Capitulo 35

Marisa estava no balcão de sua loja, dobrando algumas roupas, quando Marina apareceu. Não reconheceu a loira de imediato, mas quando isso ocorreu, não conseguiu disfarçar seu contentamento.

- Então quer dizer que agora você está me seguindo? – Marisa falou e Marina que estava distraída olhando umas lingeries se assustou.

- O que você está fazendo aqui? – Marina não fazia ideia que aquela loja era de Marisa.

- Aqui é meu trabalho... sentiu a minha falta e resolveu me visitar? – Marisa falou um pouco sacana enquanto reparava na lingerie que Marina tinha em mãos – Acho que vai ficar linda em você.

O rosto de Marina ficou um pouco vermelho. Aquela mulher a sua frente não tinha jeito, sempre tentava lhe cantar.

- Eu nem sabia que você trabalhava aqui – Colocou a lingerie em seu lugar e encarou a morena – Você sempre se acha demais.

- Calma! Só quis brincar contigo – Marisa sorriu. Estava contente por ver a loira ali, mas como sempre a mesma já estava soltando os cachorros para cima dela. Parecia que Marina não conseguia levar nada na brincadeira.

- Era de se esperar mesmo. Você só sabe brincar e tentar me seduzir.

- Ai... também não precisa me maltratar.

- Eu não estou lhe maltratando, Marisa, estou falando a verdade – Marina cruzou os braços e Marisa começou a sorrir feito boba. Estava sentindo muita vontade de tirar todo aquele mau humor da mais velha – Por que está rindo? - intrigou-se.

- Só estou te achando linda com essa cara de que se pudesse me bateria.

- Você não é normal, Marisa, não sei como ainda perco meu tempo.

-Sabe porque você perde seu tempo ainda? Porque você sabe que ainda vou te conquistar, mas acredito que muita coisa já está mudando ai dentro.

- Não se iluda, eu não me envolvo com mulheres imaturas como você.

- Bom... prefiro não discordar de você, pois sei que o tempo lhe mostrará a verdade – Marisa pega a lingerie que Marina havia pego anteriormente – Leve, esse será o meu primeiro presente para você.

- Eu não quero nada de você – Tenta devolver, mas Marisa não aceita.

- Tente ser boazinha comigo ao menos uma vez – Marisa olha Marina nos olhos e deixa a loira sem reação. Talvez Ester estivesse certa, algo dentro dela estava mudando e a responsável por isso era Marisa.

***

ILara estava em seu quarto descansando quando sua mãe apareceu.

- Filha, posso conversar contigo? – Helena resolveu conversar com sua filha, após estranhar o comportamento da mesma durante o almoço.

- Claro, mãe! – Se senta na cama e tenta não demonstrar que estava triste por Michelle não ter ido a aula naquele dia, no entanto, estava fazendo isso em vão, pois Helena já havia reparado que sua filha não estava bem.

- Te notei tristinha durante o almoço. Aconteceu alguma coisa? – Helena se sentou ao lado de sua filha.

- Não foi nada, mãe – Ficou com vergonha de falar o que estava acontecendo para sua mãe. Talvez estivesse sendo um pouco boba, aquela mulher ao seu lado já sabia de tudo, não tinha mais porque esconder o que estava acontecendo.

- Filha, eu sei que está acontecendo algo.

- É complicado, mãe – Olha para sua mãe que retribui o olhar de forma afetuosa.

- O que houve, minha menina? – Helena fez com que sua filha colocasse a cabeça sobre seu colo.

- Michelle, mamãe... ela não foi a escola hoje. Estou com muito medo dela ter desistido da gente.

Helena fica sem saber o que responder para sua filha. Sabia o porquê de Michelle ter faltado, mas não podia dizer a verdade. Era melhor Ilara não ficar sabendo sobre a conversa de mais cedo.

- Filha, ela pode ter ficado doente... ter ido resolver algum problema – Tentou acalmar a garota.

- Não, mãe, desde que ela começou a dar aulas para a gente, ela nunca faltou e a professora que a substituiu, não disse o que a levou a faltar hoje. Tenho certeza que ela viu que era melhor se afastar de mim.

-Filha, acredito que meu posicionamento como mãe não deveria ser esse por ela ser sua professora – Helena fala e Ilara fica com medo de ser repreendida, contudo o que veio em seguida acabou a deixando intrigada – Você e Michelle precisam conversar. Não podemos tirar conclusões precipitadas.

- Mãe, por que a senhora me entende tanto?

- Porque eu sou sua mãe.

- Não, não acho que seja só isso- Ilara tira a cabeça do colo de sua mãe – Eu sinto que não é só isso.

- Ilara, não vamos começar com aquelas conversas malucas. Eu ajo assim porque sinto que Michelle gosta de você de verdade e que você sente o mesmo.

- Mãe... Parece que tem algo nisso tudo que ainda não sei – Ilara fica se perguntando o que poderia ser. Não era possível sua mãe aceitar tudo assim tranquilamente. Ela estava se relacionando com uma mulher que era sua professora, não tinha como a sua mãe aceitar como se fosse algo normal, pois para Ilara não era.

- Ilara, não imagine coisas – Helena se levanta da cama. De alguma forma aquela conversa começou a lhe incomodar.  Estava com medo daquela conversa tomar rumos que ela não teria mais como mentir.

