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An Extraordinary Love por Jules_Mari

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Palavras: 7629
Acessos: 3775   |  Postado em: 26/08/2018

Notas iniciais: Boa noite a todxs, 
Finalmente mais um capítulo para vocês. Mas antes de postá-lo, gostaria de agradecer imensamente o carinho de vocês, que tem persistido e continuado a ler esse meu pequeno devaneio, que hoje já tem mais de uma ano de vida. 
Queria também agradecer a Mari, que topou participar dessa empreitada e contribuiu lindamente com a estória. 
E como estamos nos aproximando da reta final, gostaria de pedir que, se possível, comentem dizendo qual o capítulo que mais gostaram. 
Um grande abraço e uma excelente leitura.

Capítulo 60 Almas Gêmeas

“(...) Dessa maneira, o sentimento de sororidade, essa irmandade entre as mulheres faz-se presente dentro de cada ação, de cada membro e de cada ideal que permeou a história da Ordem do Labrys.”

Delphine relia o fechamento do livro de Cosima pela terceira vez. E isso nada tinha a ver com a busca por algum erro, mas sim pelos significados implícitos em cada palavra. Já havia lido o esbouço daquele livro assim que suas irmãs conseguiram uma cópia para ela e desde aquele momento, constatou que estava diante de uma produção acadêmica das mais ricas para o campo de estudos do qual fazia parte, porém os sentimentos envolvidos em toda a construção daquele texto faziam com que ele se tornasse particularmente especial para ela. Além do fato dele ter sido escrito por Cosima.

Já conhecia o estilo e o talento da sua amada no tocante a produção de ideias, mas ela tinha realmente alcançado um patamar ainda mais elevado, pois conseguira produzir um livro que unia com maestria todo um trabalho minucioso de pesquisa e construção de conhecimento, com análise crítica e seriedade, mas ao mesmo tempo carregou cada narrativa com as nuances que permeavam a filosofia da Ordem e denotavam o envolvimento profundo dela.  E não precisava que a outra lhe dissesse nada, estava evidente para Delphine que a escrita daquele texto provocou certa dor em sua autora, era quase palpável, embora bastante sutil. Perceptível apenas para quem realmente soubesse qual era o real papel de Cosima com toda aquela estória.

- Você realmente se superou! – Foram as primeiras palavras que a loira dissera desde que retornaram do café da manhã e ela se dedicou a tarefa de reler o exemplar que havia sido traduzido para o francês. Salvo algumas poucas correções, a tradução estava a contento.

- Sério mesmo? – Uma apreensiva e constrangida Cosima lhe questionou.

- Você precisa aprender a aceitar elogios Srta. Niehaus! – Ela disse depositando o livro sobre a mesa e deixando sua mão repousada sobre ele por mais alguns instantes. – Isso aqui é realmente muito bom! Ouso dizer que é um dos melhores textos acerca da História das Mulheres que eu já li. – Cosima arregalou os olhos ao máximo que pode. Mal conseguia acreditar no que estava ouvindo. Jamais imaginou receber um elogio como aquele vindo de alguém cujo nível de exigência não cabia em escala nenhuma. E ela sabia que Delphine não era o tipo de pessoa que distribuía elogios gratuitamente, e que também é extremamente profissional para saber separar a autora da mulher que amava.

- Eu quis... – Disse com a voz comprimida pelo constrangimento – Fazer um pouco de justiça ao passado da Ordem. Em especial a grandeza dessas três incríveis mulheres. – Não eram necessárias maiores explicações a cerca da escolha pela abordagem utilizada. De narrar apenas o passado, omitindo a existência daquela sociedade até os duas atuais. – E deixar claro... Para a pessoa certa... – Piscou um dos olhos sob as lentes de vidro de seus óculos. – O quanto eu me orgulho de... – Escolheu palavras racionais para explicar o irracional – Fazer parte, mesmo que indiretamente, dessa história. – Ambas sabiam a que ela se referia.

- Sim Cosima... Tens tudo a ver com essa história. – Delphine disse com cuidado e ternura, olhando-a intensamente.

- Não sei se consegues ter dimensão do que eu senti assim que li os escritos no livro da Ordem. As palavras de... Melanie... – Carregou de reconhecimento aquela afirmação. – Que dialogavam perfeitamente embora de maneira diferente com as de... Evelyne. – Olhou de forma ainda mais profunda para Delphine, que se sentiu estremecer. A morena procurava encontrar na profundidade verde dos olhos da loira, os vestígios de quem carregava consigo traços daquela poderosa mulher. Já Delphine clamava às deusas para que o reconhecimento que Cosima buscava lhe mostrasse o que já era mais do que óbvio. – Dá para perceber não é? – Questionou enquanto sentava-se diante dela na mesa de jantar.

- O que exatamente? – Delphine pareceu não compreender ao certo o que ela queria saber.

- O quão diferentes elas eram. Melanie e Evelyne! – Delphine apenas anuiu positivamente com um aceno de cabeça e discreto sorriso de canto de boca. Ela tinha toda razão! – Primeiro eu li o livro que elas escreveram juntas. Ambas imprimiam paixão em cada frase, só que eram bastante distintas. Melanie sempre foi mais suave e ponderada, diria até que sua inocência e ingenuidade tornavam-na mais romântica ao encarar as ideias. Ela narrava com verdadeiro orgulho o que era fazer parte da Ordem. – Novamente a loira apenas concordou. Era impressionante a leitura que Cosima estava fazendo de alguém que nunca conheceu e ao mesmo tempo lhe era tão familiar. – Já Evelyne ela era tão... Tão... – Ela gesticulava enquanto procurava as melhores palavras para definir aquela mulher. – Fascinante e intimidadora. – Os olhos dela brilhavam enquanto falava com denotada admiração. – Porém, ela não partilhava do mesmo... Orgulho que a Mel.

- Evelyne nasceu na Ordem! Ela não teve escolha! – Baixou os olhos e depois olhou ao longe, através da janela, viajando para o passado que era narrado por Cosima, e que fora vivido por ela.

- Exatamente. A relação dela com a Ordem é muito mais intricada... Complexa! – Estalou os dedos, quando chegou ao ponto que desejava. – E ela está diretamente ligada ao relacionamento dela com a mãe! – Delphine olhou para a mulher diante de si com firmeza, mas depois suavizou.

