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Linha Dubia por Nathy_milk

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Palavras: 5548
Acessos: 3508   |  Postado em: 02/09/2018

Capítulo 29

Capitulo 29 - Fernanda


Já estava escuro quando finalmente chegamos ao aeroporto de tras os montes e eu deixei a Carol para o embarque. Assim que paramos na lateral do aeroporto, meu coraçao apertou como talvez nunca tenha apertado. Ela me olhou séria, sem saber exatamente o que fazer naquele momento. Eu desliguei o radio, que ela mexeu a viagem toda, quase me levando a loucura. Quando a musica cessou, o silencio se fez gigante entre nós. Eu olhei um tempo para frente, como se eu pensasse em que falar ou em que fazer. Mas a Caroline foi muito melhor que eu, sentou-se de lado e delicadamente passou a mão no meu rosto, virando meus olhos para ela.

- Fer, linda, isso não é um ponto final. Em menos de um mes eu volto. Te prometo.

- Não sei se devo acreditar e me prender a isso princesa. Sabes meu medo, sabes que temo que vejas a louca e queiras voltar pra ela. Sabes disso.

- Meu anjo, você foi a melhor coisa que me aconteceu nos ultimos meses, já te falei, só não volto se você me pedir para não voltar, caso contrario, só vou organizar as coisas e volto. Tem certeza que não quer ir comigo?

- Não vou junto com você, você tem que resolver isso tudo sozinha e decidir mesmo se quer largar seu casamento para tentar uma vida em Portugal. E outra, eu já tenho reuniões marcadas, coisas pra fazer. É só meu coração que está apertado, como se não fosse te ver mais ou se fosse acontecer algo ruim.

- Ai credo Fer, nem me fala isso. Eu já tenho tanto medo de avião. Não preciso de mais medo.

- Não princesa, nada vai acontecer de ruim. É só uma sensação minha mesmo, esquece.

- Orientações para o mes que eu estou longe

- Pra mim?

- Claro mocinha

- Até parece, eu me cuido bem sozinha.

- Sei. Vou fingir que acredito. Orientação 1, favor manter distancia da Melena.  - comecei a gargalhar, enquanto ela estava séria. Não creio que a orientação dela é ficar longe da Milena, que ciumenta essa garota - 2, não dar biscoito pro Pingo, ele tá gordo, 3 - não desmarcar paciente por pura preguiça de atender, 4- não esquecer do quanto você gosta do meu beijo e do sex*.

- Esse ultimo eu não vou esquecer nunca -  Puxei ela para mais perto e enchi a Carol de beijinhos.

- Fer, eu morro de medo de avião e adoraria ficar com você aqui no  carro pra sempre, mas acho que eu tenho que ir embarcar. Quanto mais rapido eu for, mais rapido volto.

- Não esquece de me avisar quando chegar no aeroporto e tudo mais. Hoje eu vou passar a noite aqui em Tras os montes e amanha pelo menos a manha. Quando eu for pra Urros não vou ter internet, mas sempre que der eu te ligo.

Ela abriu a bolsa e procurou um papel. Me entregou.

- Esse aqui é o telefone do Luc, meu irmão. Esse aqui é o da clinica, esse da Clarinha - sei que elas são amigas, mas não resisti  a fazer uma carinha de ciumes, que ela deu risada - Esse é o numero da minha casa, mas como eu não sei como as coisas vão estar lá, eu prefiro nem te passar esse. Vou te mandando mensagem o tempo todo, mesmo você estando sem sinal, porque ai quando tiver, recebe todos meus recados. Qualquer coisa, caso não consiga falar comigo, ou sei lá eu, liga pro Lucas. Ele é um bobão e idiota, mas é um amor de pessoa, sem contar que ele deve estar louco pra falar com você e dar risada da minha cara, então se precisar, pode ligar pra ele ok? E em geral a Clara sempre sabe onde eu estou, ela é uma boa opção de contato. Certo meu amor? - Meu coração apertou mais ainda. Realmente essa era uma despedida.

Eu abri o porta luvas do carro e entreguei pra ela uma caixinha prateada, de papel, com um laço vermelho. A embalagem bonita foi ideia da Antonia, eu não tenho muito talento com essas coisas.

- Aqui dentro tem um presentinho simples pra você, uma coisa que fiz ontem, enquanto fomos na encosta do Douro. É algo mais simbolico, pra você lembrar de mim quando estiver no Brasil.

