* Contem cenas de violencia
* contem erros de portugues propositais ao contexto dos personagens
Capítulo 31
Capitulo 31 - Caroline
Minha viagem entre Recife e São paulo foi relativamente calma, eu dormi quase que o voo todo. Quando faltava quase meia hora para o pouso passamos por uma puta área de turbulência. Ok, não foi uma turbulência das pessoas cairem no avião e tals, mas posso dizer que pra mim, a medrosa do boeing, parecia o fim do mundo.
Assim que aterrissamos em Congonhas eu já peguei meu celular para ligar, mas deu algum problema nessa porcaria e ele descarregou. Demorei um tempo absurdo entre descer da aeronave, pegar minha mala e sair pelo desembarque. Quando finalmente consegui, pegar minha mala vermelha, procurei rapidamente uma tomada. O Lucas havia ficado de me buscar aqui, mas ele esta em atendimento e deixou a Clara nessa responsabilidade. Procurei uma tomada para o celular, mas apesar de ser um aeroporto, não achei nenhuma livre. Um segurança me avisou que tinha no starbucks, na outra ponta do aeroporto, pensa minha felicidade. Mas só pelo fato de estar em terra firme, em chao fixo eu já melhorei absurdamente meu humor.
Assim que cheguei perto da cafeteria, aquele cheiro de cafe brasileiro entrou pelas minhas narinas e me encantou. Devo ter dado um sorriso bobo do nada. Olhei rapidamente o painel com os possiveis pedidos e entrei na fila.
- Boa tarde. Ve por favor um cafe de 300 ml, forte.
- Qual o nome?
- Caroline.
- Quanto ficou? Esse é por minha conta. - uma voz estranha, que eu não esperava falou isso. Quando olhei para o lado era um médico, colega meu de faculdade, um doido na verdade, todos chamamos ele de Puca, apelido de Universidade. Se não me engano o nome dele é Jorge, mas melhor eu chamar de puca mesmo, pensa na situaçao constrangedora eu errar o nome.
- Puca?! Que nada. Não precisa. Eu pago aqui o meu.
- Para de bobagem Carol. Pago o seu e você toma um cafe comigo. Não aceito não como resposta. - eu acabei aceitando. O Puca é um moço, pouca coisa mais velho que eu, deve ter por volta de uns 35 anos, meio gordinho, usa um oculos fundo, agora estava com uma barba mais comprida, por fazer. Estava vestindo um jeans, camisa e um blazer. Na epoca da faculdade era um louco, usava todas as drogas possíveis, era bem aquele aluno que dá raiva. Lembro que ele ia em todas as festas, todos os bares, bebia e usava de tudo e na hora das provas tirava uma nota absurdamente boa. Eu sempre ficava irada com ele. No internato ( 2 últimos anos da faculdade) ele acabou caindo no meu grupo de estagio, e nos estreitamos um pouco os laços. Depois do final do curso eu não tive mais contato com ele, soube que havia entrado na especialização em cirurgia.
Ele me pagou o meu café enquanto eu procurava uma mesa para nós dois sentarmos e uma tomada para eu carregar o celular e ligar para a Clara.
- Carol marmota. Como você esta? Faz o que, uns 7 anos que não te vejo?
- Deve fazer isso ou até mais Puca. O que você está fazendo da vida? E Helena, você ainda esta com ela?
- Jamais. Terminamos logo depois da formatura. Eu opero, faço mais transplantes. E você pelo que estou sabendo é uma gineco cada vez mais reconhecida, estava em Portugal não é?!
- Como você sabe?
- Esbarrei com seu irmao cardiologista ha alguns dias. - confesso que achei ate estranho, o Lucas não gostava do Puca, nem um pouco. E tinha razão, o Jorge, era um veterano que pegava no pé do Lucas, era mal encarado, essas coisas.