- Freud explica não é? – Sorriu e fora acompanhada por Cosima.

- Eu confesso que não compreendia a Evelyne muito bem... Até que pude conhecer um pouco melhor a Emanuelle, através das memórias da Mel. E inicialmente eu a achei... Arrogante e ingrata! – Cosima não viu, mas Delphine cerrou os punhos por baixo da mesa diante da afirmação brusca que recebera. Mas logo relaxou, pois a morena estava coberta de razão. Ela era exatamente assim, porém teve seus motivos, mas já havia se arrependido de muitos de seus atos, e pago preços muito altos por alguns deles e se conformado com o seu destino – Eu pensava... Como alguém pode agir dessa maneira com uma mulher tão maravilhosa quanto Manu? Que tanto fez por ela... A Evelyne devia muito a ela.

“Você não tem dimensão do quanto eu devo a ela!” Delphine pensou consigo mesma, tendo a ultima visão de sua mãe invadindo sua mente e provocando aquela antiga e conhecida dor. Amava, admirava e respeitava sua mãe como a mais ninguém. Mas também fora desafiada e a desafiou por inúmeras ocasiões. A relação delas era assim.

- Emanuelle também não foi uma pessoa muito fácil! – Delphine alertou.

- De fato! Elas eram extremamente parecidas. Não tem aquele dito popular... Dois bicudos não se beijam? – E gargalhou, mas era a melhor análise que poderia ser feita daquelas duas mulheres. – Isso me fez pensar agora na outra metade daquela equação. – Delphine a olhou curiosa. – O pai da Evelyne! Sabemos tão pouco dele. – A chegada aquele ponto da conversa foi surpreendente para a loira. Estava sendo uma experiência surreal para Delphine ter sua vida analisada daquela maneira. – O que sei, foi o pouco narrado pelas memórias da Melanie.

- Que ele morreu antes do nascimento da Evelyne! – A loira afirmou.

- Isso mesmo! Não há mais nada? – Delphine a analisou... De fato nunca havia pensado muito em seu pai, e isso também se devia a ela não ter convivido com ele e sempre que tocava nesse assunto com Manu, isso parecia que a machucava muito. Mas se havia algo que ela sabia, era que ele foi muito amado por sua mãe e que, segundo ela, muitos traços físicos dele poderiam ser vistos nela.

- O que sabemos é que ele não era de família nobre... Ao contrário da Manu e do próprio Armand. Era um jovem cientista com ares de revolucionário... – Ponderou alguns instantes. – Astrônomo e físico, filho de comerciantes da Champagne.

- Nossa! Que combinação e tanto. Um cientista e uma... – Cosima pausou a fala temendo o termo que iria usar.

- Bruxa? – Delphine completou sua frase com um ar de certo mistério. Cosima apenas anuiu com receio. – Mas era isso mesmo! Uma verdadeira afronta ao domínio da Igreja.

- Fazendo dele um alvo perfeito... – Novamente freou sua língua, pois os cientistas foram outro grupo duramente perseguido durante a Inquisição. – Mas como eles se conheceram, sabes de algo? – Insistiu.

- Numa das palestras da Emanuelle. – Delphine disse com ar de riso e se deixando preencher por uma saudade há muito não experimentada.

- Mas como? Só iam mulheres para essas palestras...

- Exatamente! – E cruzou os braços com um sorriso lacônico nos lábios. Cosima franziu a testa e inclinou a cabeça de lado, indicando que não compreendera bem e de quem sabia que havia algo a mais por trás daquela estória. – Essa história é contada a gerações... Mas o que se sabe – Que ela ouviu da própria boca de sua mãe. – É que ele ouviu muito falar sobre uma jovem revolucionária que falava acerca da influência da Lua e dos astros nos eventos mundanos, e como um astrônomo, quis saber mais sobre isso. Então, decidiu assistir uma das secretas palestras dela.

- Mas como ele ficou sabendo? Afinal elas eram secretas... – Cosima ainda não havia compreendido e enfatizou a ultima palavra. Estava percebendo que ainda havia muito mais o que conhecer daquela grupo de mulheres incríveis.

- Ele tinha uma noiva e foi ela quem lhe contou a respeito de Manu, pois já havia participado de algumas das palestras dela. E ele, curioso para saber quem era... Fez algo impensado e pouquíssimo convencional para aquela época. Pediu para sua noiva que o vestisse de mulher! – Cosima arregalou os olhos e depois soltou um longo assovio. – Pois é... Então, ele se tornou “uma frequentadora assídua” das reuniões ao que ele alegava ser um fascínio pelas ideias de Manu, e essa “fascinação” lhe custou o noivado, pois era evidente que os interesses dele também eram de cunho amoroso. – Riu. – Conta-se que ele apaixonou-se por Emanuelle assim que a viu. – Pausou sua fala e ponderou os significados daquela afirmação. Ela mesma teve o privilégio de experimentar tal felicidade. E por duas vezes, pela “mesma” pessoa. Cosima também se pegou pensando em amor a primeira vista e pode compreender exatamente como aquele homem do passado se sentiu. Eles partilhavam daquela experiência única, pois ela também se apaixonou assim que a voz de Delphine alcançou seus ouvidos e seus olhos foram contemplados com a visão dela, no dia que chegou a Paris e quando assistiu a palestra dela.

- E Manu? – Cosima não escondia o seu encantamento com o que estava ouvindo. Para ela parecia mais um capitulo daquela incrível saga que adorava acompanhar.  

- Ela o abordou após uma das reuniões e perguntou o que “ELE” estava fazendo ali.

- Então ela sabia? – Cosima surpreendeu-se.

- Sempre soube, desde a primeira vez que ele participou. Ela... Viu na mente dele. – E sorriu. Cosima recostou na cadeira e ficou pensativa na fazendo um pequeno bico com os lábios.

- “Viu na mente dele...” Já ouvi outra Manu usar essa mesma expressão. – Suspirou e piscou um dos olhos para Delphine que deu um vigoroso aceno de cabeça. – Mas a Emanuelle correspondeu à paixão de... Nossa! Qual era mesmo o nome dele?

