Capítulo 33

Diante das folhas que se locomoviam pelo chão, Ilara se via sendo observada por Milena.

—Ilara, se quiser, não precisa me contar nada agora... Você precisa estar à vontade para se abrir, não quero te forçar a nada ­­— Milena disse pacientemente.

As palavras de Milena foram confortantes, fizeram Ilara ter coragem para se abrir.

— Nunca eu fui de me abrir com as pessoas — Ilara disse um pouco nervosa.

Milena que estava sentada ao seu lado, em um banco que ficava no jardim do colégio, coloca sua mão sobre o ombro da colega e pressiona o lugar levemente.

— Isso não é difícil de se notar, Ilara.

—Sabe quando sua vida está uma confusão? — Ilara olha para Milena, e a mesma sorri gentilmente.

—Sei... A minha vida é uma confusão... Nem todas as pessoas aceitam a minha orientação sexual — Ela diz um pouco sem graça e passa a olhar para o céu.

Ilara neste momento começa a refletir, sua mãe havia lhe aceitado do jeito que ela era, mas sabia que o seu pai não tinha a mesma opinião que a mesma.

— Sabe... No começo, eu ouvia muito da minha mãe que se caso as pessoas soubessem disso, eu ficaria sem amigos... Ninguém iria me querer... Já doeu muito isso em mim... As pessoas não me aceitarem por ser o que sou — Disse triste.

— E você ficou sem amigos depois que souberam? — Ilara sentiu um nó se formando em sua garganta neste momento.

— Algumas pessoas se afastaram, e essas não posso dizer que eram amigos... Confesso que no começo fiquei triste, mas depois entendi, as pessoas que realmente gostam de você pouco estão ligando para isso... Por exemplo, você, está aqui comigo mesmo sabendo de tudo.

— Mas eu não posso nem te julgar — Ilara fala e abaixa a cabeça.

— Por que não pode me julgar, Ilara? — Milena estava querendo ouvir o que já tanto desconfiava.

Ilara se sentiu travada, suas mãos suaram, seu coração passou a bater muito forte.

—Eu...

— Acalme-se. Eu estou aqui para te ouvir, não?

—Sim... É que é complicado.

—Falar do que você sente?

—Falar do que sou, Milena — Ilara juntou suas mãos e olhou para elas.

— Bom... Você é uma menina... Tá no último ano do ensino médio...

— Eu sou como você, Milena, entende? — Encarou Milena, e ficou envergonhada.

Milena riu e Ilara ficou confusa.

— Por que está rindo? — Perguntou, pois não esperava aquela reação da outra garota.

— Bom... — Pegou uma das mãos de Ilara e se impressionou. A outra garota estava suando frio — Ilara, não fique assim... Já havia desconfiado... O seu comportamento diante de Michelle dava para perceber que de alguma forma, ela mexia contigo. Só não toquei nesse assunto, pois fiquei com medo de você se assustar... Você havia me dito que sua família era muito conservadora... Me aceitar é uma coisa... Agora se aceitar é complicado, tem muita gente que não se aceita e se reprime.

—Foi difícil entender isso no começo.

— Que você gostava de mulheres ou que você gosta da Michelle? — Milena pergunta e Ilara ficou surpresa, pois a outra menina sabia de coisas demais — Você fica toda nervosa quando a Michelle surge, Ilara, e noto que ela parece sentir algo também — Interrompeu sua fala, pois não queria dizer algo sem ter certeza.

—Acho que não preciso te falar mais nada — Ilara conclui.

— Eu apenas sou uma boa observadora — O clima entre as duas passa a ficar mais leve.

—Foi difícil entender tudo o que sentia no começo... Nunca havia gostado de alguém.... Eu nunca tinha ...

—Nunca tinha namorado? — Milena falou e Ilara fica sem graça, pois ela tinha 18 anos e era muito difícil uma pessoa daquela idade não ter ficado com alguém. Não é errado esperar o momento certo, mas normalmente as pessoas estranham isso.

— Sim, mas...

— Ilara, não precisa ficar envergonhada... Tem pessoas que tem o seu primeiro relacionamento muito novas, todavia, tem pessoas que demoram a se relacionar com outra pessoa por diversos motivos. Isso é normal...

