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Linha Dubia por Nathy_milk

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Palavras: 5882
Acessos: 3082   |  Postado em: 11/11/2018

Capítulo 36

Capítulo 35 - Caroline

 

Quando eu finalmente entendi que era uma invasão policial e que eu estava a salva, meu corpo relaxou de uma maneira, que se não fosse a Flavia me segurar, eu teria caido mais uma vez.

- Ei mocinha, já está tudo bem. Tem que ficar aqui com a gente. Ficar bem. Quer ligar para o seu irmão?

- Ele sabe que eu estou aqui? Posso ligar pra ele?

- Claro que pode -  ela puxou um celular dos mil bolsos que tinha na roupa preta que ela vestia e discou algum número, logo em seguida me passou o celular - Seu irmão, pode falar com ele.

- Luc?! É a Carol. To bem cara. To bem. Luc, to bem! -  Estava difícil de eu falar, eu estava ofegante, chorando. Acho que repeti mil vezes que eu estava bem para eu finalmente entender que estou mesmo bem, que essa merd* acabou.

- Carol, tô aqui. Fica bem. Tô indo te buscar. Onde você está?

- Calma, vou perguntar pra polícia.   - Me afastei do celular e fui até a policial que me resgatou - Moça, desculpa esqueci seu nome, onde estamos? Meu irmão quer vir me buscar. -  ela pediu o celular e falou com ele. Pelo que entendi, o cativeiro fica em Heliópolis, uma favela gigante da zona sul de São Paulo. Eu não tenho ideia de onde estou, ainda nem sai do quartinho mofado e escuro, a única diferença é que agora tem uma lanterna monstra da polícia, iluminando o lugar todo.

Claramente dá pra ver que o lugar é mesmo um quartinho, deve ter uns 2x2 no máximo, tem uma cama de madeira, velha e quebrada no canto, a janela é fechada com papelão. Consigo ver as placas de mofo verde colada no teto e o chão de cimento. Ninguém ainda me liberou do lugar, mas cada vez entram mais pessoas no quartinho. A única pessoa que não saiu do meu lado em nenhum momento foi essa policial, acho que é Flavia o nome dela. É que na camiseta está escrito “Lambert”, deve ser o sobrenome dela. Ela conversava com várias pessoas,  a todo tempo, mas sempre olhava rapidinho pra mim, pra saber se eu estava bem.

      - Carol, o corredor já foi liberado. Quer ir lá fora tomar um ar? O dia está clareando já. Acho que você vai gostar de sair desse cafofo todo - ela passava uma calma absurda. - Você consegue andar? Está bem?

     - Consigo sim, é só a dor no corpo mesmo. - ela já havia cortado o lacre que segurava meus braços e minhas pernas. A Flávia ficou ao meu lado todo o tempo assim que eu consegui sair do quartinho mofado, vi o corredor pelo qual o caroço me carregou algumas vezes, mas dessa vez andei para o outro lado, onde havia uma claridade maior, não pela luz do sol, mas pelo dia nascendo. Assim que consegui chegar na rua respirei fundo, como se eu tentasse pegar o ar todo que me faltou no cativeiro. Havia várias viaturas da policia na frente da portinha de onde sai, vários policiais da civil, também vestidos de preto na calçada. Algumas pessoas, acho que moradores da favela, estavam olhando a operação toda.

       - Você está bem? Precisa de alguma coisa Caroline?

       - Eu queria uma água, ir ao banheiro. Devo estar imunda, sei lá, pentear o cabelo pelo menos. E comer, preciso comer. Eu não como nada desde que saí de Recife.

      - Tenho uma água na viatura. Acho que dá pra você lavar o rosto pelo menos. Não é a melhor opção, mas dá pra aliviar até você poder chegar em casa. - aceitei a oferta e segui a menina ate a viatura dela. Pude olhar meu rosto pelo retrovisor, meu olho esquerdo estava fechado, inchado. A boca torta, havia várias marcas de sangue velho. Enquanto ela ia jogando a água na minha mão, eu ia passando no rosto, confesso que não foi um banho, mas perto do que eu tinha, já me deu um alívio. Ela me emprestou um pente de madeira, consegui arrumar um pouco o cabelo, puxando pra trás e prendendo. Passei uma água nos pulsos, eles arderam absurdamente, ambos estavam em carne viva pelos lacres que arrancaram a pele.

