Alex parecia flutuar andando, não estava acreditando que Helena tinha voltado a enxergar e estava a poucos metros de si, a enfermeira lhe apontou para a ruiva, a mesma estava ajoelhada diante o altar pequeno. A morena ficou olhando a cena por alguns minutos, até que caminhando devagar a abraçou por trás.

 

- Acho que nunca senti tanta saudade de alguém como eu sinto de você.

 

Helena sentiu seu corpo paralisar naquele momento, não tinha forças pra se mexer quem dirá falar. Ela estava ali, estava com o corpo grudado ao seu, sentiu seu perfume e seu calor, que saudade estava dela, mesmo com tudo o que presenciou, a ‘'traição'', não podia negar que amava Alexandra, estava sentindo muito a sua falta, mas também tinha magoa, tinha raiva.

 

- Me desculpe ter demorado tanto, me desculpe meu amor. - Falava com a boca grudada no ouvido da ruiva.

 

Helena fez menção de se levantar e Alexandra se afastou um pouco. Não sabia o que fazer, a ruiva estava de costas para si em pé, parecia buscar coragem para lhe olhar, isso fez com que a morena ficasse com um pouco de receio. O que seria das duas agora com a volta da visão da Helena, será que ela ainda iria lhe querer, será que algo iria mudar?!

 

Foi então que a ruiva virou o corpo em direção a morena, podendo ver  o quanto ela era linda, se lembrava dela desde o atropelamento, mas agora tinha sua visão com mais detalhe, podia olhar cada parte do corpo da mulher, cada marca, a expressão de apreensão era visível no rosto de Alexandra, ela parecia nervosa, tinha as mão unidas e parecia apertar os dedos . Ela estava com uma calça jeans e uma camisa branca com mangas, os cabelos soltos e o que mais chamou atenção da ruiva foi a cor dos olhos, eram verdes e brilhavam numa intensidade que não tinha visto a três anos atrás. Ela era literalmente a mulher mais linda que podia ter visto.

 

Alexandra olhava nos olhos da ruiva, agora brilhavam, tinham vida, percebeu que ela lhe analisava e se sentiu sem graça por isso, mas imaginou que iria acontecer, era o mínimo que a ruiva iria fazer, depois de tanto tempo sem enxergar era normal que olhasse tudo ao seu redor com atenção. Porem tinha medo do que aqueles olhos poderiam enxergar, será que ela estava gostando do que via?

 

- Você...- queria perguntar, mas faltava coragem. - Você realmente voltou a enxergar Helena?

 

- Sim- disse olhando a forma como a boca da morena se mexia, lembrando de já ter a tocado, sentindo seu rosto ferver por isso.

 

Alexandra sorriu e foi ai que Helena não segurou uma lágrima que insistia em cair. Por que ela tinha a traído, o que ela estava fazendo ali agora?

 

- Ei - Alexandra tentou se aproximar fazendo a ruiva instintivamente se afastar, deixando a morena abalada com a possibilidade dela não querer contato.- Nós precisamos conversar Helena, mas podemos deixar isso pra outra hora, não era para eu ter vindo hoje, eu tenho trabalhado bastante e isso tem me impossibilitado de vir, mas quando eu liguei pra minha mãe e ela me falou sobre seu pai eu apenas peguei o carro e vim ver como você e sua família estavam.- Alex tentou se manter calma, queria conversar com a mulher a sua frente, mas não podia se esquecer do estado do pai de Helena.

 

Helena não sabia o que dizer, apenas tinha perguntas e mais perguntas rodando na sua mente, a mulher estava ali porque disse se preocupar com ela e com sua família, seria pena, seria realmente preocupação, porque ficou com o ex, porque não tinha vindo antes, porque ela estava ali na sua frente e porque seu coração parecia querer sair do seu peito naquele momento?!

 

- Eu preciso ir até meu pai ver como ele está... depois a gente conversa.- Disse tentando passar pela morena, mas foi surpreendida ao sentir ela lhe puxar pelo o braço a abraçando.