Achei uma tomada ao lado da mesa, aproveitei para colocar o celular para carregar um pouco. Pelo menos o suficiente para eu contatar a Clara e avisar que cheguei. De todo jeito, ela ficou de me buscar na area do embarque, que é mais vazia. Fiquei conversando com ele um tempo, não sei quanto tempo ao certo, a conversa estava leve. Por mais que eu tivesse dormido o voo todo estava me batendo um sono, como se eu tivesse bebido algumas boas doses de tequila ao inves daquele cafe. Um sono que meus olhos começaram a fechar no aeroporto.
- Tá com sono carol?
- Bateu uma brisa aqui, até parece que tem tequila nesse cafe.
- Quem sabe né?! Vem dar uma volta comigo.
- Volta com você? Pra onde? - eu falava isso lentamente, bebada, como se nada eu não estivesse ali conversando com ele.
- Só vem comigo.
- Eu não quero Puca, tenho que ir pra casa. Estão me esperando - meus olhos estão fechando, que sono absurdo.
Ele abriu o blazer que estava vestindo, me mostrou a arma que tinha na cintura. Eu não entendi muito bem o que estava acontecendo e que sono é esse? Porque o Puca tem uma arma? A voz dele está longe, tudo está rodando. Ele levantou da mesa e pegou no meu braço fazendo eu levantar, apertou forte, me segurando.
- Eu não quero ir. Me solta Puca - minha voz não saia, minha língua estava enrolando, tudo estava dormente.
- Cala a sua boca e vem comigo, ou pego essa arma e começo a matar pessoa por pessoa. - eu senti medo, mas era como se não fosse real nada disso. Quero dormir, meu corpo está bambo.
Não sei explicar exatamente o que aconteceu nesse momento, apenas lembro da dor no meu braço, da mão forte dele me prendendo, do meu corpo cambaleando e dos meus olhos fechando. Tinha um caro, com a porta aberta. Alguém me empurrou, tropecei. Cai dentro do carro.
Tinha um cara na frente, dirigindo. Um do meu lado, ele me ajudou a sentar. O Puca está onde? Pra onde estou indo? Que sono absurdo.
- Deixa eu descer! Quero descer! Me larga! - Eu gritava forte, alto, mas não consegui ouvir meu próprio grito. Minha boca está dormente. O cara da direção falou alguma coisa, gritando com o cara do banco de trás. O que eles estão falando? Me solta! O gosto de sangue preencheu minha boca, coloquei a mão no rosto, estava molhado. Está tudo embaçado, acho que é sangue no meu rosto. O que é isso? O que está acontecendo? Não fui mais capaz de manter os olhos abertos.
Meus olhos estavam doendo, tudo em volta girava. Quero abrir os olhos, mas estão pesados. Alguem está chutando minhas pernas. Onde estou?
- Acorda “ae dotora”. Levanta! - Quem está falando isso? Que lugar é esse? Que cheiro horrivel, cheiro de mofo, casa fechada, lugar velho. - Acorda “ae” caralh*! Pega a água! - Meus olhos estão pesados, a sensação é de ressaca, a boca está seca, minha cabeça doi.
Sentei em um susto, num reflexo, perdida, abrindo os olhos. Água, deve ser água! Alguem jogou um balde de água em mi, me engasguei com o liquido todo. Tosse, muita tosse.
- Tava bom o soninho dotora?! Hahahaha - ele ria, com a própria ironia - Levanta, o chefe que falar “ cum ce” - um cara alto, forte, vestindo regata, cheio de tatuagem nos braços. Ele segurou forte os meus braços e me levantou. Tentei fazer força contra, mas eu era pequena demais perto dele. - Vamo “cum” calma “dotora”, se fizer gracinha toma outro apagao na cara. entendeu?!
Eu fiz que sim com a cabeça. O medo dominou meu corpo e começei a tremer. Minha camisa branca estava molhada e colada no meu corpo, minha calça tambem estava um pouco molhada. . Eu estava em um tipo de quarto, escuro, sem luz, havia uma cama com cara de velha no canto da parede. Era um lugar bagunçado, sujo.