      - Flavia, a mulher do Grilo, acho que ele era chefe daqui - ela concordou com a cabeça - eu fiz o parto dela e ela precisou de cirurgia, sangrou muito. Ela precisa de atendimento especializado, não sei onde ela está, mas ela precisa ir para o hospital.

     - Carol, vamos cuidar de você agora. A menina e a criança estão no hospital já. Nós quebramos aqui  e o hospital deles ao mesmo tempo. Já está tudo certo, ela esta tendo assistencia. Não precisa se preocupar.

     - Obrigada. Eu não sei se eu fazia o parto ou não, juro que fiz só pra me proteger. Se eu não fizesse iria morrer, não estou ajudando eles em nada. - não sei, quis me explicar pra ela. Vai que acham que eu estava com esses bandidos porque queria.

     - Fica tranquila Carol. Sabemos que você estava sequestrada. Não precisamos falar sobre isso agora. Quero que você se acalme, guarde energias. Ainda estamos calculando os saldos da operação, tudo isso ainda vai ser longo. Você sente que precisa ir para o hospital agora? Ou quer ir pra casa, tomar um banho, descansar e depois ir ao hospital? Você é médica, deve saber melhor que eu dos seus machucados.

     - Não é nada que vá me matar. Acredito que eu não quebrei nada, deve ser só roxo pelas porr*das. Tudo doi, mas um banho e uns analgesicos devem ajudar já. E depois disso eu vou ao hospital, posso ir onde eu trabalhava.

    - Então tudo bem, vamos comer alguma coisa e eu libero você lá no DP. Seu irmão vai te esperar lá. Aí você pode ir pra casa, da uns beijos na sua mulher, descansar. - assim que ela falou dar uns  beijos na mulher, na hora me deu um aperto no peito, Christiane! Não quero falar com ela agora. Preciso me recuperar primeiro desse sequestro todo, dos machucados. Não tenho forças agora para brigar com ela. - Pela sua cara ver sua mulher é uma coisa não legal.

   - Eu estava em Portugal. Isso você deve saber. Estava lá dando um tempo do casamento, mas já acabou tudo. Voltei pro Brasil só para assinar o divórcio. Enfim, só quero um banho e descansar, estou me sentindo suja, nojenta. Não sei quanto você sabe de mim e tals, desculpa eu te encher com a minha vida. - ela indicou para entrarmos na viatura.

    - Eu fiquei responsável pelo seu sequestro. Ai Deus essa frase ficou estranha, eu fiquei responsável por acompanhar seu sequestro. Isso quer dizer que acabei entrando um pouco na intimidade da sua vida, da sua família. Nós da polícia precisamos de todos os dados possíveis, para tentar descobrir algo, achar o cativeiro e resgatar a vítima. Perguntei isso da sua esposa porque eu acabei conhecendo ela nesse processo todo, a Cristina… Cristiane. Não lembro o nome exato dela.

      - Christiane.

     - Isso. Ela estava lá na casa do seu irmão quando eu cheguei para orientar as negociações.

     - Caraca, ate ela soube do sequestro. Quando eu estava lá no cativeiro, fiquei o tempo todo pensando se meu irmão sabia do sequestro, se uma amiga minha de portugal sabia. Meu medo era ninguém ter sentido minha falta, ninguém saber que fui sequestrada.

     - Carol, fica tranquila. Esse é o pensamento da maior parte das vítimas. Posso dizer que no seu caso, garota, muita gente gosta de você. O celular do seu irmão tocava de hora em hora para saber novidades sobre você. Eu fiquei essa noite toda na casa dele, o celular não parava.

      - To com tanta saudade dele e do meu sobrinho. Quero encher os dois de beijo.

     - Você logo vai ver seu irmao. Ele vai te buscar na delegacia. Quanto ao resto, pode ir ao seu tempo. Primeiro se recupera, depois vai ver esse lance de divórcio. Carol, você acabou de sair de um sequestro, tem todo o direito de se cuidar primeiro, depois ver o resto.

     - Flávia, vou te perguntar uma coisa que o Lucas nunca vai me responder.

     - Se ele nunca vai te responder, não é melhor ficar sem saber?

     - Quero saber para eu poder ajudar ele. Quanto foi meu resgate?

     - Cara, o líder da quadrilha cobrou 300 mil.

    - Puta merd*. Ele quebrou pra pagar, certeza.

    - Nós estouramos o cativeiro e o hospital antes dele pagar. Mas até onde eu sei ele nem tinha esse dinheiro, quem se propôs a pagar foi a Fernanda.