 

Alexandra não aguentou aquela frieza que estava vendo não só no olhar de Helena, mas também nas palavras, a puxou pelo braço a abraçando logo em seguida, apertou a mulher entre seus braços, deixou algumas lágrimas caírem. Será que a tinha perdido, será que ela tinha ficado consigo por carência, por não ter mais ninguém, será que sua demora tinha sido interpretada de maneira errada, não sabia se iria aguentar caso a ruiva lhe abandonasse.

 

Helena deixou seus braços abaixados, não retribuiu o abraço e também tinha lágrimas nos olhos. Ao mesmo tempo em que era bom sentir estar dentro daqueles braços, era algo perturbador.

 

-  Eu não sei o que te dizer, eu to  com medo. - Disse Alexandra apertando mais Helena em seus braços. - Mas eu vou ficar aqui ao seu lado mesmo assim, até que queira falar comigo.

 

Helena segurou a cintura da mulher a sua frente se afastando.

 

- Eu preciso ir.- Tinha o rosto vermelho com lágrimas.

 

Alexandra apenas assentiu com a cabeça limpando o rosto com a mão. Ficou ali por um tempo olhando para o nada, até que resolveu ir até os pais. Beatriz logo viu os olhos vermelhos da filha e então supôs que a mesma havia chorado e foi até ela lhe abraçando.

 

- Está tudo bem filha?- Perguntou fazendo carinho nas costas da filha.

 

- Eu não sei mãe- soluçou. Podia mentir para qualquer um, mas não para sua mãe, se sentiu uma criança indefesa nos braços da mãe.

 

- Vamos lá fora um pouco meu amor.- Lhe segurou as mãos e as duas caminharam para fora do posto.

 

- O que foi Alexandra, você esta chorando. - Seu pai veio de encontro com ambas.

 

- Nós vamos ali fora um pouco meu amor, já voltamos, nos espere aqui.-  Olhou para o marido, como se falasse que iria ficar tudo bem.

 

- Tudo bem, qualquer coisa estou aqui.- Não sabia o que tinha feito a filha chorar, isso lhe partia o coração, seus filhos eram tudo para si.

 

Alexandra entrou dentro do carro pelo lado do motorista e sua mãe sentou no lado do passageiro.

 

- O que aconteceu Alex, para te deixar com esse olhar triste o qual eu nunca tinha visto antes?- Olhou para filha que chorava silenciosamente.

 

- Ela não quis falar comigo e parece não...- não sabia as palavras certas. - parece não querer minha presença.

 

Beatriz sabia que ‘'ela'' era a Helena, já tinha percebido que a menina estava estranha de uns dias pra cá, a moça não saia de casa, quando era abordada por ela, parecia estar querendo fugir e também tinha o fato de não ter contado a ninguém sobre a volta da visão.

O que tinha acontecido?!

 

- Filha a Helena passou por muitas coisas esses dias, a volta da visão, o pai doente, é normal que ela esteja ... um pouco estranha, distante talvez - Tentava amenizar o sofrimento da filha, mas tinha medo que o motivo da frieza da ruiva fosse por outro motivo o qual faria Alex sofrer muito.

 

- Eu sei mãe, mas o olhar dela me diz que ...- olhou para mãe não sabendo o que falar naquele instante, como iria falar para sua mãe os seus medos, como iria contar que tinha medo da ruiva não lhe amar mais

 

- Diz que ...- incentivou.

 

- Eu não sei mãe, ta diferente. - não teve coragem para falar.

 

Beatriz entendeu que ela não estava preparada ainda para lhe contar o que a atormentava.

 

- Filha espere um pouco, ela chegou aqui muito nervosa, deve estar com receio pela saúde do pai dela ainda, se não tivéssemos chegado naquele momento, talvez pudesse ter acontecido o pior. - passava a mão pelo rosto molhado da filha.- Vai ficar tudo bem meu anjo, tudo no seu tempo, de o espaço que ela precisa e depois vocês conversam e se acertam.

 

As duas ficaram ali por mais um tempo até decidirem voltar para dentro do posto de saúde, logo que entraram deram de cara com a Helena ao lado da mãe, as duas estavam abatidas.

 

-  Está tudo bem?- Eduardo perguntou.

