Capítulo 7 - A prova dos nove
Alícia andava de um lado para o outro em sua imensa sala de jantar enquanto refletia se deveria ou não ir até a casa de Laura. Mais cedo tinha ficado sabendo por intermédio de Bene ( sua nova melhor amiga estratégica) que o estado de saúde do pai de Laura havia piorado e ela não estava nada bem.
Elas conversavam raramente por mensagens, mas talvez fosse agora a hora de dar um passo a frente. Não queria se aproveitar do momento de sensibilidade dela para conseguir nada, só queria estar por perto neste momento tão difícil.
Acabou por largar a taça agora vazia sobre a mesa e entrar no carro. Dirigiu até a casa de Laura e ficou quase uma hora entre saber se pegava ou não o elevador. Acabou por subir e não demorou para bater a campainha diante do número 303.
Laura mal podia acreditar que um infeliz batia campainha em seu apartamento àquela hora da noite. Nove horas. Nove míseras horas da noite! Onde estava aquele maldito porteiro? Levantou da cama a contragosto após descartar a ideia de deixar a pessoa bater até desistir como costumava fazer na maioria das vezes.
Para a sua surpresa (e susto!) parada a sua porta estava nada mais, nada menos que Alícia.
_ Boa noite, Laura. _ ela parecia um pouco bêbada e mais linda que da última vez que a havia visto. _ Desculpa aparecer assim de surpresa e sem avisar. Presumo que você já estivesse deitada e não quero atrapalhar.
Laura queria ter forças para resistir, mas ela era fraca e preferiu deixá-la entrar. Afinal, nem estava com cabeça para essas coisas mesmo!
_ Bene me contou que seu pai não está bem e eu vim para dizer que estou à disposição para qualquer eventualidade. _ Alícia estava sentada no sofá e tentava manter a pose de executiva. Vestia uma linda blusa branca e uma calça preta, os cabelos negros presos num coque mal feito enquanto os sapatos pareciam saídos de revistas de moda. Coisa cara, como ela sempre gostava de usar.
_ A Bene sempre com a boca maior que o mundo. Ela não deveria ter ido te encher com as minhas coisas. Agradeço a sua preocupação. Isso tudo está sendo mesmo muito exaustivo.
Laura sentou- se na poltrona de frente a Alícia e não podia disfarçar sua tristeza. Os olhos estavam inchados, vermelhos e ela parecia prestes a recomeçar a chorar novamente. A vontade de Alícia era abraçá-la, mas conteve-se. Já havia estragado tudo uma vez e não queria que isso acontecesse novamente.
_ Meu pai sofreu um AVC há alguns anos, mas parece que o raio pode mesmo cair duas vezes no mesmo lugar. Ele teve outro ontem de manhã enquanto tomava café para ir trabalhar. Ele que está quase se aposentando, está prestes a descansar, passa por uma dessa. E pior, o médico disse que a chance de seqüelas é bem maior agora. Eu nem sei mais o que pensar. Sério mesmo, preciso ir vê-lo urgentemente, e eu já havia combinado no trabalho essa folga agora no Natal. Então, terei que esperar mais alguns dias para ir para casa.
_ Você vai passar o Natal em casa? _ Alícia estava quase se autoconvidando em pensamento.
_ Sim, irei. Todos os filhos vão. Não que sejamos muito, claro, mas com essa do papai agora todos querem estar por perto. Estamos dilacerados. _ Laura recomeçou a chorar. As lágrimas escorriam sem que ela pudesse perceber, tão longe estavam seus pensamentos.
_ Nossa, Laura! Eu não imaginava que fosse algo tão grave. Tenho certeza que seu pai vai sair dessa. Assim como um raio cai duas vezes no mesmo lugar, uma mesma pessoa pode sobreviver a ele também duas vezes. Não fique assim, por favor.
Alícia abraçou Laura que àquela altura se deixou consolar pelo seu velho e antigo amor da adolescência. Sentir aquele cheiro, aquela respiração, os braços ao redor do seu corpo apertando-a forte parecia tornar a sua dor mais suportável. Ao mesmo tempo sentia vergonha de deixar-se ser vista assim, tão vulnerável.
_ Desculpa, eu estou molhando sua blusa toda com minhas lágrimas.
_ Você pode ao menos uma vez na vida ser menos chata? Permita-se chorar e eu estou aqui para ficar com você. _ Alícia disse em tom de brincadeira. _ Tenho certeza que não vou pegar uma pneumonia por causa de algumas lagriminhas, certo?
Laura conseguiu sorrir um pouco e aos poucos foi se acalmando, mas continuou ali, nos braços de Alícia. Ao mesmo tempo seu sonho de noites anteriores (com ela nua goz*ndo) parecia vir à tona todas as vezes que a olhava.
_ Você veio dirigindo desse jeito, Alícia? _ não pode deixar de sentir o leve cheiro de álcool no hálito de executiva.
_ Sim, por quê? _ Alícia preparava um café na pequena cozinha do apartamento.
_ Porque está errado. Você não poderia ter dirigido assim até aqui. Você sabe os riscos que correu e que expôs a outras pessoas agindo feito uma babaca? _ Laura gesticulava e xingava parada na porta da cozinha.
_ Parece que a velha Laura já está de volta, não é mesmo? Nem sabia que você possuía a capacidade de chorar. Pelo jeito ainda resta um pouco de humana em você.
Laura não achou graça. Olhava Alícia movendo-se pela sua cozinha e mal podia acreditar que ela estava ali mesmo. Não sabia se bateria ou beijaria Bene quando a encontrasse.
_ Não brinque comigo, Alícia, eu posso estar triste, mas ainda não estou morta.
Alícia riu alto enquanto servia o café para as duas. Logo estavam na sala bebendo café e vendo televisão. Laura só conseguia imaginar qual era o modelo de calcinha Alícia estava usando, se a executiva estava com vontade de beijá-la assim como ela estava.
Laura só queria entender como que um sentimento que por tanto tempo ficou represado abrisse as comportas logo agora. Como pode algo assim tão doloroso renascer com médias esperanças de final feliz?
Alícia foi ao banheiro e quando voltou parecia decidida a tomar uma atitude. Caminhou até Laura e a beijou.
Laura a princípio a empurrou, mas parece que foi apenas para aumentar a fome de Alícia que a beijou novamente com mais vontade. Não tiveram nem tempo nem chance de irem para o quarto, trans*ram ali mesmo, sobre o tapete da sala.
Apesar do momento delicado que estava passando, Laura parecia estar em outro planeta enquanto trans*va com Alícia. Aquela era a prova dos nove. O sex* real que ela estava buscando. O sex* que ela sentia falta após as relações vazias que vinha tendo com várias meninas.
Alícia sabia o que fazer, sem pressa ou grosseria, sabia esperar e sabia agir. Laura nem conseguia lembrar da última vez que havia tido uma relação sexual como aquela. Acabaram indo deitar na cama e dormiram abraçadas como se fossem as adolescentes de tempos atrás. Ainda eram?
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Van Rodrigues
Em: 01/01/2019
Olá,
Capítulo maravilhoso.
Por favor, não demore muito. Estou adorando.
Parabéns!
Beijos!
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