O homem segurava forte no meu braço, estava doendo, machucando. Ele mais me arrastava do que deixava eu andar. Me puxava por um corredor comprido, escuro, cheio de portinhas. Em uma delas eu ouvi gritos, deveriam ser de uma mulher. Gritos de dor. Fiquei mais assustada, com mais medo ainda. Quero segurar todas as lágrimas, mas não posso, elas começam a cair dos meus olhos, sem que eu tenha controle. Um corredor com cheiro de mofo, escuro, que não deve passar ar nunca. Em frente a uma das portinhas havia uma mulher e uma criança, quando ela me viu sendo puxada pelo homem, colocou a criança para dentro de casa e fechou a porta.
No final do corredor havia uma porta normal, como todas as outras. Ao lado, um outro homem, mais mal encarado que o primeiro, segurando uma arma grande, que não tenho ideia do tipo, marca, número ou essas coisas que identificam arma, fazia a segurança do local. Quando nos viu chegando, ele abriu a porta e colocou a cabeça para dentro, como se avisasse algo a alguem.
Fui empurrada para entrar. Era uma casa, um lugar completamente normal. Uma sala com televisão, uma mesinha com varios papeis. Tinha um sofa e uma poltrona. O Puca estava sentado no sofa, bebendo alguma coisa, rindo alegremente, conversando com um homem, que tambem bebia e ria. O cara que me “carregou ou puxou” pigarreou interrompendo a conversa dos dois. O Puca olhou pra mim e deu risada, claramente se divertindo com a minha cara de panico.
- Senta ai marmota. Vamos bater um papinho. - eu olhei para a cara dele, com todo o odio do mundo - Senta “ae” caralh*! To mandando. - eu continuei com a cara de odio para ele e sentei. - Carolzinha, esse é o Grilo. Grilão essa aqui é a doutora que te prometi, vai dar uma ajuda com a Yasmin. A marmota manda bem no que faz.
- Qual seu nome docinho? - o cara que aparentemente era o chefe do lugar me perguntou isso. Ele deveria ter uns 40 anos, com o cabelo muito bem aparado e a barba ornada em um cavanhaque. Estava com uma camisa preta, solta, aberta até o meio do torax, onde dava para ver os pelos do peito dele e uma corrente com uma cruz brilhando. - Qual seu nome? Porque jogou água nela Caroço? É idiota?
- A “dotora” não acordava. Dei meus pulos - isso quem respondeu foi o cara que me arrastou pelo corredor.
- Idiota! Mandei trazer ela e não fazer essa merd*. - ele respirou fundo, com toda a calma do mundo e olhou pra mim - Doutora é o seguinte - ele tinha uma dicção boa, um modo de falar de quem teve estudo - minha mulher está parindo meu moleque. Ela não pode ir até o hospital, sua função é trazer meu filho ao mundo bem e deixar minha mulher de boa! Tá entendendo?
Eu não ouvi ou entendi nenhuma palavra do que ele falou, eu estava chorando, com medo, frio, preocupada. Eu soluçava em um mundo aleatório. Esse lugar também tinha cheiro de mofo, menos que o outro, mas tinha. Apenas senti meu rosto latejando e queimando, uma porr*da ou tapa ou qualquer algo assim me fez voltar a atenção ao que o cara estava falando.
- Doutora, você ouviu o que eu falei? Claro que não. Primeira coisa é parar de chorar, isso tá me irritando já. Caroço, pega uma água pra moça. - fez-se o silencio, a não ser pelo barulho do Puca abrindo mais uma lata de cerveja. Bebi a água que me foi dada, e respirei fundo, engolindo o choro, o maximo que pude.
- Acho que se acalmou Grilo, a marmota vai colaborar com a gente, não vai Caroline - o Puca falou isso com a maior calma do mundo. Eu tentando me manter calma, de algum modo, respondi que sim
- Então vamos de novo, do começo. Minha mulher está parindo um molequinho. Ela não pode ir para o hospital, não tem essa chance. Sua função é trazer o moleque ao mundo e claro, deixar minha mulher bem. Posso contar com você - ele pensou um tempo- marmota?