- Mas é a verdade... Às vezes parece que a senhora já teve um relacionamento como o meu. Não com uma professora, mas com alguém que as pessoas não aceitariam.

- Filha, pare com isso – Ficou nervosa – O seu pai é a única pessoa que amei e amo – Ao falar essa frase, um nó se formou em sua garganta, aquilo não era verdade e estava lhe machucando por dentro.

- Desculpa, mãe – Ilara reconheceu que havia ido longe demais com sua mãe.

- Tudo bem – Helena vira de costa para Ilara e deixa uma lágrima escorrer pelo seu rosto – Melhor deixar você descansar.

Após  sua mãe sair de seu quarto, Ilara se deita na cama e afunda sua cara no travesseiro. Não deveria ter falado daquela forma com Helena.

Sua mãe lhe entendia, isso era muito bom, mas essa facilidade para lhe entender deixava Ilara intrigada, parecia que sua mãe  sabia muito bem o que era passar pelo que ela estava passando.

- Acho que minha mãe esconde algo–  Se senta na cama e ao olhar pela janela, ela vê Ester que olhava para sua casa parecendo que estava procurando algo.

Ilara ainda não sabia o que tinha entre sua mãe e Ester, mas desconfiava que alguma coisa havia ocorrido no passado, pois toda vez que tocava no nome de Ester, sua mãe ficava esquisita. Helena poderia não gostar da prima de seu pai, mas Ilara sentia que não era isso.

O celular começou a tocar, Ilara já sabia de quem era a ligação, por isso começou a ficar toda nervosa. Estava com muito medo do que Michelle iria lhe dizer.

- Oi, acho que preciso lhe dar algumas explicações – Michelle foi direta, pois estava com medo da garota estar pensando alguma besteira –  Tive que resolver alguns problemas, por isso não fui a escola hoje.

- Pensava que havia desistido de... – Ilara interrompeu a sua fala, as duas não tinham nada concreto, então Ilara achava que para Michelle não existia “nós” ainda.

-Nós, Ilara, é isso que você quer dizer?– Sorriu com o jeito da garota. Não sabia descrever o que sentia ao falar com a garota, mas sabia que era muito forte.

- Sim! – Ilara ficou envergonhada, ela era inexperiente, talvez já estivesse imaginando coisas demais para uma relação que nem havia começado ainda.

- Eu não desisti de “nós”, só não pude ir a escola hoje – Não queria falar para a garota que tinha ido a sua casa, pois era melhor deixar tudo que Helena havia dito em segredo – Precisamos conversar pessoalmente para ver o que vamos fazer. Essa situação é muito complicada, mas o que sinto por você é forte demais.

Ilara fica sem saber o que dizer, não sabia falar sobre o que sentia, contudo estava da mesma forma que Michelle, o que sentia era forte demais. Talvez ainda não soubesse dizer se era amor ou não, mas o que sentia por sua professora nunca havia sentido por alguém.

- Diga algo – Michelle fica apreensiva com o silêncio da garota. Às vezes tinha medo de estar sentindo sozinha e estar forçando a outra garota a algo.

- Eu não sei o que dizer... nunca senti o que sinto.

- E o que é que você sente?

- Sinto vontade de estar com você – Ilara e Michelle passam a sentir os seus corações batendo tão forte. Que ficaram com medo de outra conseguir ouvir do outro lado da linha – Eu não sei explicar – A garota ficar sem graça.

- Não precisa explicar – Michelle não queria forçar a garota nada. Já sabia como Ilara era, tinha que ir aos poucos, senão iria assustar a garota – Aos poucos você me fala... não precisa ter pressa. Agora preciso ir. Tenho muitas provas para corrigir.

- Está bem – Fica sem graça, pois na última prova não havia ido bem. Michelle se lembrou desse fato, mas não quis dizer nada, não queria constranger a garota e sabia que as coisas não andavam fáceis para a mesma.

- Tenta uma ótima tarde, minha menina – Michelle fala e Ilara fica sem saber o que responder. Ser chamada de “minha menina" a deixou sem reação. Não tinha achado ruim, pelo contrário, havia achado tão maravilhoso que a única coisa que conseguiu fazer foi sorrir feito boba.

***

Os passos pelo corredor começaram a ficar firmes. O que fez Augusto se levantar de sua cadeira para receber o seu amigo.

- Que história é essa que sua prima irá administrar o hospital? – Aldo, um médico de 50 anos, chegou a sala de Augusto um pouco irritado. Havia retornado para o trabalho, após suas férias, e só agora estava sabendo da novidade que iria acabar com seus planos.

-Sente-se – Apontou para a cadeira a sua frente – Vou resolver essa situação – Augusto já estava pensando em formas de tirar a sua prima do seu sonhado cargo.

- Então é verdade – O homem não estava nada contente.

- Calma, eu vou resolver essa situação.

- Como assim resolver? Ela já até assumiu o cargo. O que pretende fazer, mata-la? – perguntou com ironia.

- Se Ester se meter muito em meus planos, eu sou capaz de fazer isso mesmo – Augusto não conseguia se conforma com a escolha de seus pais e tios. Precisava resolver essa situação, mesmo que tivesse que desaparecer com sua prima, mas essa seria sua última opção. Primeiro, ele iria destruir a carreira da prima para ela aprender a nunca mais se meter em sua vida.

Fim do capítulo