. Sorriu de forma satisfeita. — Não deixe que eles vejam. — sussurrou antes de virar-se, sentiu o corpo de Katy colar em suas costas e deu um sorriso safado, os quadris pareciam rebol*r de maneira completamente sincronizada e em um roçar simplesmente gostoso. Sentiu ambas as mãos da menina subindo por sua cintura devagar, ah, como aquela garota sabia entender as coisas bem. Levou ambas a mãos as alças do sutiã devagar e quase ao mesmo tempo em que sentiu a pegada gostosa das mãos de Katy agarrarem ambos os seios de uma maneira quase possessiva, deixou que o sutiã caísse no chão.
Os homens protestaram com afinco e Helena deu uma boa risada completamente satisfeita e também ouviu Katy rindo ao pé de seu ouvido, ela olhou para a menina por um breve momento por cima de seu ombro, o sorriso largo em seus lábios antes de erguer o olhar novamente olhando então para frente, fora nesse momento que sentiu o seu coração dar um verdadeiro pulo dentro de seu peito.
Aquela expressão incrédula, aqueles olhos azuis que Helena tanto gostava, foram mais do que capazes de praticamente atravessar-lhe com uma faca feita de gelo puro, fora como ter levado um belíssimo banho de água gelada, ainda mais quando Mia desviou o olhar de uma forma que lhe partiu o coração, abraçou o próprio corpo e virou-se devagar em direção a Katy.
— Agora é com você. — piscou para a dançarina antes de desvencilhar-se dos braços dela e sair andando a passos um tanto rápidos até enfim sumir de uma vez por todas ao passar pelas cortinas vermelhas, o coração batendo a mil por hora dentro de seu peito após aquele olhar de Mia, o olhar que lhe trouxe de volta a realidade e finalmente ter noção do que estava fazendo e do que fez.
— Aqui... Vou pedir para o segurança te chamar um táxi. — uma das dançarinas do bar já estava à espera de Helena e com o seu sobretudo em mãos.
— Não se preocupe com isso, hoje eu vou aproveitar um pouco a noite e vou andando. — piscou para a garota enquanto pacientemente vestia o sobretudo voltando a tapar o corpo do qual agora sentia vergonha, mas disfarçava perfeitamente bem para aquelas pessoas.
— Você foi incrível hoje.
Apenas sorriu de forma larga enquanto saia andando a passos um tanto largos e também ia amarrando a roupa que lhe cobria, o homem que cuidava da porta dos fundos assim que lhe viu já fora a abrindo como sempre fazia, não sabia o que estava sentindo e nem o que estava acontecendo, era a primeira vez que se sentia daquela forma... Humilhada talvez?
— Não vai esperar o táxi? — o segurança perguntou assim que Helena se aproximou mais, a morena negou com um aceno de cabeça. Ele era um dos únicos que sabia o seu endereço, já que quando não era Seline a responsável por chamar um táxi, era ele que o fazia.
— Hoje não, babe. Mas obrigada. — piscou para ele e sorriu de forma agradecida antes de sair andando devagar, respirou fundo assim que fora envolvida pela brisa extremamente fria da madrugada e soltou um suspiro pesado enquanto andava a passos mais largos pelo beco escuro. — Droga. — sussurrou para si mesma, era como se, ao ter visto Mia, a aura da dançarina tivesse simplesmente sumido de si e dado lugar unicamente a Helena. Praguejou-se ainda mais por que não havia percebido que Fred estava ali, havia se distraído demais com Katy e deixou de fazer o que sempre fazia quando vinha ao bar: Observava quem estava nele.
Assim que estava perto de sair na rua principal, levou à mão direita a máscara e a puxou devagar antes de enfim guarda-la no bolso do sobretudo, a mão esquerda penteou os cabelos ao jogá-los para trás com os dedos e suspirou de forma pesada assim que saiu na rua principal e começou a andar mais devagar, gostava de caminhar e sabia que fazer isso até em casa a acalmaria completamente. Era o que precisava, se acalmar e entender o que porr* estava acontecendo.