Eu mais uma vez apenas fiz sim com a cabeça.
- Ótimo. O Puca falou que você é uma ginecologista de ponta e a melhor no ramo. Ele é um imbecil que não sabe fazer nem um parto, mas me foi util em achar você. A regra é clara doutora, faça bem feito o parto e sai viva daqui. Faça qualquer merd* que mato você pessoalmente, faça qualquer merd* que além de matar você vou atras da sua mulher. Sei tudo da sua vida, lembre-se disso. Estamos conversados?
Ele falava como o meu pai quando me dava bronca. Me fazia tremer. Agora não só por me ameaçar como por ameaçar a Chris. Deve ser a Chris, ele não deve saber nada da Fernanda. Na minha cabeça não passa nada. Estou congelada de medo, em choque.
- Puca, voce que é médico, conversa com ela. Ve o que a doutora precisa e providencia tudo. Sabe onde a Yasmin está. - O tal Grilo, chefe desse povo todo, se levantou e saiu pela porta que entramos antes.
- Pode deixar chefe, daqui eu dou conta. - Ele bebeu mais um gole longo da cerveja, respirou fundo e levantou da cadeira - Caroço, arruma uma roupa seca pra doutora. Seca e confortavel. Agora - o tal caroço andou na casa mesmo, em direção a um outro comodo. o Puca sentou ao meu lado no sofa e começou a falar comigo - Marmota, a jogada é simples. Ajuda o molequinho do chefe nascer, a patroa ficar bem e te “liberamo” de boa. Eu não sei fazer parto, sei operar, até dei uma olhada nela, mas não entendo nada. Cara, é só você fazer o que você sabe. Carol, me ouviu?
Eu ouvi tudo que o Puca havia falado. A unica coisa que passava pela minha cabeça era a imagem da Christiane, a chance de irem atras dela. Mas o que estava fazendo eu me acalmar era a voz da Fernanda, ecoando no meu cerebro, falando que iriamos nos ver em um mes, simplesmente a voz da Fer é o que me acalma.
- Puca, achei uma calça e uma camiseta. Dá ai pra “dotora”.
- Carol, vai ali naquele banheiro. Troca de roupa, lava esse rosto, respira fundo, se recompoe. A yasmin já está com uns 6 dedos de dilatação, pelo pouco que entendo disso.
Eu respirei o mais fundo que consegui e levantei do sofa. Meu corpo ainda tremia de medo, mas eu sei que precisava me acalmar. Minha missao é simples, algo que faço quase que diariamente, trazer uma criança ao mundo. Fiz isso em portugal, sem recurso algum. Aqui eu vou conseguir tambem. O banheiro era simples, mas aparentemente limpo, olhei o espelho que havia na minha frente. Estou horrivel, uma cara inchada de choro, tem sangue pisado que saiu do meu nariz, a bochecha esta vermelha do ultimo tapa que levei, o olho esta inchado e sei que vai ficar roxo, o labio inferior tambem esta aumentado. O soco que eu levei no carro fez um estrago pesado no meu rosto, mas aparentemente não quebrou nada.
Assim que vi essa imagem destruida minha, me veio o rosto da Fer, ela toda brava como é deve estar achando que eu dei um bolo nela e não quis mandar mensagem quando cheguei ao Brasil. Mas a hora que ela souber que fui sequestrada vai surtar. Acho que se pudesse invadiria o cativeiro por conta propria. Isso me deu uma energia que não sei explicar. Tenho que ficar viva, tenho que ficar bem, quero visitar o Douro mais uma vez com ela, quero mais sex*, mais risada, mais vinho.
Enchi a mao de água e joguei no rosto, tirei todos os cristais e crostas de sangue pisado que estavam no meu rosto. Meu cabelo estava completamente bagunçado e com alguns pedaços duros de sangue. Penteei com os dedos, da maneira que pude. Fiz um coque o mais apertado que eu podia, depois peço algo para amarrar o cabelo.