    - Fernanda? Que Fernanda? - oi?! Meu coração bobo acelerou na mesma hora.

    - Fernanda, a portuguesa. Pelo que entendi ela é brasileira na verdade não é?!

    - Não to entendendo nada. Quem avisou a Fernanda? Conseguiram falar com ela em Urros? Lá nem tem telefone.

   - Carol, isso eu não sei. Quando conheci seu irmão, ela já estava junto. A princípio achei que fosse a esposa do seu irmão, algo assim, mas aí ele apresentou ela como sua namorada. Até estranhei depois, quando conheci a sua esposa mesmo. Que rolo!

    - A Fernanda, portuguesa, estava com o Lucas? Aqui no Brasil? Não creio.

    - Ai, falei demais pelo visto. Eu e minha língua.

    - Não Flávia. Só não imaginei que ela estava aqui. Eu chamei tanto ela pra vir pro Brasil comigo. Não to acreditando

    - Isso é bom?

   - Lembrei dela o sequestro todo. Só quero encher ela de beijos e abraços.

   - vamos parar aqui pra comer? - embicou a viatura em um drive thru

  - eu não tenho um centavo aqui.

  - eu sei, você estava num cativeiro. Nem precisa descer do carro se não quiser, eu pego e comemos no carro. - enquanto ela pedia o lanche eu fiquei em silêncio absoluto. Algo não encaixa, como a Fernanda veio para o Brasil? Quem avisou ela? Será que ainda está  aqui? Se estiver eu quero ela, quero ver, sentir, chorar no colo dela. A Flávia pegou o lanche e logo em seguida estacionou o carro. O dia já havia clareado, deve ser umas 6 ou 7 da manhã.

     - Melhor você comer devagar Carol. Está a muito tempo sem comer. - concordei com ela, mas a fome era tão grande, que foi automático. Comi quase meio lance em uma mordida, assim que bateu no estômago eu comecei a ficar com náuseas. Não vomitei, mas o desconforto no estômago foi grande. A Flavia apenas olhou minha cara estranha e deu risada. Ela aparenta ser gente boa, gostei dela.

      - E você Flávia? Está na civil a quanto tempo? Você aparenta ser novinha, sei lá, uns 25, 26 no máximo.

      - Estou a 4 anos, entrei logo depois da faculdade. Sempre gostei dessa agitação, desse corre corre de quebrar as coisas. Adoro isso. Quem não gosta muito é minha namorada, ela morre de medo, mas não posso deixar de fazer isso.

      - Ela faz o que?

      - É jornalista. Não fica muito atrás de não. Ela se mete em umas roubadas para conseguir reportagem. Lembra quando o avião caiu no aeroporto, ano passado? - eu concordei, lembro da ocasião-  ela se meteu no meio do incêndio para tentar tirar fotos. Ela é bem louca.

       - Essa história de opostos se atraem é mentira. É os iguais que se ligam, conectam. Os loucos se identificam a distância.

        

        Depois de comermos, seguimos viagem até a Consolação, local da delegacia. Cerca de um quarteirão antes, a Flavia estacionou o carro.

       - Carol, parei aqui, antes de chegarmos a DP, para eu te passar algumas informações. Na porta da delegacia estão vários jornalistas. Se você quiser, até pode se identificar, mas se você não quiser, aqui no banco de trás tem uma blusa minha. Você pode se cobrir com ela. Para você sair da viatura teremos a proteção e auxílio de diversos agentes. Eu não tenho outro lugar para estacionar e não posso te liberar antes de você assinar alguns documentos e tudo mais.

       - Flávia, eu não entendi ainda. Porque tem reportagem e tudo mais lá na porta. Não que não seja importante, mas foi só um sequestro. Isso acontece o tempo todo.

       - Sim, sequestros acontecem o tempo todo sim. Mas você foi sequestrada por uma quadrilha internacional de tráfico de órgãos, que sequestravam pessoas, arrancavam os órgãos e faziam a cirurgia.  Só eu estou nesse caso há quase 2 anos. Por isso está cheio de repórter, por isso invadimos cativeiro e o hospital deles.

      - Cacete. Isso explica tudo. Por isso eles tinham todos aqueles equipamentos - meu corpo gelou na hora em que lembrei do Grilo, segurando meu pescoço e falando pra eu não contar nada, que se eu falasse qualquer coisa ele me matava. Meus olhos começaram a encher de lágrimas novamente e o medo me assombrou mais uma vez.