Passou por alguns homens e ignorou-os a chamando de gostosa e a chamando para beber algo, apenas se encolheu um pouco para tentar evitar o frio e continuou o seu caminho, mas, definitivamente, não esperava o que viria a seguir. Primeiro a buzina e em seguida o carro parando ao seu lado devagar, parou de andar e olhou para dentro do mesmo, seu coração voltou a pular no peito assim que olhou para aquelas duas orbes azuis e frias da motorista.
— Apenas entre. — Mia mandou em uma seriedade que fez Helena ter vontade de recusar aquela carona. Mas não o fez. Obedeceu e devagar adentrou o carro após abrir a porta, colocou o cinto devagar e cruzou as pernas antes de abraçar o próprio corpo. O vidro ao seu lado foi fechado e apesar de sentir que o aquecedor estava ligado, não estava se sentindo aquecida ao lado de Mia naquele momento.
O clima além de frio... Era tenso.
Olhou brevemente para trás para ver um Frederick completamente apagado e jogado deitado nos brancos traseiros e então, olhou para Mia. A morena estava extremamente séria e apesar de já ter visto aquela morena esbanjando seriedade, aquele momento era diferente, era pior.
— Pelo jeito o seu fetiche não é apenas mulheres com cinta liga, mas sim também usá-la para se exibir, não? — a voz de Mia soou perfurante e Helena respirou um pouco fundo enquanto desviava o olhar e começava a olhar pela janela do carro.
— Não precisava fazer isso. — referiu-se a carona.
— Ao contrário de você eu tenho a sensatez de saber que uma mulher sozinha a essa hora da noite no meio da rua é perigoso.
Curta e extremamente grossa, Helena se sentiu ainda mais humilhada e preferiu manter-se em silêncio, imaginava que qualquer coisa que falasse naquele momento resultaria em respostas cada vez mais frias da parte de Mia.
Já Mia não entendia exatamente o que estava sentindo além da raiva de ver Helena de forma tão depravada em cima daquele palco. Nos dias que se passaram, onde conheceu uma mulher extremamente maravilhosa com a qual conversou absolutamente todos os dias, havia simplesmente... Esquecido dessa parte obscura a qual Helena possuía em sua vida e após presenciar ela em cima daquele palco de uma forma completamente diferente daquela mulher com quem conversou todos os dias, era como um banho de água fria, um soco bem na boca de seu estômago estar se envolvendo com alguém que de dia era uma mulher incrível e a noite fazia algo tão sujo e parecia uma pessoa absurdamente diferente. E pior, o incômodo que também sentia ao vê-la com aquela dançarina em uma intimidade tão grande a deixava ainda mais confusa e ainda mais irritada com toda aquela situação. Não estava preparada para aquilo. Novamente voltou a se perguntar por que diabos tinha que se envolver e gostar de se envolver com uma mulher com duas vidas como Helena. Uma vida que ela amava e outra que sentia unicamente... Nojo.
O silêncio fora quase cortante por todo o caminho até a casa de Fred, o incômodo crescia em ambas a ponto de desejarem que aquilo acabasse logo, nenhuma ousava dar uma palavra sequer, Helena por que sabia que Mia não iria aceitar muito bem e Mia, por que se recusava a simplesmente conversar naquele momento onde apenas sentia raiva, de si mesma e de Helena.
Assim que parou em frente à bela casa que Frederick morava, desceu do carro rapidamente, bateu a porta com demasiada força e foi rápido até a de trás a abrindo imediatamente, Fred sequer se mexia de tão apagado que estava, mas, sem a força de Hernando para erguê-lo, já que o Arquiteto ainda estava em viagem, Mia precisava que Fred acordasse o suficiente para ao menos conseguir se sustentar.
Então, descontou a raiva dele. Uma tapa tão firme e forte escoou por dentro do quarto e Helena olhou completamente incrédula para a cena, ainda mais quando viu Frederick acordar assustada após o tapa na cara que recebera.
— Vamos, seu vagabundo, levanta.
— Masss... Que porr*. — a voz embolada do homem soou pelo carro enquanto ele sentava-se de forma completamente torta, não havia muita coordenação motora. Helena soltou um suspiro pesado com aquele momento, memórias que não queria lembrar justamente agora. Retirou o cinto e devagar saiu do carro, deu a volta no mesmo e parou em frente à Mia, definitivamente depois de ver a forma grosseira com a qual tratou o irmão, não queria mesmo irritá-la mais.
