Capítulo 30
Capitulo 30 - Christiane
Não posso dizer que minha vida mudou muito desde que a Caroline saiu de casa, mas posso dizer a vocês que eu estou muito mais calma, leve e com a Malu na minha vida, feliz. Desde que a Carol escolheu Portugal a mim, eu decidi que não precisava viver a esperar ela. A Ana ainda me acha uma idiota por que eu não quis sofrer, chorar ou me importar com a Caroline ter ido para Portugal, mas a real é que o fim desse casamento foi libertador pra mim. Desde que ela saiu de casa, eu tenho dedicado meus dias ao trabalho, a minha tese e a Malu. No começo eu trabalhava de manhã, no pronto socorro, como sempre. A tarde, ou eu ia para a aula do mestrado ou eu passava a tarde toda conversando com a Malu, chegava a ser estranho o quanto de assunto nós duas tínhamos, e não acabava ou ficava monótono não, queriamos saber uma sobre a outra, descobrir sobre nossas vida, eu queria ouvir cada história de cada viagem que ela já tinha feito, e a cada momento eu me encantava mais por ela.
Logo que a Carol saiu de casa, eu sentia um vazio estranho, não era uma dor pelo fim, era mais uma sensação de traição, misturada com raiva por me sentir trocada pela profissão dela. Eu não me senti culpada, em nenhum momento, por ter trocado mensagens com a Malu, me senti meio idiota pela Carol ter pego. MAs ela não tinha muito direito a reclamar de nada. Ocupei cada uma das tardes com a malu no hospital, acompanhando dia após dia ela chorar pela carreira, pela dor na perna quebrada, pelas 2 cirurgias que ela teve que fazer. Quando ela recebeu alta, eu não pude pensar em nada além do óbvio e esperado, cuidar dela.
-Chris, o médico passou aqui e me falou que entre amanhã e depois eu vou poder ir para casa. Ele falou também que precisarei vir aqui todos os dias para fazer fisioterapia, pelo menos até o médico da comissão técnica voltar da Alemanha e decidir como prosseguir com o tratamento.
- Isso é ótimo, finalmente você vai poder sair desse lugar. Adoro esse hospital, mas o cheiro da ortopedia é horrível.
- Não tem nada de ótimo nisso. Como vou fazer? Eu moro em uma república com mais outras 6 atletas. Todas estão no mundial da Alemanha, onde eu também deveria estar. Até elas voltarem eu faço o que? Fico deitada no sofá, vendo televisão?
- Isso! Fica em repouso, sem forçar a perna.
- Você não entendeu, quero dizer, como vou me cuidar sem forçar essa perna e estando sozinha? Como vou cozinhar e ficar em repouso? Como vou subir mil lances de escada sozinha?
- Não tem ninguém pra ficar lá com você? Sua irmã?
- Minha irmã está nos Estados Unidos, jogando futebol. Lembra que eu te falei que ela tinha bolsa de estudos para ser atleta lá? Eu não vou ligar para a menina, tirar ela do treino para cuidar de uma ex atleta.
- Você não é ex-atleta Malu, só está tirando um tempo para cuidar de uma fratura complicada. - Ela estava a vários dias reclamando que a carreira havia acabado e que ela nunca mais seria capaz de lutar ou de competir a nível olímpico. - Vamos fazer o seguinte, até suas amigas voltarem da Alemanha, você fica lá em casa, pode ser?
Eu nem pensei no que falei, simplesmente falei. Minha casa está vazia e a Maria Luiza precisa de um lugar para ficar e cuidados. Fica muito mais facil, trago ela todo dia pra fazer a fisioterapia, cuido dela. Coisa simples.
- Claro que não Chris. Eu não vou te incomodar assim. Você tem sua rotina, suas coisas.
- Vai me incomodar em que? Todo dia de manhã quando eu vier trabalhar, eu te trago para a fisioterapia. Sempre que eu voltar para casa te levo também. Você irá me acompanhar. E outra, quando você menos perceber terá recuperado sua movimentação, vai ser rápido.