- Fer, eu não comprei nada pra você.

- Princesa, não é pra trocar presente. Apenas estou te dando um. Espero que você goste, é simples. - Ela ficou com as bochechinhas vermelhas de novo, de um jeito muito fofo, que eu acho lindo. Colocou o pacotinho de presente em cima da perna. Primeiro colocou o cabelo atras das orelhas, mas ele voltou a cair no rosto, então fez um coque nele mesmo, fazendo ele ficar todo bagunçado e estupidamente sexy. Abriu o pacote toda séria, com um receio sobre o que poderia estar ali, entendo a Carol, eu tambem estaria com medo, mas é cedo demais para esse medo. A correntinha que eu mandei fazer pra ela brilhava na caixinha, e embaixo dela, havia uma foto, que tiramos no Douro. Realmente era uma coisa simples, mas de completo coração.

- Que linda Fer. Eu adorei.  - Ela levantou a correntinha e olhou pra ela, balançando para avaliar por completo - Não precisava ter gastado dinheiro comigo.

- Carol, é uma coisa simples. Uma correntinha de ouro que mandei fazer pra você e uma foto nossa. Essa pedra é um cristal que tem na costa do Rio Douro, eu não lembro o nome, mas achei lindo quando vi. Você é uma pessoa muito especial pra mim, muito mesmo. Talvez eu possa, um dia te mostrar isso, mas no momento é só um presentinho.

Ela ficou de costas pra mim e pediu para que eu colocasse a correntinha em seu pescoço. Coloquei e enchi ela de beijinhos em volta do colar. Nos beijamos mais algumas vezes e eu precisei, infelizmente, me despedir dela.

- Apesar de eu odiar isso, acho que se você não for, vai perder seu voo e eu não vou ser culpadas por isso.

- É mesmo, eu preciso ir. - Ela segurou mais uma vez minha mao e olhou nos meus olhos - Obrigada por cada minuto desse mes que você me acompanhou, não por aquela parte de você ser mala e grossa, mas por todo o resto. Fer, você é uma pessoa unica no mundo, nunca deixe ninguem te dizer menos que isso ok?! Nos vemos em um mes! -  Demos mais alguns beijinhos e ela finalmente tomou coragem de levantar e sair do carro.

Minhas pernas estavam moles, sem sensibilidade, perdidas abaixo da cintura. Eu não tive forças para levantar, abrir a porta pra ela ou algo desse tipo, coisas que eu deveria ter feito. Apenas consegui ficar no carro, no banco do motorista, olhando ela ficar cada vez menor e se perder no aeroporto.


Fiquei estacionada no aeroporto por mais um tempinho, até me sentir melhor para seguir em frente. Do aeroporto eu deveria ir para a base, passar a noite lá e amanhã, por volta do meio dia, retornar para Urros. O caminho entre o aeroporto e a base não era muito distante, eu coloquei o GPS para me ajudar e uma boa música. Dei risada sozinha, a Carol me enlouqueceu o dia todo mudando de musica a cada segundo, mas eu estou sentindo falta, como pode isso? Chega a ser estranho dirigir sem ela reclamando que a música é velha ou pra baixo.

Cheguei na base, e fui direto para o refeitorio, ver se ainda tinha algo perdido para eu jantar. Não tinha mais nada, mas a copeira deu um jeitinho e preparou uma carne para eu comer, realmente estava verde fome. Depois de comer subi para os dormitórios, em geral não temos camas especificas  ou reservadas, mas venho tanto aqui eu meio que já tenho a minha, a mesma que ficava ao lado da Carol ou melhor, que ela ficou nem 3 dias. Dei risada novamente, tao pouco tempo juntas e já tenho lugares que me lembram ela.

Coloquei minha bolsa em cima da cama e sentei um pouco para mexer no celular e descansar a carcaça. Quando olhei o celular tinha uma mensagem dela: “ Estou embarcando no avião. Tenho medo desse treco, posso tomar um pouco daquele seu vinho pra dormir  e viajar tranquila? hahahahaah. Te aviso quando chegar em Porto.” Tadinha, ela realmente deve ter medo de avião, eu na verdade acho um barato, se eu pudesse voava todo dia.

Respondi: Volta logo pra Urros que te garanto sempre vinho gelado. Boa viagem.

