Capítulo 20
Fizeram boa parte do trajeto em silêncio. Beatriz estava perdida em seus pensamentos, não queria ceder as investidas de Priscila, mas cada vez que a via o esforço era descomunal, estava magoada, de ego ferido, mas não dava pra esquecer tudo assim, tinham uma sintonia quase perfeita na cama, a última vez que trans*ram foi algo bem intenso, com ela longe era uma coisa, mas com ela ali, provocando daquele jeito, era diferente. E agora tinha Viviane, ou será que sempre teve? Por que se incomodava tanto com uma trans*? Não era apenas uma trans*, Viviane nunca foi apenas mais uma… Nunca foi de se apegar assim, carência, isso era carência, a fazendo confundir tudo, como fez com Letícia. Estava decidida a esquecer que um dia teve algum tipo de contato mais íntimo com Viviane. Seria mais saudável para ambas. E no meio dessa tempestade de pensamentos, chegou ao haras e só se deu conta quando estacionou o carro.
Sílvia recebeu as duas alegremente, estava com saudades de ambas. Mesmo se esforçando para não demonstrar, Beatriz estava visivelmente abatida.
- Está tudo bem, minha filha?
- Está sim tia. É só cansaço. Vou tomar um banho e vou pegar Mérida. Preciso esquecer algumas coisas. - Viviane baixou a cabeça. Sabia que uma dessas coisas dizia respeito a ela. Se sentia mal por isso, mas era melhor que fosse assim, do que se envolver e depois, acabar amargando por mais uma “confusão” de Beatriz. Depois que Beatriz entrou no quarto.
- Aconteceu alguma coisa, Viviane?
- Acho que depois ela conta a senhora. Mas ela realmente tem trabalhado muito. Vou subir também pra tomar um banho, quero ir falar com tio Roberto. Aprendi tanta coisa, que não vejo a hora de colocar em prática. Com licença, dona Sílvia.
Beatriz passou o dia fora. Andando com Mérida, checando algumas obras que faltavam finalizar. Não queria preocupar a tia com seus aborrecimentos. Estava evitando Viviane também. Não conseguia mais olhá-la sem ser com desejo. Tinha que dar um jeito naquilo. Ou então teria que começar a dar explicações, não só pra tia, como para Roberto também e não queria magoar nenhum dos dois.
No sábado, no mesmo instante que viu Giovana chegando ao haras, avisou a tia que precisava ir até a cidade, tinha reunião na segunda logo cedo.
- Mas por que não deixa pra ir amanhã?
- Vou ficar cansada pra segunda, tia. Melhor ir hoje mesmo. Só precisava espairecer um pouco.
Quando Viviane chegou para almoçar, estranhou a ausência de Beatriz.
- Bia não vem almoçar, dona Sílvia?
- Beatriz saiu logo cedo, foi pra cidade, disse que havia uma reunião importante na segunda. Queria se preparar. Essa menina está me deixando preocupada! – suspirou Sílvia.
Viviane também ficou preocupada. Sabia o motivo da fuga de Beatriz e se sentia mal por isso.
Beatriz passou o fim de semana no apartamento. Analisando alguns contratos. Queria ocupar a cabeça o máximo possível. Estava começando a cogitar que a ideia que saí por aí seria uma ótima escolha. Ir a lugares que ninguém a conhecesse, não na rotulasse como “confusa”. Estava cansada de sofrer, de fazer outras pessoas sofrerem. Aquele círculo social, estava sendo nocivo a ela.
Na segunda, após a reunião, chamou Sara para sua sala.
- Sara, estou precisando dar uma espairecida, você segura as pontas por aqui durante um tempo?
- Beatriz, é que minhas férias começam semana que vem. – Sara estava extremamente sem graça, sabia que Beatriz não estava bem.
- Caramba é mesmo! Eu aguento mais um mês, não se preocupe. Se renove, porque vou precisar muito de você. – sorriu para Sara, tentando desmanchar o mal estar.
- Eu posso adiar. Não tem problema.
- De forma alguma! Você está precisando de uma descanso também. Passar um tempo com as meninas. Eu aguento. Pode ir descansar tranquila.
- Obrigada!
- Não por isso, Sara. Você é uma excelente profissional.
Sara entrou de férias na semana seguinte e Beatriz quase não ia mais ao haras. Nem nos finais de semana. Saía com Letícia e Mauro, mas ficava pouco tempo, logo arrumava uma desculpa e ia pra casa. Cortou qualquer contato com Viviane e sempre que avistava Priscila no mesmo ambiente que ela, ia embora sem nem olhar pra trás.