- Jura mesmo que não vou te incomodar na sua casa? E a menina que divide a casa com você?
- Ela não está lá, foi para Portugal lembra? Deve voltar daqui uns 2 meses, se voltar. Minha casa está livre. Topa?
- Se não vai mesmo te atrapalhar, eu topo. Mas tem uma condição.
- Ai... lá vem Malu. Qual condição?
- Eu te pago tudo, pela estadia, pela ajuda.
- Até parece. Me paga em beijos que está tudo certo. Nem quero ouvir mais nada. - Aproveitei a deixa e enchi ela de beijinhos.
Eu sei que assumi uma responsabilidade muito grande, em levar ela para a minha casa, até melhorar da perna, mas isso irá me fazer bem, ter ela por perto, poder me aninhar no colo dela. Esse tórax musculoso dela é um tesão só.
Definitivamente ela está sendo o meu apoio desde que a Carol foi embora. De verdade, hoje eu penso que sem a MAlu eu estaria igual aquelas apaixonadas, chorando pelos cantos por que a mulher deixou. Me poupem, a Caroline quis ir embora, problema dela, eu vou seguir minha vida.
Depois que saí do hospital nesse dia, corri pra casa. Eu precisava tirar as coisas da Carol que ainda estavam visíveis, fotos nossas, as anotações que ela deixou no escritorio, essas coisas. A MAlu me perguntou algumas vezes se já tinha sido casada ou se morava com alguem, na ocasião eu falei que dividia a casa com uma amiga, não contei que a amiga era minha minha esposa, muito menos que eu era casada, achei mais válido pular e anular essa parte da minha vida. Todos dizem que devemos perdoar, mas a raiva que tenho da Carol e a mágoa dela, não tem perdão. Ela um dia vai voltar para o Brasil e vai perceber que já estou com outra pessoa e que ela não é mais dona dos meus sentimentos. Ela não tem mais poder sobre mim ou sobre o que eu sinto, não que ela tenha tido em algum momento, mas eu amei. Como fui idiota nisso.
No dia seguinte segui a mesma rotina de sempre, acordei e fui trabalhar. Quando o plantão terminou fui correndo para a ortopedia, caminho que eu já estava fazendo há quase 3 semanas. Assim que cheguei a Malu já estava com roupa do dia a dia, diferente da roupa de hospital, pronta para receber alta. Aproveitei que eu conhecia a equipe que estava cuidando dela e acelerei o processo de liberação, ouvi todas as instruções e peguei todas as receitas e medicamentos que ela iria precisar.
- Acho que já está liberta minha atleta, vamos embora?
- Ai Chris, por favor, não aguento ficar mais tempo aqui. Já estava ficando louca.
- Eu pensei em fazermos o seguinte, como eu já peguei suas roupas na república, vamos direto para minha casa. Lá temos um lance de escada, para conseguir subir até o quarto, mas dá para você ficar na sala. Eu saio, compro um almoço rápido e já volto para ficar com você. O que acha?
- Adorei o plano, principalmente a parte de você ficar comigo. - e ela abriu um sorriso bobao, lindo. Gosto dessa vivacidade dela, se fosse a Carol, iria reclamar de alguma coisa.
- Você espera aqui na entrada até eu pegar o carro. Tudo bem? - O carro estava estacionado pertinho, mas mesmo assim era longe para ela ir de cadeira de rodas ou pulando com aquela imobilização que ela estava usando. Eu não tinha contado qual carro era, então ela estava olhando atentamente a todos os carros, esperando que eu estacionasse. Assim que embiquei o carro, dei uma buzinadinha, como uma cantada, que ela achou um barato e mandou beijos de volta.
Foi complicado colocar aquele mulherão no carro, mesmo meu carro sendo grande, pensem, a Malu é categoria até 78kg, deve ter quase 1,80 de altura, eu sou super baixinha perto dela, vale lembrar que esses 78 kg são de pura musculatura, serio, complicado encaixar ela e a perna imobilizada no carro, foi um tal de puxa banco, empurra banco. Ela dando risada e fazendo cosquinha, até quem estava de fora dava risada da situação.