 

- Está sim querido. - Beatriz se pôs ao lado do marido. - E por aqui meninas?

 

- Está sim, meu pai está um pouco melhor, já foi estabilizado e agora esta dormindo. - Helena respondeu e olhou para baixo, estava sem jeito de olhar para aquelas pessoas.

 

- Alexandra querida eu não tinha te visto.- Elisa sorriu com os lábios, estava mais calma.

 

- Eu vim ver como estão as coisas por aqui, como você está?-Perguntou olhando para a mulher e depois para Helena.

 

- Estou bem agora que Geraldo está melhor.- Disse deixando uma lágrima cair, teve muito medo de perder o marido.

 

- Eu olhei os exames do senhor Geraldo assim que cheguei. - Falou obtendo atenção da ruiva, antes de ir vê- la pediu a enfermeira que lhe deixasse por dentro do que estava acontecendo.- Foi um tremendo susto, mas graças a rapidez que chegaram aqui evitaram o pior, eu só deu uma olhada rápida, mas pelo o que vi se tudo ocorrer bem, o que iremos torcer para que sim, o Sr. Geraldo logo estará em casa.

 

- Deus te ouça Alexandra, eu não sei o que faria se ele ... - não conseguiu terminar de falar sendo acolhida pela filha num abraço.

 

- Ele vai ficar bem mãe, nada de ruim vai acontecer.- Helena tinha a voz também embargada.

 

- Vocês não querem ir para casa descansar um pouco, ficar aqui por agora não irá adiantar muito acredito, posso levar vocês e depois trazê- las de volta?- Perguntou Eduardo com cuidado.

 

- Vai filha, eu vou ficar aqui, o Sr Eduardo tem razão, precisamos descansar, vai você primeiro toma um banho e depois você volta.

 

- E você mãe? - Helena olhava com pesar pra mãe.

 

- Eu quero ficar mais um pouco com ele filha.

 

- Eu ficarei com você então.

 

- Não filha, vá, por favor, eu ficarei bem, depois você fica e eu vou, ta bom?.

 

- Mas...- tentou argumentar.

 

- Helena eu posso te trazer pra cá quando que você quiser, descanse um pouco e depois você troca de lugar com a sua mãe.- Alexandra interviu, sabia que a ruiva estavapreocupada, mas de nada iria adiantar as duas ali naquele posto de saúde.

 

- Viu filha, vá com eles, depois você volta.- Passou a mão no rosto da filha, entendia a preocupação da ruiva, mas queria que a mesma fosse descansar.

 

- Tudo bem, eu só irei tomar um banho e já estou voltando. - Disse com firmeza e logo olhando para Alexandra, como se aquilo fosse um recado.

 

- Vamos então. - Beatriz falou se despedindo de Eliza. - Fique bem querida, qualquer coisa liga pra fazenda que voltamos correndo.

 

- Obrigada dona Beatriz, se não fosse por vocês terem nos ajudado eu nem sei o que teria acontecido. - falou com pesar.

 

- Não pense nisso, agora está tudo bem. - Abraçou a mulher.- Nós já vamos indo então, fica com deus.

 

- Vão com ele.

 

- Mãe eu já volto, fica bem, eu to com vocês- Helena disse abraçando a mãe.

 

- Ficarei filha, descansa. - olhou pra ela com carinho.

 

- Dona Elisa eu falo como médica e como amiga, qualquer coisa que precisar é só chamar, logo eu to trazendo a Helena de volta. - Também abraçou a mulher.

 

-  Obrigada Alexandra- olhou para a morena, tinha um carinho especial por ela ter feito tudo o que fez pela filha quando a mesma não enxergava.- Obrigada por ter vindo e pela sua amizade para com minha filha.- Disse olhando para Helena deixando a mesma vermelha e sem graça.- Depois que você entrou na vida dela... ela ficou mais feliz, e se ela esta feliz eu também estou.- disse sincera deixando as duas mulheres na sua frente sem jeito.

 

- Por nada, foi um prazer. - Estava sem graça com os agradecimentos.

