Capítulo 8 - Parabéns para você...
Cap. 8
As coisas não poderiam estar mais estranhas por aqui. Após uma trans* maravilhosa daquelas que te deixam de perna bamba no dia seguinte, fiquei vários dias sem responder as mensagens sempre insistentes de Alícia. Não que eu não quisesse repetir a dose, mas eu estava bloqueada com medo de que todo o sentimento que um dia eu senti por ela voltasse de uma vez.
Sendo assim, não respondi a nenhuma mensagem. Ela aos poucos foi desistindo e quando dei por mim estava às vésperas do meu aniversário de 30 anos.
Sem perceber, estava tão presa a uma rotina cansativa na redação do jornal que nem dei por mim quando cheguei em casa e me deparei com vários amigos na pequena sala do meu apartamento.
Bene como sempre era a líder da matilha e veio logo correndo diante da minha cara de surpresa:
_ Nem me pergunta como conseguimos entrar aqui. Você sabe o quanto amamos você e faríamos qualquer coisa, até mesmo coisas ilegais como abrir portas de apartamento com técnicas ilegais para fazer uma festa para a nossa amiga mais linda.
_ Bene, sua boba. _ elas se abraçaram. Só então Laura percebeu a presença de Alícia, logo ao fundo ao lado de nada mais, nada menos, que Vivi. _ Ainda abraçada a Bene, ela cochichou no ouvido da amiga _ O que diabos essas duas estão fazendo juntas aqui?
Bene sorriu sem graça.
_ Quando montamos o grupo do seu aniversário no whatsApp, alguém as colocou e quando eu cheguei aqui ambas estavam lá embaixo esperando. Me desculpa, mas parece que essas duas são mesmo meio loucas da cabeça.
Vivi caminhou até Laura e Bene a soltou:
_ Boa sorte e qualquer coisa grita._ saiu rindo.
Vivi a abraçou forte e a beijou no rosto:
_ Desculpa aparecer, eu nem sabia se você iria gostar de me ver por aqui. Mas eu precisava vir. Eu precisava te ver de alguma forma. Espero que goste.
Vivi a entregou um pequeno embrulho e se despediu. Laura ficou sem entender tamanha maturidade da parte de Vivi.
Logo após foi a vez de todos os outros convidados que também a abraçaram e lhe deram vários embrulhos de variados tamanhos e cores. Laura só conseguia agradecer a todos eles enquanto tentava se aproximar de uma Alícia distante e solitária.
_ Oi. _ disse ao perceber que ela fora a única a não cumprimentá-la.
_ Oi. _ Alícia estendeu a enorme mão de dedos compridos e frios na direção de Laura. _ Parabéns!
Laura olhou para a mão estendida a sua frente e a apertou.
_ Trouxe-lhe um pequeno presente. Espero que não se importe com a minha presença. _ empurrou-lhe uma pequena caixinha vermelha.
_ Obrigada, Alícia, não precisava se preocupar.
Alícia apenas a olhou de volta, o olhar inexpressivo, inexato, vazio.
_ Posso fumar aqui dentro? _ ela perguntou olhando pela janela a cidade de se movimentando apressada naquela noite de sexta-feira.
_ Claro. _ Laura sentia seu corpo todo tremer. Ficou parada ali olhando aquela mulher linda fumar enquanto os amigos cantavam e dançavam sujando o chão e os copos.
_ Acho que eu te devo um pedido de desculpas.
_ Pelo o que? Ficamos assim, Laura, você não me deve nada, eu não te devo nada.
Neste momento, Vivi entrou novamente no apartamento e caminhou até Laura apressada. Os olhares de Bene e da jornalista se cruzaram e o cheiro de problema parecia solto no ar.
_ Preciso conversar com você, Laura, rapidinho, lá fora se possível.
Vivi estava com o rosto coberto de lágrimas e sem saber muito bem o que fazer, Laura acabou a acompanhando até o corredor do apartamento, o local mais tranqüilo para qualquer tipo de conversa.
_ Olha Laura, só para você saber. Estou pensando em deixar o Júnior. Descobri algumas mensagens estranhas no celular dele e não vou aceitar nenhuma traição. Não depois de tudo que tenho passado ao lado dele, todo esse teatrinho que encenamos como dois palhaços para essa sociedade conservadora dessa cidade. Então, só para você saber que caso alguém fale que o motivo é você, saiba que não é. Que você é na verdade apenas o sinal que eu tive num momento muito difícil da minha vida que eu havia perdido a única pessoa que eu amei de verdade por burrice. E não venha com esse papo de ter paciência com o Júnior porque já estou cansada de ser a esposa perfeita. Eu preciso respirar e sinto que estou impossibilitada de fazer isso.
Laura não conseguiu dizer nada. Vivi falava alto demais, totalmente alterada. Quando deu por si, Vivi grudou seus lábios nos lábios de Laura e as duas se beijaram longamente. Ali mesmo. No meio do corredor. Com a festa rolando dentro do apartamento e com duas pessoas olhando: Bene e Alícia.
Quando terminaram de se beijar, Vivi saiu correndo enquanto pedia desculpas e desceu as escadas sem esperar ao menos o elevador. Quando Laura olhou para trás, viu o passado e o presente arruinado de uma só vez nos olhos atormentados de Alícia. Alícia essa que passou por ela como um foguete e assim como Vivi desceu as escadas correndo.
Bene abraça Laura que sem entender nada do que estava acontecendo, entendeu tudo.
Ela entendeu que ainda gostava de Alícia e que o que sentia por Vivi tinha se transformado num grande buraco oco e vazio. Ela entendeu que se Alícia errou no passado isso não lhe dava o direito de errar também agora que a vida estava dando a elas uma segunda chance (ou o mais próximo disso). Ela entendeu que seu coração doía por ver que ela agora estava mais magoada do que nunca e com toda a razão do mundo.
Ela entendeu tudo isso e tudo aquilo que as palavras não conseguem decifrar e começou a chorar abraçada a uma Bene igualmente aterrorizada:
_ Se sua vida um dia virar um livro, ficaremos ricas. Nunca vi uma vida sexu*l*-amorosa tão bad assim. Você não poderia simplesmente pegar e não se apegar? É tão difícil assim facilitar as coisas? Credo, hein? Vamos entrar que o pessoal já deve ter notado a nossa ausência.
Laura enxugou as lágrimas no pano de prato que Bene trazia no ombro e fechou a porta do apartamento.
Fim do capítulo
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