- Seu carro tem um cheiro acido, diferente do seu. Quem você andou levando para passear hein dona Chris? - Ela falou dando risada, mas acho que eu devo ter ficado vermelha, nem sei se ela percebeu. A real é que o cheiro acido não é de eu ter levado alguem para passear, é o cheiro do perfume da Carol. Ela sempre passava perfume antes de sair de casa, ai quando entrava no meu carro, o cheiro dela ficava em tudo.
Não consegui ficar sem lembrar de uma das coisas que eu mais gostava dela, de ver o jeito como ela se arrumava. Saia do banho de calcinha e sutia, andava na ponta dos pés até o guarda roupa, procurava a camisa e a calça que mais se encaixava aos pacientes do dia. Ela sempre usava uma camisa social, com a manga dobrada. Depois passava o perfume, delicadamente, quase que como uma dança, eu admirava toda aquela valsa do começo ao fim, era algo encantador diariamente.
- Tá vendo como tem mulher na jogada? Tá até com sorriso bobo. Aff, não quero saber do passado, nem precisa me contar - ela falou sozinha, como se fosse um “pensar alto” - Vamos colocar um som bom para alegrar nossa viagem. Como assim não tem som no seu carro nurse?
- Eu não gosto muito de música, é meio barulhento.
- Que nada a ver Chris, vou colocar um sertanejo aqui pelo meu celular. - Eu estava dirigindo, achei melhor não contrariar nem nada, mas eu realmente não suporto o barulho da musica, independente do gênero. A Carol dava risada disso quando começamos a namorar, mas depois ela respeitou, não insistia em colocar musica, nunca forçou a barra. Mas enfim, nada que depois eu não possa conversar com a Malu.
Quando chegamos em casa confesso que a principio foi um pouco estranho ver uma pessoa diferente lá, mas em pouquíssimo tempo eu fui me acostumando. E outra, ela ficará aqui apenas até a perna melhorar. O bom é que está batendo bem com essa fase complicada de fim de casamento, então com a Malu por aqui eu acabo me distraindo bem. Logo nos primeiros dias, eu passei na frente da coleção de vinho que a Carol tem, escolhi um que ela estava guardando para o nosso aniversario de casamento, não pensei muito não, coloquei para gelar e depois bebi com a Malu, no mesmo sofa da ultima vez que vi a Caroline. Eu não vou me perder esperando ela voltar, não mesmo, e quando ela voltar, irá se arrepender de ter me trocado por Portugal.
Caramba, a fisioterapia da Maria Luiza está demorando muito mais que o normal hoje, já faz mais de 40 minutos que meu plantão acabou e que estou aqui esperando ela terminar. A sorte mesmo é que nesse tempo sempre uso para pensar um pouco na minha vida ou adiantar alguma leitura de alguma coisa da minha tese. Ela sempre sai da sessão com muita dor e bem emburrada, eu acho fofo e um barato, mas a real é que fico muito feliz dela estar conseguindo aos poucos voltar a movimentar bem as pernas. Por enquanto ainda não está andando, mas está mexendo bem as pernas, em breve deve começar a se mexer sem a cadeira de rodas.
Meu celular tocou me assustando desse pensamento todo e fazendo um barulho absurdo na sala de espera da fisioterapia. Era um numero desconhecido, eu que não vou atender. Mas a merd* da pessoa insistiu mais algumas vezes, e na terceira ligação eu atendi, bem grossa.
- Pois não?!
- Por favor a sra Caroline Braga - era a voz de um homem. Era só o que me faltava.
- Não é esse telefone não. O senhor tem que ligar para ela e não pra mim
- Mas a senhora conhece?
- Conheço, é minha esposa. Do que se trata?