 

Despediram-se e foram para fora do posto de saúde, nesse momento a morena percebeu que a ruiva se encaminhava para o carro dos seus pais e isso lhe deixou chateada, foi então que seu pai alheio ao que estava acontecendo disse.

 

- Helena querida se quiser vir conosco será um prazer, mas a Alexandra veio de carro, acredito que você irá querer ir com ela, devem querer conversar um pouco. - Disse apontando para o carro da filha.

 

- Eu não tinha visto, pensei que ela iria com a gente. - Mentiu, tinha imaginado que a morena estava no seu carro, já que tinha chegado de viagem agora pouco.

 

Não tinha como fugir, ficou sem graça de recusar na frente dos pais de Alex a carona da mulher, então deu meia volta e se dirigiu para o carro da morena. Alexandra por sua vez não queria forçar um momento com a ruiva e decidiu falar.

 

-Se preferir ir com eles pode ir, eu invento uma desculpa. - disse triste olhando para frente.

 

- Não precisa, eu irei com você, está indo para fazenda não está?- perguntou seca.

 

- Sim estou. - Respondeu agora olhando para a ruiva que virou o rosto para o lado do vidro.

 

O caminho foi feito em silencio, nem uma das duas ousou falar nada. Cada uma em seu mundo. Alexandra não sabia o que fazer, o que falar, queria conversar com Helena e saber o que estava acontecendo, sabia que não era apenas pelo pai que a mulher estava diferente.

 

Helena por sua vez queria o quanto antes sair daquele carro, não tinha noção do que iria fazer, sabia que a morena uma hora iria querer respostas, teria coragem de jogar na cara dela que tinha visto a traição?!

 

Alexandra estacionou o carro em frente a casa da ruiva, já havia escurecido. Helena desceu do carro sem dizer nada e praticamente correu para dentro de casa. Alex pareceu despertar do choque e saiu correndo atrás dela.

 

- Helena me diz o que ta acontecendo?- Disse nervosa.- Eu não consigo ficar quieta diante o seu silêncio. - passou a mão pelos cabelos. - O que eu fiz pra você nem olhar pra mim e quando olha ter essa magoa nos olhos. - Já não segurava as lágrimas.

 

- Alex eu não quero falar sobre isso agora. - disse também nervosa pela reação da morena.

- Eu preciso ser rápida para ficar com meus pais. - disse virando as costas.

 

- Eu não vou esperar mais um segundo. - Disse a segurando pelo braço sem colocar força a virando para si. - Pelo o que acabou de dizer existe algo então. - Perguntou olhando nos olhos da mulher que amava.

 

- Alex me solta, eu não tenho tempo para conversar.

 

- Você está sem tempo a dias, não atende minhas ligações, não responde minhas mensagens. - falava tentando controlar as lágrimas. - Eu to  aqui por você Helena, eu vim porque eu queria saber como você estava e por que tem fugido de mim ... e quando  eu chego aqui você nem fala comigo.- Disse limpando as lágrimas e sorrindo amarga. - Agora que voltou a enxergar se deu conta de que não me ama foi isso, viu que eu sou uma mulher. - apontou pra si mesma. - E se arrependeu?

 

Helena também não conseguia segurar as lágrimas, não entendia o porquê de todo aquele desespero da morena, já que dizia te amar tanto por que a traiu, será que foi um momento de fraqueza, mas se lembrou do dia em que viu ela de novo no centro com o ex e então disse no impulso.

 

- Eu não quero mais ficar com você Alexandra. - Viu os olhos da mesma se abrirem mais. - E não foi por você ser mulher, eu apenas me dei conta que cometi um erro em me envolver com você, somos diferentes e não iríamos dar certo, antes mesmo de voltar a enxergar eu já havia concluído isso, só não tive coragem de dizer a você. -Queria que a morena lhe falasse a verdade, que te contasse o que tinha acontecido com seu ex.

 

-Você não pode estar falando a verdade Helena, você não pode ter se enganado tanto em relação aos seus sentimentos, eu...- Estava atordoada, andava de um lado para o outro com a mão na cabeça olhando para baixo- Eu não posso ter me enganado assim em relação a você.