“- Bia?!”
“- Oi, Viviane, tudo bem?”
“- Sim, sim e contigo?”
“- Muito trabalho, mas apenas isso. Conte as boas.”
“- Recebi um e-mail do pessoal do curso. Eles vão adiantar a segunda parte. Começa semana que vem, queria saber se tenho sua autorização e hospedagem.” – Beatriz respirou fundo. Tudo que ela menos precisava era a presença de Viviane e sua namorada. Mas não tinha nenhum motivo maduro e plausível para negar a estada de Viviane em seu apartamento.
“- Claro Viviane, sem problema algum. Quando você chega?”
“- No domingo, tio Roberto disse que me leva, caso você não venha.”
“- Tudo bem então, você ainda tem a cópia da chave. Se eu não estiver em casa, fique à vontade!”
“- Tá certo, Bia. Obrigada!”
“- Até mais!”
No domingo:
- Oi! Bem vinda de volta!
- Oi! É bom estar de volta!
- Bom, entre a gente não existe mais cerimônia, então fica a vontade. Qualquer coisa estou no quarto.
- Bia...
- Oi?
- Você está com raiva de mim? Saiu aquele dia do haras e não voltou mais. Não me envia mais mensagens, sempre pede pra alguém ligar no seu lugar ou deixa recado com sua tia. Te fiz algo?
- Não Vivi. Fez nada não. Eu só não consigo mais ficar perto de você como antes... Estou esperando Sara voltar de férias pra dar uma viajada. Preciso me afastar de tudo e de todos. Cansei de estar sempre confusa. – sorriu de forma triste.
Viviane se aproximou dela lentamente, acariciou seu rosto, viu a primeira lágrima rolar.
- Bia! – falou baixinho antes de beijá-la com suavidade.
- Vivi, acho que sua namorada não vai achar legal isso. Eu não quero bagunçar sua vida...
- Eu não tenho namorada, Bia. Giovana é apenas minha amiga.
- Por enquanto. Eu me afastei de você, justamente pra você não se privar de um relacionamento saudável. Mesmo você deixando claro que não seria nada além daquilo que aconteceu. De uma forma ou de outra eu não aguentaria muito tempo e a gente ia ficar, igual fazíamos na adolescência, antes de você sumir. – Viviane a olhou surpresa.
- Você lembra?!
- Como eu ia esquecer a primeira menina que beijei? A quem eu prometi esperar ter idade suficiente pra poder namorar, lembra disso?
- Sim! – respondeu Viviane com os olhos marejados.
- A gente estava sentada lá perto do rio, embaixo da nossa árvore... Vou lá até hoje, sabia? Quando quero esvaziar a mente. Eu com dezessete anos e você com treze, bem perto de completar catorze, eu te disse: quando você estiver com dezesseis eu peço a Roberto e dona Rosa pra namorar contigo. Seu sorriso dava pra iluminar o dia. Foi ali que a gente trocou nosso primeiro beijo. Mas eu acordei um dia e você não estava mais lá. E nunca mais me deu notícias, por quase dez anos. Eu queria que a minha primeira vez tivesse sido com você, que tivesse sido a nossa primeira vez... Fiquei mal um bom tempo, foi depois disso que fui embora, assim que completei dezoito anos, tudo ali me lembrava você. Era estranho subir num cavalo e não ter seus braços me abraçando... Eu sofri Vivi, você não tem ideia do quanto eu sofri.
Viviane a abraçou com força, queria fazer aquela dor tão nítida no semblante de Beatriz passar. Ela também sofreu, muito, tanto ao ponto de ficar doente. Mas ela não podia dizer o motivo para ter ido embora. Seu tio jamais a perdoaria.
- Depois que você voltou, eu percebi que o amor platônico que criei por Priscila, o fato de nunca ter me apegado a ninguém, era por você. Não queria te trair, ou trair o que a lembrança do nosso amor representava. Eu me deixei levar por Letícia, foi a maior estupidez que fiz na minha vida, a magoei tanto, por ela me lembrar você, nunca foi o contrário. Eu dizia aquelas coisas contigo pra Roberto não desconfiar, você sabe disso. Perto de você eu esquecia do mundo.
