CapÃtulo 9
Na sexta pela manhã se despediram, Priscila iria para o trabalho e Beatriz tinha hora marcada com a psiquiatra as nove. Combinaram de jantar em um restaurante que Beatriz adorava especializado em frutos do mar. Cada uma seguiu seu caminho para seus compromissos do dia.
Depois da psiquiatra, Beatriz ligou para Mauro, perguntando se ele e Bruno não gostariam de almoçar com ela, apesar de falarem quase todos os dias, já fazia alguns meses que não se viam.
- Meu Deus do céu! Que mulher é essa? Você está um arraso menina. - falava Mauro com a forma efusiva de sempre.
- E você escandaloso como sempre! Como você está seu chato? - após um abraço demorado no amigo, cumprimentou Bruno da mesma forma, era bom estar entre eles novamente.
Conversaram bastante sobre as novidades que Beatriz vinha implantando nas fazendas, nos progressos que estava conseguindo em algumas e nas batalhas que estava travando em outras.
- Letícia, aceitou trabalhar contigo? - Mauro ficou concentrado na expressão do rosto da amiga.
- Sim, sim. Era pra termos viajado essa semana, mas eu tinha consulta com a terapeuta e com a psiquiatra, tia Sílvia quase me esgana, e me fez desistir. Já conversei com a terapeuta ontem, ela disse que eu poderia ficar umas três semanas, ausente da terapia, nada mais que isso. E como sei que vou me estressar…
- Por que? - indagou Mauro.
- Carlos, o administrador dessa fazenda, está se sentindo o dono dela. Não nos dá mais satisfação do que faz, soube que andou vendendo cobertura de um de nossos garanhões sem nossa autorização e ficou com o dinheiro pra ele. Em fim, terei problemas sérios pra lidar. Ele nem tem ideia de que faremos uma auditoria na fazenda, vai ser pego de surpresa, tem mais de uma semana que pedi um relatório a ele das contas, e até agora ele nem satisfação me deu por ter entregue o relatório.
- Quem vai com você?
- Eu, Priscila e Letícia. - Mauro a olhou espantando. - O que foi?
- E você acha que isso vai dar certo? Vocês três juntas? - Bruno apenas observava tudo em silêncio.
- E por que não daria? Letícia está muito bem resolvida com Jéssica. Priscila e eu, idem. O que poderia dar errado?
- Você e Priscila, idem, como assim?
- Estamos namorando. - Mauro colocou as mãos tapando a boca e fez cara de incrédulo.
- Desde quando?
- Desde ontem! Tivemos uma conversa franca e resolvemos nos dar uma chance.
- Mesmo depois de tudo que ela lhe fez?
- Sim. Da mesma forma que pra ela, depois de tudo que eu fiz.
- Beatriz eu acho que esses remédios estão lhe dando amnésia…
- Amor, - interveio Bruno colocando a mão sobre a de Mauro – quem tem que decidir isso são elas duas. Se elas conseguem conviver e estão dispostas a esquecer o que passou e pensar apenas no presente e no futuro, quem somos nós pra julgar, hein? Eu sei que a situação foi completamente diferente, mas quantas pessoas não me “alertaram” que você era furada, que não valia a pena investir em um relacionamento contigo, e já estamos juntos a quanto tempo? Três anos. Eu vejo que as pessoas fantasiam demais o amor romântico, aquele amor perfeito, onde todo mundo é bonzinho, onde tudo começa bem, onde sempre tem alguém que é “mudado” para se encaixar no mundo do outro. Eu não vejo assim, existem histórias tortas que dão certo. Por que a de Beatriz e Priscila, não pode ser assim? Priscila era uma sacana, esnobe, mimada, isso é fato, mas a nossa amiga também não era lá muito fácil. – deu uma piscadela para Bia, que sorriu de volta – Se vai dar certo, só o tempo dirá. Eu tenho certeza que Priscila mudou o mínimo que seja, pra fazer com que Beatriz reconsiderasse tudo que aconteceu…
- Mas Beatriz ainda está frágil, tem essa questão de Letícia está namorando, ela pode estar se deixando levar.