 

- Talvez a gente tenha confundido as coisas, você como médica confundiu seu cuidado com amor e eu confundi as coisas também, carência, enfim.- Olhava para a morena, não queria que a mesma descobrisse que tinha visto ela com o Henrique, queria ver se a outra seria honesta com ela e dizer seu erro.

 

Musica que eu estava ouvindo quando escrevi essa parte Glass Heart (feat. Sam Tinnesz)

 

- NÃÃÃÃÃÃO.- Gritou assustando a outra.- Diga isso por você, eu não confundi meus sentimentos, isso é loucura, eu nunca senti por ninguém o que eu sinto por você. - Se aproximou de Helena, fazendo a outra recuar. - EU... TE ... AMO.- seu rosto estava molhado.- Se isso não é amor eu realmente não sei o que é amar, você é tudo pra mim, eu estou disposta a mudar a minha vida para estar com você, eu sou capaz de qualquer coisa para ficar com você, eu fui sua desde a primeira vez que te vi, eu nunca mais consegui pensar em outra pessoa, sequer olhar, sem me lembrar de você.

 

Helena não conseguia ver mentira nas palavras dela, mas também não podia acreditar, viu com seus próprios olhos a morena sem roupa nos braços de outro, o que iria adiantar ela falar sobre isso com a Alexandra, ela nunca iria confessar, era capaz de inventar uma história para não assumir a culpa, já que sempre quis se passar por uma pessoa correta.

 

Não queria prolongar o assunto, apenas queria acabar com essa dor que estava sentindo.

 

- Eu não amo você Alexandra. - Sentiu um buraco se abrir no peito ao dizer isso. - Vai embora, por favor. - olhava para o chão enquanto tinha lágrima escorrendo pelo seu rosto,não tinha coragem de olhar para a mulher.

 

-Fala isso olhando nos meus olhos- Alexandra segurou seu rosto com as duas mãos a fazendo olhar nos seus olhos. - Diz que isso não é verdade. - Disse com uma dor insuportável no peito.

 

- Vai embora Alexandra, por favor. - Olhou nos olhos da morena, se lembrando da primeira vez que tinham se visto, do primeiro beijo, da primeira vez que fizeram amor, como gostaria de ter olhado aquela mulher naqueles momentos. Sem esperar sentiu os lábios da morena sobre os seus.

 

O mundo para as duas parou naquele momento, havia tanto amor naquele beijo, Alexandra primeiro deu um selinho e depois intensificou o beijo numa fúria jamais sentida, parecia querer engolir a ruiva, que não pareceu querer se esquivar, correspondendo a altura. Quando as línguas se encontraram as duas gem*ram. Alexandra enfiou a mão entre os cabelos da ruiva, já Helena segurou o rosto da morena com umas das mãos e a outra colocou na cintura da mesma. Antes que a Helena pensasse em dizer alguma coisa Alex interrompeu o beijo.

 

- Esse beijo prova que você sente algo a mais que amizade e carência por mim. - Estava com a boca vermelha. - Eu voltarei Helena, não irei desistir de ficar com você, eu te amo e irei lutar até eu ver que você realmente não sente nada por mim. - Disse dando uma ultima olhada para ruiva, antes de seguir para fora da casa.

 

Depois de sair da casa de Helena foi até a casa de seus pais, inventou que tinha acontecido um problema no hospital e que precisava voltar para a cidade, os mesmo ficaram preocupados e tentaram a todo custo fazer com que a filha fosse ao dia seguinte, mas a mesma insistiu que precisa ir, mas que voltaria logo. Beatriz ainda pensou que iria convencer a filha a ficar, mas se surpreendeu ao ver o carro sair pelo campo, não adiantava correr, não iria segurar a filha ali.

 

- Pelo visto quem irá levar a Helena sou eu. - Disse Eduardo cansado. - O que a Alexandra tem Beatriz, primeiro ela aparece do nada aqui, sai com cara de choro do posto de saúde àquela hora e agora me faz uma coisa dessas, sai daqui essa hora da noite?

 

- Eu não sei meu bem, estou preocupada com ela. - disse pensativa, não queria falar nada com seu marido antes de falar com Alexandra e ela lhe contar o que estava acontecendo.