- Andrés Coligni! – Delphine respondeu de pronto. – E não, ela não pôde corresponder de imediato, pois ainda estava se recuperando de tudo que o Armand havia feito com ela. A mágoa ainda lhe fazia temer. – Cosima indicou com uma expressão que não sabia ao certo sobre o que ela se referia. – Armand Verger não se aproximou da Emanuelle para saber mais sobre a Ordem e conseguir o poder que ele desconfiava que ela possuía? – A morena lembrou-se dessa passagem narrada por Melanie. – De fato, Manu se envolveu com Armand e gostou verdadeiramente dele. Ao que parece ele também a amou. De um jeito doentio como só ele é capaz de amar. – O lindo rosto de Delphine deixou transparecer uma raiva que chegou a assustar Cosima. E ela não pareceu perceber o tempo verbal usado pela loira, referindo-se a Lamartine.

- Entendo! Então Andrés precisou conquistar Manu?

- Sim... E foi bastante persistente! – Delphine sorriu.

- Já gostei dele! Mas a Evelyne não carregou o sobrenome dele... – A morena fez essa ressalva.

- Eles nunca se casaram. – A outra respondeu e o pesar que passou por seus olhos indicou que se aproximava o desfecho triste daquela história. – Pouco antes da data que haviam marcado... – Baixou os olhos e lutou contra o nó que subia por sua garganta. Fazia muito tempo que não tocava naquele assunto e só o fez para que pudesse ser registrada a memória de seu pai no legado da Ordem. – Armand descobriu... E o ciúme doentio que ele sentia de Manu o fez perseguir Andrés, prendê-lo sob o argumento de heresia. Mas ele não conseguiu que o condenassem a morte e então... – Ficou de pé devido ao incomodo que estava sentindo e dando as costas para Cosima, permitiu que algumas lágrimas escorressem de seus olhos. – Armand o matou com as próprias mãos!

- Como? Ninguém o acusou, ou o prendeu? – Cosima exasperou-se.

- Naquela altura, Armand Verger já era praticamente intocável. Blindado pelas mãos do Martelo e “abençoado” pela Igreja. – Ela deu de ombros.

- Cretino! Fez o que fez com a própria filha e ainda mais essa. Nem consigo imaginar todas as atrocidades cometidas por esse monstro. Ainda bem que o tempo dele já passou. – Cosima caminhou em direção a Delphine que sentiu os braços dela a envolvendo. A loira virou-se para encará-la e agradeceu, momentaneamente por sua amada ainda ter o privilégio da ignorância. Pois o tempo de Armand Verger nunca acabara. Ele, assim como ela, apenas mudava de nome, criando novas identidades, mas praticando o mesmo mal de sempre. – E quando Andrés foi morto, Manu já estava grávida de Evelyne... – Constatou.

- Sim. De poucos meses. E a Emanuelle precisou fugir, esconder-se e preservar sua gravidez. Pois foi perseguida por Armand e pelo Martelo. Era uma afronta uma mulher nobre grávida e sem marido. Imagine! – Cosima anuiu tristemente com a cabeça. – E... O resto você leu sobre no Diário da Melanie. – Sorriu com esforço. – Cosima suspirou e foi intimamente tocada pela prevê narrativa sobre uma verdadeira estória de amor e que fora bruscamente interrompida pelas mãos do Martelo e daquele monstro. Assim como ele o fizera com Melanie e Evelyne.

- Droga! – Praguejou e se desvencilhou de Delphine que a olhou assustada.

- O que foi?

- Olha a hora! – Apontou para um relógio com estampa de Frida Khalo que ficava numa das paredes da cozinha.

- Merde! – Foi a vez de Delphine exasperar-se.

- Minha mãe detesta atrasos. – Sorriu e correu já se despindo para um banho.

- Então ela deve lhe “odiar.” – Soltou a provocação.

– Engraçadinha! Precisamos correr!

 

______

 

Pouco mais de quinze minutos após terem saído de casa e cerca de meia-hora atrasadas, estacionaram o carro diante do charmoso sobrado de dois andares onde Sally Niehaus morava e onde Cosima crescera. Ele ficava numa movimentada ladeira e possuía várias plantas e flores cuidadosamente plantadas em canteiros que ladeavam o caminho que levava até a escada de seis degraus. As peculiares cores tornavam aquele edifício um ponto pitoresco e atraia a atenção de transeuntes e turistas que passavam por ali para chegar até a Lombard Street.

As paredes eram pintadas em um azul petróleo com pórticos e detalhes das janelas e porta em cor de rosa. O anoitecer tardio derrubava sobre aquela casa uma aura mística e ela quase conseguia ver a pequena Cosima chegando da escola e adentrando aquela alegre residência.

Subiram a escada e antes mesmo que Cosima chegasse a bater na madeira, as portas se abriram, revelando uma ansiosa Sally que lançou um olhar de reprovação para sua filha, reconhecendo que a culpa do atraso realmente havia sido dela. Contudo, naquela ocasião em particular nem foi esse o caso, pois a demora se deveu a quantidade de roupas que Delphine provou para escolher a melhor combinação. Cogitou até mesmo em sair para comprar algo, achando que nada que trouxera poderia estar à altura. Sua angustia se dava pelo fato de que as únicas duas vezes em que Sally Niehaus a viu foram um tanto quanto desconcertantes. Na primeira delas, estava quase um farrapo humano, encharcada pela chuva. E na segunda, bom... Tudo o que ela “vestia” era o corpo de Cosima. Então...

Cosima assistiu a angustia de sua amada com denotada felicidade, pois jamais imaginou que alguém tão segura de si como Delphine Cormier era, poderia estar sendo consumida por um nervosismo que a fazia suar mesmo após ter tomado banho ou ficar dentro do carro sob uma temperatura glacial do ar-condicionado.

- Até que enfim! – As olhou por sobre os óculos que teimavam em escorregar por seu nariz.

- Ah mãe, nem estamos tão atrasadas assim! – Cosima a abraçou e depositou um beijo da bochecha e outro na testa da mãe.

- Boa noite Sra. Niehaus! – Delphine foi solene e estendeu sua mão direita para finalmente cumprimenta-la formalmente. Sally alternou o olhar para aflita mão estendida diante dela e para o rosto tenso da mulher que era bem mais alta do que ela. Por alguns longos segundos, aquela situação se arrastou, então Sally afastou a mão de Delphine e, na ponta dos pés a abraçou.