- Não fale de mim como se eu não estivesse aqui, Mauro. Já se passaram oito meses desde todo aquele circo armado por Laura, estamos trabalhando juntas desde então e em nenhum momento Priscila forçou alguma situação, sempre foi muito profissional. Eu confesso que realmente ainda estou muito frágil, superar o vício da bebida não está sendo algo fácil de fazer, acho que se não estivesse no haras, não teria tanta determinação. Mas se tem uma coisa que não está me incomodando de forma alguma, é o namoro de Letícia. Eu não me entendi com Priscila antes, porque eu precisava primeiro saber se eu seria capaz de perdoar, esquecer, seja lá como se chame isso, tudo que aconteceu. Nossa história realmente não é a mais bonita de ser contada, mas eu conheço várias que começaram de maneira magnífica e acabaram de forma desastrosa. Antes de dizer que estou dando uma chance a ela, eu estou me dando uma chance. Não pense que fui a melhor das criaturas com ela, eu também fui sacana. Mas no dia que eu a vi, a uma semana atrás, que eu senti o perfume dela novamente, eu não lembrei do que aconteceu na praia, das coisas que ela falou, eu só conseguia lembrar de como foi bom adormecer nos braços dela na noite anterior, daqueles olhos verdes brilhando pra mim, procurando os meus na escuridão do quarto, que estava sendo iluminado apenas pela luz da lua, que teimava em entrar pela janela. Naquele instante, naquele exato instante, eu percebi que seria capaz de tentar, que ela ainda mexia comigo e muito. - Bruno sorria contemplando o quanto o rosto de Beatriz se iluminava ao falar de Priscila.
- Santo Deus! A mulher está apaixonada mesmo! Olha pra cara de pateta dela, Bruno.
- A mesma que você faz quando fala de Bruno. Eu passei boa parte da minha vida errando, preenchendo o vazio que sentia com sex*, negando afeto, machuquei Letícia, por algo que nunca senti por ela. Eu a amo incondicionalmente, como amiga, e a minha terrível mania de achar que sex* resolvia tudo, fez com que eu confundisse a mim e machucasse ela. Hoje eu percebo, se realmente eu sentisse todo o amor que eu dizia sentir por ela, como mulher, eu não a teria afastado de mim. Eu fui covarde e egoísta com ela, fui covarde e sacana com Priscila. Dizia pra uma que a amava e logo em seguida ia pra cama com a outra. Bruno tem toda razão em dizer que não fui lá um amor de pessoa, porque realmente não fui.
- Não se machuque…
- Não tenha medo de se machucar, Bia. - mais uma vez interveio Bruno. - Foi esse medo que a transformou no que você era. Nem tudo serão flores entre você e Priscila, um relacionamento exige muito mais que amor, paixão, atração física. Se não der certo, não será o primeiro, mas você terá tentado e estará de pé no final, eu tenho certeza.
- Vocês dois estão impossíveis hoje, eu desisto. Mas cuidado para não está prestes a provocar a terceira guerra mundia colocando aquelas duas no mesmo recinto.
- Quem fez a entrevista de trabalho de Letícia, foi Priscila, então elas já estiveram no mesmo recinto. Antes de propor a contratação de Letícia, eu perguntei a tia Sílvia e a própria Priscila, e ainda não estávamos juntas, o que elas achavam e ambas concordaram. Priscila é uma excelente profissional, Mauro. Eu tenho certeza que ela saberá lidar com isso muito bem. Nem de longe ela se parece com aquela menininha mimada que conhecemos.
Resolveram mudar de assunto, como Bruno havia dito, a vida era de Beatriz e cabia a ela decidir o que fazer dela ou não.
A noite, durante o jantar.
- Me conta a história de Sara, como surgiu essa amizade?
- Eu a entrevistei, no dia Júlio estava doente e eu fiquei com a incumbência de selecionar mais uma auxiliar. Ela veio de outra cidade, ela e o marido estavam desempregados, vivendo na casa dos pais dele e apesar do ótimo currículo e de se sair muito bem na entrevista, não conseguia arrumar emprego, fiquei meio sem entender porque, até que começamos a conversar e descobri que ela era mãe daquelas duas malinhas. A maioria das empresas não querem contratar mulheres que são mães de crianças pequenas. Tem todo um estigma de que não vão se dedicar a empresa como deveria, que pode engravidar de novo o que geraria um ônus por causa da licença maternidade, coisas da nossa sociedade machista. Diante da situação, eu fiquei comovida e a contratei, ela veio antes, ficou numa pousada, até receber o primeiro salário e poderem alugar uma casa. Ela aprendeu muito rápido a dinâmica do escritório, é super competente, dedicada, sempre almoçamos juntas, ela conta histórias sobre as meninas, fiquei tão curiosa que pedi para conhecê-las, a partir daí começamos a ter uma amizade fora da empresa. Nos momentos em que me sentia mais sozinha, ligava pra ela perguntando se poderia jantar lá. Luís ainda está desempregado, ele fica com as meninas porque não conseguiram escola pra elas, então só com o salário de Sara, não teriam como pagar uma babá em tempo integral.