 

Os dias foram se passando, Geraldo já tinha voltado para casa e estava melhor, Helena estava pensando em voltar com sua carreira de musica e professora. Precisava retomar a sua vida. Depois que Alexandra esteve ali ficou pensativa em tudo o que ela havia lhe dito, viu o sofrimento nas palavras dela, no olhar dela. E se para aquelas cenas houvesse explicação, decidiu que iria falar com Alexandra se ela voltasse mesmo.

 

----------x-------------

 

- Como está sendo aí Xanda. - Perguntou Manoela animada, tinha ficado muito preocupada com a irmã depois que ela chegou da fazenda, ela chorar como havia visto, era possível sentir a dor que ela sentia ao chorar, em cada soluço que dava. Fez de tudo para confortar sua irmã  naquela noite e durante o dia, foi quando a equipe instalada no Brasil dos Médicos sem Fronteira entraram em contato pedindo que Alexandra fosse até o Rio de Janeiro para uma reunião. A mesma recebeu o apoio incondicional de Manoela, embarcando no dia seguinte.

 

Seus pais ainda estavam na fazenda, o que era para ser alguns dias parecia ter sido permanente, já que o casal de senhores decidiu prolongar esse tempo. Dizendo sobre um possível volta a qualquer momento, não garantindo o dia exato, acreditava que seus pais estavam tomando coragem para dizer a eles que decidiram morar na fazenda.

 

Já tinha umas duas semanas que Alexandra estava no Rio de Janeiro em treinamento e acertando as últimas papeladas para poder viajar, sua primeira parada seria em Conacri, capital da Guiné.  Se lembrava do que sua irmã tinha lhe dito antes de decidir viajar.

 

- Alexandra- estava séria, como poucas vezes havia visto antes.- Você vai para o Rio de Janeiro. - Segurou o seu rosto com uma das mãos.- Você vai a essa reunião e vai ver o que eles tem pra te falar. - seu olhar agora era de carinho- Esse sempre foi seu sonho mana, viajar o mundo para ajudar o próximo, não posso deixar que desista disso.

 

- Mas o que eu faço com a Helena.- E se ela não quiser ir comigo.

 

- Se ela te amar vocês vão se resolver e ela vai com você- Não queria desanimar a irmã, mas não sabia o que esperar de Helena, se surpreendeu ao ouvir o que sua irmã te contou, já que também acreditava que a ruiva estava também envolvida com a irmã.

 

- E se ela não for.- Perguntou com lágrimas nos olhos.

 

-Se ela não for você vai, esse sonho é seu e existe antes mesmo dela entrar na sua vida, se ela não for é porque não era pra ser mesmo, vai doer, mas vai passar- Levantou o rosto de Alex. - Nada é por acaso minha irmã, viva as oportunidades.

 

E era isso que estava fazendo, já tinha conversado com o responsável por enviar os médicos e outros profissionais, sobre levar Helena, tinha explicado a situação e foi avisada que a ruiva seria de sua responsabilidade, já que para fazer parte da organização MSF precisava  ser selecionado e passar por todo um processo. Sendo aceito o acordo pela morena, ficando inteiramente a responsabilidade de cuidar do seu amor.

 

Depois de mais alguns dias voltou RS, contando tudo para uma Manoela animada por ver que as coisas estavam se encaixando para sua irmã.

 

- Você contou pra ela que esta indo hoje?- Se referia a irmã ter falado com Helena no telefone a alguns dias.

 

- Não, eu falei rápido com ela. - Se lembrou da conversa.

 

- Alô. - Era a ruiva quem tinha atendido a ligação.

 

- Oi Helena, tudo bem com você?- Perguntou ansiosa.

 

- Oi Alex.- Respondeu baixo. - Estou bem e você?

 

- Eu to bem também, liguei pra saber de você- silêncio do outro lado da linha.- Sinto falta das nossas conversas.

 

- Nós precisamos conversar, você vai voltar na fazenda?- Parecia ansiosa.

