O dia de Alícia não estava nada legal. Ela que trabalhava há anos numa empresa multinacional começava a pensar sobre a possibilidade de tirar férias prolongadas para repensar seu ritmo frenético. Além de estar no limite, sentia que talvez fosse a hora de recomeçar em outro lugar.

            E com a cabeça queimando de dor de cabeça, ela resolveu dar uma parada para almoçar às duas da tarde. A pressão de um negócio que quase estava se realizando a estava deixando sem sono e muitas vezes, estressada.

            Para piorar o chefe aquele dia resolvera apertar-lhe com datas, prazos e conchavos. Caminhou apressada até um restaurante próximo ao escritório e quando deu por si, estava sentada numa mesa ao lado de sua rival Vivian Cândido Lima, a Vivi, que mais parecia um fantasma na vida de sua amada Laura.

            Não demorou muito para que a audácia fosse maior que as regras de boa educação e Vivi aproveitando que sua amiga fora ao banheiro, pulasse para a mesa de Alícia:

            _ Ora, ora, se não é a executiva mais temida da cidade. Sinto-me honrada por saber que ando freqüentando os ambientes certos.

            _ Na verdade eu pensei que você ainda estivesse em Lua de Mel. Como está o Júnior?

            _ Bem, estamos bem. Pena que tivemos que voltar mais cedo da lua de mel. Júnior não pode se ausentar muito do trabalho dado que ele comanda tudo por lá. Um saco, uma pena, uma lástima. _ após uma longa pausa, Vivi olhou dentro dos olhos de Alícia _ Você tem visto a Alícia? Uma amiga minha viu vocês duas juntas na festa da Bene.

            Alícia sorriu maliciosa enquanto bebericava um pouco de vinho. Raramente ela se permitia beber assim tão cedo, mas aquele dia ainda pediria muitas taças.

            _ Sim, de fato eu a encontrei na festa de Bene e confesso que mesmo após tantos anos, Laura ainda continua mexendo comigo. Sabe, é como se ela tivesse o poder de me atrair e atiçar os meus maiores delírios e fantasias sexuais.

            A amiga de Vivi voltou do banheiro e sentou-se sem emitir qualquer som ou reação. Sabia que daquela mesa o único cheiro condizente seria o de pólvora.

            _ Vejo que você ainda continua com um ego maior que o mundo, não é mesmo? Mas saiba que você não é mulher para a Laura. Só Deus sabe o quanto ela sofreu por você e o quanto ela chorou em meus braços.

            _ Engraçado, querida _ o sarcasmo de Alícia parecia aumentar a cada palavra_ porque eu sinto que ela sofreu o mesmo tanto por você. Acho que estamos empatadas no quesito “pisar na bola’’ com a Laura, certo?

            Vivi levantou enraivecida e antes de se retirar, ainda acrescentou:

            _ Não entre em uma briga que você não sabe como pode terminar.

            _ Você já está casada,Vivi, você já fez as suas escolhas. Agora por favor, vê se para de encher o saco e volte para a sua casa e para o seu marido. Cabe a Laura decidir com quem ela quer ficar, se é que uma de nós duas ainda está no páreo.

            Vivi saiu apressada do restaurante e sua amiga arrancou logo atrás. Alícia ficou rindo daquela cena ridícula que mais parecia saída de um folhetim de novela. Terminou  sua taça calmamente enquanto olhava a foto de Laura no celular.

Fim do capítulo