Faltavam poucos minutos para a segunda aula, e Ilara se pegou pensando na conversa que havia tido com Milena. Nunca tinha se abrido daquela forma com outra pessoa que não fosse sua mãe. Por incrível que pareça, aquilo lhe trouxe uma sensação maravilhosa. Agora tinha com quem contar. Uma amiga que entendia toda aquela confusão de sentimentos que sentia.

            Em meio a todos os seus pensamentos, Ilara olhou para Milena que estava logo atrás e viu a morena sorrir. Talvez a outra soubesse o que ela estava pensando.

            — Turma, a aula acabou! Espero que todos tenham entendido o conteúdo — A professora que estava na sala falou, enquanto arrumava seus materiais dentro da bolsa e logo depois saiu.

            Ao notar isso, Ilara olha para o relógio pendurado na parede. Cada segundo que ia marcando no objeto fazia a garota sentir uma incontrolável ansiedade lhe invadindo. Sabia de quem era a próxima aula e o que essa pessoa conseguia lhe causar.

            — Você está ansiosa? ­­— Milena perguntou ao notar Ilara olhando para a porta da sala.

            Ilara não consegue responder a sua amiga, pois naquele momento ouviu som de passos vindo do corredor. Só podia ser Michelle, no entanto, se decepcionou ao ver que era uma mulher morena de cabelos longos.

            — Quem é essa mulher? – Milena perguntou surpresa.

            — Eu não sei — Ilara estava decepcionada e ao mesmo tempo preocupada. Será que Michelle havia desistido delas duas e pediu demissão para não ter mais nenhum contato?

            — Bom dia, turma! — a desconhecida falou ao se encaminhar para a mesa.

            Naquela sala, não era somente Ilara que estava surpresa com a aparição dessa morena, mas também a turma toda. A maioria dos alunos gostava de Michelle. Todos já estavam tristes ao pensar na possibilidade da mesma ter deixado de dar aulas para eles.

            — Clama, pessoal! — A professora notou que alguns alunos estavam preocupados – Me chamo Amanda. Hoje irei substituir a professora Michelle, pois ela teve que se ausentar.

Neste momento, todos passam a ficar aliviados, todavia Ilara não deixou de pensar que Michelle, com aquele ato, queria demonstrar que não iria investir em um relacionamento mais sério entre as duas.

- Ilara, calma, ela deve ter tido algum problema – Milena tentou acalmar sua amiga, pois havia a notado cabisbaixa.

- Não, Milena, ela não tá querendo nada comigo.

- Meu deus! – A morena fala um pouco alto, porque havia percebido que Ilara era muito complicada.

- Meninas, por favor, deixem essa conversa de vocês para outra hora e tentem prestar atenção na aula – A professora falou ao notar que as duas alunas estavam conversando sobre assuntos que não tinham relação com a aula.

***

Quando o ponteiro do relógio marcou 11 horas e 15 minutos, Michelle chegou em casa, estava se sentindo bem por ter conversado com a mãe de Ilara, contudo estava triste por não ter visto sua garota naquele dia.

Sabia que na cabeça da garota poderia passar um monte de coisas, quando soubesse que Amanda iria lhe substituir, no entanto, não podia falar com a mesma que iria conversar com sua mãe.

- Como foi com sua sogra? – Marisa havia acabado de chegar em casa.

- Foi bem... ela estava precisando de alguém para desabafar.

- Entendo. Não deve ser fácil passar pelo o que ela está passando.

Marisa se senta ao lado de sua irmã no sofá, e a nota com uma feição cansada.

- Tem mais alguma coisa que você não está querendo me contar?

- Marisa, a Helena passa por momentos horríveis, não sei como ajuda-la a sair dessa situação. Ela depende muito do marido, tem medo do mesmo.

- Se denunciarmos seu marido será que essa situação poderia resolver?

- Eu não sei, Marisa, o Augusto é muito influente na cidade, não sei se poderia ajudar ou piorar a situação de Helena.

-Como que pode ser assim? – Marisa se levanta do sofá um pouco exaltada – A mulher está sendo agredida pelo seu próprio marido e tem medo de denunciar, porque o mesmo é muito influente na cidade.

- Marisa, se acalme! – Tentou deixar sua irmã calma, pois ficar nervosa não iria resolver aquela situação – Isso tudo não é fácil, mas preciso mostrar para Helena que ela precisa buscar a sua felicidade.

- Acho que isso vai ser muito difícil.

-Eu sei que vai, mas para Helena se libertar, ela tem que entender que ela pode um dia voltar a ser feliz e que ela pode deixar de depender de Augusto.

****

Helena estava arrumando o seu quarto quando notou um carro sendo estacionado na casa em frente. Ao perceber que era Ester, Helena passa a admirar a mulher a sua frente.

Ester estava muito bonita usando uma roupa toda branca e com os cabelos soltos.

Não podendo se controlar, Helena passou a desejar a médica. Sentiu muita vontade de toca-la, sentir aquele corpo entre seus braços.

A morena havia lhe dado um mês para procura-la em sua casa, contudo, ela ainda não tinha coragem para fazer isso.

Se ela fosse a casa de Ester e Augusto descobrisse, seria o fim de sua vida ou iria viver bem longe de seus filhos, pois sabia que seu marido não queria lhe ver perto da médica.