Mais uma vez dei risada de mim mesmo, em Portugal em decorrência do frio, um padrão cultural mesmo, não temos o costume de tomar banho todos os dias, mas esse tempo que a Carol, brasileira, esteve aqui, reclamou tanto comigo que posso dizer que voltei ao hábito brasileiro de banho diário. Está nevando lá fora, deve estar uns 5 ou 6 graus negativos, e eu aqui me obrigando a ir tomar banho, não acredito que ela tenha toda essa influência sobre mim.

Com muita força de vontade e fé no espírito, puxei minha mala para pegar uma toalha e uma roupa para tomar banho. Não levei muita coisa, apenas uma malinha para passar a noite e uma muda de roupa para amanhã cedo. Quando abri minha mochila tinha um ursinho, na verdade um cachorro dourado de pelúcia. Achei estranho. Eu não tenho um cachorro de pelúcia, na verdade nem sou muito fã dessas coisas. Peguei o bichinho e olhei atentamente ele. Quando coloquei ele mais próximo ao rosto senti  o cheiro levemente ácido da Carol, o bichinho tinha o perfume dela. Ai já é demais, eu pensar nela é aceitável, mas ficar imaginando que o ursinho tem o cheiro dela é loucura de mais.

Coloquei o cachorrinho em cima da cama, pensando se veio da Caroline ou não esse bicho. Imagina eu, toda bruta, séria e mal encarada, dormindo com um ursinho de pelucia, ve se pode. Peguei uma muda de roupa, toalha e o que mais eu precisava para tomar banho.


No caminho da volta do vestiário, eu já de pijama e relativamente quentinha, estava zapeando algumas músicas no celular, quando chutei alguma coisa. Mas que cacete, quem perde papel assim? Era uma folha de sulfite dobrada graciosamente como um envelope. Não tem identificação, vou ter que abrir essa coisa para tentar descobrir o dono, mesmo sendo errado eu abrir carta dos outros. Apesar que tem tanta pouca gente hospedada na base, que vai ser fácil eu identificar quem é o dono do bilhetinho, que deve ser de amor.  

     “ Maçores, 05 de novembro,


A pediatra mais birrenta e meiga desse mundo todo


        Fernanda, talvez você não tenha ideia de como pra mim está sendo difícil escrever essa carta e mais ainda, como está sendo difícil arrumar minhas malas para ir embora de Portugal. Esse mês que passei aqui teve muito significado pra mim, não apenas do ponto de vista profissional, como do ponto de vista pessoal. Na verdade teve mais significado pessoal.

       Cheguei em Portugal pouco mais de um mês atrás, completamente quebrada e destruída. Hoje volto para o Brasil, uma pessoa mais forte, mais corajosa e principalmente, apaixonada. Apaixonada por esse pequeno vilarejo, por esse hospital, por essa população e por essa pessoa linda que você é.

       Nosso começo foi bem difícil, você deve se lembrar, eu brava com toda sua marra, eu chorava e você dava risada. Mas aos pouquinhos, você foi me conquistando, me mostrando seu lado alegre, carinhoso e cuidadoso. Me perdi em pensamento em cada uma das noites que acabei dormindo ou no seu colo ou você no meu.

Sei que temos muito ainda a nos conhecer, mas saber que você confiou em mim para contar seus piores temores, me mostra que estamos no caminho de uma coisa linda que podemos construir juntas.

O próximo mês será um espaço para que possa pensar o quanto pretende arriscar para ficarmos juntas, enquanto pra mim será o tempo de reorganizar minha vida,  me divorciar efetivamente e estar completamente livre para você, mas já te adianto, meu coração você já ganhou.

Só quero que esse mês passe muito rápido e eu resolva logo as minhas coisas no Brasil, quero voltar logo para Urros, para seus braços e para você.


                                                    Um super beijo no seu pescoço,


                                                                   Carol.


PS: Encontrou o Pingo de pelúcia? Caso não, surpresa, procure ele na sua bolsa. Caso sim, abrace ele, deixei ele com o meu perfume, para que você não esqueça do meu cheiro. “


Em que momento ela escreveu essa carta? Eu adorei. Não creio que estou me derretendo por ela, juro que não creio. Até estou tentando ser firme, bruta, continuar na defensiva, mas essa mulher me conquistou completamente. Ontem a noite de sex* foi deliciosa. Ficarmos juntas, conversando até de madrugada, foi melhor ainda. Me senti muito bem depois que contei sobre o meu pai pra ela, e o fato de ela não ter levantado e ido embora naquele momento significa muito pra mim.

