POV Heloísa

_ Roberta pelo amor de Deus, quantas vezes já discutimos sobre isso? Não dá mais e você também sabe disso.

_ Helô pensa em tudo que passamos para ficar juntas, não é possível que queira jogar tudo pro alto.

_ Sério, ou você é cega ou estou enlouquecendo. Eu sinceramente não acredito que você esteja satisfeita com a nossa vida, porque eu não tô!

_ Todo casal passa por fases difíceis, nós vamos superar! Agora você precisa acreditar na gente e abrir o coração para um recomeço.

_ Roberta, meu amor, nosso relacionamento já acabou faz tempo, a gente é que insiste em ficarmos juntas. Você sabe que nos precipitamos em morarmos juntas, estávamos no auge da paixão e pintou essa oportunidade pra você aqui e, sem termos tempo para pensar fomos atropelando todas as fases. Pra ser sincera o que nos prende é o orgulho. Temos vergonha de assumir que todos estavam certos!

_ Você tá louca, eu te amo e sempre te amei. Quando chamei você pra me acompanhar sabia exatamente o que queria e ainda sei, portanto não fale por mim. Sei que a fase não é boa e que estamos em uma crise, mas não jogue para cima de mim suas frustações. Eu me mato para te dar atenção e suprir todas as suas carências, mas você nunca está satisfeita. Poxa Helô custa nos dar mais uma chance?

_ Custa sim, custa tempo, sentimentos e desilusões e eu não quero mais me enganar. Foi legal ficar com você, acredito que seriámos ótimas namoradas, mas casadas não dá. Como você se recusa a sair de casa, essa semana mandarei a Carol para Porto Alegre e irei para um hotel. Assim que eu decidir o que fazer mando pegar minhas coisas.

_ Não seja infantil Heloísa, podemos pelo menos dividir o apartamento na qualidade de amigas. Você não precisa desalojar a Carol, muito menos ir para um hotel. Ou será que nem como amiga você me quer?

_ Para de drama nega, você sabe que tem um lugar cativo no meu coração, mas não acho que seja o momento de dividirmos nada. Vamos deixar a poeira baixar e ver como ficam as coisas. Depois voltamos a conversar sobre essa possibilidade. Por enquanto prefiro ficar em um hotel.

_ Mas o aniversário da Carol está chegando, você vai mandar ela para Porto Alegre mesmo assim?

_ Sim, vou conversar com a Luna. Tenho certeza que ela vai ficar radiante com a notícia.

_ E você vai passar o aniversário da Carol longe dela?

_ O aniversário dela cai num final de semana, se precisar vou pra lá. Ano passado a Luna veio, nada mais justo que eu vá esse ano.

_ Estava demorando pra você arrumar um pretexto pra ir pra lá.

_ Eu não preciso mais de pretexto Roberta, a partir de agora eu não preciso mais te dar satisfação. Agora chega dessa discussão, eu tive um dia cheio, tô cansada e quero dormir, no mais não temos mais nada o que conversar.

Peguei minha camisola e fui para o quarto da Carol. Minha filha já estava dormindo, ajeitei ela na cama e deitei ao seu lado. Enquanto acariciava seus cabelos pensava no rumo que minha vida tomou. Relembrei do meu casamento e do quanto me encaixava com a Luna. Ai Lu, onde nós erramos? Me questionava mentalmente. Porque você marcou tanto minha vida? Porque não conseguimos fazer dar certo? Porque não consigo te esquecer? Eram tantos questionamentos que acabei chorando, chorava pelo que fiz e pelas coisas que deixei de fazer. É uma pena ter passado nosso tempo, são tantas mágoas que não há mais espaços para nós. Seria tão bom se pudéssemos passar uma borracha em tudo que passou e voltarmos a ser felizes. Para de pensar besteira Heloísa Hernández, o divórcio foi difícil demais para você imaginar qualquer recaída com ela. Até mesmo porque você não está preparada para reviver todas as crises de um casamento falido. Cansada acabei dormindo.

Mal o dia amanheceu e já estava de pé, precisava me organizar, ligar para Luna e combinar sobre o aniversário da Carol, ver um hotel pra passar os próximos dias e acima de tudo colocar a cabeça no lugar. Precisava decidir o que faria da minha vida dali em diante. Acordei a Carol, fiz ela se arrumar e tomar café e corremos para o colégio.