- Bia, eu não sei nem o que dizer. Não foi fácil ficar longe... Mas eu ainda não era dona de mim. Tinha que acompanhar minha mãe, onde ela fosse. Não houve um dia que eu não lembrasse da gente, sempre antes de dormir, eu te desejava boa noite. – sorriu travessa. – Lembra como a gente fugia uma pro quarto da outra, pra dormir juntas? Acordava super cedo pra voltar pra casa. Foi difícil dormir sem você... Está sendo difícil dormir sem você.
- Eu não quero atrapalhar você, Viviane. Não quero ser uma dúvida constante na sua vida. Minha fama me antecede, eu não tenho como mudar isso. Estou cansada de está sempre provando algo pra alguém...
- Você não precisa provar nada pra mim, Bia! Você só precisa confiar em mim, confiar em você! Eu jamais vou duvidar do que você está falando, eu aprendi a te enxergar além dos olhos, nunca conheci um olhar mais verdadeiro que o seu.
Trocaram um beijo apaixonado. Beatriz estava com saudade, muita saudade de manter aquela ruiva entre seus braços. Seu coração se aqueceu e voltou a bater no mesmo compasso do dela. Estava feliz, verdadeiramente feliz.
Fizeram amor sem pressa. O mundo poderia acabar, nada seria capaz de atrapalhar aquele reencontro. Viviane se sentia segura, se sentia amada. Tinha certeza que Beatriz também estava segura do que sentia. Tudo até ali havia sido um erro, mas aquele reencontro, deveria ter acontecido a muito tempo.
Letícia e Mauro estranharam ao verem as duas chegando na boate no final de semana seguinte.
- Mais que novidade é essa, ruiva? - perguntou Letícia.
- Eu não sou a ruiva, mas não é novidade nenhuma. Isso já deveria ter acontecido a muito tempo. – respondeu Beatriz pegando uma água para si e uma cerveja para Viviane.
- Pelo visto, sua lábia continua afinadíssima, não é, dona Beatriz? – inqueriu Mauro.
- Não foi lábia nenhuma gente. Eu estou aqui porque quero, porque preciso dela...
- Da mesma forma que preciso de você. – Beatriz a olhou cúmplice. Fernanda ia passando.
- Vocês têm certeza que não estão juntas? – Beatriz estreitou os olhos para Fernanda.
- Criatura, você precisa mudar seu fornecedor de baseado. Olha bem pra mim e olha pra Viviane. Você realmente acha que tem condições da gente está junta? – todo mundo ficou sem entender aquela reação de Beatriz. – Agora olha de novo. – puxou Viviane pra junto de si a beijou de forma apaixonada, parecia que o beijo não ia acabar nunca. Causou um certo alvoroço e algazarra dos presentes. – Agora sim, estamos juntas, grudadas, amarradas. Da forma que melhor lhe convier chamar.
- A rotatividade aí é grande, hein Bia?! Tirando todas que você passou o rodo sem compromisso, tu já se apaixonou no período de pouco mais de ano, mais que qualquer pessoa a vida toda.
- Era, agora, não mais! Eu achei o que nunca deveria ter perdido. – olhava pra Viviane com ternura. Ninguém mais sabia da história das duas, nem mesmo os melhores amigos de Beatriz.
Priscila acompanhava tudo de longe. Ainda não era a hora certa. Era preciso deixar Beatriz envolvida o bastante para a queda ser alta o suficiente. Ela tinha tempo e sabia esperar como ninguém para dar o bote na hora certa.
Beatriz e Viviane passaram a viver como um casal. Dormiam juntas, saíam juntas, quem às encontrasse sempre seria de mãos dadas. Fato que irritava Priscila profundamente.
Havia chegado o dia da inauguração do hotel fazenda. Elas ainda não haviam assumido para Sílvia e para Roberto o relacionamento, apesar de darem todas as pistas sobre o mesmo. Resolveram fazer naquela noite. Aproveitando o clima de festa.
Priscila deu um jeito de estar presente. No final da noite, todos os convidados já haviam indo embora. Beatriz estava sentada a beira da piscina, com Viviane entre seus braços, Mauro e Letícia junto com seus pares, conversavam amenidades e como tinha ficado bonito o local.
- Que bom que estão todos reunidos. Só assim ninguém perde o show!
- Priscila, deixa de graça. Deixa a gente aqui numa boa. Procura teu rumo.
- Pelo visto o plano de vocês deu muito certo, não é mesmo? – Letícia, Mauro e Viviane perderam a cor no mesmo instante.
- Bebeu demais, mulher? Que plano?