- Hummm. Ele trabalha de que?
- É mecânico, um excelente mecânico por sinal, ultimamente ele que tem feito a manutenção do meu carro, mesmo com poucas ferramentas a disposição, o serviço sempre fica impecável. - Beatriz ficou um pouco pensativa. - O que foi?
- Nada não. Me lembra mais tarde de ligar pra tia Sílvia, vou estender minha estada aqui. Segunda a tarde volto pro haras e a gente viaja na quarta-feira, o que me diz?
- Falar em viajar, Letícia me ligou hoje a tarde, disse que preparou um relatório, enviou uma cópia para o meu e-mail e outra para o seu. E sobre a viagem, por mim tudo bem.
- Vamos de carro, as três. - Beatriz ficou esperando a reação de Priscila.
- No meu, no seu ou na caminhonete do haras?
- Acho melhor no meu. Eu não gosto de dirigir a caminhonete não, apesar de toda tecnologia dela, sei lá, não gosto.
- Certo, agora, mudando completamente de assunto. Onde você vai ficar esses dias? - Beatriz levantou uma das sobrancelhas. - Nem vem com esse olhar matador, não é nada disso que você está pensando.
- Eu não pensei nada! - Beatriz sorriu. - No meu apartamento, por que?
- Se você não se importar em ficar no meu, eu gostaria de “me mudar” pra o seu esses dias, pra gente passar o fim de semana juntas. Teremos poucas oportunidades para isso. - Beatriz percebeu que realmente aquilo era verdade, duas horas de viagem separavam as duas durante a semana e nem todo final de semana poderiam se ver.
- Eu passo no meu ap pra pegar minhas roupas e meus remédios e a gente vai pro seu. Meu apartamento está com cheiro de guardado, depois de tanto tempo fechado.
Terminaram de jantar e foram para o apartamento de Beatriz pegar as coisas dela, de lá seguiram para o apartamento de Priscila.
- Eu lhe proíbo de olhar qualquer coisa de trabalho esses dois dias. Pode desligar o telefone da empresa. - falava Beatriz enquanto sapecava beijos pelos ombros de Priscila.
- Que chefe mandona!
- Não é sua chefe que está pedindo, é sua namorada. - mais um daqueles beijos de tirar o fôlego que deixavam Priscila toda mole.
- Com um pedido desse, como negar, não é mesmo?!
Já estava na hora do remédio de Beatriz, que fez apenas tomar um banho e ir pra cama se aconchegar em Priscila, namoraram um pouco antes de Beatriz apagar por completo.
- Dorme bem, meu amor! - falou Priscila baixinho após dar um selinho em Beatriz já adormecida, se aninhou em seus braços e pouco tempo depois também adormeceu.
No sábado foram ao supermercado comprar umas coisas que estavam faltando e algumas guloseimas para comerem enquanto assistiam algum filme a noite. Almoçaram no shopping e ficaram andando, olhando as vitrines sem prestar muita atenção, até que…
- Nossa! Olha que anel lindo! É perfeito! Um dia compro um desse pra mim. - Beatriz deu um beijo na testa de Priscila, e comentou.
- Com o aumento que tenho que te dar por tudo que você faz pela empresa, com certeza esse dia está bem perto. - Priscila sorriu e deu um leve beliscão nas costelas de Beatriz.
- Boba! Eu já ganho muito bem. E faço o que faço porque gosto do trabalho – olhou em volta como se estivesse se certificando que não havia ninguém por perto para escutar e cochichou para Beatriz – e porque agora tenho um caso com a chefe.
- Um caso é?! - Priscila gargalhou.
- Sim, um caso, bem quente…
- Continua assim que eu não me responsabilizo por mim. - Priscila fez sinal de rendida – Vem, deixa eu ir olhar uma coisa. - ao chegarem na loja que Beatriz queria olhar.
- Bia, eu não acredito, você vai comprar um videogame?
- Vou, ué! O que é que tem?
- Beatriz, você vai ter tempo de mexer nisso? - Beatriz se aproximou dela e falou em seu ouvido.