Aproveitei a cama arrumada e me deitei, queria dormir rápido para não pensar na Carol e na saudade que crescia no meu peito ou na sensação de algo ruim que também estava aqui. Peguei o cachorrinho que ela me deu, dei uma cafungada dele e fechei os olhos, lembrando dos detalhes da noite de ontem.

 

- Você se sente culpada por alguma dessas coisas? Porque não vejo culpa sua em absolutamente nada. - A Carol me perguntou, depois que contem sobre o meu pai.

- Hoje não mais, mas na época que fui pro Brasil, pra mim, eu era culpada de absolutamente tudo. E por isso começou a minha fase, digamos negra, eu usei de tudo, de todas as drogas que você possa pensar e dizer o nome. Não sei se por querer esquecer ou por querer me matar, não sei. Usei de tudo e um pouco mais dos meus 16 aos 18 anos mais ou menos. Nessa época eu tive uma overdose e quase morri. O médico que me atendeu foi quem me deu uma luz para seguir em frente, me protegeu, me ouviu, me direcionou para atendimento. Se hoje sou médica, e principalmente, se hoje estou viva é por causa dele, sem ele eu não teria seguido em frente, não teria saído daquela vida. Ele é um médico brasileiro, um pneumologista, que trabalhava na emergência quando eu cheguei de ambulância, Dr. Braga.

- Vem cá meu amor - ela me ofereceu o colo dela e me encheu de cafuné. Eu fiquei quietinha, sem falar, chorando em silencio.  Percebi que ela estava dando um tempo pra mim, posso dizer que só o fato dela não ter levantado nesse momento e me largado já foi um grande passo. Acabei pegando no sono.

Acordei um tempo depois, ainda deitada na perna dela e ela jogada na cama, mexendo no celular. Assim que levantei a cabeça, recebi um sorriso lindo dela. Como não me apaixonar por essa princesa?!

- Quanto tempo eu dormi?

- Acho que pouco Fer, meia horinha, uns 40 minutos. Deixei você quietinha aí e acabou pegando no sono.

- Obrigada por me dar esse tempo, respeitar esse meu momento.

- Fer, você me contou uma coisa muito dificil pra você, não tenho nada a reclamar, minha função aqui é te dar o apoio que você precisar, sempre.

- Você não vai embora? Me deixar?

- Por que? Pelo que me contou? Nada a ver. Vou te deixar por um mês ou menos e já volto, vou ali no Brasil e logo colo em você de novo. Porque iria embora?

- As poucas pessoas pra quem eu contei isso, foram embora. Uma quando eu contei do meu pai violento e a outra quando eu falei das drogas.

- Fer, o que me encanta em você é quem você é agora, o que teve no seu passado foi passado, necessário para criar a Fernanda de hoje, forte, decidida, madura, chata. A Melena sabe disso tudo?

- Ela praticamente viveu isso comigo. Via diariamente meus hematomas ou meus cortes, me escondia algumas noites. Ela não sabe da parte das drogas, nesse período eu trocava email com ela, ficamos anos sem nos ver.

- Você sente falta da droga? De usar? Do barato?

- Nem um pouco, nem nos momentos de raiva. Eu usava para esquecer meus problemas e para tentar me matar, as vezes mais um, as vezes mais outro. Depois que comecei a me tratar, acompanhar com terapia, entender que não era culpada pela bosta de pai que eu tinha, passou o sentido de tudo aquilo. Teve o tempo de necessidade quimica, biologica, que o corpo sentia falta da droga e eu queria um pouquinho, mas isso foi mais na fase da desintoxicação, mais no começo do tratamento. Não sinto falta nenhuma de ficar babada, jogada na rua, sem saber nem como é ficar sentada. Eu realmente fui ao fundo do poço.

- Está a quanto tempo sem usar nada?

- 15 anos, eu usei até os meus 18 anos, quando tive a overdose.

- Fer, desculpa eu ficar te perguntando essas coisas, mas é o jeito que tenho para te conhecer melhor, saber mais sobre você. Mas se for doloroso demais, nem falamos nada.

- Doloroso é sim Carol, mas você tem que estar comigo sabendo todas as cartas, tanto as boas como as ruins. Para que se, aceitar ficar comigo, não seja só esperando meu melhor, vai ser sabendo que eu tenho um lado ruim tambem.