— Ei, garoto. Tenho cerveja bem gelada lá dentro, o que acha de continuarmos a festa de forma mais confortável? — a voz saiu extremamente persuasiva e Helena viu quando Fred sorriu satisfeito, viu o sorriso de Trevor naquele momento e sentiu um arrepio no seu corpo. Fechou os olhos por um momento e respirou fundo. — Vai me deixar esperando? Vamos, eu te ajudo.
Mia notou a familiaridade que Helena demonstrava com aquela situação e notou ainda mais o incomodo que ela estava sentindo e por mais que sua raiva queria deixar claro que era provavelmente costume de lidar com os bêbados dos bares, Mia sabia que não era. Isso lhe doeu o coração. Mas era egoísta demais para deixar seus sentimentos de lado naquele momento para confortar Helena de alguma forma.
Helena esticou as mãos para segurar os braços de Fred devagar à medida que o homem sozinho ia saindo do carro, quando ele agarrou a porta do carro para se apoiar, Helena já estava se colocando ao seu lado e passando o braço pesado do homem por seu ombro para conseguir apoio e puxá-lo para se manter em pé.
— Vamos... Não seja fraco, você não vai me deixar na mão não é? — perguntou, aquela mesma voz persuasiva que incomodava Mia de um jeito inexplicável.
— Jamais, jamais! O Fred não deixa uma mulher na mão, as mulheres que deixam o Fred... — então, a voz do homem embargou enquanto andava com a ajuda de Helena, Mia ainda observava aquele momento de forma incrédula, até incomodada por de forma triste notar a facilidade de Helena com aquela situação. Respirou um pouco fundo assim que retirou a chave do bolso e saiu andando a passos rápidos para abrir a porta da casa para os dois.
— Calma, garoto, sem choro, hoje é uma noite de comemorações, vamos beber até esquecer os problemas... Que tal?
O rapaz ergueu a mão devagar deixando só o dedo indicador erguido.
— Muito... — soluço. — Bom.
— Você está indo muito bem, Fred. — o elogiou enquanto o abraçava de lado para segurá-lo melhor para subir os dois degraus antes da porta, Mia havia sumido de seu campo de vista, mas assim que conseguiu adentrar a casa viu logo a morena colocando um balde ao lado do sofá e em seguida saindo novamente dali provavelmente para pegar alguma coisa. O corpo de Fred ficava cada vez mais pesado, sinal que ele estava a ponto de desmaiar novamente devido a tanta bebida consumida. — Converse comigo, Fred, o que mais você quer que eu faça hoje além de beber com você?
Ouviu a risada embolada do homem durar alguns segundos enquanto ia o guiando devagar, parou por um momento assim que quase caiu junto com o homem, mas conseguiu recuperar o equilíbrio a tempo.
— Podemos... Piscina. — ele pareceu sorrir, um sorriso que mais parecia uma careta.
Helena e Mia trocaram um novo olhar quando Mia voltava para a sala com um copo de água em mãos e um tubo de aspirinas e colocava ambos sobre a mesinha próxima ao sofá. Helena se aproximava cada vez mais com Fred, mesmo com tantos desequilíbrios, assim que se aproximou do sofá, foi virando Fred devagar, o abraçando pela cintura para não deixá-lo cair de uma vez em qualquer lugar e assim que ficou em uma posição certa foi o soltando devagar e o empurrando de leve, não precisou de muito para que o homem caísse sentado no sofá e em segundos pendesse para o lado. Helena não esperou mais um segundo sequer para sair dali a passos um tanto largos, eram lembranças dolorosas demais que ela nunca havia revivido com tanta realidade como fizera naquele momento.
— Você é um babaca, Fred. — Mia falou baixo assim que viu Helena sai daquela forma e respirou fundo antes de seguir o mesmo caminho, fechou a porta da casa do irmão e logo voltou para o carro onde Helena já estava em seu devido lugar, com o cinto e com o olhar vazio vidrado na janela ao seu lado.
Então, quando voltou a dirigir, a tensão no carro parecia ainda pior do que antes, agora nenhuma queria mais conversa, Mia ao mesmo tempo em que sentia vontade de se desculpar pelo ocorrido com Fred, não tinha vontade alguma de conversar com Helena naquele momento e Helena, por mais que antes quisesse resolver aquilo com Mia, agora só queria ficar em silêncio, frustrada consigo mesma.