Meu braço doia, mas com cuidado tirei a camisa que estava molhada e a calça tambem. O tal Caroço havia me dado uma camiseta masculina, preta e uma calça de moletom. Eram claramente maior que o meu corpo, mas tudo bem, pelo menos estavam secas e menos fedidas que a casa toda.
Rapidamente bati o olho no espelho, minha cara estava definitivamente bem melhor, apesar de ainda inchada do choro. Pensei na melhor imagem que eu tinha da Fer, no momento mais lindo dela, apertei os olhos para não esquecer em nenhum detalhe. Ela vai ser meu foco e minha direção. Respirei fundo mais uma vez, tentando me acalmar de alguma maneira. Eu preciso dar o meu melhor aqui, como faço com todos meus pacientes, mas agora não vale só a vida da mae e da criança, a minha esta em jogo tambem.
Abri a porta do banheiro como se eu estivesse prestes a entrar em um hospital, assumi uma postura firme, agil. Não vou tentar fugir nem nada, mas se pediram minha ajuda, a vantagem tem que ser minha.
- Pronto Puca, onde esta a paciente? Preciso avaliar ela.
- Cacete marmota, como conseguiu ficar mais linda e sexy? Sempre falei que é um absurdo você ser sapatao. - eu gelei com esse comentário dele, mas me mantive imparcial, não posso demonstrar meu medo.
- A paciente Puca! - ele levantou do sofa que estava sentado, bebendo e fumando. Apesar de eu odiar o cheiro de cigarro, posso dizer que é melhor isso que o cheiro de mofo desse lugar. O Puca pegou o meu braço no mesmo lugar que havia pego la no aeroporto, o que fez doer prontamente. Ele falou alguma coisa com o segurança que estava na porta e me puxou, pelo mesmo corredor pesado escuro e fétido que o Caroço tinha me conduzido.
Passamos por 2 ou 3 portas, ate que paramos na frente da que, anteriormente eu escutei gritos de mulher. Agora faz um pouco mais de sentido, o grito é por causa das contraçoes que ela deve estar tendo. O tal do chefe, o grilo, estava na frente da porta, fumando um cigarro e rindo com alguns outros homens mal encarados. Quando ele me viu ficou serio, me cumprimentou com a cabeça. Eu apenas mexi a minha em retorno. A todo o tempo me mantive pensando em estar calma e na imagem da Fernanda, tenho que viver para contar pra ela que eu não dei um bolo, não mudei minha opiniao, não mudei o que eu sinto.
Assim que entrei pela porta, dei de cara com uma sala de casa, muito bem mobiliada, com uma televisão de led de 50 polegadas, piso amarelado combinando com toda a decoração. Logo a frente havia uma cozinha, separada da sala por um balcao, a geladeira era duplex, de inox, elegante, armários bem moldados. O cheiro de mofo existia tambem, mas nem um pouco como nos lugares anteriores que estive. Aqui era quase leve, dava para passar batido.
O Puca continuou me puxando, e me arrastou por uma escada rumo ao andar de cima da casa, onde deveria estar a gestante, já que o barulho dos gritos era mais nitido. A base da escada dava acesso direto a um quarto. A cena que vi ao mesmo tempo que me acalmou, fez eu perder a linha e querer chorar.
O quarto tambem era bem ajeitado e estruturado como a sala. O guarda roupa de mogno era elegante, a cama box estava no meio do espaço. Foi um comodo e uma residência que posso dizer que preparada com muito zelo e carinho. A jovem, que chamava Yasmin, estava deitada na cama, suada das contraçoes que estava tendo, respirando com dificuldade, havia sangue por varias partes da cama e chegava a ter no chao. Uma senhora muito parecida com a menina estava com uma toalha umida tentando secar o suor dela. Classicamente uma cena de parto domiciliar, o que me acalmou e me fez sentir confiança e capacidade para gerenciar isso tudo. Mas o sangue espalhado, a falta de ar da menina e o rosto palido dela me fez gelar, era um parto que não estava fluindo. Preciso examinar, mas dou um queijo que ela vai precisar de uma cesaria.