Michelle havia ido em sua casa mais cedo e a aconselhou a se libertar, mas como ela poderia começar a fazer isso?

Helena não tinha nada, não tinha condições de sair de casa com seus filhos e sair sem eles era a última coisa que ela faria.

Precisava dar o primeiro passo, mas não sabia como começar e agora a mulher que amava estava morando em frente a sua casa, e novamente não podia fazer nada. Além de ver muitas mulheres indo se deitar com seu amor, era isso que Helena pensava que iria acontecer dali por diante, Ester iria ter várias amantes e esfregaria todas em sua cara.

E agora, qual era o primeiro passo que Helena deveria dar para sair daquela vida que só contribuía para sua infelicidade?

***

Ao chegar no portão de sua casa, Ilara notou Ester na casa em frente a sua. Estranhou a presença da prima de seu pai ali, pois Augusto queria manter distância da morena.

Quando notados por Ester, Ilara e Gustavo ficaram um pouco sem jeito e nem souberam como responder ao cumprimento da médica, pois estavam com muito medo de serem reclamados pelo pai.

Ester não estranhou o comportamento dos filhos de seu primo, pois sabia muito bem como Augusto era, tinha certeza que o mesmo tinha proibido os filhos de falar com ela.

***

Ilara entrou em sua casa e foi a procura de sua mãe. Não a encontrou na sala e nem na cozinha onde costumava ficar. Então só lhe sobrou o quarto.

- Mãe? – Ilara entrou no quarto e viu a sua mãe próxima a janela olhando para a casa de Ester.

-Filha? – Helena se assustou, pois havia sido pega em flagrante.

- Estranhei a ausência a sua na cozinha – Ilara disse um pouco desconfiada.

Helena notando que Ilara estava lhe olhando de uma forma diferente, fecha a janela do quarto, tentando em vão não demonstrar que estava olhando para Ester.

- Melhor irmos almoçar – Helena nem deu chances para que Ilara dissesse algo.

Com o comportamento de sua mãe, Ilara ficou intrigada, parecia que sua mãe queria esconder algo.

-Será que ela também viu a prima do papai, e não quer nos falar nada? – A garota se perguntou quando se dirigia para a cozinha.

Após chegarem a cozinha, as duas mulheres se depararam com Gustavo que estava comendo seu almoço com muita pressa.

- Você não perde tempo – Ilara comentou em meio a risos enquanto se servia.

- Vocês estavam demorando.... estou com fome... não consegui esperar – As mulheres acharam graça do jeito do garoto – Mamãe, por que a prima que papai não gosta estava em frente a nossa casa? – Gustavo perguntou todo inocente e Helena fica estranha.

Gustavo não nota o corpo de sua mãe todo tenso, mas Ilara sim, ela estava achando muito esquisito o comportamento de sua mãe toda vez que tocava no nome de Ester.

- Aconteceu alguma coisa aqui? – Augusto perguntou ao chegar a cozinha.

- Estava perguntando a mamãe o porquê...

- Gustavo como sempre estava falando besteiras –  Interrompeu o seu filho e só Augusto não estranhou essa atitude. Helena sabia que mais cedo ou mais tarde, Augusto iria descobrir que Ester era a nova vizinha, mas achou melhor o mesmo não saber de nada por agora.

** *

Após o almoço, Ester se deitou na cama e ficou se perguntando se algum dia iria dividir aquele espaço com Helena. Ela sabia que a outra mulher lhe queria. Agora só faltava a mesma tomar uma atitude.

- Seria tão maravilhoso ter você aqui comigo – Ester pensou alto.

Ester sabia que era muito difícil Helena largar tudo e ficar com ela, mas não deixava de acreditar que um dia seria possível.

Havia dado um prazo para Helena lhe procurar, no entanto não iria segui-lo. Marina estava certa, existia muitas coisas em jogo. Helena tinha seus filhos e querendo ou não era casada com o encosto de seu primo.

Talvez Helena não fizesse ideia disso, mas Ester estava disposta a também aceitar os seus filhos em sua vida. Não tinha como ser egoísta a ponto de querer que Helena fique com ela sem seus filhos.

O seu celular nesse momento toca. Era Marina, estava querendo saber como Ester estava.

- Já te falei, Marina, vou tomar cuidado – Falou em meio a risos, pois Marina estava muito preocupada e com razão, pois Augusto não parecia ser uma boa pessoa.

- Está bem! O que está achando da casa nova?

- Confortável, mas está muito vazia. Não tem o que eu quero.

- Mas acho que um dia vai ter – Marina falou ao se lembrar da noite que havia conhecido Helena, havia notado que a mesma ainda sentia algo por Ester.

- Espero que sim, pois não consigo vê-la e não poder fazer nada. Estou morrendo de vontade de sentir aquela mulher... meu Deus! Desculpe-me, Marina, acho que não deveria ter dito isso.

- Não precisa se desculpar, Ester, isso não está mais me incomodando.

Marina falou com uma naturalidade que a deixou surpresa. Pensava que iria amar Ester para sempre, mas algo dentro dela parecia estar mudando.

- Acho que no fundo, você está começando a gostar daquela mulher – Ester comentou e Marina ficou se perguntando se isso poderia ser possível.

Fim do capítulo