- Linda, eu não vou embora, vou ficar por aqui. Tenho que ir ao Brasil finalizar o que eu deixei em aberto, apenas isso. Não quero te prometer nada até eu estar completamente livre para assumir algo oficial com você, mas saiba que estou com você de coração já. Até meu corpo você já teve, provou e testou. Fala sério Fernanda, pra mim, isso é prova de que não vou fugir de você.

Beijos, beijos e mais beijos, carinho, cafune e risadas, fecharam a conta da noite de ontem. Dormimos sem roupa, com nossas peles nos aquecendo embaixo de diversas cobertas, abraçadas. Hoje acordamos cedo,o trajeto foi seguir de Maçores a Urros, para ela pegar a mala e suas coisas, depois seguirmos para Tras os Montes, para a Carol pegar o avião.

Antes de sairmos de Maçores, ela se despediu da Antonia, que entregou pra gente uma marmitinha de biscoitos e pastéis de nata para a viagem. Em Urros, o processo foi até que rápido. Posso dizer a vocês, a Caroline é estranhamente organizada, em menos de meia hora, a mala dela de um mês estava pronta. Ela não levou tudo, deixou algumas peças na minha casa, mas a maior parte das roupas levou de viagem pro Brasil.

 

Acordei no dia seguinte assustada com o barulho do meu celular. Quando bati o olho e vi que já se passava das 4 horas da manhã, e na tela brilhava um número desconhecido. Atendi e descobri que era engano com uma senhora procurando o Pedro. Definitivamente não conheço nenhum Pedro, muito menos às quatro da manhã. Fechei os olhos novamente, tentando pegar no sono, mesmo na ausência da Caroline, que ocupou minha cama nas últimas semanas.  

Putz, Caroline… será que ela mandou alguma mensagem?  Abri os olhos novamente, não com tanta dificuldade quanto antes, olhei rapidamente o celular e minhas mensagens. Lá embaixo, de umas 4 horas atras havia a fotinho dela. Quando abri, falava o seguinte: “Fer, meu anjo, você deve estar dormindo. Acabei de aterrissar em Porto. O voo foi tranquilo. Vou ficar aqui enrolando até o horario de embarcar para o Recife. Vou te avisando, bons sonhos.”

A outra mensagem, pouco antes dessa, mais recente, falava: “Fer, linda. Estou embarcando para o Brasil. Esse voo vai demorar umas 10 ou 11 horas se tivermos sorte. Reza pra ele não cair e eu ficar perdida igual em “LOST”. Quando eu chegar lá te falo, beijo. Já estou com saudades.”

Eu sorri quando li isso, já estava com saudades de mim, espero que não seja algo apenas instantâneo. Se ela realmente já estiver com saudades, ganhei meu dia. Meus olhos já estavam se fechando novamente, não pude esperar muito, me entreguei aos braços de Morpheus.

Eu estava em uma maca, na emergência de um hospital, eu já estava adulta, como hoje em dia. Não sei bem que hospital é, mas não me é estranho. Senti a maca tremendo embaixo de mim, correndo. Onde estou?

Ao fundo havia a voz de um homem, ele gritava com toda a equipe. Eu continuava olhando para o teto, tentando descobrir onde estava. Eu não consigo me mexer, não tenho forças, tento, empurro, mas meus braços não se mexem.

O homem continua gritando com todos. Ele está nervoso, algo não está certo. Sinto meu corpo relaxar, relaxar muito. Onde estou? Um choque no meu peito, minha pele está queimando. Sono. Muito sono.

Acordei novamente, é um lugar diferente, tem muito barulho em volta, ainda tenho sono. Consigo me mexer agora, mas meus braços estão amarrados em algum lugar. Tem varios aparelhos do meu lado, com varios numeros, varios apitos. Tem um homem na minha frente. Quem é ele? Ele deve ter uns 40 anos ou mais, os cabelos tem fios brancos, ele usa oculos, é um senhor bem elegante, mas parece cansado, triste, está apreensivo. Quando percebeu que eu estava olhando pra ele abriu um sorriso bonito, calmo. De quem é esse sorriso? Me lembra alguem.

- Meu anjo qual é o seu nome? Você lembra?

- Quem é você? Te conheço?

- Eu sou o Dr. Braga. Te atendi no pronto socorro. Você lembra?

- Onde eu estou? É um hospital?