E todo o caminho para a casa de Helena fora feito assim... Em um silêncio quase absoluto, uma tensão que crescia cada vez mais, o frio que prevalecia dentro do carro e uma distância que parecia crescer entre as duas mulheres. Nenhuma palavra, nenhum agradecimento, nada, nem mesmo quando Helena saiu do carro quando parado em frente a sua casa, nem uma olhada para trás, apenas duas mulheres indo embora, imersas em seus próprios pensamentos, frustrações, mágoas e raiva.
Terça Feira
[08:10] Helena:
Vamos conversar?
[15:33] Helena:
Mia...
Quarta Feira
[10:01] Helena:
Você não pode ficar me ignorando.
Mia... Converse comigo.
Quinta feira
[21:12] Helena:
Vamos ter que conversar algum dia.
Não é justo você simplesmente me ignorar dessa forma, não é como se você não soubesse daquilo.
Sexta Feira
[11:25] Helena:
Estou tentando de verdade te dar todo o tempo que você precisa. Mas não é justo. É assim que você enfrenta algo que você não gosta?
É uma forma bem adulta.
Bom... De qualquer forma, quando quiser ou se quiser, você sabe onde me encontrar.
De fato, tudo o que Mia não estava conseguindo fazer, era lidar direito com aquela situação, algo que fugia de todos os seus parâmetros normais, algo com o qual nunca havia lidado na vida e por mais que tentasse não conseguia tirar de sua cabeça a cena de Helena em cima daquele palco, parecendo uma pessoa completamente diferente e nos braços daquela garota. Estava ignorando Helena a semana inteira por que não sabia exatamente como começar uma conversa a respeito do que estava pensando. Afinal, uma coisa era saber que Helena, uma desconhecida, tinha uma vida dupla, outra coisa era saber que Helena, uma mulher com quem adorava conviver e tinha vontade ter sempre mais e mais perto, tinha uma vida dupla e por mais que soubesse, convivia com uma Helena tão diferente daquela dançarina, que vê-la naquele palco realmente fora um choque de realidade.
Se envolver com Helena significava ter que aceitar simplesmente que as noites ela iria sair para se exibir para homens e se envolver com as vagabundas que trabalhavam naquele bar? Por que tinha que ser tão complicado? Já não era o suficiente o fato de ter que ter lidado com todo o seu auto preconceito para se envolver com uma mulher? Tinha que ter tantas complicações por trás ainda?
Cada mensagem que recebia de Helena era um pulo novo em seu coração e um desconforto no estômago. Novamente ignorara a nova mensagem recebida naquele dia, mensagem esta que aparentava deixar claro que Helena não continuaria correndo atrás de uma conversa. E aquilo havia ficado tanto em sua cabeça que desistiu de trabalhar durante o resto do dia, precisava da pessoa mais sensata que tinha em sua vida: Sua mãe.
Era pouco mais de duas da tarde quando adentrou as portas do restaurante Palermo e fora recebida com um belíssimo sorriso de Matt, o Maître.
— Srta. Palermo! Como é bom vê-la, cada dia mais linda. — a voz calorosa do homem fez Mia sorrir de forma larga de imediato. A morena deu uma breve risada.
— Cada dia mais cavalheiro, Matt. — aproximou-se para dar um beijo no rosto do senhor grisalho como sempre fazia de forma carinhosa. — A Mama está?
— Sim, menina. Sua mama está almoçando com uma amiga a um bom tempo. Gostaria de se juntar a elas?
— Uma amiga? Por que não? — adorava as amigas que a mãe tinha e sabia muito bem que seria muito bem vinda, independente de qual amiga fosse, afinal, Dona Vera adorava exibir os próprios filhos e orgulhar-se deles para todos os amigos que tinha e de fato, um tempo com sua mãe e alguma amiga, com certeza lhe renderia boas risadas, era do que precisava.
— Então me acompanhe, menina. — o senhor fez uma breve reverência para que Mia fosse à frente e a morena deu uma pequena risada.
— Ah como a Thelma deve amar esse cavalheirismo todo, não é mesmo?