       - Carol, não vamos falar sobre isso agora. Fica tranquila. Quero que você sente lá no banco de trás, fica de cabeça baixa, como se fosse um avião caindo. Joga essa blusa preta por cima de você. Na hora de descer do carro, eu te pego. Junto com os outros agentes vamos.protegendo você. Tudo bem? Acho que você ainda está bem frágil e abalada para ter que aguentar jornalistas em cima de você. - eu apenas concordei  com ela, não quero nem imaginar eu tendo que lidar com comentários, já basta os que terei que falar com o Lucas e a Fernanda sobre o sequestro. - a delegacia fica no final do próximo quarteirão, vou ligar a sirene para as pessoas saírem de cima ok?! - eu concordei com a cabeça e fui para o banco de trás. Joguei a blusa dela por cima de mim e abaixei a cabeça. Me lembrou muito quando eu viajava com o meu pai, e dormia dentro do carro, acho que isso de algum modo me acalmou.

      A Flávia ligou o barulhinho da sirene e acelerou o carro. Assim que ela parou, acredito que na frente da delegacia, eu via jatos de luz, que devem ser dos flashes das câmeras e um burburinho, barulho e bagunça. Logo em seguida o carro andou mais um pouco e parou. A Flávia foi a primeira a abrir a porta, quando eu levantei o rosto havia mais outros agentes da polícia civil. Ela mandou eu colocar a blusa sobre a cabeça e me abraçou. Tudo bem que não foi muito difícil, ela no ápice de seus 1,80 ou mais e eu com 1,68.  Assim que desci da viatura, os outros agentes já me cercaram, me protegendo, enquanto a Flavia falava para eu me manter calma, que aquilo já iria passar, que era algo rápido.

       Mesmo com a cabeça baixa e coberta, da maneira como a minha estava, eu fui capaz de perceber a diferença do ambiente assim que conseguimos entrar na delegacia, propriamente dita. O barulho foi se tornando menor e mais longe, o lugar era frio, gelado, tinha um cheiro de fechado. Assim que a Flávia me “desabraçou” pude levantar a cabeça, as paredes eram de um branco sujo. Ela sorriu pra mim com uma calma e paz interna, que eu não pude deixar de me acalmar.

     - Carol, seu irmão está lá em cima, no segundo andar. Aguenta subir lá?! - concordei com a cabeça, sentindo meu coração começar a acelerar. Já faz mais de um mês que não vejo o Luc, e com essa história de sequestro, só quero abraçar ele e o Bruno. Será que o Bruninho tá aqui na delegacia também?

       A Flávia subiu as escadas e eu segui ela, mancando, com  uma dor absurda no meu corpo que havia começado a pouco tempo. Assim que olhei o “ andar de cima” enxerguei meu irmão. Ele estava em pé, encostado no batente da porta, olhando para o nada. Ele estava abatido, com cara de cansado. Quando ele me enxergou, sorriu com aquela cara de irmão bobo que só ele sabe fazer. Ele veio automaticamente na minha direção. Foi um abraço tão gostoso, protegido.

         - Eu to bem Lucas. Fica calmo bebezão. Tá tudo bem! - eu falei isso no ouvido dele, ainda abraçada.  Quando nos afastamos, ele olhou direto para o meu olho torto e inchado.

         - Você já foi ao hospital? Está toda machucada marmota! Vamos saindo daqui, direto.

         - Eu to bem Luc, não quebrei nada. É só inchaço e roxo. Fica de boa.  

         - Como você está Carol? O que fizeram com você? Meu Deus, fiquei com tanto medo, quando a Clara me contou eu perdi o chão.

        - Ela viu?

        - Sim, ela viu você entrando no carro com um cara estranho, com o Puca. O Puca cusao. Não dava pra ser nenhuma outra pessoa. Na hora eu fui para a delegacia. Levou um tempo para descobrirmos que era o Puca. - ele olhou mais uma vez com cara de do, do misturado com cuidado - o que fizeram com você Carol? Está toda roxa. Como alguém consegue isso?!

        - Lu, só vamos esquecer isso tudo. Isso aqui é apenas umas porr*das que eu tomei. Vamos esquecer isso tudo. Por favor.  Foram momentos pesados demais naquele lugar. Só quero tomar um banho, dormir, tirar esse cheiro de mofo, com urina, com sangue.

        - Ta mesmo.

        - Mesmo o que?

        - Cheirando. Que roupa é essa?