- Eu preciso ocupar meus dedos de alguma forma enquanto estamos nessa fase do relacionamento e quando estiver longe de você, então nada melhor que isso. - Priscila sentiu seu corpo inteiro arrepiar. - Ainda vou comprar um controle extra pra você jogar comigo!
Beatriz escolheu também alguns jogos, fones de ouvido, pra sua tia não implicar com o barulho dos jogos e uma televisão nova, de alta resolução e com cinquenta e duas polegadas.
- Isso vai caber no carro? - olhava Priscila para o tamanho da TV em sua frente.
- Não. Roberto vem me buscar na caminhonete, então deve caber lá.
- Beatriz…
- O que foi? Eu preciso enxergar bem os personagens ué! O videogame e os jogos eu vou levar agora. - olhou com cara de menina sapeca para Priscila.
- Você pode até levar, mas nem ouse me trocar pra ficar mexendo nesse troço. - falava Priscila enquanto saíam da loja.
- Claro que não, eu vou está mexendo em você sua boba! - tomou outro beliscão nas costelas.
Pediram uma pizza para o jantar. Depois fizeram como combinado, foram comer porcaria assistindo TV e namorando muito.
- Amor, tá na hora do seu remédio.
- Quando terminar o filme eu tomo.
- Não vai te fazer mal? Demorar a tomar?
- Não, não. Quando terminar o filme eu tomo, prometo. - deu um selinho em Priscila e continuaram assistindo ao filme, ou partes dele, porque passavam mais tempo trocando beijos do que de olho no filme.
Ao final do filme foram dormir. “Eu posso me acostumar com essa vida”, pensou Beatriz antes de dormir.
Pela manhã.
- Você tá com uma carinha triste. O que está acontecendo nessa cabecinha?
- Nada não, é que me acostumei a cavalgar e conversar com Mérida toda manhã, tô sentindo falta só.
- Xiiiii, tô vendo que perdi minha menina da cidade pro campo, e pra Mérida também. - Beatriz saiu de onde estava e abraçou Priscila pela cintura.
- Perdeu coisa nenhuma. Vai dizer que você não gostou no dia que levei você comigo nela? É que eu relaxo nessas andadas com ela, cedinho, sem barulho de carro nem nada do tipo. Só os pássaros cantando, o vento balançando as folhas das árvores, quando você for lá no haras vou te levar comigo.
- Gostei sim e mesmo com dor ainda consegui tirar uma casquinha de você. - sorriu com o olhar de reprovação de Beatriz. - É bom te ver assim, tão bem. Sem aquele olhar vazio e triste que eu conheço desde que você tinha quinze anos.
- Então a senhorita prestava atenção em mim? Conte-me mais sobre isso.
- Como não prestar? Toda vida, você foi um mulherão, mesmo se escondendo por baixo daquelas roupas de moleque, você era bastante cobiçada, entre os meninos e as meninas.
- Aqueles moleques só queriam saber de zueira, viviam implicando comigo e o Mauro, diziam que a gente tinha um caso e eu era o homem da relação, quebrei a cara de uns três por isso.
- Então aquela confusão foi por causa disso?
- E seria por causa de que?
- Eles disseram que foi porque você deu em cima da irmã de um deles.
- O que? Tô falando, aqueles moleques eram uns moleques mesmo e são até hoje, a maioria. Agora o que está me impressionando é todo esse seu interesse, nem olhava pra mim.
- Olhava sim, quando você não estava olhando, ou quando não tinha ninguém por perto. Todas as vezes que a gente tinha que ficar pra ter aula a tarde, eu sabia onde era seu esconderijo e passava horas ouvindo você praticar violão, acompanhei desde o início, por sinal, você tem uma voz linda! - Beatriz ficou bestificada, esse era um segredo que poucos sabiam.
- Você é mais danada do que eu pensava moça! - abraçou Priscila e a beijou docemente.
- Aqui não tem silêncio, não tem cheiro de mato, mas se você quiser, a gente pode dar uma volta lá no parque. Vai tá um pouco cheio por ser domingo, mas se a gente tiver um pouquinho de paciência, consegue encontrar um lugar sossegado pra fazer um lanche e curtir o visual. O que me diz?
- Eu te ajudo a preparar as coisas de levar.