- Sim, aqui é um hospital. Você chegou ontem a noite na emergencia, eu estava de plantão. Você teve uma intoxicação por drogas, eu atendi você. Qual é seu nome meu anjo? Você é portuguesa?

- Fernanda, Fernanda Ganate. Sou de Maçores.

- Fernanda, que lindo nome. Hoje você tem que descansar, mas depois quero conversar mais com você ok?! Tudo bem?

- Não vai embora doutor. Fica aqui. Porque estou amarrada?

- Ontem você precisou de alguns tubos, porque sua respiração estava ruim e seu coração falhou algumas vezes, por causa da quantidade de cocaína que você usou. Precisei colocar esses tubos para te monitorar e deixar você melhor. Como você estava dormindo, queria arrancar tudo -  eu sentia uma calma absurda na voz dele, como se ele se sentisse mal por mim, um cuidado paterno que nunca tive, nunca vivenciei.

- Não vou arrancar nada. Pode me soltar. - ele foi delicado e soltou a fita que prendia o meu pulso.

- Fe, porque usou tudo aquilo?

- Eu queria morrer, não aguento mais isso. Não quero mais essa vida.

- Fe, vou te fazer uma proposta e você pensa com carinho, tudo bem? Posso te oferecer tratamento para você melhorar, dessas drogas e dessa vontade de morrer. Não vai ser fácil, mas posso ajudar você, estar junto.

- Por que está fazendo isso?

- Fernanda você tem a idade da minha filha, você me lembra muito ela. -  ele levantou da cama, colocou a mão no bolso de trás da calça e tirou a carteira, eu apenas observei, esse cara deve ser louco. Pegou a carteira, abriu e tirou uma foto de la. -  Esses são meus filhos, esse é o Lucas, tem 7 anos, essa é minha esposa, e essa é a Marmota, tem 14 anos.

- Marmota? Esse é o nome dela Dr?

- Hahahaha não. Mas é assim que eu chamo ela. Ela passa o dia todo enrolada na coberta - olhei com mais calma e foto, eram 2 crianças muito bonitas. O menino tinha o cabelo tigelinha, meio dourado. A menina era linda, tinha o cabelo preso em um coque e usava óculos, bem cara de intelectual. A esposa tinha uma expressão abatida, mas todos aparentavam estarem felizes, sorriam na foto

- Com todo respeito dr, ela é linda.

- Você achou tambem? É minha filha, mas é linda mesmo, ela é minha princesa. Sou um pai babão. Quantos anos você tem Fernanda?

- Tenho 17.

- E onde estão seus pais?

- Meu pai é português, me chutou da casa dele e me mandou pro Brasil, com um dinheiro e o endereço da minha mãe. Ela não quer filha drogada, muito menos sapatão. Me chutou também. Eu tenho emancipação, respondo por mim.

 

O barulho do despertador me assustou e me puxou do sonho. Sentei na beira da cama, atordoada. Era isso, agora tudo fazia sentido. Eu sabia que lembrava da Carol de algum lugar, ela é filha do Dr Braga, como eu não havia percebido? Como?

 

O dia passou arrastado entre mil reuniões. De manhã me reuni com a Marcela para planejamento de orçamento, depois me reuni com a equipe que está responsável pela engenharia da maternidade, um saco todas as reuniões. Antes do meio dia meu celular tocou me tirando finalmente daquela conversa inútil sobre plantas e estruturas. A imagem da Caroline na tela do celular foi como uma cerveja trincando no pico do calor de 40º, uma salvação.

- Funciona celular na ilha do LOST?

- Para sua bobona, o avião não caiu - ela falou com uma voz de criança birrenta. Eu não aguentei e dei risada dela, que ficou brava -  Para de rir de mim, eu tenho medo de voar nessas coisas.

- Apesar desse seu medo todo, como foi o voo?

- Acabei de chegar em Recife, mais uma hora aqui esperando e embarco para São Paulo. Foi até que tranquilo, eu dormi o tempo todo, nem olhei pro lado. Como você está? Tudo bem?  - pensei em falar do sonho que tive, mas melhor mesmo é esperar e depois conversar com ela pessoalmente, é algo importante pra mim.

-Eu estou bem, foi estranho dormir sem você. Já está fazendo falta. Qual a sensação de voltar no tempo, por causa do fuso horário?

- Horrivel, ta clareando ainda, parece que a noite não tem fim, tem mil horas.