        - Ganhei de presente do meu sequestrador. O Puca falou que é a última moda de Nova York e vem com aroma cativeiro. - tentei fazer piada da situação. Ele está abalado. Não posso ficar estimulando essa sensação ruim nele. Temos que esquecer esse filme de terror.

       - Hahahahha. Só você Carol para fazer piada com essa situação toda. Caraca. Você comeu? Precisa de alguma coisa agora?

       - Ai, verdade. A Flávia me comprou um lanche no caminho, comi na viatura com ela. Você tem dinheiro aí? Preciso pagar o lanche dela.

       - Carol?! - ela não morre tão cedo, estava na porta de uma salinha e me chamou de lá. - Vamos assinar sua alforria. Aí já libero você para ir pra casa. - Sorri pra ela, essa era uma excepcional notícia. Só quero um banho, minha cama e minha portuguesa marrenta. - Caroline, tentei deixar o texto já meio escrito, para agilizar para você. Dá uma lida, confirma, ve se quer acrescentar algo. - ela virou o computador, e deixou eu ler o texto. Era uma explicação super sucinta do meu resgate e me responsabilizando por voltar e dar um depoimento detalhado sobre o período no cativeiro. Eu assinei rapidamente.

       - Flavia, ta otimo. Pode imprimir que eu assino. Ah, o Lucas está com o dinheiro do lanche que você comprou pra mim. Quanto deu?

      - Para com isso, não foi nada.

      - Não. Não é justo você pagar. Quanto deu?

             - Faz assim, eu vou ter que te ligar e marcar a data do seu depoimento. Aí quando você vier, você me paga um café e ficamos quites. Pode ser?  Chega disso, vai pra casa agora, toma um banho, vai descansar e encher sua portuga de beijos. Com todo o respeito do mundo Carol, você deu sorte, ela é linda. Ficou o tempo todo da negociação comigo e com o Lucas cuidando de tudo que ela podia. Ela gosta muito de você. Sei que não sou ninguém para te falar isso, mas entre as duas, tem uma que cuidou muito mais de você. - ela sorriu de um jeito tênue, calmo, sempre passando aquela paz dela. Eu mais uma vez não me reprimi. Abracei a Flávia.

      - Obrigada por me resgatar. De verdade. Você me passou segurança e paz o tempo todo. Vou ser forte e superar isso tudo. Saiba que você foi essencial, de verdade.

       - Eu fiz o meu trabalho. Apenas isso. Não tem porque me agradecer. Todo sequestro é traumático, bruto. Vai levar um tempo para esquecer, mas um dia você vai. Aproveita sua namorada e fica forte. Curta cada segundo da vida.  Enfim, já falei demais. Ainda tenho alguns documentos para fazer e finalmente poder ir pra casa ver a minha mulher. Estou a quase 48 horas acordada. Me da dois minutinhos com o seu irmão?

        Liberei o espaço e o Luc entrou na sala, eles conversaram uns 5 minutos, talvez nem isso. Posso dizer que fiquei relativamente curiosa pela conversa, mas depois descubro com ele o assunto. Enquanto eu esperava, um policial me ofereceu um café, eu aceitei. Não estava assim uma brastemp, mas deu para tirar o gosto de guarda chuva da boca. Vou levar um tempo para entender se esse pessoal está com cara de dó, curiosidade pelo meu rosto inchado ou roxo ou se estão dando em cima de mim. Dei risada mentalmente e agradeci o rapaz, que não deve passar de seus 30 anos, se chegar a isso.

- Marmota, vamos embora? Diz a lenda tem vários jornalistas lá embaixo querendo uma foto da sua cara quebrada.

- Idiota. A Flávia me ensinou a me proteger com uma blusa de frio. Vem que eu te mostro bebezão - ele ficou super sem graça por eu chamar ele de bebezão, alto e em bom tom, na delegacia. Quase ganhei um roxo novo no rosto.

O trabalho para entrar no carro foi o mesmo que para entrar na delegacia. A Flávia não me acompanhou, mas uns três ou quatro agentes fizeram aquele cordão humano entre eu e a imprensa que estava lá.  Entrei no carro, abaixei a cabeça e me protegi mais uma vez com blusa de frio, mas dessa vez com a do Lucas.

- Pode levantar a cabeça Carol. Já saímos da delegacia. Ninguém mais quer um “book” do seus hematomas.

- Aff, qual a graça de ficar tirando foto de vitima. Deveriam tirar foto dos bandidos, isso sim.