— Mas isso mudou, Milena — Ilara falou um pouco baixo, pois não sabia se podia falar sobre aquele assunto com Milena, porém a outra garota havia se tornado uma grande amiga. Já havia falado sobre sua orientação sexual com a mesma, não tinha mais nem a que temer.

—Tá namorando alguém? — Milena pergunta já esperando ouvir o nome de uma pessoa.

Ilara respira fundo, tentando entender o que estava acontecendo. Ela e Michelle estavam se aproximando, deixando um sentimento forte tomar conta delas, mas não haviam rotulado nada, nem haviam conversado muito sobre isso.

—Ilara, a Michelle... Quer dizer vocês estão juntas... É isso? — Milena perguntou, pois havia notado que Ilara estava sem saber o que dizer — Você pode me contar tudo, Ilara, não vou contar nada a ninguém — Disse calmamente.

— Não é isso — Ilara abaixa sua cabeça, pois queria descrever com palavras o que sentia, porém estava difícil. Nenhuma palavra parecia definir todo o sentimento que tomava conta de seu peito quando via ou pensava em Michele.

— Então, o que seria? — Milena olhava para Ilara pacientemente, sabia que tudo aquilo era complicado para a outra garota.

—Não consigo rotular o que temos...

—Então, vocês têm algo? — Milena sorriu pois suas desconfianças se confirmaram.

— Não sei bem o que temos, Milena — Ilara fica pensativa com isso, precisava conversar com Michelle, para entender o que elas estavam tendo, pois mesmo depois de terem se rendido a aquele sentimento que estava tomando conta delas, ainda não haviam conversado muito a respeito da relação delas.

— Mesmo assim, Ilara, você está “pegando” a professora — Depois da fala de Milena, uma interrogação surgiu na cabeça de Ilara.

— “Pegando”? — Aquela palavra soou tão estranha para os ouvidos de Ilara.

— “Pegando”, Ilara, você está ficando com ela... Ah... Acho que você não é acostumada a ouvir esse tipo de coisa.

—Não, Milena...

— Mas me diga — Milena passa a ficar curiosa a respeito de como seria essa relação, pois Ilara não estava com uma simples garota. Ela estava com uma das professoras do colégio. Se era complicado namorar uma garota, imagina uma professora — Você sente medo do que está acontecendo entre vocês, Ilara? Bom... A Michelle é nossa professora, essa relação no será bem vista, principalmente pelos seus pais.

— A minha mãe sabe que eu estou com a Michelle, Milena — Ilara fala assim um pouco cabisbaixa e Milena fica surpresa com que havia acabado de ouvir, não pensava que a garota ao seu lado teria coragem de se assumir para a mãe.

— Você disse para sua mãe que gosta de mulher? Qual foi a reação dela? — Milena perguntou preocupada, muitas vezes havia visto Ilara triste, talvez pudesse ser isso, a sua mãe não lhe aceitava, mas isso não poderia ser, pois se fosse isso, todos no colégio já estariam sabendo dessa história e Michelle estaria correndo o risco de perder o emprego.

— Ela reagiu da melhor forma possível — Ilara falou e ficou pensativa. Sua mãe havia lhe aceitado fácil demais, a entendia tanto. Parecia que já havia passado por tudo aquilo, mas isso era meio impossível, pois para Ilara, sua mãe era hétero e de acordo com a mesma seu pai havia sido seu único namorado.

— Ela sabe e te aceita? — Milena fica confusa — Então, você tem sorte, Ilara.

— Não tenho tanta assim, Milena — Ilara disse triste — Tem meu pai, e ele é a pessoa mais complicada do mundo — Falou com pesar.

—Complicada como, Ilara? — Milena passou a desconfiar que talvez o pai de Ilara fosse o motivo da cara abatida da mesma.

Ilara abaixa a sua cabeça e sente muito triste. Era difícil tocar naquele assunto, não era fácil falar para as pessoas que seu pai tratava sua mãe como se fosse nada e que a mesma parecia não se importa com isso.

— Ilara... Você está me deixando preocupada — Milena passa a pensar em um monte de besteiras.

— Ele é uma pessoa preconceituosa, Milena, é isso — Ilara olha para a outra garota, que acaba notando que Ilara estava escondendo algo que mexia muito com a mesma.

Fim do capítulo