- Yaya, essa aqui é a doutora Carol. Fez faculdade comigo. A melhor que eu conheço. Ela veio pra cuidar de você e do bebezão ai. - o Puca me apresentou para ela, com muita calma, como se fosse um medico apresentando um colega de profissao em um hospital normal do dia a dia e não um sequestrador falando sobre uma sequestrada. Mantive mais uma vez a minha calma, respiraçao lenta e pensamento rapido.
- Entao esta certo. Puca, você fora, eu preciso examinar ela. Quem não for essencial, por favor saia do quarto. - todos olharam pra mim como se não entendessem o que eu estava falando - Agora! Vocês pediram minha ajuda, agora deixem eu fazer meu trabalho.
- Você não vai ficar sozinha aqui sem segurança marmota. Acha que eu sou idiota?!
- Entao ache uma segurança mulher, você não fica aqui. E o resto pode sair. Apenas a paciente e a senhora - disse me referindo a provavel mae da Yasmim . Fechei a cara e esperei com que saissem do quarto. O Puca estava tao puto que poderia quebrar meu corpo com as mãos. Ele falou alguma coisa no celular que estava usando e se afastou da cama, mas não saiu do quarto. As demais mulheres que estavam estorvando a cena, se retiraram
- Sou a mae dela doutora.
- Tudo bem senhora. Eu imaginei. Vamos começar. Qual sua idade mocinha?
- 18 anos.
- Fez alguma consulta de pre natal? Tem sua carteirinha de gestante?
- Não tenho não senhora. Não fui em nenhuma consulta. - cacete, estamos bem na fita, só que não mesmo.
- Essa é sua primeira gestação? Já teve algum parto ou aborto?
- Eu já tirei 2 “moleque”- havia feito 2 abortos - e perdi mais “otro”. Esse aqui que vingou.
- As outras gestaçoes pararam em qual periodo? Quantos meses tinha?
- Os que eu tirei tinham 3 meses, eu acho. O que morreu foi mais pra frente, acho que uns 5 ou 6 meses.
- Tá certo yasmim. Quanto tempo tem essa gestação? Esse menino que você tem agora? Como sabe que é menino?
- Eu contei que devo ter uns 8 meses. Fiquei sabendo que é menino pela colher.
- Pela colher?
- Sim, aquela simpatia de sentar na colher.
- Claro. Conheço - uma crendiz popular de que se sentar em uma cadeira com a colher, sera um menino. Se sentar na cadeira sem colher é menina. Isso ainda acontece em muitos chas de bebes por ai. - Eu vou precisar fazer um toque vagin*l em você, para ver como esta o bebê. Posso?
- Pode sim.
O Puca que estava no quarto ainda fez cara de nojo e virou de costas. Eu com o cuidado que tenho com qualquer das minhas pacientes, fiz todo o exame que precisava, considerando os equipamentos que eu tinha, ou seja só eu. Apalpei a barriga dela, tentando sentir o bebe. Consegui pegar ele se mexendo, o que já me dizia que vivo ele estava. Mas algo me deixou bem preocupada as costas dele estava no lugar da cabeça, ou seja, ao inves da cabeça dele estar para baixo, prontinho para sair, era o as costas dele que estava para baixo. Isso me da um alerta que existe algo no utero que impediu o bebe de virar. Se juntar isso com o sangue todo que esta na cama, posso dizer que tem chance de já ter dado algum problema.
A Yasmim vai precisar de sala cirurgica, cesaria, equipamento hospitalar, anestesia. Sem isso ela morre aqui, nessa cama e eu morro junto. O grilo jamais vai me deixar viva se algo de ruim acontecer com essa garota. Como vou convencer ele e o Puca de que ela precisa de hospital, precisa de assistencia especializada? Como convencer ele que se algo der errado não será minha culpa?
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
preguicella
Em: 25/09/2018
Ai Gzuiss! Tadinha de Carol! Como ela vai sair dessa gente!?
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]