- É que você chegou bem depois dos bandidos. A hora que eles chegaram na delegacia, foi um furdunço 20 vezes maior que o seu.

- Ainda bem que eu cheguei bem depois, não tenho vontade alguma de ver esses caras. não mesmo. Falando nisso, o que você conversou com a Flávia agora no final, antes de sairmos?

- Nada importante. Ela falou que você está sendo forte, mas está bem abalada pelo sequestro. Que estava em estado de choque quando eles invadiram. Que é importante você ficar agora com pessoas que te amam e não podemos deixar você sozinha por um tempo. Sua ficha não deve ter caído ainda e até cair você é um perigo para si mesma.

- Eu to bem velho. Fica tranquilo Lucas.

- Eu sei Caroline. Você está bem. Vamos pro pronto socorro agora? Para vermos essa sua cara quebrada, literalmente - eu estava achando um barato o tom como ele falava as coisa, super jocoso, brincalhão

- Não precisa Lu. Não quebrei nada. Isso aqui é só inchaço e roxo.

- Cara, seu olho nem abre. Precisa de uma avaliação. Para de ser mala.

- Lucas, para com isso. Eu vou no hospital depois. Que saco. - eu sei que ele estava cuidando de mim, mas perdi a paciência com ele.

           - Tá bom super marmota. Quer ir pra onde agora, quer fazer o que? Quer que eu te leve pra casa? Pra sua? Pra minha?

            - Luc, a Fernanda está em São Paulo, no Brasil? - ele desviou o olhar de mim e olhou para a frente, ele deu um sorriso muito rápido, quase imperceptível.

            - Que Fernanda? Bateu a cabeça Caroline?

            - Para de me enrolar Lucas! To vendo esse seu sorrisinho ai. Ela está no Brasil?

            - Marmota, eu não sei quem é Fernanda. Para de ser louca.

            - Fernanda, médica. Que eu estava junto em Portugal. Para de ser esclerosado seu besta. Você sabe de quem eu estou falando. E a Flávia falou que ela está no Brasil, que acompanhou o sequestro. Me respeita seu bobão.

- Eu não sei de ninguém com esse nome não Carol. Lembro que você falou da Fernanda, que você deu uns pegas, mas eu não sei de ninguém no Brasil. Acho que a Flávia bebeu antes de te resgatar. - O Lucas estava conseguindo me irritar, que garoto chato.

- Chega de palhaçada Lucas. Você tá se mijando de rir por dentro. Fala logo. To ficando bem irritada. - Ele não aguentou e soltou uma gargalhada, alta, sonora. Como se eu fosse a piada mais engraçada do ano e isso me irritou mais ainda.

- Mano, tua portuguesa ta no Brasil sim, sua chata. Ela me ligou, você deve ter dado meu telefone pra ela - eu concordei com a cabeça - perguntando de você, que ela tava preocupada e tals. Quando eu falei do sequestro, juro, em 13 a 14 hora ela estava no Brasil. Você não tá entendendo, a menina pegou um jato pra vir te ver. Não saiu do meu lado nenhum momento. Caraca marmota, como você consegue encantar as mulheres assim?

- Para Lucas. Tirando ela, só tive tranqueira na minha vida.

- Tranqueira gostosa. Enfim, a portuguesa chegou, foi comigo a delegacia e tals. Quando a Flávia falou que iam invadir o cativeiro, a Fernanda se fechou, literalmente. Carol, ela falou que só era pra eu levar você no hotel dela se você quisesse, porque você não iria querer saber dela, que ela não ia se impor, mil coisas. Por isso eu to rindo, a primeira coisa que você fez foi perguntar dela, acho que vocês são duas sapatas casal mesmo. Carol, sério, ela é linda, ficou preocupada com você o tempo todo, e não querendo botar fogo onde já tem, ela se preocupou muito muito muito mais com você que a Christiane.

- As duas se conheceram?

- Claro que sim, a Fer estava lá em casa e a Jaque contou pra Chris que fomos na delegacia e tal, ai ela apareceu lá.

- A Chris aprontou alguma coisa?

- Que eu tenha percebido não, mas sabe que não dá para garantir.

- Você tá indo pra onde agora? Porque esse é o caminho de casa quase.

- Sua musa está hospedada em um hotel entre a minha casa e a sua, lá na Vila Mariana mesmo. Quer ficar lá com ela, na minha casa ou ir pra sua?