— Oh sim... Foi assim que eu a conquistei. — ele respondeu de imediato e Mia teve que rir mais uma vez. Conhecia a maior parte da família daquele homem já que ele trabalhava ali desde que Mia era apenas uma criança, era como um membro de sua família.
Imediatamente Mia viu a sua mãe em uma entretida conversa com uma mulher que de cara Mia não conheceu por estar de costas, mas sua mãe não demorou nada para notar a sua presença.
— Oh, que coisa maravilhosa! — Dona Vera falou ao abrir um sorriso largo e erguer-se de onde estava sentada para poder cumprimentar a filha, Amélia já tinha um sorriso largo nos lábios enquanto praticamente corria para os braços da mãe. A abraçou apertado por alguns segundos. — Ora, ora, ora, quem veio me ver. — Vera falou de forma animada antes de segurar o rosto de sua filha entre as mãos para olhá-la por alguns segundos.
— Mama... — a morena reclamou, mas tudo o que recebeu fora um beijo demorado em sua testa, o que imediatamente a fez sorrir de forma derretida.
— Mas é uma bela coincidência, não? — Vera olhou para a sua amiga ainda sentada.
— Definitivamente. — Helena falou enquanto se ajeitava um pouco na cadeira e assim, viu Mia se virar para ela com um olhar que transbordava surpresa, isso a fez sorrir. — Olá, Amélia.
Fim do capítulo
Oi, oi gente!
Então, eu sei que eu demorei horrores para postar esse capítulo e peço verdadeiramente desculpas por isso, eu odeio demorar tanto assim, mas ando passando por uns problemas que não contribuem muito e além do mais, nesse capítulo eu não queria fazer como no anterior onde postei do jeito que tava pra não deixar vocês sem nada por tanto tempo.
Esse capítulo ta caprichadíssimo para vocês, do jeitinho que eu queria e eu tenho certeza que vai valer a pena a espera, além de é claro, o capítulo ser enorme.
No mais, eu espero que gostei, venham me dizer se gostaram, um beijo e me sigam no Twitter pra gente bater uns papos. (Ainda to aprendendo a mexer nisso)
@Patty5hepard
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Meganblack
Em: 05/09/2019
Uau,sem palavras para essa história.
Uma das melhores que já li...
Volte logo,por favor
Angel68
Em: 09/04/2019
Só complementando o comentário aqui embaixo que esqueci....torcendo para que o próximo capítulo mostre a semana da Helena, depois do gelo que Mia deu nela, até culminar no encontro no restaurante....torcendo para que Helena fique em cólicas depois da merda que fez....tadinha da Mia, ficou sem o Hernando, amigo centrado que poderia ajudar muito ela depois do ocorrido....nem que seja outro capítulo gigantesco, não me importo, cara parágrafo dessa história tá sendo um tombo....
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Angel68
Em: 08/04/2019
Sem dúvida, um capítulo orgásmico !! Porém, esse capítulo me deixou com um gosto amargo na boca....decepcionada...acho que muitas aqui ficaram....mas calma, tem explicação....entendo que o lado psico da Helena é uma bagunça... um pesadelo é capaz de disparar o gatilho da dupla personalidade dela...nesse ela ficou especialmente vulgar....ela ficou tão desestabilizada, que em momento algum desde que pisou na boate, não se lembrou da Mia...só lembrou quando a viu....aí já era tarde demais, a merda já tava feita....aí aquela desculpa que ela deu na msg pra Mia, dizendo que ela sabia que isso acontece....achei até um pouco cínica essa desculpa... saber é uma coisa, aceitar tem uma enorme diferença...é isso que a Mia tem que deixar bem claro pra Helena....Mia já “deduziu” algo mais entre Helena e Kathy, se souber então o que ocorreu antes do show, vai ficar ainda mais decepcionada, porque Mia ainda está lutando com seu lado hétero que tá balançado por Helena....Helena tem que correr atrás do prejuízo, reconquistar Mia....e tô torcendo pra que Mia dê uma canseira nela, porque tá merecendo....por mais que eu torça para uma primeira vez delas logo, agora quero ter paciência pra assistir de camarote Helena se desdobrar nessa reconquista....Autora, desculpa o tamanho do comentário, mas essa história, esse capítulo, como disse no começo, é orgásmico !!! Leve o seu tempo pra continuar, porque sua história é espetacular, vc tá lidando com temas tão complexos com uma maestria impressionante. Já vai buscando inspiração para quando escrever a primeira vez delas, nem que demore pra acontecer, mas tem que ser épico, acho que as duas merecem. Helena é Helena, mulher Tesuda, isso mesmo, com T maiúsculo, e Mia é adorável....parabéns autora, tua história é sensacional !!