Arrumaram tudo, tomaram um banho e em vinte minutos estavam no parque da cidade, o trânsito estava livre por ser domingo pela manhã. Andaram um pouco, realmente estava bem cheio, muitos casais, crianças, cachorros, apesar do barulho humano, estava um clima agradável no local. Encontraram uma árvore bem frondosa, de frente pra lagoa. Estava relativamente calmo, mas não isolado, era o lugar ideal. Forraram uma toalha na grama, depositaram o cooler que levaram próximo delas, Priscila sentou recostada na árvore, enquanto Beatriz deitava a cabeça em seu colo. Ficaram admirando o local, os patos que estavam na lagoa, alguns pássaros que sobrevoavam por lá, algumas crianças brincando com um filhotinho de cachorro, o filhote parecia sorrir de tão feliz que estava. Beatriz estava em paz, sentia uma brisa gostosa no rosto, enquanto Priscila acariciava seus cabelos. Foi uma manhã bem agradável para as duas, que a cada dia descobriam um pouco mais sobre quem realmente eram.
Ao retornarem pra casa, pediram o almoço, não queriam sair pra almoçar, muito menos cozinhar, estavam numa preguiça gostosa, não saíram da cama, a não ser para almoçar. Passaram o resto da tarde e um pedacinho da noite, antes do remédio de Beatriz, namorando e trocando confidências. Pela primeira vez em oito meses, o final de semana havia passado rápido demais para Priscila.
Na segunda pela manhã.
- Eu vou contigo para o escritório e vou precisar da sua sala também. Você me empresta? - Priscila tinha uma interrogação no rosto.
- Empresto. - respondeu esperando uma explicação de Beatriz.
- Ótimo, então vamos, porque não quero chegar atrasada e dar mau exemplo aos funcionários, ainda mais porque estou ao lado da chefe suprema! - Priscila deu-lhe outro beliscão. - Eu vou ficar toda roxa e nem é por um bom motivo. - falava Beatriz aos risos enquanto pegava o videogame e sua bagagem, já havia marcado com Roberto pra ele buscá-la no escritório. Ao chegarem lá.
- Você precisa de uma sala maior. Mais iluminada. Eu vou dar um jeito nisso, mas agora eu preciso que você chame Sara até aqui.
- Sara?
- É, a Sara. - diante da inércia de Priscila que estava tentando entender porque Beatriz queria falar com Sara, a mesma disparou. - Vamos senhorita Priscila, tô começando a achar que a senhorita não é tão competente assim! - Priscila a fulminou com os olhos.
- Me aguarde. - Beatriz caiu na gargalhada. Pouco tempo depois, entravam na sala Priscila e Sara.
- Bom dia, Sara! Tudo bem? Pode sentar, fica a vontade, a sala não é minha, mas eu me aproveito mesmo assim. - Priscila ia saindo da sala. - Ei moça, onde a senhorita pensa que vai? Pode ficar, até porque você faz parte disso também. - Priscila estava sem entender nada, ficou e sentou na cadeira ao lado de Sara.
- Bom dia, dona Beatriz! Tudo bem sim, obrigada!
- Pra acabar com essa cara de suspense de vocês duas eu vou direto ao assunto. Depois do jantar na sua casa, Priscila me contou um pouco da sua história e de antemão quero lhe dar os parabéns por conseguir manter sua família unida e feliz diante da realidade que vocês enfrentavam e ainda estão enfrentando. - Beatriz fez uma pequena pausa. - Eu fiquei encantada por suas filhas, são meninas maravilhosas, educadas, crianças que faz com que a gente tenha vontade de ficar perto, algo que é bem difícil hoje em dia… se bem que eu não tenho tanto contato com crianças assim… Em fim, o que eu quero te propor é o seguinte: eu quero me responsabilizar por toda vida escolar das meninas, desde agora até elas se formarem numa faculdade, tudo, absolutamente tudo, será por minha conta. Material escolar, mensalidade de escola, professores particulares, tudo que elas precisarem no que diz respeito aos estudos eu quero assumir. Eu não levei seu presente no dia do jantar, mas acho que esse seria um bom presente para uma mãe dedicada como você. - Sara não acreditava naquilo que acabara de ouvir, Priscila também estava surpresa, jamais imaginaria que Beatriz fosse capaz de fazer algo do tipo.
- Dona Beatriz, eu não sei nem o que dizer. - Sara estava em lágrimas.