- Deixe disso! – Atônita, a loira recebeu o carinho da mulher que emendou com um beijo em cada uma de suas bochechas. – Li que é assim que os franceses cumprimentam.

- Isso mesmo Sra. Niehaus.

- Sally! Por favor, se não darás razão às dores em minha lombar, que teimam em indicar uma idade que reluto em assumir. – E gesticulou para que entrassem.

- Você pesquisou sobre os franceses? – Cosima inclinou-se e cochichou no ouvido da mãe que lhe respondeu no mesmo volume.

- Claro... Tenho que impressionar minha nora. Li que ela é uma mulher da alta sociedade... Delphine, como é mesmo aquela tradicional saudação que vocês tem... Echan...– Sally seguiu quase arrastando Delphine, deixando Cosima paralisada e boquiaberta.

“Nora”? Por mais liberal que sua mãe pudesse ser, ela jamais se referiu a nenhuma de suas namoradas daquela maneira. “Merda, minha mãe também é mais uma vitima do Efeito Cormier!” Cosima pensou e suspirou, torcendo para que Sally se comportasse e conseguisse controlar seus impulsos de envergonhá-la com sucesso. Quando as alcançou, percebeu que seus piores medos estavam se concretizando. Delphine já estava recebendo em mãos um livro de contos que Cosima escrevera quando ainda era só uma criança e havia acabado de ser alfabetizada e, para piorar ainda mais, Sally já estava procurando seus antigos álbuns de fotografias, onde todas as mais constrangedoras experiências dela estavam registradas.

- Droga mãe! – Tentou impedir que ela prosseguisse na sua missão e buscou tomar os álbuns da mão dela.

- De jeito nenhum! – Foi Delphine quem disse com um sorriso maroto nos lábios. – Eu sinto que NECESSITO ver tudo isso! – Piscou um dos olhos para ela. Na verdade, ela estava aliviada pelo foco não ser nela e sim em sua amada que revirava os olhos a cada página que Delphine lia de seu primeiro livro.

- Cosima sempre adorou ler e escrever. Está vendo essa parede aqui? – Indicou a maior delas da sala de estar. – Perdi as contas de quantas vezes precisei pintá-la, pois foi só ela apender a escrever que rabiscava cada centímetro dela. – Delphine sorriu e achou encantador o quase “sofrimento” que sua amada estava passando.

- Sally... – A loira disse com certa cautela, ainda não estava muito segura da intimidade recém-conferida. – Sua filha sempre foi muito talentosa e estás mais do que certa em se orgulhar dela. É uma mulher brilhante e está prestes a ganhar o mundo com seu talento. – A mulher mais velha arregalou os olhos e pode ver nos olhos de Delphine, o brilho que ela possuía sempre que falava de sua filha. Aquela intrigante mulher demonstrava, sem esforço algum que admirava e a amava verdadeiramente.

Cosima ouvia tudo com o seu ego aos pulos, assim como seu coração aquecido pelo carinho e o amor que recebia. Percebeu então, que estava diante das duas pessoas que mais amava, e aquelas que mais a amavam. Lentamente aproximou-se de Delphine e a envolveu pela cintura, atraindo o olhar dela e, por alguns instantes, perderam-se uma na outra e Sally, como uma simples espectadora, teve uma pequena amostra do poderoso sentimento que unia sua filha àquela mulher.

- Mãe... Esse cheiro é do que eu estou pensando? – Cosima disse, quebrando aquele encanto momentâneo.

- Claro! Afinal de contas, faz tempo que minha filha não vem jantar com sua pobre mãe... – Forçou uma cara triste e conseguiu provocar um lindo sorriso de Delphine.

- Não lembrava dessa sua veia dramática Sra, Niehaus! – Cosima brincou enquanto seguiu até a cozinha, onde destampou uma das panelas que continha um creme espesso e borbulhante. Fechou os olhos e sorveu o máximo que pode daquele delicioso cheiro.

- Realmente, o cheiro está muito bom. O que é? – Delphine entrou na cozinha tendo o braço de Sally entrelaçado no seu.

- Clam Chowder! – Sua amada respondeu enquanto partia um redondo pão italiano que possuía uma casca dura. – Espero que gostes de frutos do mar. – Seguiu em sua tarefa de retirar o miolo do pão. – É uma espécie de sopa de vários frutos do mar do nosso litoral e ela é servida dentro desses pães e usamos o miolo para acompanhar.

- Já está na hora de jantarmos? – A loira sorriu e as ajudou a preparar a mesa para que pudessem comer.

- Espero que esteja tudo a contendo para você Delphine. – Sally alisou uma pequena dobra na toalha da mesa.

- E porque não estaria? – A loira perguntou gentilmente

- Você deve estar acostumada a jantares elegantes, em lugares chiques. – Sally pareceu apreensiva.

- Mãe, deixe de bobagem, a Delphine é uma pessoa muito simples. – Cosima intercedeu e já serviu uma porção de Chowder para ela.

- Fabuloso! Estas de parabéns! – Delphine não fez cerimônias e provou daquele típico prato de São Francisco. E não falava por média, estava realmente gostando do que estava comendo e adorou provar um bom vinho californiano de Napa Valley.

O jantar transcorreu tranquilamente enquanto Sally insistia em constranger Cosima, contando algumas de suas facetas de criança e adolescente. Mas ao final de cada lembrança, sempre ficava evidente o orgulho e o amor que ela sentia por sua filha. O clima estava agradabilíssimo e era acompanhado por uma especial seleção musical que tocava numa antiga vitrola.

- Gosta da Aretha Delphine? - Sally a questionou quando a viu cantarolando algumas frases de I Say e Little Prayer For You.

- Bastante! - Sorriu com o rosto levemente corado. - E posso perceber de onde vem o gosto musical da Cosima.

- Mãe, irias gostar da coleção de vinis da Delphine.  Vocês tem gostos bem parecidos.

- Cosima, está chamando a Delphine de "velha"? - Não conteve o riso e logo foi seguida pelas demais.

As risadas das três já estavam um pouco mais elevadas, pois já haviam entrado na segunda garrafa de vinho e Sally era tão suscetível ao álcool quanto a filha.