- Eu sou da segurança do aeroporto de congonhas, uma mala foi encontrada aqui. Está com o nome de Caroline Braga e com dois telefones para contato. O primeiro ninguem atendê e o segundo é o da senhora.
- Deve estar acontecendo algum erro. A Caroline não está no Brasil, ela foi para portugal há cerca de um, um mes e meio atras e não retornou ainda. Como é essa mala?
- É uma mala vermelha, quadrada, de rodinhas. Nós da segurança tomamos a liberdade de abrir a mala, e até mesmo o passaporte da senhora Caroline está aqui. A mala estava envolvida em uma proteção transparente. Foi encontrada ao lado do Starbucks.
A chance de ser a mala da Carol é grande. Ela realmente tem uma mala vermelha e ela nunca na vida viagem sem passar aquele plastico horroroso na mala. Mas o estranho é que alem dela ter deixado a mala de lado é o passaporte estar junto. Ela carrega esses documentos todos junto do corpo. Muito estranho mesmo.
- Senhor, eu não sei o que aconteceu. Ela raramente deixa a mala solta por ai, sozinha. O senhor me passa seu contato que vou ligar para o meu cunhado, irmão da Caroline e ver se ele está sabendo de alguma coisa. Assim que possível eu retorno para o senhor.
O moço passou o contato dele. Ve se pode mala perdida da Caroline! O que é estranho, alem dela não ter me ligado para falar que estava voltando para o Brasil, mas isso eu até entendo, é ela ter largado a mala perdida em um aeroporto. A Caroline é tao cuidadosa com essas coisas, tão cuidadosa com tudo, que não deixaria uma mala perdida. Será que ela foi ao banheiro e acharam a mala dela? O fato de ter sido achada/deixada ao lado do starbucks responde mais ainda a favor de ser a mala dela.
Bati o olho rapidamente no relógio, já se passava das 14h. A Malu vai ter que esperar um pouco. Peguei meu telefone. Depois da ultima mensagem que o Lucas, havia me mandado há um mês atrás, eu prometi a mim mesma que não mandaria mais mensagem para ele ou ligaria. Eu vou ser educada por se tratar da irmã dele, mas ele em si não terá mais respeito algum pela minha parte, nem sei se ela merece respeito também. No segundo toque, o Lucas atendeu.
- Pronto Chris. Tudo bem? - deu pra sentir o cansaço e agitação dele pela voz, nesse exato momento eu soube que algo havia acontecido e que aquela mala era mesmo da Carol.
- Oi Lucas, desculpa te incomodar. Boy, um senhor da segurança do aeroporto, aqui de congonhas, acabou de me ligar. Ele falou que achou a mala da Caroline, abandonada, perto do starbucks. Você tá sabendo de alguma coisa?
-Ai Deus. - ele afastou o telefone com alguem, acredito que tenha sido com a Jaque, a esposa dele: “ Acharam a mala dela”. Chris, você está onde?
- Estou no hospital ainda, porque Lucas? O que aconteceu?
- Chris, a Carol me ligou ontem a noite, falando que estava voltando de Portugal. O voo dela chegou hoje por volta das 11 horas. A Clarinha foi buscar ela no aeroporto e viu a Carol entrando em um carro preto, com um homem que não conhecemos. Ninguém consegue contato com ela. Já acionamos a polícia. A principal hipótese é que ela tenha sido sequestrada.
Pude sentir a adrenalina correndo por cada porção do meu corpo e gelando minha carne, pude sentir aquela sensação de que o mundo parou por alguns segundos e depois voltou. Tudo ao meu redor sumiu.
- Como assim sequestro?
- Ainda não temos certeza, eu estou na delegacia com a Jaque agora.
- Alguem entrou em contato? Pediram resgate?
- Ainda não Chris, não sei muita coisa. Estou com o delegado ainda.
- Eu vou pegar a mala dela lá no aeroporto. Depois vou pra sua casa. Quero acompanhar tudo. Quando você iria me contar?
- Deixa que eu pego a mala dela, estou indo para o aeroporto com o delegado. Ele quer dar uma olhada nas gravações, ver se descobre algo que possa nos ajudar.
