Ully por May Poetisa
Conselhos
27.
No dia seguinte acordei sentindo um aroma muito bom. O quarto dela exalando banho recém tomado e o agradável perfume dela tomando conta de todo o espaço. Só que ela não estava mais no quarto. Usei o banheiro, fiz minha higiene matinal e me troquei.
Encontrei-a já na cozinha preparando sucos e panquecas.
- Bom dia! (Saudei me aproximando).
- Bom dia! Dormiu bem?
- Sim e você?
- Também.
- Quer ajuda?
- Já estou terminando.
- Tem aula hoje?
- Não, mas vou até lá para saber minha nota e devolver uns livros.
- Te atrasei?
- O professor vai ficar por lá a manhã toda. Não estou com pressa e podemos tomar café da manhã tranquilamente.
- Que bom!
- Trabalha hoje?
- Sim.
- Vamos comer então e te deixo lá.
Nós nos alimentamos e logo saímos. Ela fez questão de me deixar na academia. Nem treinei, pois, já estava no horário de começar meu expediente. Francisco me ligou no meio da manhã e marcou um almoço comigo; fiquei apreensiva e ansiosa.
A suspeita foi infundada e não fui prejudicada, já que a quantidade de medicamento diagnosticada foi insignificante. Senti um alívio gigantesco e apreendi a lição.
O restante da semana foi tranquilo, voltei a fazer exames e cuidei da minha alimentação.
No sábado pela manhã, Bruno e eu, treinamos intensamente para a nossa última disputa deste ano.
- Vai almoçar na faculdade?
- Vou sim, aproveitar que ainda não entraram em recesso.
- A comida lá é boa e tranquila para nós?
- Sim, tem acompanhamento de nutricionistas.
- Legal. Vou tomar uma ducha e vou contigo.
- Beleza!
Tomamos banho e seguimos para o restaurante universitário. Não sei o que me deu, mas, do nada me bateu uma vontade enorme de desabafar com ele. Contar tudo que venho passando. Só que sou tão fechada que nem mesmo sei por onde começar.
- Gostei do almoço daqui.
- É muito bom!
- Ully, você está querendo me falar algo?
- Sim! Tem compromisso agora a tarde?
- Não.
- Posso te alugar para papearmos um pouco?
- Claro! Que tal uma volta pelo Sesc?
- Pode ser.
Nós fomos no carro dele. Andamos por lá, assistimos uma galera jogando e depois sentamos em um dos bancos do jardim.
- O que se passa?
- Nem sei por onde começar.
- Coração?
- Aham.
- Complicado!
- Nem me fale e o problema que eu tenho complicado ainda mais.
- Você reconhecer isso já é um bom começo.
- Será?
- Desembuche!
- Gosto muito de uma pessoa, na realidade e sendo sincera amo!
- E?
- Ando tendo atitudes toscas.
- Ully, eu perdi o amor da minha vida, por ter deixado para depois o que deveria ter vivido ao lado dele. Não cometa o mesmo erro.
Comecei a chorar e ele me puxou para deitar no seu ombro. Aos poucos me acalmei.
- Amiga, desabafe!
- Bruno, meu intuito aqui em Bauru é cursar minha faculdade que amo e ter sucesso no judô. Felizmente tenho atingido meus objetivos. Só que eu não esperava me apaixonar e nem viver tudo que venho vivendo. O problema é que não sei lidar, não por preconceito, mas, por não ter coragem, tenho muito medo.
- Eu te entendo. A vida nos prega surpresas e o amor surge sem nem menos nos avisar.
- É bem isso.
- E quando é amor tudo conspira, o beijo é perfeito, a presença se faz necessária e tudo se torna melhor.
- Me sinto desta forma, porém, tenho estragado tudo entre nós.
- Minha amiga, não tenha medo de ser feliz, se permita!
- Não consigo.
- Ully, se eu pudesse voltar no tempo teria feito tudo diferente. Dói tanto saber que perdi o amor da minha vida. Ele nem mesmo fala comigo, optou por me bloquear, mudou de número e quer me esquecer. Já imaginou passar por isso?
- Nem diga isso.
- Então não cometa o mesmo erro.
- Só que é tão difícil.
- Como se conheceram?
- Neste ano na academia.
- E como você se sentiu?
- Fiquei encantada com tanta beleza e simpatia.
- Você já namorou alguma vez?
- Não.
- Como foi a aproximação?
- Incrível e agradável. Fui convidada para conhecer o jardim botânico.
- E quando você vacilou.
- Ao recusar o convite para o baile e ir acompanhada um colega da faculdade.
- Nossa que vacilo!
- Bebi tanto neste dia que até passei mal.
- Você bebendo?
- Foi surreal.
- Confia em mim?
- Claro!
- Sei quem é, mas, não sei pronunciar o nome.
- É que...
- Relaxa, eu também sou gay.
- Não sei se sou.
- Têm dúvidas?
- Inseguranças.
- E a loira é assumida?
Apenas balancei a cabeça em sinal positivo.
- Fala o nome dela, nem sei dizer.
- Zípora.
- Nome forte.
- É.
- Primeira vez que você fala sobre ela para outra pessoa?
- Isso.
- Quando contei para os meus pais sobre a minha sexualidade, eles não se surpreenderam e não me discriminaram. No Azerbaijão, quando contei para o meu pai que eu não estava completamente feliz, ele me disse: "Um verdadeiro campeão vence as lutas fora do tatame. Um verdadeiro campeão vence a si mesmo".
- Que lindo!
- E verdadeiro.
- Obrigada por me ouvir.
- Não precisa me agradecer. Conte para ela sobre seus medos, peça ajuda para lidar com suas angústias. Não se afaste e se permita.
- Acho que não sou capaz.
- Criatura, você tem coragem para entrar num tatame e enfrentar rivais. Só que não consegue lutar contra seus próprios medos?
- É complicado.
- Pare de complicar e compreenda que nunca é tarde para ser feliz!
- Você é um ótimo amigo.
- Conte sempre comigo!
Ele me deixou em casa e fiquei refletindo sobre as suas palavras. Tomei um bom banho, me arrumei e fui ao encontro dela.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Mille
Em: 18/12/2018
Olá querida May
Que bom que a Ully pode desabafar com alguém e essa pessoa ter uma história para ela ficar atenta.
Só espero que ela se abra mais e se permita a Ziporia faz tudo por ela, mais chegará uma hora que a paciência acaba.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Ainda bem que ela despertou antes da paciência da Zí acabar né
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