- Delphine? – A mulher mais velha a chamou após uma longa gargalhada provocada pela revelação dos duvidosos gostos musicais que Cosima teve na adolescência.

- Sim Sally!

- Você acredita em almas gêmeas? – Questionou ainda com resquícios de um belo sorriso nos lábios. Delphine pausou a taça que estava encostada em sua boca e suspirou profundamente, deixando a taça sobre a mesa. Não respondeu com palavras de imediato, apenas focou seu olhar na mulher que amava e essa sentindo o peso daquele olhar, encarou-a e permaneceram novamente conectadas, quase ignorando a presença da outra.

- Bom Sally... Conheces o Mito das Almas Gêmeas que nos foi contado por Platão? – Delphine questionou ainda segurando o seu olhar em sua amada.

- Vagamente! – Sally respondeu com honestidade.

- Platão, na tentativa de definir o que era o amor, nos conta em seu livro O Banquete, que Aristófanes, um dos convidados para esse jantar, começa dizendo que no início dos tempos os seres humanos eram seres completos, de duas cabeças, quatro pernas, quatro braços, o que permitia a eles um movimento circular muito rápido para se deslocarem. – Sally apoiou o queixo sobre as mãos e inclinou a cabeça tendo um sorriso bobo nos lábios, e suspirando de tempos em tempos, ouvindo aquela fascinante explanação. - Porém, considerando-se seres tão bem desenvolvidos e tomados pela arrogância, os humanos resolveram subir aos céus e lutar contra os deuses, na tentativa de destrona-los e tomar os seus lugares. Todavia, os deuses venceram a batalha e Zeus resolveu castigar os homens por sua rebeldia. O senhor de todos os deuses tomou na mão uma espada e cindiu todos os humanos, dividindo-os ao meio. Zeus ainda pediu ao seu filho, o deus Apolo que cicatrizasse o ferimento. Deixando uma delicada marcar dessa união. Nosso umbigo. E pediu que virasse a face dos humanos para o lado da fenda para que observassem o poder de Zeus. – Acariciou a própria barriga na região comentada e foi a vez de Cosima suspirar com a forma hipnótica com que Delphine explicava.

- Dessa forma... Se me permite a intromissão – Cosima tomou a palavra para si e recebeu um lindo sorriso como resposta e autorização. - Os humanos caíram na terra novamente e, desesperados, cada um saiu à procura da sua outra metade, sem a qual não conseguiriam viver. Tendo assumido a forma que nós temos hoje, os seres incompletos procuram sua outra metade, pois a saudade nada mais é do que o sentimento de que algo nos falta, algo que era nosso antes.

- Exatamente Cos! – Delphine partilhava do mesmo fascínio e admiração pela mulher amada. Ambas narravam um mito, mas que definia com perfeição, o que acontia com elas. -  E o ser que antes era completo homem-homem gerou o casal homossexual masculino; o ser mulher-mulher, o casal homossexual feminino. E o andrógino (parte homem, parte mulher) gerou o casal heterossexual. E a força que une a todos é o que nos protege, já que Zeus prometeu cindir novamente os homens, ficaríamos com uma perna e um braço só, se não cumpríssemos o que foi designado pela divindade. – Finalizou com mais um gole do surpreendente vinho californiano que acabara de conhecer.

- Maravilhoso! – Sally bateu palmas ao final daquela narrativa de ambas. – E se querem saber, poderia ser assim mesmo. Para mim, faz todo o sentido. – Sorriu e soltou um demorado e incontrolável bocejo – Desculpe-me! – Pediu e se levantou para retirar as coisas da mesa e fora seguida por Delphine. – Não! Deixe isso ai. Eu retiro depois.

- De forma alguma. Deixe-me ajuda-la. É o mínimo que posso fazer e retribuição ao delicioso jantar que nos proporcionou. – E sorriu docemente, causando encantamento da mulher que pode apenas assisti-la não só retirar as coisas da mesa, como a lavar a louça enquanto finalizavam o vinho.

- Mãe! Estava tudo maravilhoso. – Cosima disse enquanto caminhava para fora da casa abraçada com Sally.

- Perdoem-me! Mas costumo dormir cedo e o vinho só contribuiu para isso.

- Não se desculpe. Já está tarde mesmo. E reafirmo  o que a Cos disse. Foi tudo maravilhoso mesmo. E... – Parou diante dela – Foi muito bom poder, finalmente, conhece-la melhor. – Piscou um dos olhos.

- Eu digo o mesmo! – E alcançou o rosto dela, puxando-o em sua direção e depositando um doce beijo na testa dela. – Cuide bem da minha filha! Ela é a coisa mais importante em minha vida. – Disse baixinho e bem próxima ao ouvido dela. Trocaram um olhar cumplice e Delphine fez questão de assumir aquele compromisso e fazer aquela silenciosa promessa.

“Eu a protegerei com a minha vida, se for preciso!” Pensou.

- Boa noite mamãe! – Cosima desceu os primeiros degraus, seguida por Delphine.

- Precisamos repetir isso hein? – As alertou antes de fechar a porta.

- Com toda a certeza! – Delphine acenou e esperou que ela fechasse a porta. – Hoje pude conhecer um pouco de quem és! – Segurou as mãos da morena nas suas e as beijou com carinho. – E amá-la ainda mais. Se é que isso é possível! – Pressionou seu corpo contra o dela e o carro.

- Pra mim, foi muito importante tê-la no meu lar... Com a minha mãe que, aliás, já é sua fã! – A enlaçou pelo pescoço. – És realmente impressionante... Quando eu estava sofrendo, na merd* por sua causa... Ela deseja a sua morte. – Brincou. – E agora, ela tá caidinha por você!

- O que posso fazer se sou irresistível? – Sorriu o seu mais sedutor dos sorrisos que foi prazerosamente interrompido por um beijo demorado e insinuante. Cobrando ainda mais que seus corpos se expressem ainda mais. Arrancando um rouco gemido da loura.

- Acho que também tenho meus truques! – A morena sorriu ainda com os lábios encostados nos da outra.

- Cosima?

- Hum?

- Entra na porr* desse carro e vamos para sua casa AGORA! – A loira destravou o carro e a morena gargalhou da urgência que sempre conseguia provocar em sua amada.