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sonhadora
Em: 07/04/2019
São tantos sentimentos envolvidos...emoções a flor da pele. Helena tentando se livrar da sua dor, mas no fundo só se magoa cada vez mais. A dor é quase palpável, esses sonhos, pesadelos são reais que tem hora que pensava que o infeliz do ex marido dela estava ali... vc tem um jeito de descrever esses momentos que nos leva para dentro da história.
Mia precisa resolver esse sentimento de preconceito por ter se apaixonado por uma mulher! Ou se livra dele ou vai perder a Helena!
Esperando sempre por ti!Adoro essa história!
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foxxy96
Em: 06/04/2019
Oiee, autora
Passando aqui pra dizer que depois dessa, tive que sair da moita pra exaltar essa história e principalmente essa autora maravilhosa... amo cada palavra que leio, a forma como tudo se desenrola e esse personagens incríveis, passa todo um filme na cabeça, por isso vale muito a pena toda a espera... apesar de que seria ótimo se não demorasse tanto, kkkkk mas só você sabe o seu tempo e ritmo e tudo que você passa por aí, então estaremos aqui aguardando de qualquer maneira. Então é isso aí, não vou me prolongar mais, já to ansiosa para o próximo capítulo e pode contar com a gente aqui sempre.
Bjs,
e volte logo. Rs
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Nay Rosario
Em: 06/04/2019
Hola, moça.
Com relação a demora, abstenho-me de comentários, pois o tempo é impreciso, a vida tem seus imprevistos e meu telhado é de vidro. Com relação ao almoço de Mia e Helena que, posteriormente findou em uma "aula de sustentação de parede" foi agradável e gostoso. A conversa com Hernando foi bem franca(inclusive também gosto qie lavem meus cabelos e se ela o emprestar agradeço rsrs). A interação entre mensagens e troca de informações sobre fetiche foi... Mas a Mascarada reaparecer foi sensacional. Em todos os ambientes sempre tem um espertinho. A Mia não está sabendo lidar com a atração entre elas e com o ciúme. Ela se encantou pela artista plástica de vida sofrida que é espontânea, cozinha divinamente e outras qualidades. Mas esqueceu que é a mesm Helena dançarina de boate. Pior, em meio aos sentimentos egoístas, esqueceu os motivos que a levam a dançar. E vê-la naquele palco foi um choque e tanto. É compreensível. Nesse momento acaba toda a pose de adulto centrado e os sentimentos sobressaltam. Elas precisam conversar, mas creio que o restaurante da Vera não é um bom lugar.
Não demore tanto.
Ps: Não tenho Twitter. Vale email?!
Resposta do autor:
Olá, Nay!
Que bom que entende o problema da demora, fico tranquila por isso.
Hernando sempre sendo maravilhoso e quem não gosta de um bom cafuné, sendo lavando os cabelos ou não, não é mesmo?
Haverão muitas trocas de mensagens ainda! Assim consigo mostrar fácil como a intimidade das duas vai crescendo cada vez mais.
Na verdade o que a Mia sentiu naquele momento não foi ciúmes, a Mia ainda não chegou na fase de sentir ciúmes da Helena, mas quando chegar... Olha, posso dizer que Mia é extremamente ciumenta.
E eu prometo que realmente vou tentar não demorar, aproveitarei o feriado para escrever o máximo que eu conseguir, quem sabe eu não consiga terminar o capítulo?
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evedallas
Em: 06/04/2019
Olá, querida autora.
Antes de comentar sobre o capítulo, gostaria de falar o quanto esperei você por aqui. É sempre a primeira que procuro quando acesso o site. Ou seja, são 3 meses na expectativa. Não estou cobrando nada, apenas pra mostrar o quanto aprecio o romance. Quando vejo uma capa vermelha, já piro pensando que é você. Antes mesmo de ler o título do romance ou prestar a devida atenção a capa hahhaha. Sua escrita é excelente. Meus olhos brilham a cada palavra que leio. Já li tantos romances excelentes por aqui, mas nunca comentei. Confesso que é um defeito. No entanto, não pude deixar de postar um para ti.