- Hahahaha, te entendo. Vivi isso algumas vezes, voar sentido o fuso é tranquilo, o ruim é voltar o fuso.

- Amor, vou pegar alguma coisa para comer e depois ir para a sala de embarque. Depois que eu chegar em São Paulo eu te aviso. Juizo aí Fernanda.

- Juizo você também Caroline. Tenho olhos e ouvidos aí!

- Hahahah Bobona sempre. Vou indo. Beijos.

- Tchau linda, boa viagem.

 

Respirei fundo, peguei um café bem forte no refeitório e voltei para aquela reunião chata que a Marcela havia inventado. Santo Deus, como alguém é capaz de trabalhar com tantos números e variáveis? Nem a plantação de azeite tem dessas. Sério já falei pra Marcela que se eu quisesse administrar algo, ficava em Maçores na fazenda, tô dando o dinheiro, não quero papel.

Ela encheu meu dia de reunioes, eu acho que pra não deixar eu pensar na viagem da
Carol, sabe, pra fazer eu me ocupar. Mas a real é que a minha cabeça estava completamente na noite que tivemos juntas, na saudade que eu já estava, na sensação de que algo estava errado e na ansiedade dela não me mandar nenhuma mensagem.

A cada 10 minutos eu olhava o celular, nenhuma mensagem dela. Eu mandei perguntando se já tinha chegado, ela recebeu, mas não abriu nem leu. Eu olhei no site do aeroporto de Congonhas, lá falava que o voo já tinha aterrissado. Sabe, essa sensação de coisa ruim me incomodando não é legal, estou nervosa, ansiosa, coração apertado.

 

- Fernanda, aproveitei que você está aqui e chamei a empresa dos monitores para conversar com a gente. Tudo bem?

- Marcela, pode escolher o que desejares. Não me importo.

- Você passou o dia ai no celular esperando uma mensagem dela, deixa esse telefone um pouco de lado e vem ver comigo isso.

- Ela já deve ter chego no Brasil, pelo site do aeroporto, já aterrissou. Porque não me mandou mensagem?

- Deve ter ficado atarefada assim que chegou, viu o irmão, sei lá Fernanda. Não aconteceu nada, só não conseguiu mandar mensagem.

- Será que ela se arrependeu de Portugal?

- Mas gente, cadê a pediatra firme e cheia de si que eu conheço? Para de bobagem, ela deve estar ocupada, apenas isso. Daqui a pouco manda mensagem pra você e  você vai ficar com cara de tacho. Larga esse celular e vem ver os monitores comigo. - a Marcela foi firme na frase, não deixou eu ficar mais tempo no sofa reclamando da vida, quase que me obrigou a ir na porcaria da reunião dos monitores. Juro, mais uma reunião chata dessa e eu corto a verba do hospital, estou definitivamente irritada e sem paciência com nada.

 

Quando sai dessa última reunião bati o olho na janela e já estava escuro, o dia já tinha acabado e nenhuma mensagem da Caroline. Acho que já passou meu tempo de paciência e de esperar, um é por que eu preciso saber se ela tá bem, dois é que me recuso a acreditar que ela já esteja me dando o bode em menos de um dia longe, vou ligar pra ela.

Voltei para o meu quarto no alojamento, que é um lugar mais calmo e silencioso. Mandei mensagem para  a Caroline, esperei mais uns minutos, novamente a mensagem chegou, mas não houve resposta, ela nem leu minha mensagem. Confesso que o medo e insegurança foi batendo em mim, será que esse mês não teve importância nenhuma e ela está me ignorando? Resolvi insistir mais um pouco, liguei pra ela. Uma, duas, tres, quatro, cinco vezes. Nenhuma vez ela me atendeu. A ligação chegava a cair depois de tanto tocar e eu ser ignorada. Não acredito que ela está me ignorando, sem me dar uma única resposta, sem me dar um único sinal, estou muito puta da vida, irritada ao extremo.

A Caroline quer me ignorar? Pois bem, ela vai ter que me dizer isso. Ela não pode sair assim de Portugal, me prometendo mundos e fundos e depois me ignorar. Vou ligar para o Lucas e se ele não me atender também, ligo para a Clara, e se mesmo assim ela não me atender ligo na casa dela ou casa da louca, já nem sei mais. Estou com muita raiva.