_ Filha esse ano seu aniversário vai ser na casa da mamãe Lu.

_ Sério mãe, eu amei! Tô louca de saudade da mamãe e da Juliana. Obrigada por deixar eu ir pra lá, a mamãe vai adorar saber, posso ligar para ela?

_ Pode sim amor, mas deixa eu conversar com ela primeiro.

_ Mãe, eu gosto muito de morar com você, mas eu sinto tanta falta da mamãe. Eu queria morar com vocês duas, do jeitinho que era antigamente. Eu era mais feliz!

_ Oh filha, você já é grandinha e sabe que nós nos separamos e por isso não moramos mais juntas. A mamãe já te explicou tudo.

_ Eu sei, mas a gente poderia morar pertinho, assim eu poderia ver a mamãe a hora que eu quisesse.

_ Eu sei filha, eu sei...

Finalizei o percurso imersa em meus pensamentos. Nunca parei para avaliar a dor que causei a minha filha e a minha ex-mulher provocando esse afastamento. Na verdade não parei pra pensar nos sentimentos da Luna, porque sempre achei que para a Carol fosse fácil, afinal ela era uma criança e crianças se adaptam facilmente as circunstâncias.

Finalizado os procedimentos com a hospedagem do hotel, me joguei na cama e peguei o celular, discando o número da Luna.

_ Lu, tudo bem?

_ Oi Helô, aconteceu alguma coisa? Como a Carol está?

_ Não aconteceu nada, fica calma, tô ligando porque no final do mês é o aniversário dela e ela pediu para passar com você.

_ Sério Helô, ela vai poder passar aqui comigo?

_ Claro Lu, porque não poderia? Só vou precisar de um favor seu, estou atolada com umas coisas aqui e ela sai de férias uma semana antes do aniversário dela, não vou ter como dar a atenção que ela precisa. Ela pode passar as férias com você? Vou para o aniversário dela e depois ela volta comigo.

_ Você ainda pergunta, é óbvio que minha filha pode passar as férias comigo. Estou louca de saudades dessa pimentinha, na verdade já estava começando a ver minha escala de plantão e hoje mesmo ia ligar para reservar o hotel que sempre fico quando vou aí.

_ Não precisa mais, kkk. A gente vai se falando pra combinar tudo direitinho, já vou ver a passagem para Carol, aproveito e mando as coisas que tinha comprado pra festinha dela.

_ Pode parar dona Heloísa, deixa eu curtir minha filha. Eu saio com ela e compro tudo pra festinha dela. Você vê quando chegar.

_ Combinado. Beijos loira.

_ Beijos linda.

Desligamos o telefone e mais uma vez mergulhei em meus pensamentos. Passadas algumas horas levantei e corri para buscar a Carol.

_ Filha já falei com sua mãe, semana que vem você vai pra lá. Vai passar as férias com ela. No final de semana do seu aniversário eu vou e fico com vocês.

_ Vocês? Ela olhou sorrindo para mim. _ Você vai ficar comigo e com a mamãe?

_ Modo de falar Carol, é claro que estou indo para ficar com você. Amor a mamãe precisa conversar com você, eu e a tia Roberta não vamos mais morar juntas e nós vamos precisar sair daquela casa.

_ Então a gente pode voltar a morar em Porto Alegre mãe. Ela pulava no banco de trás do carro enquanto pegava o celular para ligar para a mãe.

_ Espera aí mocinha. Não é para falar nada com ninguém, nem com a Luna, você está me ouvindo? Eu ainda não decidi o que vamos fazer e não posso tomar uma atitude dessas assim de uma hora para outra. Eu tenho compromissos com o hospital e não posso largar tudo assim.

_ Mas mãe, você largou tudo pra vir pra cá, porque não pode largar tudo pra voltar?

_ Você não entende filha, a mamãe precisa resolver as coisas com calma. Depois conversamos sobre isso, por enquanto eu preciso que você mantenha segredo.

_ Eu não quero mais morar aqui, quero voltar pra minha casa, quero ver minha mãe todo dia, quero brincar com meus amigos, não é justo escolherem tudo por mim. Falou começando a chorar.

_ Nossa Carol, nunca pensei que você não gostasse de morar comigo. Não chora filha, a mamãe vai resolver tudo, confia em mim.