- Quando você ia me contar Lucas? Quando?
- O delegado chegou aqui, preciso falar com ele. Vai lá pra casa, a Jaque já está indo.
É completamente surreal essa situação. A Caroline sequestrada, logo ela. A Carol faz tanta coisa boa para tanta gente, ela não merece isso. Mas não posso deixar de pensar, porque ela voltou sem me contar? Pra me pegar aprontando algo? Bem feito então. Não me avisou, se ferrou.
Que merd* de pensamento estou tendo, ela foi sequestrada, e eu achado justo. Não posso achar isso. Ela deve estar desesperada, chorando. Espero que não façam nada com ela, não encostem nela. Ai cacete, que mundo violento.
- Chris, xuxu?! Você está branca. Está tudo bem? - essa era a Malu assustada - estou a um tempão te chamando, está na lua gata.
- Desculpa Malu, acabei viajando aqui. Vamos embora, como foi hoje com a perna?
- Foi tudo bem, está doendo um pouco só. Xuxu, você está bem mesmo? Sério! Está gelada. - Como contar pra Malu que minha mulher foi sequestrada, se ela nem sabe que eu sou casada?
- Aconteceu um problema que eu tenho que ir resolver. Vou te deixar em casa e vou na casa de um amigo meu.
- É algo que eu possa te ajudar?
- Não Malu, não pode me ajudar em nada. Só vamos embora, por favor.
Dessa vez eu havia deixado o carro no estacionamento do hospital, mais rápido para pegar ele quando a Malu já estivesse liberada. Ela já consegue se acomodar bem no carro, quase que sem ajuda. Depois dela entrar guardei a cadeira de rodas na parte de trás da EcoSport. O caminho do hospital até a minha cas nunca foi longo, mas hoje eu posso dizer que nem percebi que estava dirigindo. Acredito que a adrenalina no meu sangue foi tão alta que não pude nem olhar o trajeto, eu simplesmente me vi na porta de casa.
Quase que em silêncio absoluto ajudei a Malu a descer do carro e a entrar em casa. Ela já estava íntima do sofa da sala, então ficou se ajeitando. Eu mantive meu automatismo, esquentei uma comida para ela, entreguei. Dei um beijo rápido nela e sai. A Caroline sempre foi muito ligada ao Lucas, muito mesmo, até a casa dos dois sempre foi muito próxima, entre as duas dava por volta de 2 quarteirões. Eu apenas percebi que tinha chegado quando estacionei na frente do prédio dele.
O porteiro dele já me conhecia, por causa da Carol, claro. Meu acesso já estava liberado. O apartamento dele ficava no 20o. andar, no final do corredor. Toquei a campainha rapidamente e aguardei que alguem me atendesse. Pouco tempo depois a Jaqueline abriu a porta, a expressão dela era um misto de tanta coisa.
- Entra Chris, o Lucas ainda não voltou. Da delegacia foi direto para o aeroporto. Vem, senta aqui um pouco, você aceita algo para beber?
- Uma água. Estou tão agitada que não tenho nem sede, talvez a água me acalme. Cadê o bruninho? - Bruno é o filho do Lucas, um baby gostoso de apertar de uns 3 anos, ele tambem é afilhado da Carol, então vivia lá em casa aprontando. Eu nunca quis filho, mas me alegrava cada vez que ele ficava um tempo lá em casa.
- Ele está na escola. Quando der cinco horas eu busco ele. Com essa bagunça toda aqui em casa, achei melhor deixar ele lá mesmo. Se eu trouxer vai que ele absorve desse medo todo.
O Lucas está desolado, você sabe que a Carol é quase uma mãe pra ele.
- Eu sei, os dois são muito ligados mesmo. Eu percebi que era alguma coisa com ela quando eu liguei, pela voz dele deu para perceber.
- Realmente, ele está perdido. Assim que a Clara avisou ele, saimos correndo para a delegacia.