Abri minha agenda e achei o numero do Lucas, a Caroline mesmo que havia anotado, não pensei mais meia vez, eu apertei para discar. Chamou uma, duas, no terceiro toque atendeu.

- Pronto. - era uma voz de mulher que atendeu

- Por favor o Lucas, Dr. Lucas. É o celular  dele?

- Só um minuto, quem gostaria?

- É a Fernanda. Dra. Fernanda, de Portugal.

- Luc, telefone pra você. Dra. Fernanda, de Portugal

- Ai Caralh*, a Caroline deu meu telefone pra Fernanda - ouvi uma voz de homem falando isso, acredito que seja o Lucas.

- Quem é Fernanda? - Uma outra voz de mulher respondeu isso, uma voz diferente da primeira, que atendeu o telefone. O Lucas respondeu alguma coisa pra ela, mas eu não consegui ouvir. A ligação ficou muda um tempo, eu aguardei, logo em seguida a voz masculina falou:

- Alo?! Aqui é o Lucas. Fernanda?

- Oi Lucas, tudo bem? Desculpa te incomodar, a Caroline está aí? Eu estou tentando ligar pra ela, mas ela não me atende. Você sabe quem eu sou né?!

- Oi Fernanda, tudo bem? Sei quem você é sim, a Carol me falou bastante de você nas últimas semanas. Fer, eu preciso te dar uma notícia não muito boa, ok?!

- Ai, eu tava sentindo que tinha algo errado. Ela tá bem? O avião caiu?

- Fe, a Carol foi sequestrada no aeroporto. - O que??? Meu mundo parou por instantes, como assim sequestrada? Aquela sensação ruim era um aviso.

- O que? Como assim?

- Não sabemos ao certo ainda. A Clara foi buscar ela no aeroporto hoje, viu ela entrando em um carro preto, escuro, com um homem que a gente não conhece. Depois conseguimos achar a mala dela e as coisas dela perdidas no aeroporto. Ninguém entrou em contato ainda, segundo a polícia, isso confirma mais a ideia de um sequestro. - fiquei em silêncio, sem atitude para falar absolutamente nada, apenas silêncio - Tá ai? Fernanda? Alo?

- To indo pro Brasil. Vou reservar um voo agora.

- Acho que não precisa Fe, espero que até você chegar a gente já tenha resolvido isso. E até você reservar voo, ir até o aeroporto, vai tempo.

- Vou pegar um jato. Umas 15 ou 16 horas estou aí. Me manda seu endereço ou o endereço de onde posso te encontrar. Qualquer noticia me avisa, por favor.

 

 

Não pensei em mais nada, peguei minha mochila com meus documentos, liguei para uma empresa para reservar o jato, falei nem 2 minutos com a Marcela, pedi um taxi e sai correndo para o aeroporto. Não era assim que eu queria voltar para o Brasil, mas por ela eu arrisco tudo.


Fim do capítulo


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Comentários para 29 - Capítulo 29:
rhina
rhina

Em: 06/09/2020

 

Oi

Boa tarde.

Fernanda lembrou da Carol....que a conhecia ao menos atrás da foto

Eita amor.

Rhina

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Chell
Chell

Em: 06/09/2018

Nossa não aguentei e tive que me manifestar , tá parecendo a história da minha vida fora o novo romance mais tudo que envolve a Cris. Muito gostosa esse romance, obs : sempre na moita????????

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JeeOli
JeeOli

Em: 03/09/2018

Torço muito pela Carol e Fernanda, ainda acho que as ex's vao causar alguns problemas mas o sentimento q está nascendo em cada uma parece ser algo bem bonito 

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josi08
josi08

Em: 02/09/2018

No Review

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SaraSouza
SaraSouza

Em: 02/09/2018

autoraaaaaaaaaa , como assim????

Fernanda, corre filha e salve a sua mulher

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Socorro
Socorro

Em: 02/09/2018

Sequestrada como ??? Eu dormi qto tempo ??

autora volta aqui ..

tudo mto estranho .. Fernanda chegue logo no Brasil 

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preguicella
preguicella

Em: 02/09/2018

Caracaaaa! Como assim sequestrada gente?! Sério isso!?
Confesso que a primeira coisa que pensei, foi que Milena mandou sequestrar a Carol! Posso estar doida, mas tudo é possível, sequestro no aeroporto é muito louco!

Ansiosissíma pelo próximo capítulo!

Bjão

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