 

______

 

- Mas que droga! – Cosima murmurou ainda de olhos fechados mediante a insistência da campainha que a atormentava. Sentiu o peso de Delphine que parecia ainda estar completamente desmaiada, pois parecia estar imune ao estridente som.

Desvencilhou-se dela e se levantou. Acompanhando a campainha, o seu celular começou a vibrar repetidas vezes, indicando que alguém realmente precisava falar come ela. Conferiu as horas e viu que ainda nem era seis da manhã. Resmungou mais uma vez, mas logo um desconforto se instalou em seu coração. Aquilo só poderia significar algo ruim. Viu que quem lhe ligava insistentemente era Amanita e logo ouviu a voz da amiga lhe chamando do outro lado da porta.

Procurou seu roupão e o vestiu, caminhando meio cambaleante devido ao sono que estava longe de ser saciado, pois fora dormir a poucas horas. Tropeçou na bota de Delphine que estava jogada no meio da sala e se deu conta do coas instalado ali, e vislumbres da insana noite que tiveram vieram a sua mente. Mas logo essas imagens sumiram quando Amanita insistiu em chama-la.

- Caramba Nita! Quem morreu? – Abriu a porta ainda coçando os olhos e limpando seus óculos na faixa que estava amarrada em sua cintura.

- Cosima sei que a hora é ruim, mas é que temos uma emergência. Onde está a Delphine? – Olhou por sobre o ombro da amiga, procurando pela outra mulher.

- Dormindo! O que foi? – Percebeu que a amiga, sempre brincalhona, estava bastante séria e nervosa.

- Precisas acordá-la! – Cosima abriu a boca algumas vezes, mas viu que o melhor mesmo seria obedecer o pedido da amiga. – As esperarei no café. Não demorem! –Virou de costas e desceu, sumindo do alcance. Cosima ainda estava boquiaberta segurando a porta, sem entender muita coisa. Retornou para o quarto e viu que sua amada não havia se movido um centímetro se quer. Sentou na beira da cama e começou a acariciar seu rosto.

- Amor? Del? – Quando percebeu que as carícias não surtiram efeito, a sacudiu com um pouco mais de força.

- Hum... Oi... – Respondeu com os olhos entreabertos, tentando focar em quem lhe acordava. – O que foi?

- Eu não sei ao certo, mas a Amanita esteve aqui e disse que temos algum tipo de... Emergência.

Delphine piscou os olhos algumas vezes e quando processou a informação que acabara de ouviu, levantou-se de súbito, sentindo uma leve tontura e uma pressão em sua testa devido ao sono que não fora totalmente vencido.

- O que ela disse exatamente? – Já estava de pé, procurando uma muda de roupa.

- Nada... Apenas que está nos esperando lá embaixo. – Também vestiu o mesmo vestido da noite anterior e passou os dedos entre os cachos, tentando organizá-los. Observou a exasperação de Delphine e só então se deu conta que seja lá o que for, era realmente sério, pois a loira estava realmente preocupada. Terminaram de se vestir em poucos minutos, lavaram os rostos e escovaram os dentes. Saíram quando já estavam mais ou menos apresentáveis.

À medida que desciam os  degraus, puderam ouvir algumas vozes, o que indicava que Amanita não estava sozinha, e isso alertou todos os sentidos de Delphine, que fez questão de passar na frente de Cosima, colocando-a atrás dela, quase que instintivamente para protege-la. Pararam logo atrás da porta vai e vem que separava o café da escada e a loira concentrou-se para ouvir quem estava do lado de fora. Alarmou-se ainda mais quando reconheceu uma das vozes.

- O que está acontecendo aqui? – Irrompeu na cafeteria, puxando Cosima pela mão.

- Bom dia para você também Cormier! – O tom irônico e marcante de Stella Gibson a recebeu.

- Delphine! Desculpe chegarmos assim, mas não queríamos alertá-la até termos certeza! – Foi a vez de Helena se pronunciar.

- Del? – Cosima parou ao seu lado ainda confusa com a presença daquelas duas mulheres diante delas e sua surpresa só aumentou quando viu quem mais estava lá.

- Siobhan! O que significa tudo isso? – Questionou parando diante da mesa em que S e Genevieve estiveram sentadas, mas que haviam se levantado para saudar sua Mestra.

- Eles sabem Delphine! – S disse com denotado pesar na voz e aquela afirmação direta, atingiu seu alvo em cheio, como um soco seco na boca do estômago, levando-a a cambalear para trás, anuindo negativamente com a cabeça.

- Não! Isso não! – Delphine repetia debilmente diante do olhar atento e compadecido de suas irmãs.

- Quem sabe o que? – Cosima perguntou sem muita convicção, mas pareceu não ser ouvida.

- Segundo Joana... – Helena começou a falar, mas pausou assim que viu, com o canto dos olhos, o incomodo de Stella àquele nome. – O Martelo sabe que você está nos EUA e que veio sozinha.

- E tem mais... – Genevieve retirou de sua bolsa um exemplar do livro de Cosima. – Acreditamos que se nós conseguimos isso aqui com facilidade em Paris, eles também já devem ter posto as mãos nele. – Entregou o livro para sua Mestra e a acariciou no ombro, tentando lhe passar algum conforto.

- Por isso estamos aqui! – Foi a vez de Siobhan também lhe tocar no ombro e se assustar ao sentir o tremor que percorria o corpo daquela poderosa mulher. Ela estava verdadeiramente consternada.

- Cormier! Não temos a certeza se eles sabem que é a Srta. Niehaus, mas gostamos de nos adiantar àqueles cretinos, então solicitei que todas viessem aqui. – Stella, no auge de sua postura autoritária e segura, tomou a palavra para si. Estava verdadeiramente preocupada e imaginando a angustia de Delphine, mas sabia que não poderia se deixar levar pela emoção. Que precisava ser prática e tomar as rédeas daquela situação, visto que sua Mestra não tinha condições de fazê-lo. E era exatamente por isso que Stella ocupava aquele posto na Ordem, por conseguir ser racional e pragmática nas piores horas. – Já acionamos o Exercito de Ártemis, tanto em Paris quando aqui. Reforçamos a sua segurança e da Srta Niehaus...

- Isso mesmo Delphine. Stella já conseguiu a agenda de atividades da Cosima e inclusive já estamos montando todo um aparato de segurança para o dia do lançamento oficial do livro. – Helena emendou.

