Ully por May Poetisa
Afeição
26.
Comparecer na casa dos outros sem avisar, é algo não recomendado, mas, eu estava tão atordoada que só lembrei que deveria ter ligado quando cheguei no condomínio e fui avisada que a Zípora não estava. Agradeci ao porteiro e dei meia volta em retirada.
Será que ela não está mesmo ou nem quis me receber? Mal terminei de concluir este pensamento e avisto o carro dela. Surpresa ela reduz a velocidade e abaixa o vidro.
- Ully!
- Zípora, desculpa nem avisei que eu vinha.
- Sem problemas, eu estava na casa dos meus pais. Venha, vamos entrar.
Dei a volta, entrei no lado do passageiro e nos cumprimentamos com um beijo nos rostos. Eu estava com muitas saudades dela, sentir seu perfume me deixou inebriada.
- Quer água ou suco?
- Não, obrigada.
- Fique à vontade.
- Obrigada.
Nós nos sentamos no sofá da sala dela. Como sempre ela toda bela; vestindo um vestido florido e com o cabelo amarrado em um rabo de cavalo.
- Então, o que lhe traz aqui?
- Zí, estou com problemas.
- Quais?
- Fui notificada por suspeita de doping. No meu exame detectaram um tipo de estimulante e eu posso ser até punida.
- Nossa!
- Eu te juro, não fiz nada errado.
- Ei eu sei disso, deve ter sido algum engano.
- Tive muitas dores de cabeça, latej*v* muito e acabei tomando remédio. Acho que foi isso.
- Poxa que droga!
- Nem me fale, fiquei arrasada.
- Calma, vai dar tudo certo. Vem cá (disse me puxando para um abraço).
- Senti sua falta (falei chorosa).
- Eu também.
- Você sumiu, nem apareceu mais na academia.
- Reta final de semestre e com dois cursos. Precisei dar uma pausa na academia.
- Não respondeu minhas mensagens.
- Achei melhor dar um tempo para pensarmos sobre este lance confuso que temos.
- É muito ruim sentir saudades suas. Confesso que fiquei vendo suas fotos com nostalgia. Lembrando de todos os nossos momentos juntas. Tenho tanto medo de te perder.
- Ully, na realidade você tem medo de viver o que tem surgido entre nós.
- Não diga isso.
- Dói ouvir a verdade?
Sim, dói e lágrimas começaram a rolar dos meus olhos. Sinto tristeza, pois, eu e ela não estamos bem. Agora, a suspeita de doping. Abaixei a cabeça e chorei. Ela levantou e voltou com um copo de água.
- Obrigada (agradeci e bebi).
- Ully, você precisa descobrir quem você é e o que quer para a sua vida.
Apenas balancei a cabeça em concordância, me acalmei e aos poucos parei de chorar. Ela sentou-se na extremidade do sofá e fez sinal para eu me deitar no colo dela. Assim que o fiz, ela bagunçou meu cabelo e começou a fazer carinho. Sei que nem mereço e ela é uma pessoa maravilhosa. Foram minutos deliciosos junto dela.
- Você não tem aula hoje? (Ela quis saber).
- Sim, mas, já fechei a matéria de hoje.
- Entendi.
- E você?
- Reta final de semestre, só falta finalizar as matérias de dois dias, segunda e quarta.
- Que bom.
- Nem me fale. Não sei se vou dar conta viu e a tendência é ficar mais puxado no decorrer dos cursos.
- Você vai conseguir sim.
- Assim espero.
- O que você quer jantar?
- Estou sem fome.
- Não pode ficar sem comer.
- Eu sei.
- Vou me aventurar na cozinha. Vem!
Ela grudou na minha mão e puxou em direção a sua cozinha. Não aceitou minha ajuda, fiquei sentada num banco e escorada na bancada. Ela preparou um delicioso salmão assado, o arroz também estava todo saboroso, ela fez um risoto muito caprichado. Eu que estava sem fome, fiquei até faminta e me alimentei como se eu não comesse a dias.
- Tudo delicioso, muito obrigada!
- Eu estava inspirada e animada para cozinhar.
- Você é perfeita em tudo que faz.
- Que nada.
- Me perdoa por te chatear e magoar (pedi).
- Relaxa!
- É errado eu correr para ti quando estou com problemas. Você merece mais!
- Acontece.
Arrumamos a cozinha juntas e já estava tarde, mesmo sem querer eu preciso ir embora.
- Zí, tenho que ir.
- Fica!
- Não vou te atrapalhar?
- Ully, pode parecer masoquismo da minha parte. Só que mesmo com todos os empecilhos, gosto de estar contigo.
Eu a abracei com força e ficamos abraçadas por longos minutos. Em seguida dividimos uma taça de sorvete. Depois eu tomei banho, ela me emprestou um pijama e enquanto ela tomava banho folheei um livro que estava na sua cabeceira. Tantos poemas lindos. Escolhi um e assim que ela saiu do banho declamei.
“Amor é um Fogo que Arde sem se Ver
Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se e contente;
É um cuidar que ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor”?
Luís Vaz de Camões, in "Sonetos”.
Os olhos dela brilharam e foi tão bom ver aquele belo sorriso que ela tem. A sua reação foi totalmente inesperada, ela pegou seu violão sentou na poltrona, começou a tocar e cantar.
Eu te amo (Chico Buarque de Hollanda)
“Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir
Se nós, nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu
Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu
Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios inda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair
Não, acho que estás se fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir”.
Eu sorri e também chorei. Quando ela terminou aplaudi e ela voltou a cantarolar.
Não é fácil (Marisa Monte)
“Não é fácil
Não pensar em você
Não é fácil
É estranho
Não te contar meus planos
Não te encontrar
Todo dia de manhã
Enquanto tomo meu café amargo
É, ainda boto fé
De um dia te ter ao meu lado
Na verdade eu preciso aprender
Não é fácil, não é fácil
Onde você anda
Onde está você
Toda vez que saio
Me preparo pra talvez te ver
Na verdade eu preciso esquecer
Não é fácil, não é fácil
Todo dia de manhã
Enquanto tomo meu café amargo
É, ainda boto fé
De um dia te ter ao meu lado
O que eu faço
O que posso fazer?
Não é fácil
Não é fácil
Se você quisesse ia ser tão legal
Acho que eu seria mais feliz
Do que qualquer mortal
Na verdade não consigo esquecer
Não é fácil
É estranho”.
- Canta e toca mais (pedi quando vi ela guardando o instrumento).
- Já está tarde.
- Por qual razão escolheu estas duas músicas.
- Os títulos correspondem ao que venho sentindo em relação a nós duas. “Eu te amo e Não é fácil”.
- Eu tenho complicado tudo entre nós.
- Sim!
Mais nada precisava ser dito, tudo já tinha sido exposto e só nos restou dormir.
Fim do capítulo
Olá! Já estamos entrando na reta final e acredito que vou conseguir concluir neste mês mesmo. Grata por cada leitura. Beijos e braços, May.
Comentar este capítulo:
Anny Grazielly
Em: 25/12/2020
Que bom que Zi falou tudo que estava sentindo... muito complicado tudo isso..
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Mille
Em: 13/12/2018
Olá querida May
Zi é uma fofa eu tinha certeza que ela iria confortar a Ully. E que músicas lindas amei a segunda conheço muito já a primeira vou ouvir depois.
Como estamos chegando na reta final moça gostei não quero mais capítulos viu.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Zí é um encanto, muito fofa mesmo. Que bom que gostou das músicas =D
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