Agradeço o imenso capítulo. Perfeito do início ao fim. Por mim , romance deste nível deveria conter apenas capítulos assim, enormes!!! Mas sabemos que não é tão simples hahah. Você conseguiu fazer eu amar e "odiar" Helena ao mesmo tempo hahahaha. Não acreditei que seria possível. É uma personagem extremamente complexa e é prazeroso conhecê-la aos poucos. Mia também é uma personagem que nos provoca empatia. Um ser humano que sofre oscilações e indecisões como qualquer outro.
Estou ansiosa para ver a reação da Mia! Será que ela vai "esquecer" tudo que viu (fora o que não viu. Se soubesse o que aconteceu antes da dança...vixi) e continuar essa aventura que é conhecer Helena? Me coloco no lugar dela e acho uma coisa difícil de engolir hahhaha. Helena sofreria muito para limpar a barra dela hahaaaa. Apenas especulações de uma fã. ;)
Obrigada pela dedicação e que apesar dos problemas pessoais, nos agraciou com um capítulo caprichadíssimo! :) ;)
Resposta do autor:
Ola, Eve!
hahahahahaha, me sinto mal por ter feito todas esperarem tanto por esse capítulo.
E uau, que comentário sensacional, você inflou bonito o meu ego hahahaha
Eu bem que queria postar sempre capítulos enormes assim, mas além de não ser simples penso que nem todas dispõe de muito tempo sem fazer nada para ler algo tão demorado.
E de fato, a ideia era mesmo fazer vocês odiarem a Helena, até agora ela vem sendo mostrada como alguém muito endeusada, se é que você me entende, e já chegou a hora de mostrar uma Helena que ainda não apareceu de verdade em momento nenhum, que é a Helena frágil, insegura e com muito medo e marcas.
O próximo capítulo vai ser bem... Interessante e vai derreter muitos corações, isso eu garanto!
Obrigada por esse comentário maravilhoso e até o próximo, Eve!
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Ritinha
Em: 05/04/2019
Olá autora :)
Eu acompanho a tua história desde que começaste a postar, mas nunca tinha comentado, e peço desculpa por isso, pois a tua história é incrível kkkk
Confesso que quando li o título, pensei que fosse só mais um conto erótico cheio de clichés kkkk mas tive uma ótima surpresa! A tua história é tudo menos cliché, é uma mistura de sensualidade, drama, comédia, romance, e é escrita com uma intensidade e riqueza de detalhes, que nos faz sempre querer ler mais.
A forma como constróis as personagens instiga a vontade de conhecê-las melhor. Através da tua escrita, conseguimos sentir o que as personagens estão a viver, é como se conseguíssemos entrar na história, e pudéssemos experimentar também todas aquelas emoções…e que emoções kkkk. Todas as personagens são perfeitas com as suas imperfeições, pois é isso que as torna tão reais e interessantes, tirando a Vadia, que não tem nenhum defeito, e é perfeita assim kkkkk.
Enfim, sou fã da tua escrita, e estou com muita vontade de ver o rumo que a história da Mia e da Helena vai tomar! E tinhas razão, a espera valeu a pena, como sempre kkk
Espero que consigas ultrapassar os problemas que te têm atormentado, e que esteja tudo bem contigo. Parabéns pelo teu incrível talento :)
Desculpa o texto enorme kkkk
Bjs autora!
Resposta do autor:
Oi Ritinha!
Me sinto realmente losongeada por você ter saído das sobras para comentar! Aliás fez muito bem, eu adoro que venham comentar comigo.
hahahahahaha, isso é por que eu simplesmente odeio clichê. Me da nos nervos!! Por isso sempre corro para o mais longe possível do clichê.
Ah, eu fico muito feliz por ver que eu consigo, com minha escrita, passar tantos sentimentos assim, é muito bom ver que eu consigo fazer vocês se sentirem as vezes na pele das personagens, espero continuar conseguindo fazer isso.
Obrigada por esse comentário maravilhoso, Ritinha! E não se preocupe, eu adoro textos longos. Te expero para vir comentar o próximo comigo! Beijão
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