- Não te contaram ainda? E eu que sou a mau caráter. Seus dois melhores amigos, junto com essa ruivinha aí nos seus braços, armaram toda aquela encenação dela com a amiguinha, pra lhe testar. Pelo visto, você foi aprovada com louvor. Como eu sei disso? Ouvi a conversa de vocês no banheiro, no dia daquele churrasco. Ela fez jogo duro com você, Bia?
- Cala a boca, Priscila! – falou Letícia rangindo os dentes.
- Isso é verdade, Viviane? – Viviane se virou para Beatriz. Seu olhar dizia tudo. – Então é verdade. Eu sou uma idiota mesmo!
- Bia, não é nada disso, foi ideia minha, a Vivi...
- Não interessa de quem foi ideia. Vocês me fizeram de idiota. - Beatriz falou se levantando e cortando o contato com Viviane.- Por que não me contou? Você teve tempo e oportunidade pra isso Viviane!
- Bia, eu fiquei com medo de você não entender, como não está entendo agora. Não foi um teste de má fé, era só pra saber se você realmente estava interessada em algo mais que uma trans*, se era carência...
- Viviane, eles não conhecem nossa história, eu até entendo essa dúvida, dei motivo de sobra pra isso, mas você?! Caralh*! Você não!
- Bia, vamos conversar, com calma...
- Pega a tua calma e enfia no rabo Mauro. Por isso vocês estavam achando tão divertido tirar um sarro com a minha cara. Eu tenho sentimentos, porr*! Eu sangro igual a vocês! Me senti perdida durante muito tempo, fiz muita merd*, mas eu estava tentando acertar.
- Bom, eu já dei o meu recado, pelo menos eu não agi pelas costas de ninguém! Agora, preciso ir descansar, tomar um banho de espuma relaxante, com a sensação de dever cumprido.
- Eu vou com você, só vou pegar minhas coisas. – Beatriz virou as costas, entrou na casa que era sede da fazenda. Viviane foi atrás.
- Beatriz, espera! Não faz isso, é assim que você vai me tratar? No primeiro problema que a gente tem você foge pros braços de outra?
- O fato de sair daqui com ela, não significa que seja pra trepar. Eu só preciso sair daqui, e se eu pegar um carro, jogo ele no primeiro barranco que encontrar!
- O que está acontecendo aqui? Por que vocês duas estão brigando? – Sílvia apareceu assustada, acompanhada de Roberto.
- Nada tia. Não aconteceu absolutamente nada.
- Beatriz, você não percebe que está fazendo justamente o que ela quer?! Que não há outro motivo pra ela ter dito isso, que não seja separar nós duas?!
- Como é? – Roberto entrou na discussão. – Eu achei tinha resolvido isso a dez anos atrás, Viviane. Eu deixei bem claro pra você que pra trabalhar comigo, você em hipótese alguma poderia se aproximar de Beatriz de novo. – Beatriz parou de subir as escadas, voltou-se para Roberto.
- Então, foi você que a tirou de mim? Foi você que levou ela pra longe?
- Ele nos viu, naquele dia, a beira do rio. – Viviane enxugava as lágrimas. – Arrumou emprego pra minha mãe na fazenda de um conhecido, bem longe daqui. Disse que nunca viu ou soube de história de patrão e empregado se apaixonar e dar certo. Mas parece que isso só servia pra mim, pouco tempo depois ele ficou com sua tia. – Beatriz voltava lentamente, colocou-se de frente a Roberto.
- Por que você fez isso? Eu sempre respeitei sua sobrinha. Pergunte a ela. Eu estava apaixonada por ela e disposta a esperar o tempo certo pra gente ficar junta.
- Vocês eram duas molecas! Sabiam lá no que queriam da vida! Você não dava valor a sua tia, Beatriz, sempre a tratando mal, mesmo ela te dando todo carinho do mundo. Ia fazer minha sobrinha sofrer. Você sempre foi egoísta no que diz respeito aos que gostam, amam você. Você provou seu amor quando foi embora e caiu na promiscuidade, encontrou uma bela forma de esquecer alguém!
- Você não tinha esse direito, Roberto!
- Claro que tinha! Ela é responsabilidade minha! E a partir de hoje, não trabalha mais pra você, vai voltar amanhã mesmo pra casa da mãe.
- Não é você que decide quem trabalha pra mim ou não. Ela vai ficar no haras e ponto final. – Mauro, Letícia, Bruno, Jéssica e Priscila acompanhavam tudo atônitos.