- Exato! Já temos as plantas do centro onde ocorrerá o evento. Não se preocupe. – Siobhan procurou usar seu tom mais seguro.

- Caramba! – Cosima falou mais alto e assustou a todas. – Eu estou aqui e é de mim que estão falando! Alguém poderia me dizer o que porr* está acontecendo aqui? – Ela explodiu, pois estava farta das demais se referindo a ela na terceira pessoa, sendo que era o principal foco. Só depois de seu breve surto, percebeu que estava diante da mais alta Cúpula da Ordem do Labrys e que o mínimo que devia era respeito. Pensou em se desculpar, mas seu gênio forte não permitiu. Sentiu um forte aperto em sua mão e encontrou os olhos de Delphine marejados.

- Eles estão chegando à você Cos... – Disse com um filete de voz.

- Eles? – Perguntou inutilmente, pois sabia a quem ela estava se referindo. Deduziu assim que viu aquelas mulheres em seu estabelecimento que fora fechado por Amanita, que inclusive evitava que os fregueses costumeiros entrassem para tomar café.

- Sim Cosima... Parece que o Martelo já sabe quem é você e... – Siobhan olhou para sua Mestra, pedindo silenciosa permissão para continuar aquela fala. A recebeu com um leve aceno de cabeça. – Isso a torna um alvo para ele, pois... – S, que dificilmente demonstrava qualquer sinal de fraqueza, relutou.

- Isso tem a ver com a visão da Manu não é? – A pergunta que todas ali temiam responder, embora soubessem a resposta. Era exatamente isso que todas ali temiam, mas nenhuma delas sentia o pavor e o desespero que Delphine. Ela não poderia suportar a ideia de perder Cosima e quase havia se permitido acreditar na vã e tola ideia de que a visão profética daquela menina, estivesse equivocada.

Olhou para todas as suas irmãs, buscando algum tipo de força que sabia que elas estavam dispostas a lhe dar, mas em seu intimo, sabia que só dependia dela. Mas algo lhe impedia e lhe atormentava, pois nenhuma delas, por mais que se esforçassem, não tinham a real dimensão do que significava a profetização do futuro. Ou se quer sabiam o que era passar ano após ano esperando. Lutando, tendo de acreditar em algo que parecia cada vez mais distante, e quando finalmente reencontrou o que tanto ansiava, ser ameaçada de perder aquilo que lhe era mais precioso. Seu amor! Sua vida!

- Del! Me escuta! – Cosima ignorou as outras e segurou o rosto de Delphine entre suas mãos, encostando suas testas e capturando toda a atenção dela. – Nada vai me acontecer! Tenho a certeza que agora que lhe encontrei, nada nem ninguém será capaz de nos afastar. – A voz embargada já denunciava sua emoção, e logo estava permitindo que as lágrimas escorressem em sua face, tamanha era a emoção que estava sentindo, pois lhe doía a alma ver o sofrimento de sua amada. – Afinal de contas... – Afastou seus rostos e olhou para cada uma das mulheres ali presentes. – Você está aqui comigo! E elas estão aqui para você, não é mesmo? – Siobhan, Helena, Stella, Genevieve e Amanita se aproximaram, deixando as duas no centro daquele circulo. Instintivamente todas tocaram Delphine e Cosima. Queriam, demonstrar com aquele singelo gesto, que estavam ali para proteger a ambas.

- E estamos aqui para você também criança! – Siobhan a olhou com ternura e ela se sentiu preencher por uma força jamais experimentada. Como se verdadeiramente fizesse parte daquele grupo.

Quando na verdade jamais o deixou. Cosima era parte integrante e fundamental da Ordem do Labrys.

______

 

A manhã daquele sábado de outono ainda trazia os ventos frescos e mornos do verão que já se despedia. O movimentado aeroporto de São Francisco recebia os visitantes que circulavam apressadamente por seus corredores.

- Onde ele está? – Marc, balançava o pé impacientemente enquanto checava o seu relógio de pulso.

- Calma querido... Cuidado com as rugas! – Amélia se apoiou em seu ombro. – A culpa não foi dele se extraviaram a bagagem.

- É que quero aproveitar o dia na cidade mais gay dos EUA e dar um abraço na Cosima antes dela se tornar uma celebridade inalcançável. – O rapaz brincou gesticulando efusivamente, sem se incomodar com a atenção que atraia para si. Ele pouco se importava com aquilo. – Precisamos reunir o “bando” mais uma vez. – Referia-se aos Semideuses. – Por falar nisso... Onde está Sophie?

- Verdade! Para onde ela foi? – Amélia percebeu a ausência da amiga.

- Da ultima vez que a vi estava de papo com aquele deus grego do avião. – Felix envolveu Marc pela cintura e ajustou os óculos escuros no nariz.

- Hum... Certa ela! Ah... Finalmente! – Amélia anunciou a aproximação de René que, após mais de duas horas de espera, localizou sua bagagem.

- Uma senhora havia levado minha mala por engano. – O rapaz anunciou.

- Também, que manda trazer a mala da sua avó. – Marc brincou, referindo-se a estampa floral da mala do rapaz que apenas gesticulou com uma careta para ele. - Agora só falta a Sophie.

- Não falta mais! – A jovem disse empolgada, vindo acompanhada por um homem que realmente chamava a atenção por onde passava. – Gente, esse é o Peter. E esses são Amélia, Félix, Marc e o René – Ela o apresentou e o mesmo ergueu a mão acenando para todos.

- Muito prazer. Devem ser os... Semideuses! – Ele disse com a mão no queixo, o que chamou a atenção de todos. – Sophie me contou tudo sobre vocês. Se me lembro bem, tem esse apelido porque são estudantes de uma mesma professora. Como é mesmo o nome dela? – Ele se virou para a jovem ao seu lado.

- Professora Cormier! – Felix respondeu pela moça. – Eu não sou estudante dela, mas seu... Secretário. – Encheu de pompa a sua função.

- Então todos aqui têm em comum essa tal de Professora Cormier. – O homem concluiu. – Estariam aqui por ela? Ou para algum evento acadêmico?

- Vejo o quanto você falou de nós para ele Sophie! – Amélia ironizou, deixando a moça ruiva ainda mais ruborizada. – Na verdade estamos aqui para visitar uma amiga e prestigia-la.