_ Eu gosto de morar com você mãe, mas eu sinto falta da mamãe, da minha casa, do meu quarto, dos meus amigos, eu queria que nós morássemos lá.

_ Tá bom filha, a mamãe promete que vai tentar resolver tudo durante suas férias. Mas não fala nada com ninguém, pelo menos por enquanto.

_ Tá.

Chegamos em casa e começamos a separar as coisas que a Carol levaria na viagem, a semana passaria muito rápida e precisaria me organizar. As coisas seriam mais complicadas que imaginava, não sabia que a Carol não estava feliz aqui e diante da informação precisaria tomar uma providência em relação a isso.

Como previsto a semana passou voando, pelo menos as coisas estavam devidamente ajeitadas. A escola da Carol já tinha providenciado a transferência e o hospital já tinha dado baixa em toda a papelada. A Roberta há uma semana não voltava pra casa e eu não fazia a mínima ideia de onde ela pudesse estar, mas sinceramente era melhor assim.

Chegou o dia da viagem, conforme combinado com a Luna, Carol pegaria o avião acompanhada por uma aeromoça e ela a pegaria no aeroporto. Assim que embarquei nossa filha corri para o hotel e liguei para Clarisse.

_ Clarisse é a Heloísa, tudo bem?

_ Que surpresa, aconteceu alguma coisa?

_ Sim, estou voltando pra assumir meu lugar na diretoria do hospital e se puder meu lugar na chefia da ortopedia.

_ Que novidades são essas? Não vai me dizer que a Roberta foi transferida pra cá novamente?

_ Não, kkk. Eu e a Roberta não estamos mais juntas e a Carol está querendo ficar mais perto da Luna. Não posso mais prejudicar minha filha com as burradas que faço.

_ Entendi. O que posso dizer, seja bem vinda Dra. Hernández. A Lara saiu do hospital e já estávamos procurando outro ortopedista, com sua volta, acabaram-se as procuras.

_ A Lara foi embora? Como assim? E a Luna? Até onde sei elas estavam namorando?

_ Helô, Helô, toma juízo.

_ 100% tomado, pode confiar, kkk. Eu vou no final de semana equivalente ao aniversário da Carol e na segunda já volto pro trabalho. Só não comenta nada com ninguém, por enquanto, não quero burburinho sobre mais um relacionamento falido.

_ Pode deixa, nos vemos em breve. Beijos

_ Beijos Clarisse.

Finalizada a ligação, busquei em minha agenda o número da Maria e rapidamente liguei.

_ Helô que saudade, até que enfim lembrou que tem amigos.

_ Para de reclamar mulher, até parece que a gente não se fala há anos. Preciso de um favor seu.

_ Fala

_ Contrata uma faxineira e pede para dar uma geral no apartamento do Rafael. Estou chegando daqui uns 10 dias e preciso da casa limpa.

_ Já estou sabendo que a Carol vai passar as férias e o aniversário aqui.

_ Passa no Shopping também e compra umas roupas de cama. Não abro aquele apartamento desde que o Rafael morreu, deve estar tudo super empoeirado. E já abusando de você, passa no mercado e compra umas coisas básicas, por favor. Chegando aí faço compras com calma.

_ Nossa, você vai passar um final de semana ou um mês? Kkkk...

_ Acho que vou passar um pouquinho mais.

_ Mais de um mês?

_ Na verdade eu tô voltando.

_ Para tudo, você está voltando? Como assim? A Luna já sabe? Você sabe que a Lara foi demitida e que desapareceu né?

_ Ei, segura a animação. Eu sei da história, mas não muda em nada minha relação com a Luna e ela ainda não sabe que estou voltan... Nem consegui terminar a frase com o grito que a louca deu do outro lado da linha.

_ Cacete e a Roberta, vocês terminaram?

_ Sim.

_ Eu sabia que não ia durar, mas você foi teimosa...

_ Beleza Maria, sem sermão, por favor. Não comenta com ninguém e ajeita as coisas pra mim. Chegando te conto os detalhes. Beijos

_ Beijos maluca.

Finalizei a ligação e corri para meu ex apartamento para pegar o resto das coisas que levaria para Porto Alegre. Tudo arrumado era só esperar o dia da partida e me preparar para mais um recomeço.

Fim do capítulo