 

- Vou sim, eu estou demorando porque precisei viajar, estou aqui no Rio de janeiro resolvendo umas coisas, mas assim que eu voltar vou direto pra fazenda.

 

Será que ela estava passeando com o ex dela, resolveram ficar juntos no rio, esse pensamento fez a ruiva sentir uma raiva e uma magoa grande dentro de si.

 

- Ok,preciso desligar tenho que fazer algumas coisas.

 

- Helena eu ...- Não foi possível dizer mais nada, a chamada tinha sido encerrada.

 

- Eu nem acredito que você vai viajar Alex, serão 6 meses.- Dizia com pesar, nunca tinha ficado tão longe e por tanto tempo sem ver a irmã.- Eu vou sentir sua falta.- Abraçou a Alex.- Promete se cuidar?

 

- Prometo - sentia seu coração apertado por estar deixando tudo, seu conforto, sua família, sua vida para viver algo tão diferente do que já passou.

 

As duas passaram mais algum tempo juntas até Alexandra se despedir da irmã e ir para fazenda.

 

-------x--------

 

-Bruno como você consegue carregar isso, pelo amor de deus que peso! - Enquanto Helena não encontrava uma direção certa do que fazer da sua vida estava tirando seu tempo para ajudar seus pais na fazenda, nesse momento estava ela de calça, botina e com um chapéu enorme lhe tampando do sol, tentando arrastar um saco cheio soja para ajudar o rapaz, já que seu pai estava ausente, por estar ainda se recuperando, resolveu ela mesma ocupar o lugar do pai por uns tempos.

 

- Deixa isso Heleninha, é muito pesado pra você eu to acostumado. - Ria da força que a mulher fazia pra arrastar o saco, já que ele conseguia o pegar com facilidade.

 

- Acho que vou deixar mesmo, não tenho mais forças, nem pra arrastar um sequer desses sacos ali- falou apontando para um montante próximo a eles.

 

- Eu também to cansado, já está tarde, vamos parar por hoje, amanhã eu do jeito nisso. - Falou o rapaz suado.

 

- NÓS damos jeito nisso. - Falou fingindo estar brava.

 

- Sim ... nós kkk- falou imitando a ruiva.- Vamos lavar essas mãos e ir embora, porque hoje o dia foi puxado.

 

Os dois caminhavam lado a lado, sempre intercalando em brincadeiras.

 

Até que o rapaz pegou Helena e a colocou no ombro e começou a correr com essa que só fazia gritar.

 

- Me coloca no chão Brunooooo.- Sorria.- Paraaaa.

 

- Diz que aceita tomar um sorvete comigo sábado então.- Falou rodando com a moça.

 

- Ta bom, eu aceito. - Ela disse por fim fazendo o rapaz lhe soltar. Não estava muito afim de sair, adorava a companhia do rapaz, ele era um bom homem, mas  tinha medo de sair com ele e isso dar a entender que estava interessada em algo mais. O que não seria verdade, já que seu coração tinha lugar para apenas uma pessoa, Alexandra.

 

Ao se lembrar dela sentiu saudades, lembrou do tempo em que eram as duas que se divertiam pela fazenda como amigas e depois passaram a namorar em cada cantinho daquele lugar, olhava ao redor e se lembrava das descrições que a mulher lhe dava, onde será que ela estava?

 

Decidiu dar uma chance para a morena se explicar, tinha medo de se magoar com o que iria ouvir, mas era melhor ouvir a verdade, queria ouvir o que a morena tinha para lhe dizer sobre o fático ocorrido. Não é possível que todo aquele amor seria uma mentira.

 

- Ta pensando na morte da bezerra Heleninha. - O homem nesse momento lhe jogou água com a mangueira.

 

- Ahhhhh- gritou ela sentindo a água gelada no corpo.- Bruno você me paga.- Avançou no rapaz na intenção de tomar a mangueira dele e então os dois ‘'brigavam para ver quem molhava mais quem.

 

Até que rapaz largou a mangueira e segurou a nuca da ruiva fazendo assim com que suas bocas se encontrassem.