- Ela está lançando um livro! – René disse com o peito estufado.

- Nossa! Ela deve ser bem importante, para todos virem de Paris até aqui. – Peter concluiu com um simpático e sedutor sorriso nos lábios. Seus olhos azuis acinzentados e o perfeito corte de cabelo lhe conferiam cordialidade e segurança.

- É a melhor amiga! – A jovem ruiva ao seu lado respondeu. – Inclusive... – Gaguejou um pouco. – Se a sua reunião terminar cedo... – Olhou para Amélia e a amiga a encorajou a seguir no convite iminente. – Gostaria de nos acompanhar até ao lançamento do livro dela? Vai ter um coquetel e... Bebidas grátis! – Sorriu alegremente. O homem analisou o rosto da jovem depois olhou para os demais.

- Bom, eu não tenho nenhum compromisso marcado para hoje à noite, além do mais... – Sorriu o mais encantador dos sorrisos – Não conheço ninguém por aqui e... Quem seria louco de recusar bebidas grátis? – Brincou.

- Muito bem! – Sophie reagiu muito mais empolgada do que gostaria, arrancando risos dos demais, exceto Marc, que estava estranhamente calado, uma vez que sempre era o mais falante deles. – Então... Já tens o meu telefone. Me ligue quando estiveres livre que te repasso o endereço.

- Pode ter certeza que irei. – O homem continuou sorrindo e jogando charme.

- És britânico? – Finalmente Marc se pronunciou quando começaram a caminhar para fora do aeroporto.

- Sim, nasci em Londres, mas sai de lá quando ainda era pequeno. Como descobriu? Meu sotaque é praticamente imperceptível.

- Tenho ouvidos muito bons! – Marc estava estranhamente mais cínico que de costume, atraindo a desconfiança de Amélia.

- Realmente é impressionante. – O homem cedeu a sua vez para que eles pegassem o táxi.

- Trabalhas com o que Peter? – Amélia juntou as desconfianças do amigo.

- Com segurança empresarial e pessoal. – Foi a resposta lacônica que deu. Educadamente ajudou as moças a guardarem suas bagagens na mala do carro.

- Bom, acho que agora nos despedimos. – Peter sorriu e afastou-se um pouco, seguindo até o terceiro veículo da fila de táxis.

- Peter... – Sophie o chamou elevando o tom de sua voz. O homem ergueu a cabeça, pois já estava quase entrando em seu táxi. – Qual o seu sobrenome? Caso precise para coloca-lo na lista de convidados do evento.

- Ah sim. – Ele pediu para que o taxista o esperasse um pouco e retornou para próximo a eles.

- Lista de convidados é? Nem sabes se tem algo assim. – Amélia cochichou ao ouvido da amiga. – Queres mesmo é encontra-lo nas redes sociais. – Piscou um dos olhos para a amiga e recebeu o mesmo gesto em troca.

- Tome meu cartão. – Ele entregou para a jovem e despediu-se com um aceno de cabeça e se dirigiu para o seu taxi, entrando sem mais demoras. Sophie olhou para o pequeno e retangular papel cinza escuro e leu o que estava escrito.

- Dierden! Peter Dierden, analista de segurança.

 

Fim do capítulo


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Comentários para 60 - Capítulo 60 Almas Gêmeas:
Lanezann
Lanezann

Em: 29/08/2018

De longe já é o meu romance preferido. Obrigada por se dispor a escrevê-lo para nós, reles mortais.

Delfine é a minha crush fiction  e gostaria que não acabasse nunca, ou talvez, uma trilogia com estórias de outros casais integrantes da Ordem... desde que, de tempos em tempos, a "Deusa" apareça para eu matar a saudade (ahuahuahu).

 

Eu adoraria!!!


Resposta do autor:

Nossa! Isso me deixa muitíssimo feliz. Escrevo para que pessoas como você possam apreciar. E isso só mostra que a minha entrega tem valido a pena.

Eu quis fazer jus a essa personagem que foi subutilizada na série e que eu quis dar uma vida um pouco maior. 

E adorei a sua ideia... Quem sabe isso não possa acontecer? AHahahaha

Xeros

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patty-321
patty-321

Em: 27/08/2018

A sogrona ficou caidinha pela Del. Vem momentos tenebrosos e esse Peter, hum... Se cuidem meninas. Marc não é bobo ficou logo desconfiado. Ai meu core vai parar nos proximos capitulos. bjs


Resposta do autor:

Me diga, quem resiste a Delphine?

Sabes quem é esse Peter não é?

Xeros

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LeticiaFed
LeticiaFed

Em: 27/08/2018

Hummm, Del conquistando de vez a sogra, apesar dos constrangimentos anteriores rsrs. Mas tempos sombrios pela frente, mesmo com a Ordem se preparando para defender Cosima. Esse Peter Dierden é do Martelo, tenho certeza, não estou lembrando dele no momento. Sera que terei que reler a história? Dai ja escolho o capitulo que mais gostei, como vc pediu... Estou pensando, mas não  consigo escolher somente um. Ate por ser mais recente, o da reconciliação (57) delas foi muito, muito bonito. 

Um momento importante também neste foram as lembranças do pai de Del/Evelyne. Ah, em relação a um comentário anterior, claro que ja pincei alguns relatos dos rituais para a imortalidade de Evelyne, mas imagino que vc deve deixar para mais adiante descrever melhor o momento em que sua amada foi morta e em que Manu e Eve “optaram” por essa solução. Se nao pretendia detalhar, bem, fica minha sugestão rsrs Pra terminar, quaaaando que Cosima finalmente vai se dar conta da verdade? Ao som da querida Aretha ;)

Otima semana, beijo!


Resposta do autor:

Quem é que a Delphine não conquista? Impossível resistir a essa mulher. Pelas deusas!

A Ordem se preparando e o Martelo também. 

Peter Dierden é, na verdade o Paul... Usando o nome do irmão morto... Que conhecemos com Louis. 

O pai da Eve tinha de ser alguém especial... Para gerar um mulherão desse hehehe... E vou explicar tudinho. Não perdem por esperar!

Cosima já está percebendo tudo... Mas ainda falta um pequeno detalhe... E está perto.

Xeros

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