- Pra minha não, não quero ver a Chris agora. Não estou pronta para resolver meu divórcio nesse momento, talvez depois de um banho e de uma boa noite de sono de pra fazer isso, mas agora não. Nem na sua casa, a Jaque vai estar lá, não quero incomodar e o Bruno vai querer me abraçar até eu morrer, só depois de um banho, vou intoxicar o coitado do menino.

- Então te deixo na Fernanda?

- Será que o hotel dela libera mais um hospede?

- Marmota, ela pegou um hotel que tenho certeza que você pode ficar. Sem contar que ela já pegou pra casal. Carol ela tem dinheiro? Tipo rica ou algo assim?

- Eu não sei Lu, não perguntei em nenhum momento, nem me interesso nisso - eu menti pra ele, em partes, sei que ela tem dinheiro, mas não me importo, nunca me importei com isso. - Porque?

- Nada não, é que ela alugou um jato pra vir para o Brasil e depois pegou um hotel bem legal. Deve ter alguma coisa boa em portugal.

- Esse é meu charme meu anjo faço as portuguesas de derreterem por mim - fiz esse comentario ridiculo em tom de piada, mais para trocar de assunto que qualquer outro motivo, não quero o Lucas pensando em dinheiro dela ou coisa assim. - Ei, antes que eu me esqueça, depois preciso conversar com você, um tempinho nosso. Preciso acertar as coisas da clínica com você e conversar mais algumas coisas.

- Tenho até medo dessa conversa.

- Nada que você já não espere.

- Tudo bem, se cuida primeiro e depois vemos isso tudo, ok?!

           Conversamos outras coisas mais leves no carro, mas de um modo geral a viagem foi rápida. Quando ele parou na frente do hotel, eu senti um avalanche de sensações, segundo ele eu cheguei a ficar pálida. Realmente era um hotel bem elegante, como eu moro lá perto, já conhecia o nível. Como entrar num hotel desse, de chinelo, suja, cheirando a urina? Como encontrar uma pessoa que atravessou o oceano para me ver, estando nessas condições? E será que ela quer me ver? Se eu entrar no hotel, passar toda essa vergonha e ela me rejeitar? Ao mesmo tempo eu quero tanto o colo da Fernanda, seu abraço, beijo, cafuné, a sensação de proteção que só ela sabe me passar. Não posso sair daqui sem o carinho dela, sem ao menos arriscar. Quantas dúvidas.

- Carol, não pensa em nada. Vamos subir. Eu não vou aceitar você ficar com medo. Tem ideia que a garota viajou um oceano para te ver?

- Eu to suja, to nojenta. Não é melhor eu ir para a sua casa?

- Não Marmota, tenho certeza que ela vai te receber muito bem.

- Todo mundo vai me olhar, o segurança não vai nem deixar eu passar da porta.

- Me dá dois segundos que resolvo isso pra você. Tudo bem?

- Vai fazer o que?

- Segura as pontas ai curiosa -  ele saiu rapidinho do carro, conversou com o manobrista e depois com o segurança da porta, todos olharam para o carro, como se me julgassem. Depois ele entrou no hotel, demorou cerca de uns 5 minutos e voltou, rindo, levemente, como se algo engraçado tivesse acontecido. - Marmota, vem, o segurança aqui da porta vai te acompanhar até o apartamento da Fernanda.

- O que você fez?

- Cuidei de tudo para você, como você fez a vida toda por mim. Agora vem aqui - Ele me deu um abraço apertado, protegido - Quero que você fique bem meu anjo, qualquer coisa que acontecer me liga na hora, ok?! Eu venho te buscar. Eu já deixei roupa sua la no apartamento dela, deixei sua mala de viagem que pegamos no aeroporto. Eu não abri, então se tiver uma bomba lá é coisa do puca -  sei que ele fez esse comentário como piada, mas na hora eu contrai o corpo com medo, assustada, foi involuntário - Calma, foi uma piada só, está tudo seguro agora. Quer que eu suba com você?

- Não Luc, eu subo, de boa. Eu to bem.

- Eu sei marmota. Fica bem ok?! A Fernanda já está te esperando lá em cima, qualquer coisa você me liga que volto. Depois te ligo para ver de você pegar seu carro, suas coisas, ok?! Te amo cara, não me dá mais uns sustos assim hein, por favor. E pelo amor de Deus, vai no hospital ver essa sua cara quebrada.