- Então saio eu! Não vou ver minha sobrinha sendo feita de idiota por você! – Beatriz balançou a cabeça negativamente. – E pelo visto, já começou.
- Ela não me fez nada! Eu que agi errado com ela!
- Nós agimos, na realidade. – interveio Letícia.
- Não interessa, ou você larga seu emprego, ou eu vou embora...
- É tão ruim assim ver sua sobrinha junto da minha, Roberto? Você viu essa menina crescer. Ela já fez muita besteira na vida, mas nunca foi uma má pessoa. Eu sabia que dentro de toda aquela revolta dela, havia um motivo. Eu sou a cópia da mãe dela, não era fácil pra ela olhar pra mim e ver a mãe. Cada um reage de uma forma diferente! E sempre que eu precisei ela demonstrou o quanto me amava e isso era mais do que suficiente. Não a julgue!
- Não tem a ver com sua sobrinha, Sílvia, tem a ver com o bem-estar da minha. Viviane é uma sonhadora. Beatriz jamais será capaz de dar a ela o que ela pensa ser amor.
- Eu não tenho mais treze anos, pra o senhor decidir o que faz da minha vida. Também não vou deixar que saia do que sempre foi o seu lar. Eu não tenho mais motivo pra ficar no haras mesmo. O único motivo que eu tinha acabei de jogar no lixo. – quando Viviane se preparava para sair, Beatriz a segurou pelo braço.
- Você sabia? Sempre soube? – Viviane segurava o choro, balançou a cabeça em sinal positivo. – Por que não me contou?
- Minha mãe pediu que eu não o contrariasse, ela devia muito a ele, era a única família que tínhamos. Eu fiquei entre o seu amor e o da minha família, eu só tinha treze anos, Bia. Quando eu soube que você havia saído de casa, caído no mundo e se entregado a bebida e farra, direcionei toda minha atenção aos meus estudos. Tio fazia questão de deixar claro que “havia me livrado de uma boa”, porque você estava perdida.
- Eu sei! – a abraçou e deu um beijo em sua testa. – Eu acho que o circo já acabou, a plateia por favor, nos dê licença. Quanto a você Roberto, não precisa se demitir não. Viviane não faz mais parte do quadro de funcionários do haras. – sentiu Viviane a apertar ainda mais. – Ela vai embora sim... Só que comigo. Pro Indomável. E isso não é problema seu e nem de ninguém mais. Quem vai decidir se a gente vai dar certo ou não, somos nós duas. – abaixou a cabeça e falou docemente ao ouvido de Viviane. – Pega suas coisas, vamos voltar pra cidade, quando acabar o curso a gente vai pro Indomável. Aceita?
- Aceito! Claro que eu aceito! – abraçou e beijou Beatriz com todo amor que existia dentro de si.
- Eu não vou permitir que nem você, nem ninguém, nos separe. E quanto a vocês dois, conversaremos em breve!
- Eu disse que isso não ia dar certo! – resmungou Jéssica.
- Beatriz, você vai ficar com essa menina depois de tudo que ela lhe fez? Ela te fez de marionete!
- Eu fiquei com você, não fiquei? Mesmo sabendo que de uma hora pra outra você cansaria de mim, como cansou. Minha história com Viviane é completamente diferente, foi um sentimento que nasceu e cresceu naturalmente e teria evoluído ainda mais, se ela não tivesse sido arrancada de mim. Agora vai embora. Já tenho problema demais. E embora de vez. Não tem mais nada que você possa fazer pra que eu volte atrás. Acabou Priscila!
Beatriz subiu com Viviane para seus quartos, em menos de dez minutos estavam com suas coisas arrumadas.
- Tia, me desculpe! Não era pra ser assim. Mas eu não vou mais soltar a mão dessa ruiva. Ela é tudo pra mim. Me perdoe!
- Não precisa pedir desculpas, minha querida! Vá em busca do que é seu. Estarei sempre aqui, pra vocês duas.
- Quando quebrar a cara, não diga que foi por falta de aviso, Viviane.
- Ela não vai quebrar a cara, mas quando você quebrar a sua, em relação a mim, pode ter certeza que não guardarei mágoa alguma. Você sempre foi um bom homem e um exemplo como pessoa pra mim. Não precisa ser desse jeito, mas se é assim que você quer... Talvez um dia consiga enxergar diferente e já sabe onde nos encontrar.
Priscila já havia ido embora. Letícia e Mauro, também. As duas entraram no carro, se olharam como se nada mais existisse além delas e foram embora.
Fim do capítulo
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