- Diga que aceita, eu me sentiria honrada em colaborar com o bem-estar das meninas, que sei que estão sem estudar porque vocês não conseguiram vaga nas escolas públicas daqui. E tem mais, vou dar prioridade a uma escola com ensino integral, para que o Luís possa trabalhar. Eu conversei com um amigo meu que é corretor e pedi que ele arrumasse um imóvel, de preferência um galpão, em uma boa localização comercial pra que Luís tenha sua própria oficina. Eu vou dar o prédio, os equipamentos necessário, desde aqueles elevadores até a chave de fenda mais simples, o resto é com Luís. E ele querendo a gente monta uma autopeças junto com a oficina. - Sara não conseguia acreditar no que estava ouvindo, era como se fosse um sonho. - A única coisa que peço a você é empenho das meninas nos estudos, nada mais, sei que não preciso pedir isso, você é uma mãe excepcional, então, posso resolver tudo?
- Pode, pode sim. Meu Deus, eu não estou nem acreditando! Luís vai ficar tão feliz. A senhora é um anjo dona Beatriz. E pode ter certeza que aquelas duas serão as melhores alunas de toda escola. - Sara abraçou Beatriz e se comprometeu em organizar tudo que seria necessário para a matrícula das meninas, apesar do ano já está no fim, Beatriz queria garantir logo a vaga das duas e enquanto isso, as meninas ficariam recebendo aulas particulares em casa. Ao ficar sozinha com Priscila na sala.
- O que foi isso?
- O que?
- Isso tudo? Por que isso?
- Você parece está chateada, fiz algo errado?
- Não, de forma alguma, é uma atitude louvável, mas…
- Mas?
- Você não está fazendo isso pra me impressionar não, né?
- O que? Claro que não! Eu realmente gostei das meninas, me comovi com a situação de Sara, ela parece ser uma boa pessoa, eu vi o quanto você gosta dela enquanto me contava sobre como vocês ficaram amigas. Priscila, a minha família, quando eu morrer, acaba, entende isso? Pra que eu vou acumular tanto dinheiro se não terei ninguém pra usufruir dele no futuro? Se é pra gastar que seja fazendo o bem. Por isso montei o centro de equoterapia pra atender gratuitamente crianças que não têm condições de bancar um tipo de tratamento desses. Sabe, parece que realmente eu não vou nunca perder o título de “rainha das trevas”.
- Bia, desculpa! Eu não queria te ofender, fui pega de surpresa, você não me falou nada…
- Porque eu queria realmente lhe fazer uma surpresa, eu vi seu sorriso com aquelas meninas, eu gostei de estar com elas, me senti bem no meio de pessoas estranhas, coisa que normalmente não acontece. Só que eu queria que fosse uma surpresa boa… Bom deixa eu ir, Roberto já está aí fora me esperando. Coloca alguém responsável pra fazer uma seleção de escolas que se enquadrem nos requisitos que quero, eu quero visitar pessoalmente cada uma delas, depois passa meu número particular para o Luís que vou colocar ele em contato com Mauro. A gente se vê na quarta. - deu um beijo na testa de Priscila, que a segurou pela mão.
- Não sai daqui desse jeito. Me dá um abraço, um beijo decente, desculpa ter sido tão idiota e insensível. - Beatriz a abraçou e lhe deu um selinho demorado, estava realmente triste e desapontada. Saiu da sala de Priscila sem dizer mais nada.
Pediu a Roberto que passasse no shopping para pegarem a TV.
- Será que cabe, Roberto, no banco de trás? - Roberto coçava a cabeça, tentando encaixar mentalmente aquela TV descomunal na caminhonete.
- Se a senhora tivesse me avisado eu teria vindo com a Doblô, aí caberia com certeza, já que ela não tem nenhum banco atrás.
- Qualquer coisa a gente compra um colchão e amarra ela na parte de trás, está coberta com a lona, não está? - Roberto balançava a cabeça e sorria ao mesmo tempo.
- A senhora é um caso sério dona Beatriz.
- Vai ajeitando as coisas aí, eu preciso resolver uma coisa antes, aqui no shopping mesmo, toma o cartão da empresa, se precisar compra o colchão e alguma coisa pra manter ela fixa lá atrás. - uns trinta minutos depois, já no estacionamento.
- Deu? - Roberto desceu do carro e levantou a lona da caçamba da caminhonete, Beatriz caiu na gargalhada.
- Com esse monte de colchão, aí atrás, até eu vou deitada segurando a TV!
- Eu quis garantir que essa danada não estrague daqui pra lá, então deixei ela bem confortável.
- Você é demais Roberto, vamos embora, que eu já estou morrendo de saudade da minha ruiva! - deu um beijo em Roberto e entrou no carro.
Fim do capítulo
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