- Eu to bem Luc, fica calmo, eu to bem - Me despedi dele e o segurança foi me acompanhando, a verdade é que estou a todo tempo falando que eu estou bem, mas estou quebrada por dentro, espero que só emocionalmente, mas o corpo deve estar também.

O segurança me acompanhou da entrada até o elevador, durante todo o caminho quando passávamos por algum hóspede, eles olhavam, com medo. Eu também olharia pra mim mesma. Um rosto sujo de sangue, todo roxo, vestida com uma calça de moletom largona, suja, uma camiseta com riscos de sangue, eu também teria medo. Sem contar que vi o segurança duas ou três vezes esfregando discretamente o nariz, o cheiro que estava era nauseante. Subimos direto para o 12o. andar. Eu nunca havia entrado neste hotel, mesmo morando a um quarteirão de distância. Realmente era elegante por dentro, o piso de carpete vermelho, as portas beges, com os números dos apartamentos identificados em dourado na porta.

- Senhora, o quarto que estas hospedada é o 1208, fica no final do corredor. Vou deixar a senhora por aqui para que fique a vontade.

- Obrigada moço. Peço desculpas pelo cheiro, juro que não foi de propósito.

- Fica tranquila senhora, seu irmão explicou o que aconteceu. Tenha uma excelente estada em nosso hotel.

Ele me deixou no corredor, deu meia volta e retornou para o hall do elevador. Eu me mantive caminhando e procurando o apartamento 1208. Posso dizer que enfrentaria mais mil sequestros do que o medo e ansiedade que estou agora. Conheço a Fer a tão pouco tempo, tenho tanto medo dela se desencantar quando me ver assim, e além disso pode ter só vindo para o Brasil ser sociável, uma boa amiga. Apesar que o que vivemos em Portugal é bem recente, não faz nem 5 dias que sai de trás os montes, mas e se nesse tempo ela tiver percebido o quanto eu sou problema na vida dela, o quanto eu sou complicada e quiser me chutar? Tantos pensamentos temerosos nesse momento, associado a uma saudade gigante dela. Como isso é possível? Eu estava com ela a quatro dias atrás, mas parece que conheço ela a uma vida e estou a anos de distância.Quero muito um abraço dela.

Quando parei em frente do 1208, todos esses pensamentos sumiram da minha cabeça. A imagem dela na encosta do Douro, sorrindo, com as árvores ao fundo, na fronteira espanhola, mais uma vez me deu forças para continuar e seguir em frente. Quando estiquei a mão para bater na porta, e chamar a Fernanda, a porta foi aberta e a imagem mais maravilhosa dos últimos tempos surgiu na minha frente.

Minha princesa, minha musa, minha portuguesa birrenta, a Fer. Ela estava com aquele coque bagunçado dela, mas com a franja de lado, da maneira como aprendi a gostar. Seus olhos estavam vermelhos, como se tivesse chorado recentemente, e deve ter mesmo chorado. Ela estava mais magra que há 4 dias atrás e bem mais abatida, com as olheiras pesadas sobre os olhos. Ao fundo do quarto, a luz do sol das 10 horas da manhã entrava pela janela, iluminando essa cena linda, que acredito que nunca vai sair da minha mente. Tanto eu como ela ficamos atonicas por alguns segundos, observando uma a outra, com a ansiedade de nos abraçar, mas com o medo de nos machucar.

Eu finalmente fui capaz de dar um passo para a frente, mesmo momento em que a baixinha portuguesa não mais esperou e me abraçou. Abraço forte, cheio de saudades, sentimentos, carinho, proteção. Eu estava me mantendo forte até esse momento, mas quando ela soltou ao pé do meu ouvido: Meu Deus princesa, o que fizeram com você?, eu não fui mais capaz de me segurar, as lágrimas que eu estava segurando desde o resgate começaram a sair, impulsivamente, desejando esquecer tudo que aconteceu dentro daquele quartinho mofado de Heliópolis.

 

- Você está segura Carol. Acabou esse pesadelo linda. Estou com você. Não vou sair daqui. Estou com você. Estou com você - Tudo que eu mais desejei nos últimos 4 dias estavam ali, a pediatra, um lugar seguro, os braços dela e o calor dela no meu corpo. Eu finalmente estava em casa, mesmo sendo em um hotel. Ela é a minha casa.

Fim do capítulo


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Comentários para 36 - Capítulo 36:
rhina
rhina

Em: 23/02/2020

 

E a escolhida foi.......foi Fernanda.

Rhina

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josi08
josi08

Em: 11/11/2018

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