 

A ruiva sabia o que estava acontecendo e se permitiu no primeiro instante, queria saber se poderia sentir algo com aquele beijo, mas o resultado foi frustrante, se sentiu a pior pessoa do mundo, parecia que tinha acabo de trair Alexandra, o beijo não encaixou, o gosto não era bom e interrompeu.

 

- Bruno...- disse um pouco afastada do rapaz, tinha uma mão na boca.- Isso não é certo eu não gosto de você assim.

 

- Mas pode aprender a gostar, deixa eu fazer você gostar de mim, eu ...- Foi interrompido.

 

- Eu gosto de outra pessoa Bruno. - Gosto não, eu a ama. - Eu não quero te iludir, por favor vamos esquecer isso.- saiu sem dar chance do rapaz lhe responder.

 

Helena foi direto pra sua casa, tomou um longo banho e depois jantou com seus pais. Demorou a dormir, se perguntava quando a Alex voltaria, se arrependeu da maneira como a tratou na ultima ligação, o ciúme e a magoa falaram mais alto. Não podia se condenar também, depois do que tinha visto era normal se sentir assim, estava ansiosa, não era possível que Alexandra apenas ficou com ela por pena ou pior, por carência, para curtir. As duas eram adultas, não estavam mais na idade de fazer joguinhos, iria esperar a mulher chegar para conversarem.

 

No dia seguinte estava de pé cedo, queria saber se sua mãe iria precisar dela por ali, caso contrário iria voltar a ajudar o Bruno, não queria ficar de mal com o homem, pois poderiam ser amigos.

 

- Pai cadê a mamãe.

 

- Ela ta lá na sede da fazenda.

 

- Ta bom, irei lá falar com ela. - Disse se encaminhando para a saída, mas antes voltou e olhou para o pai.- E o senhor ta bem?

 

- To sim, cada dia melhor, daqui uns dias to novinho em folha. - Disse sorrindo.

 

- Fico feliz por isso, agora vou lá na mãe, qualquer coisa me grita.

 

- Ta bom filha, obrigado.

 

Foi caminhando pela fazenda até chegar na casa dos patrões e quando entrou pela porta dasala encontrou sua mãe consolando uma Beatriz aos prantos.

- O que foi?- Se preocupou.

-

É a Alex filha.

 

O coração da ruiva nesse momento parou.

 

- O que aconteceu, ela ta bem?- perguntou rápida pela preocupação.

 

- Sim filha...- Elisa olhava com pesar para Beatriz. - Mas ela foi embora.

 

- Como assim? - Sorriu assustada.

 

- Ela veio ontem aqui a tarde Helena. - Foi Beatriz que respondeu, tinha um olhar tristepara ruiva. - Ela veio se despedir, pois hoje ela iria viajar pra fora do país.

 

Helena não podia acreditar no que tinha acabado de ouvir, como assim ela iria viajar hoje, porque não tinha ido falar com ela, por que ela simplesmente foi embora. Sentou-se no sofá derrotada.

 

- Ela foi aceita filha, lá nos Médicos sem Fronteiras, e vai passar seis meses lá. - Elisa respondia calma, estranhou a moça não ter se despedido da filha, mas também não iria falar nada, talvez ela tivesse com muita pressa e não deu.

 

Helena se despediu das duas mulheres e foi até a árvore em que ficava com Alexandra, lá chorou, gritou, de raiva, por amor, por não ter suas perguntas respondidas, por ela não ter se despedido e por ama lá tanto.

 

------------x--------------

 

Depois que Alexandra viu Helena com Bruno suas emoções congelaram, não conseguiu chorar naquele momento, tirou forças não se sabia da onde para ir até seus pais e no caminho decidiu que iria embora de uma vez, iria antes o previsto para a África, não tinha mais nada que a prendesse aqui no Brasil.

 

No caminho de volta pra casa parou o carro e chorou, seu corpo doía, batia no volante, tinha raiva de si mesma, tinha raiva da Helena, não a queria ver nunca mais se fosse possível.

 

Agora sentada na poltrona do avião refletia tudo o que tinha passado nesses últimos meses e decidiu que queria apagar tudo da sua memória, não acreditava que o amor era pra ela. 

 

Fim do capítulo