- Porque a Clara foi buscar ela no aeroporto, e mais ainda porque ela voltou? Não faltava mais algumas semanas para isso?
- Chris, acho melhor isso você conversar com ela, eu não quero me envolver. O Luc que iria no aeroporto, mas ele ficou preso com um paciente na clínica e pediu para a Clarinha ir no lugar dele. Ela que viu tudo, o cara, a Carol, o carro que eles entraram. Ela estava lá na delegacia com a gente, fazendo retrato falado, essas coisas.
- Ai, ainda bem que ela avisou vocês, eu não tenho saco nenhum com a Clara.
- Ela é um amor de pessoa Chris. Tambem estava tão perdida lá na delegacia. Eu não sabia quem eu deveria apoiar mais, o Luc ou ela.
- E ela ve a Carol entrando em um carro qualquer e não faz nada? Pegou a placa pelo menos?
- Eu não sei Chris, quando ela chegar vemos melhor isso. Depois da delegacia ela iria vir para cá, o Lucas achou melhor ficarmos todos concentrados aqui.
- Melhor mesmo, se os caras pedirem resgate ou vai ser pelo meu telefone ou pelo do Lucas.
- Chris, quero já te antecipar uma coisa.
- Bomba? Mais uma?
- O Lucas sabe que você está com aquela garota. Ele está muito puto e chateado com isso, ele protege muito a Carol e assume os problemas dela como dele. Você sabe disso! Ele nem queria te ligar pra avisar do sequestro. Falou que se você rejeitou a Carol, não precisava saber do sequestro dela. Então pega leve quando ele chegar, vamos focar na Carol. Ela precisa de todos nossos esforços para sair bem disso. Posso contar com você?
- Jaque, não tenho mágoa ou raiva alguma do Lucas. E se eu estou com a Malu, esse é o nome da outra, não cabe a ele. A Caroline escolheu ir embora, estou aqui em respeito aos muitos anos que vivemos juntas e ao carinho que tenho por ela. Ela ainda é minha esposa, nem que no papel só.
- Mais um toque mesmo, você sabe como o Lucas é.
Ficamos lá na sala dela por um tempo, conversando. Uma ou duas horas depois a Clara chegou. Dava para perceber também como ela estava abatida, assim que me viu teve uma expressão de raiva que preencheu ela. Mas posso dizer que ela é quem eu menos me importo com a opinião, tanto porque as vezes que a Caroline aprontava algo, como virar a noite operando, se é que ela passava a noite no hospital, era sempre a Clara que me avisava. Sempre achei isso bem estranho e ao menos suspeito.
- Dona Cristiane!
- Clara. - Esse foi o modo mais educado que achamos de nos cumprimentarmos. Deu pra reparar o quanto o rosto dela estava inchado de chorar. Nunca fui fã dela, mas tenho que considerar que ela deve estar sofrendo bastante. Já eu, estou mais aflita e agitada que triste ou algo assim, essa ansiedade é absurda, não temos notícias da Carol, nem do Lucas. Nenhum sequestrador ligou, ninguém pediu resgate. Isso me agoniza, me deixa puta, ansiosa.
O silêncio no apartamento do Lucas só não foi maior porque a televisão estava ligada e logo o Bruninho chegou, alegrando todos que estavam na casa. Assim que ele entrou, me deu um beijo e um abraço, pulou no meu colo e perguntou onde estava a tia “Caol”. Brinquei com ele um bom tempo tentando me distrair e entreter o menino.
Lá pelas 19h ou 20h, o Lucas chegou do aeroporto, com a mala vermelha, que realmente era a mala da Caroline. Mesmo que fosse de outra cor, pela organização absurda daquela mala, eu posso garantir de pés juntos que é da Carol. Não deve haver outro ser humano no mundo que vai e volta de uma viagem com a mala organizada desse jeito, roupa suja de um lado, roupa limpa de outro, todas dobradas.
O Lucas estava completamente acabado, eu posso dizer que nunca vi ele desse jeito. Estava com a camisa social dobrada nas mangas e com a gravata afrouxada. O rosto estava inchado, os olhos vermelhos, ele parecia muito mais velho que seus 28 anos, deve ter envelhecido uma década nessa tarde. Assim que ele chegou abraçou o Bruninho, um abraço longo. Acho que do mesmo modo que eu abracei o menino, aproveitando a pureza e a inocência dele, tirando energias boas.
- Como foi lá na delegacia Dr ? Conseguiu algo? - a Clara perguntou, cafungando o choro, procurando se acalmar.
- Conseguimos a gravação do aeroporto. Bate com o rosto que você descreveu. O delegado vai confirmar, mas eu acho que conheço o cara que sequestrou a Carol. Chris, você lembra do Puca?
- Puca? Cirurgião?
- Ele mesmo. Eu acho que foi ele que sequestrou a Carol. O delegado vai rastrear, fazer essa coisas que eles fazem, confirmar se era o Puca mesmo. O foda é que eu não sabia nem a porr* do nome dele pra falar, só sei o apelido. Contei o pouco que eu sabia dele.
- Quem é esse Puca amor? - A jaque perguntou.
- Puca é um cara que fez faculdade com a Carol. Não lembro o nome dele. Ele fez cirurgia lá no hospital, mas deu um surto nele e ele sumiu do mapa. Ninguém mais sabia onde ele estava ou para onde tinha ido, não sabiam se tinha morrido ou nada. Na época gerou uma discussão muito grande, do quão pesado eram os programas de residência médica, como afetavam a saúde dos estudantes e tudo mais. A real é que o cara sempre foi meio loucão, usava várias coisas nas festas. Teve uma vez que a polícia bateu lá na faculdade e ele tava com um monte de droga, quis fugir pelo bosque da atlética, deu um rebuliço absurdo. O cara era pirado.
- Tem a foto dele ai Lucas? - eu perguntei, poderia tentar ajudar em algo.
- Não tenho Christiane, o delegado não deixou trazer - ele respondeu muito seco pra mim. - Você não tinha que estar com a sua namorada ou seja lá o que voces são?
- Não é o momento Luc - a Jaque cortou ele, com um olhar que quase me deu medo.
- Eu vou tomar um banho, estou com cheiro de hospital, misturado com delegacia. Preciso de uma roupa confortável. Jaque, fica com o meu celular, se alguém ligar você me chama ok?!
Ele olhou mais uma vez pra mim, com raiva, mágoa, não sei bem o termo para determinar aquilo tudo. Seguiu pelo corredor e sumiu aos olhos de todos.
A cada minuto que passava eu ficava mais agitada, ansiosa. Não temos nenhuma noticia, nada. Não posso deixar de pensar na Carol em um lugar escuro, sujo, ela chorando. Só de pensar essa cena meu coração aperta, doi.
Peguei meu celular para dar uma olhada, ver se ajudava a passar o tempo. Quando bati o olho tinha um montão de mensagens da Malu que eu passei a tarde toda sem responder. Onde você está? o que aconteceu? Está tudo bem? Posso te ajudar em alguma coisa? Mil mensagens desse tipo, a Malu é linda, protetora. Mas a real é que nesse momento eu estou com uma bomba nas minhas maos, uma puta bomba. Não pensei que a Carol fosse voltar agora, muito menos que fosse ser sequestrada, a Malu ainda está lá em casa e precisando de cuidados, não sei o que eu sinto nem por uma nem por outra, sem contar de que em nenhum momento eu falei pra Malu que eu sou casada e estou me divorciando, ela praticamente não sabe da existência da Carol, ela no máximo sabe que eu divido minha casa com uma médica que foi para Portugal.
O Lucas voltou do banho com uma carinha bem melhor, estava mais calmo. Colocou uma camiseta larga, aparentemente bem confortável e uma bermuda. O cabelo molhado, penteado de lado, fez retornar o ar jovial dele. Mas os olhos fundos e as orelhas não sairam no banho não. Ele foi direto para o lugar que o bruno estava brincando e pegou o filho no colo. o Lucas é um paizão, isso eu posso confirmar. O pai deles foi embora quando ele era pequeno, com uns 11 ou 12 anos, logo depois da morte da mae deles por cancer. A Carol que assumiu a criação do Luc, por isso eles são tão proximos e unidos.
- Luc, telefone pra você. Dra. Fernanda, de Portugal - a Jaque apareceu na sala, com o celular na mão, uma cara branca, palida.
- Ai Caralh*, a Caroline deu meu telefone pra Fernanda - Ele falou isso baixinho, mas consegui ouvir completamente. E não fui capaz de me manter atonica.
- Quem é Fernanda? -
- Agora não Chris, por favor
- Não o caramba Lucas. Quem é? - ele tampou o microfone do celular e saiu em direção ao quarto sem me responder. Mas eu sei o que significa, deve ser a mulher que fez a Caroline ir para Portugal. Eu sabia que tinha mulher na jogada, sempre soube disso. Como eu sou idiota, eu aqui me preocupando com a Caroline, que foi sequestrada e ela já tem outra, sempre teve. Eu sou uma idiota mesmo.
O Lucas demorou um tempinho até voltar para a sala. Eu já estava em pé, agitada demais para esperar calmamente. Acho um absurdo isso, principalmente porque ele tem coragem de pedir satisfação por eu estar com a Malu e a irmã dele ter uma mulher em Portugal. É o tipo de palhaçada que eu não aceito. Quando ele voltou, o rosto dele já estava cansado e preocupado mais uma vez.
- Vai responder agora ou vai sair de novo?
- Chega Christiane, já deu. Não se esqueça que você está na minha casa, e aqui o minimo é respeito a minha familia. Se quiser ficar e aguardar será bem vinda, mas se não está satisfeita a porta da rua é serventia da casa. Eu já tenho muita coisa para resolver no momento. - ele respirou fundo, olhou para a Jaque e falou - Ela está pegando um jato, deve chegar amanha cedo.
Peguei minha bolsa e sai, sem olhar para ninguem, sem dar tchau, sem abraçar o bruninho, sem absolutamente nada. Quando sentei no carro desabei, completamente, em lagrimas e raiva.
Fim do capítulo
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rhina
Em: 21/02/2020
Oie
Boa tarde.
Cara está para existir uma pessoa mais idiota, egoísta e egocêntrica do que a Christiane.
Parece que ela é......nem sei . como se ela não enxergasse nada alem do próprio mundo......ali so ela e suas vontades......suas opiniões.....
Puxa mais o qie será que aconteceu com a Carol?
Rhina
Thaci
Em: 17/09/2018
Boa noite,autora!!!
Essa Chris é uma sem noção. Como ela consegue colocar uma outra pessoa na casa que ela dividia com a Carol. E acima de tudo mentir pra essa pessoa. Eu quero vê quando a Malu descobrir.
E onde será que está a Carol neste momento?
E a Fernanda o que ela irá fazer pra encontrar a Carol?
Aguardando cena do próximo capítulo. Nota mil sempre.
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preguicella
Em: 17/09/2018
Mas gente, tá pra existir pessoa mais idiota, egoísta, egocêntrica que a Cris. É tão o mundo é meu umbigo que não se toca que tá ferrando duas pessoas, Malu e Carol. O pior é que sabe que tá tão errada que não teve nem coragem de dizer que está separando. Olha que estou dando o benefício de dizer que está separando.
A sequestrada tinha que ser ela! Otária!
Confesso tb, que a visão dela da história não estava fazendo a menor falta! hahaha
bjãoo e até o próximo!
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JeeOliveira
Em: 17/09/2018
sentia falta nenhuma dac Chris na historia, sinto que agora que vai perceber as merdas que fez
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JeeOliveira
Em: 17/09/2018
sentia falta nenhuma dac Chris na historia, sinto que agora que vai perceber as merdas que fez
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